person_outline



search

crise

  • O Velho e a Ponte

    Diversas coisas podem despertar lembranças de sentimentos que nunca mais existirão da mesma forma e, com o passar do tempo, essas coisas só aumentam de tamanho. Todas essas lembranças ativadas por lugares, objetos ou qualquer outra coisa podem ser chamadas de fantasmas já que tem a possibilidade de produzir a saudades ou a repulsa.
    A maior parte dos fantasmas do Velho estavam presos a uma antiga ponte que ligava dois parques de ilhas diferentes. O rio que passava por debaixo dela não era muito grande, mas a correnteza podia ficar muito forte dependendo da quantidade de chuva. Quando era criança, costumava brincar no rio, mas isso era antes de descobrir e se importar com o quão poluído ele era. Após isso, sempre brincava no parque e aos dezesseis anos passou a correr cotidianamente lá. Mesmo com as suas visitas se tornando cada vez mais raras com o aumento da idade, aquela ponte sempre o marcou. Inicialmente, era a fonte das aventuras das suas brincadeiras de infância. Já nos momentos de corrida, essa era a parte mais difícil devido a subida. Também foi lá onde viu e sentiu as coisas mais maravilhosas como diversos pores do sol e o seu primeiro beijo. Entretanto, também já viu coisas horríveis lá.
    Nos dias de hoje, no auge dos seus setenta anos, não consegue mais ir com muita frequência tanto no parque como na ponte. O velho vai no máximo uma vez por semana para que as dores não atinjam as suas articulações com maior intensidade. Mesmo assim, vai tão lentamente que não é sempre que consegue atingir a ponte. As dores são uma lembrança constante de que a juventude não lhe pertence mais, rivalizando com as dores da saudade que as lembranças dessa época trazem. A cada nova dor que descobria sabia que esses tempos estavam cada vez mais distantes e que o fim de tudo cada vez mais perto.
    No final de uma tarde de outono, o que em sua cidade significava tempo nublado e ventos frios, decidiu que iria até a ponte. Era uma vontade repentina e arrebatadora, impossível de não ser cumprida. O velho não sabia se seria uma coisa boa ou não ir lá, se traria uma bela lembrança que o faria sorrir ou um horrível demônio que o faria chorar, mas tinha que arriscar.
    No longo caminho até a ponte, ele tentava se lembrar de tudo de bom que havia acontecido naquele lugar. Em sua cabeça vinha a cena de um velho tocando saxofone em um pôr do sol. Essa foi uma das poucas vezes que parou a sua corrida por tanto tempo naquela ponte e foi só para ver um homem tirando notas musicais de seus pulmões. Até hoje não conseguiu entender o que viu naquela cena e talvez por isso a chamava de poética.
    É claro que essa não era a única cena que vinha em sua cabeça. Havia também a imagem de diversas mulheres que havia beijado naquela ponte e em diferentes partes do dia, épocas do ano e climas. Apesar disso, dentre todas elas, tinha uma que sempre ocupava a sua mente e eliminava a imagem de todas as outras. O velho tinha sido casado com essa mulher, e ela já tinha morrido há doze anos. Lembrava-se de andar abraçado com ela nos dias frios e, nos dias quentes, de comprarem grandes potes de sorvete que não duravam mais do que duas horas. Certo dia, quando já era muito tarde e não havia quase ninguém no parque, parou de repente no meio da ponte. Ela não estava entendendo nada quando ele pegou a mão direita dela, começou a cantarolar uma valsa de maneira um pouco desafinada e perguntou se ela daria a honra de dançar com ele. Nenhum dos dois sabia dançar aquele tipo de música, então só ficaram dando passos de um lado para o outro. Mesmo assim, esse foi um dos momentos mais marcantes da sua vida e que, se pudesse, o reviveria em um loop eterno. Sempre quando lembrava desse momento, sorria e chorava ao mesmo tempo. Chorava pela saudade que isso causava e sorria por poder se lembrar.
    Entretanto, ele sabia que aquelas lembranças não eram geradas pela ponte. Ele lembrava daquilo tudo porque queria lembrar, mas nem sempre a ponte se apresentava para ele com clemência. De certo modo, logo quando acordou já sabia que os pensamentos gerados por ela não seriam tão bons. Afinal, ameaçava chover e isso nunca é um bom sinal. Ao se deparar com início da ponte, parou. A sua mão tremia mais do que o normal e os seus joelhos ameaçavam parar de sustentá-lo. Os seus olhos vidrados começaram a se lembrar de coisas que há muito tempo conseguiu esquecer. Estava correndo de manhã bem cedo antes que o parque lotasse quando uma moto passou tão rápido à sua direita que só conseguiu perceber que ela era azul. Ele sabia que isso não era permitido, mas, pela velocidade, sabia que ela já estaria fora do parque antes que pudessem fazer alguma coisa. No momento em que escutou um miado esganiçado, se arrependeu de não ter tentado impedir o motoqueiro ou ao menos o xingado. O velho ainda jovem correu o mais veloz que pôde, mas ao ver o gato já sabia que não conseguiria fazer nada por ele. A moto havia passado por cima da metade de trás do gato e nem sequer parou para tentar ajudá-lo. O sangramento era intenso e um corte profundo na barriga jogou metade do intestino para fora. A respiração do gato já estava pesada, os olhos verdes não tinham mais brilho e não era possível distinguir nem mais a cor do pelo dele em meio a tanto sangue. O jovem sabia que só havia uma coisa que poderia fazer já que não tinha como pedir ou levá-lo até a ajuda, então procurou a pedra mais pesada que havia a sua volta, a levantou e, com lágrimas nos olhos desejando que um milagre acontecesse, a abaixou com toda a força possível na cabeça do gato. Ainda em choque e sem acreditar no que teve que fazer, pegou o corpo do gato morto nos braços, o abraçou e o jogou no rio, achando que aquele fim seria mais digno do que ser deixado no meio da ponte. Mesmo acreditando que o que tinha feito foi para livrar o gato de um sofrimento que poderia durar horas, sabia desde o início que aquele seria um fantasma que nunca o deixaria em paz.
