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Poço

Há pouco mais de 9 anos Deus me deu o maior presente que alguém pode receber. Ter segurado em meus braços uma vida, proveniente de mim mesmo, me trouxe uma sensação incrível, amor incondicional, responsabilidade e felicidade, que se propagam todos os dias desde então... a cada sorriso, cada atividade aprendida, cada palavra... Junto disso, porém, nasceu em mim, em virtude do contexto (explicado adiante), um corrosivo sentimento de culpa e falha constante.
Ser pai durante a faculdade não é fácil. Apesar do infinito apoio de todos que me cercavam e que realmente importavam, o fardo a se carregar é grande. A sensação de não poder errar, não perder tempo, é sufocante... mas foi ela que me inspirou a sempre seguir em frente, a buscar o diploma, o trabalho, nem que isso me custasse 18 horas de trabalho por dia, incontáveis finais de semana, e o mais doloroso, a participação direta na rotina e desenvolvimento da pessoa mais importante da minha vida, a minha filha.
Meu objetivo era claro durante a faculdade: me formar, conseguir um emprego com estabilidade... assim poderia estar com minha filha, amparar minha família, poder dar todas as oportunidades para ela, assim como meus pais fizeram comigo e meu irmão, por meio de muito sacrifício (sempre admirado por mim, meus pais são minha inspiração). Enfim, com muito estudo consegui realizar esse sonho, mas ele não veio barato. O custo disso era ficar ainda mais afastado da minha filha, e com isso cresceram muitas coisas além de saudade...
Esses seis anos passaram rápido, voando, e o que pude absorver deles não foi nada animador... minha carreira estagnada... nem em meus piores pesadelos de recém-formado eu poderia me imaginar acorrentado a burocracias e decisões confusas de um sistema gestor antiquado, somado a minha ineficiência em achar uma solução, o que me fizeram ponderar a respeito da carreira por mim escolhida, desde cedo, e sempre tida como um sonho. A decepção profissional se soma, e se embola, com a situação pessoal, a qual me deparo todos os dias, da hora em que acordo até a hora que vou dormir... O sentimento de estar longe de quem amo é insuportável, e supera qualquer dor física. Pensar que privo minha filha da companhia de um pai, e que outras pessoas (avo, mãe) tem de fazer esse papel, enquanto estou aqui, estagnado, parado, é ruim demais... Conversar com ela todos os dias, seja por telefone ou chamadas de vídeo, é como jogar um copo d’agua em um incêndio... Por mais que fiquemos horas no telefone, e que eu deseje sempre saber, minusciosamente, como foi o dia e etc, não é o ideal, não substitui o afeto do toque, do olhar, do carinho. E ela sabe disso, ela está aprendendo isso, da pior maneira possível... O que corta o coração é ver que, mesmo ausente, eu faço falta... o que implode o coração é ouvir ela me pedir para ficar perto dela, é ouvir seus soluços e notar suas lágrimas escorrendo, por vezes sem poder enxuga-las... Essa tortura é comum, esse nó na garganta é diário. Esse monstro do fracasso, tanto como pai quanto como profissional, me engole com cada vez mais frequência. Não são poucas as tentativas de superar, seja por meio de altas doses de cursos, estudos, seja por meio de esporte, que é efetivo, pelo menos durante a prática.
Mas, sinto que estou caindo... odeio admitir, mas não aguento mais. O fardo é muito grande, a cruz é muito pesada, ou talvez eu que esteja mais fraco. Peço ajuda constante a Deus, pois creio que só Ele possa me ajudar. Já fui aconselhado a procurar psicólogos, mas não acredito nisso... nada contra esse profissional, mas não creio que alguém, que está sendo pago, vá me falar algo que irá me fazer mudar de idéia quanto a mim mesmo, ou quanto ao que faço ou deixo de fazer. Rogo a Deus que me faça enxergar a resposta, peço a Ele que me ilumine, que me de fé suficiente. Preciso de um caminho, uma luz, preciso saber que estou trilhando o rumo correto, preciso de um empurrão, de um “seu otário, é isso aí!... você não é tão ruim quanto acha que é... você poderia fazer isso!”.
Minha vida passou de um final feliz de conto de fadas para um grande poço num piscar de olhos... não vi a hora que caí, só me dei conta quando estava embaixo, e sei que não estou olhando para o céu , mas sim com a cara na lama... eu preciso de ajuda para abrir os olhos, eu preciso de força para ficar de pé, eu preciso de coragem para começar a subir.
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Atualizado em: Dom 4 Jun 2017

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