    O velho, agora de volta a sua desalentadora realidade, tomou coragem em meio as suas lágrimas para continuar a caminhar. Com passos lentos e medo de ser pego de surpresa novamente por alguma lembrança indesejada, chegou a exata metade da ponte. Como ele sabia disso? Através de seu amigo Henrique. Em uma noite parecida com a que estava hoje, também tinha decidido caminhar no parque. Colocou o seu casaco e caminhou até chegar a ponte. Lá estava o seu amigo Henrique sentado na mureta da ponte com o seu cabelo curto, barba bem aparada e vestindo o seu terno azul-marinho. Em um primeiro momento, o velho de meia idade não viu nada de errado com o amigo, mas logo percebeu que ele estava chorando. Ainda tentando entender o que estava acontecendo, o cumprimentou e perguntou se ele estava bem. Henrique o encarou e o velho percebeu pelo brilho dos seus olhos que o seu velho amigo havia se perdido dentro da própria mente. A resposta de Henrique foi a simplicidade da falta de sentido: “Sabe onde estou? Na metade exata da ponte. Uma perna para um lado e a outra do outro. Fiz um trabalho no ensino fundamental que era simplesmente medir essa ponte, então marquei essa pedra com uma faca para saber a metade exata. Sem sentido, não? Talvez seja por isso que, nesse momento da vida, resolvi colocar um sentido nisso tudo.”. Antes que o velho pudesse responder qualquer coisa, Henrique deixou o corpo mole e permitiu que a gravidade fizesse o seu trabalho. Tanto o velho da lembrança como o velho da atualidade correram para a borda da ponte e ficaram encarando um rio extremamente violento por causa das chuvas dessa época do ano.
    Não conseguiu entender o porquê de ele fazer o que fez. O velho simplesmente não tinha a resposta, não sabendo como poderia ter ajudado e feito as coisas serem diferentes. Ele só sabia que não fez nada para ajudar e isso o corroía tão profundamente como se algo extremamente ácido estivesse sendo jogado no seu peito. Não havia nada que pudesse fazer para aliviar a dor. E é claro que não ajudou ter que dar a notícia para os familiares e ter que responder dezenas de perguntas para afastar as suspeitas dos policiais e daqueles para quem dera a notícia. “Você foi o último a vê-lo, então ele deve ter te dado o motivo”. Mas o Velho não sabia de nada e nem poderia saber. Foi somente com o passar de meses que conseguiu amenizar as lembranças desse fato e a lentamente começar a esquecer.
    Agora lá estava ele no auge dos seus setenta anos e décadas depois do acontecido encarando o mesmo rio. Foi nessa hora, no exato momento em que diversas lágrimas começaram a rolar dos seus olhos, que tudo a sua volta ficou preto. Sentia todo o medo, a raiva, a desconfiança, a dor e a pressão que sentiu durante meses em um único momento. O ódio predominava. Tinha ódio por não ter feito nada para evitar. Tinha ódio por ter deixado que todos desconfiassem dele. E tinha ódio principalmente porque, se tivesse a oportunidade de fazer alguma coisa, não saberia o que fazer. Tudo isso causava dor. Essa era impossível de sanar e não havia como externalizá-la. Nem mesmo através de lágrimas ela saiu, ficando lá dentro se alimentando do crescente remorso.
    Agora estava com essa dor na escuridão, o seu inferno particular. Não havia nem fogo como num inferno tradicional já que uma fonte de luz seria muita bondade. No seu inferno não podia enxergar nada, não havia odores, nada para ouvir e nenhuma coisa para comer ou encostar. Sem sentidos para usar como ponto de fuga, apenas a dor para sentir. Sendo torturado de forma lenta e eterna por aquilo que fez em vida, sem escapatória alguma. Sozinho com a sua mente e sem a necessidade de demônios, ele mesmo fazia o trabalho de forma eficaz. A dor que o Velho fazia o Velho sentir o forçava a querer morrer para que pudesse ir para o inferno tradicional. Assim, talvez conseguisse parar de pensar.
    Contrariando os seus desejos, lentamente a escuridão foi se afastando e o Velho começou a ver a iluminação das lâmpadas fluorescentes do parque. Só então percebeu que as suas velhas pernas não foram capazes de sustentar tanta dor e que estava sentado de maneira desajeitada no chão. Ficou ali um bom tempo até recuperar minimamente a sua força emocional. Os seus olhos ficaram marejados todo esse momento como se tivesse uma lágrima presa que se recusasse a descer.
    Depois de umas duas horas, se levantou e começou a voltar lentamente para a sua casa. Os olhos do Velho o acusavam e dava para saber que os seus pensamentos estavam distantes. Mesmo assim, ele sabia que nem ele e nem ninguém poderia amenizar o que ele estava sentindo. O máximo que poderia fazer no momento era aproveitar a noite fria, dormir e esperar um dia seguinte melhor. Assim, o tempo poderia fazer o seu trabalho e amenizar as suas longínquas dores.
  • Pandêmica poesia

    Dois mil e vinte, não seria só mais um.
    O inesperado acontece, epidemia chinesa,
    o vírus se espalha, Wuhan, epicentro,
    nada é certeza, malogrado intento.
     
    O mundo enfrenta algo invisivel e poderoso,
    vírus sorrateiro, certeiro.
    as nações se abalam, isolam as fronteiras.
    O medo e o temor assolam os povos.
     
    Itália, Inglaterra, Alemanha, Eua, Brasil.
    Milhões, se contaminam,
    Letal como a bomba atômica de Hiroshima e Nagazaki.
    Triste separação, quarentena em execução.
     
    Pico, Primeira, segunda, terceira. Pico.
    A onda, passa, avassaladora, destrói.
    Economias colapsam e se autocorroem.
    Fragil ser humano, fadado ao infortúnio.
     
    Cleptomaníaca morte, assola e dizíma.
    Humanidade entregue, fúnebre sortilégio.
    Famílias fragmentadas, vidas roubadas.
    Lacrimosas despedidas, importam-se as vidas.
     
    Um ano se passou, março de dois mil e vinte um.
    A doença, mutante, adentrou as portas, interiorizou-se.
    O caos entre os líderes, país à deriva. Guerras narrativas.
    Oms, presidentes, governadores e prefeitos batem cabeça.
     
    Há o vírus da esperança, acerca da vacina. solidão
    Essa é minha sina. Salve gaia ciência.
  • Para onde ir?

                       Ô Deus, és isso mesmo que queres para a minha vida? As vezes em meios aos pensamentos me pergunto o motivo de tanta angustia sendo que estou indo a sua casa, será que a sua presença está em mim?

                       Me julgo por tantos motivos e fico perdida, não sei aonde estou e nem o que devo fazer! A vida tem sido tão cruel e a única coisa que eu penso é em desistir, porquê absolutamente nada acontece na minha vida! Eu sei que temos que agradecer pelas coisas que temos, e profetizar o que queremos...claro temos que fazer pôr onde, mas por favor me diz onde eu estou errando?
  • Para você

    Deus te fez do jeitinho que você é, valorize! 
    Você está podendo acordar mais um dia, valorize!
    Você é a imagem e semelhança de um pai que te ama, valorize!
    Faça gestos de amor para si mesmo e verá o amor que está dentro de você irradiar ao seu redor. 

    A vida não precisa ser triste, ser pesada ou de total desânimo. Eu sei, você pode estar em um momento muito ruim, mas a escolha entre um sorrir e um chorar é apenas sua! A escolha entre um pensar ruim e um pensar alegre, é sua! É exclusivamente sua! Então, se dê valor! Se ame! Porque, o maior antídoto para uma cura, para qualquer cura, está em suas mãos: o auto amor.

  • Paradoxo além do céu

    Observando a cidade da beira da calçada,
    aneve continuará a cair,
    silenciosamente na escuridão.
    —Tão brilhante e tensa, como fontes de luz se formando nos postes de iluminação.

    Portanto; me vem a pensar...
    como tudo passa tão vagamente e de repente tão de pressa.
    Como alguns atos são velhos amigos,
    nos dá repugnância, olhos e ouvidos...
    para quê nós recomponha diate o perigo.

    Do último gole,
    sob a taça de um bom vinho,
    pude maravilhar do sabor...
    como nunca havia maravilhado antes.

    —Minha casa se tornou a rua !
    Dentro dessas ocas,
    As aparências enganam,
    umas as outras.

    Dia após dias,
    tentando preencher o vazio de suas obras perdidas,
    de coisas que passam e não dão tempo de se mostrar.

    Culpa nossa !
    Por via das dúvidas, não saltitar as emoções dessa trilha.

    Alva e pálida,
    a madrugada era minha fuga...
    quando ninguém me entendia.

    E assim como eu...
    um paradoxo se enche de euforias.
    Á procurar aquele sentimento brando,
    numa agonia insana; "Por qual sentido estar vivo"?!

    So por hoje, si desliga do mundo.
    Ouvi as deixas repentinas entrarem de fundo :
    o quê açoita nações, em crises psicóticas.

    Se houvesse um segundo de ar puro,
    Todo odio agressivo desses crânios,
    não sobraria vestígios de Estocolmo.

    Observando tudo em lentidão,
    temo quê não volte apaziguar.

    –e ando essas ruas como uma criança esperançosa.

    A madrugada é minha amante fiel,
    para onde fui e de onde agora irei...
    ela me dá a honra de uma visão ampla,
    onde pavorosas distrações incendia a fragilidade global.
  • Parede branca

    { on}


    Toda noite ela me encara 
    Branca e sem graça 
    Mas se fecho os olhos 
    Me afogo.

    Então, eu prefiro
    Passar a noite em claro,
    Eu e a parede,

    Do que acordar de madrugada 
    Cuspindo água,
    De um naufrágio,
    Do qual não pude te salvar.

  • Pássaro Negro

    Pássaro negro
    por que feste-me teu escravo?
    Pássaro negro
    por que trouxeste-me ao terror?
    Pássaro negro
    tornaste-me um ser desprezível

    Meus esforços foram falhos
    como pôde me atrair?
    Se na vida não aprendi
    como a morte poderá vir?

    Pássaro negro
    já nasceste comigo?
    Pássaro negro
    me dê seu perdão
    Pássaro negro
    não me deixe cair em um vão

  • pensamentos continuos

    é nescessario viver o momento.
    pessoas com grandes talentos nao sao talentosas 24 horas por dia. suas façanhas sao feitas de momentos. momentos onde a genialidade delas se manifesta e elas trancendem a si mesmas.
    talvez a vida seja assim tambem. talvez nao devessemos buscar ser feliz, mas ao inves disso, ter momentos de grande felicidade. tantos quanto conseguirmos.
    E o que fazemos com os intervalos entre esses intantes de alegria? Nos o aproveitamos para prencher as outras nescessidades da vida. precisamos sonhar. precisamos refletir. precisamos de momentos de lucidez para reconhecermos a nos mesmos.
    é preciso viver no agora
    esquecer o que foi
    perceber que o passado é feito no presente e o presente determina o futuro
    tudo está no aqui e agora
    mas como viver no agora?
    como fazer isso na pratica?
    estou aqui, percebo as coisas ao meu redor, me concentro no que estou fazendo.
    será apenas isto?
    será simples desse jeito?
    sei que nao posso mais deixar que minha mente visite lembraças que nao servem de nada pra mim. é preciso adquirir um novo habito, evitar de qualquer maneira lembraças desagradaveis. nao quero dizer reprimilas, porque quando se entende o que aconteceu e percebe conscientemente que é preciso deixar que se vao entao isto nao é reprenssao. pelo contrario, isto é libertaçao.
    é preciso viver o presente.
    voce precisa estar no aqui e agora por completo. seus pensamentos devem ser voltados para o que esta acontecendo nesse instante. o que voce foi nao importa. esqueca o que voce foi um dia. pense no que voce é, e se nao sabe exatamente o que voce é entao defina-se agora mesmo. eu sou alegre, extrovertido, conversador, brincalhao, divertido, responsavel, amigo, companheiro, bonito, educado. sou uma otima pessoa que tem muito carinho, amizade, companheirismo, amor, segurança para dividir.
    sou independente de qualquer opiniao alheia.
    livre de qualquer jugamento porque quando preciso medir minhas açoes me volto para dentro. minha opiniao é a que realmente importa porque cada pessoa é uma ilha, é fadado a conviver consigo mesmo. eu me amo. amo as minhas caracteristicas naturais porque sou assim.
    com amor no coraçao seguirei pela estrada que me conduz ao exito e ao coraçao dos homens. hoje eu amarei a todos que encontrar porque sao todos irmaos. amarei-os porque sao como eu no fundo de suas almas. porque todos nos buscamos a mesma coisa. amarei a todos porque amo a mim mesmo e amando a mim mesmo encontro amor suficiente para dividir com meus irmaos. se nao conseguir falar com meu irmao, entao sorrirei e o amarei desse forma. e se nao achar o que lhe dizer, entao sorrirei e deixarei que meu amor comunique diretamente em seu coraçao. HOJE nao me preocuparei com o que ja aconteceu. verei meu irmao e ele me vera. se alguns deles me olharem com expressoes que eu nao comprienda, entao eu os darei o melhor de meus sorrisos e eles perceberao que sou apenas seu irmao. HOJE eu deixarei que entrem tambem em meu coraçao, mas somente os que assim como eu quiserem ter seu amor expandido. hoje viverei com entusiasmo e o compartilharei. hoje deixarei que me conheçam, ouvirei o que tem a dizer, ouvirei seus coraçoes e os conheçerei tambem. hoje serei melhor que ontem. hoje agirei comforme aquilo que desejo. hoje nao terei medo de nada. hoje serei superior ao que fui ontem. hoje vencerei meus medos. hoje meus medos parecerao coisas insignificantes e nao terao mais sentido. hoje rirei do que fui com alegria porque vejo que cresci. hoje serei melhor que ontem. hoje substituirei antigos habitos por novos melhores. hoje me torno homem. hoje assumo o controle de minha propria vida. hoje sou honesto comigo e com meus irmaos. hoje eu acredito nas possibilidades. hoje eu digo: eu vou tentar, e se nao conseguir, pelo menos eu tentei. hoje tentarei quantas vezes forem nescessarias para conseguir aquilo que quero. hoje me concentro no que estou fazendo. hoje perco todo o medo. hoje converso muito. hoje sou mehor que ontem. hoje tenho muito pra dividir com meus irmaos. hoje tenho muita coisa pra falar.
    a vida é simples.
    era uma vez um garoto que tinha uma lagarta. ela era a unica distraçao deste garoto. um dia a lagarta começou seu precesso de transformaçao que é natural de sua especie e o garoto ficou muito entusiasmado com o que via. a principio nao entendeu o que estava acontecendo. perguntou as pessoas ao seu redor mas elas pareciam nao entender suas perguntas ou pareciam nao saber responder.
    entao o garoto ficou acompanhando sempre que podia o processo de transformaçao da lagarta. depois de dez dias sem nenhuma açao, o cazulo comecou a se abrir. o garoto que por sorte estava la acompanhou tudo de perto. ele viu como a criatura lutava para sair de dentro do cazulo. viu que ela nao era mais uma lagarta, era algo diferente. viu que parecia entorpecida no primeiro momento, mas logo começou a ganhar um ar de vitalidade, suas asas foram aparecendo cheias de vida. o garoto que tinha vivido com a criatura em sua forma de lagarta apos perceber que tinha se tornado uma linda borboleta, se sentiu feliz. ele havia se dado conta de que na verdade aquela criatura sempre foi uma borboleta. a borboleta estava nela o tempo todo apenas esperando o momento para se libertar. ele descobriu que ela tinha apenas assumido a forma que devia ter. era uma borboleta. sempre foi. quem pode dizer porque deus fez com que a borboleta livre para voar fosse primeiro uma lagarta rastejante?
    talvez deus quisesse ensinar a ela o valor da liberdade. que tudo é possivel. que é possivel para um ser restejante voar por entre as mais lindas flores.
    o garoto depois que a borboleta partiu tambem ja tinha se transformado, ou melhor assumido sua verdadeira forma.
    eu gosto de gatos porque eles sao bonitos e engraçados. gosto principalmente de filhotes. eu tinha uma gata que dormia comigo toda noite. ela vinha e se enfiava debaixo da minha coberta. as vezes era incomodo ter ela junto porque eu nao podia me mexer muito. acho que ela tambem achava incomodo quando eu me mexia muito. quando eu olho para os olhos de animais domesticos eu vejo sentimento, e ao mesmo tempo tenho a impressao de que todos eles tem o mesmo olhar, como se fossem a mesma criatura. a mesma alma. nao gosto de ver cachorros na corrente, ainda mais em correntes curtas e com acomodaçoes precarias. sou capaz de sacrificar um cachorro para nao te-lo em uma corrente curta por toda sua vida. quando morava na casa de minha mae nos tinhamos primeiro a laica, que era uma pastora alema. ela vivia acorrentada e comia mal, eu julgava. depois tivemos a jeine que nao foi diferente. as vezes vinha um sentimento de culpa ou compaixao por elas, eu me sentia mal. claro que logo passava mas sempre voltava em algumas horas. passaros tambem nao deveriam estar em gaiolas. o ser humano diz que tem passaros nas gaiolas para admirar seu canto e sua beleza. sera? eu acho que nos fazemos isso porque temos inveja deles e na nossa inveja louca nos vingamos e os colocamos em gaiolas para que assim como nos eles sintam que poderiam voar mas algo os prende. soltem os passaros. nao tenham animais presos a correntes. se voce faz isto, o faz porque precisa se lembrar de que é voce que esta preso. voce que deveria viver nos ceus. voce deve ser livre. saia de sua gaiola, desprenda-se de sua corrente. ao contrario desses animais voce tem o poder nescessario para ser livre. so basta querer.
    pessoas que se levam a serio demais se preocupam demais. e para nada. hoje eu vou rir de mim mesmo. rirei e verei que erros sao naturais. eu nao nasci sabendo tudo, muito menos fui eu quem criei a cultura em que vivo. sim devo respeitar a cultura do lugar em que nasci, mas talvez o que foi estabelecido como certo nao o seja para mim. o que foi dito que é vergonhoso talvez seja natural para mim.a vergonha nao existe de fato. todos nos estamos sozinhos em nossa mente. mesmo que muitas pessoas se juntem para zoar uma terceira, todas essas pessoas estao cada uma sozinha em sua mente, onde ela pode ser forte ou fragil, confiante ou vacilante. eu nao preciso querer conviver com todo mundo. e nao preciso que todos gostem de mim. apenas preciso encontrar pessoas que aceitem o modo como eu vivo e queiram viver sua experiencia de vida ao meu lado. me refiro a amigos que encontro periodicamente, a familiares que aprendemos a amar. e a companheiras que desejam dividir a maior parte de seu tempo, sua intimidade comigo.
    é preciso encarar o mundo com curiosidade, querer fazer coisas, conhecer coisas e pessoas, querer aprender, ficar entusiasmado quando aprender coisas novas.
  • POEMA CONCRETO

    O aço e o cimento conjugados

    ((pedra j o   g       a       d          a)

    nos olhos (de vidro))

    no dia a dia da vida.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     



    ..............................................................................

    © "Copyright" do Autor, IN: Concursos literários do Piauí. Teresina, 2005, Fundação Cultural do Piauí. 226 p. Página 190.
  • Poesia marxista

    Aprendi mais com o Rage Against The Machine

    Do que nas aulas de História

    Do presente ao passado

    Do passado para a glória

    Da glória ao presente

    E do presente à História.

     

    O mundo dicotômico

    Dividindo em um binômio

    Opressores e oprimidos

    Isso não é algo irônico?

    A ideologia dominante

    É o que te deixa catatônico

    O governo solipista

    É um grande elefante branco

    Faz da economia global

    Um playground dos bancos

    Zonas de Dólar, Zona do Euro

    O perigo tem uma cor

    E foi pintado de vermelho

    Esse espectro assustador

    Se tornou um expectador

    Pois na hora de atravessar

    Pro outro mundo

    Quebrou o seu espelho

    Divisão de classes

    Modos de produção

    Muita alienação

    Guerra, desemprego

    E desnutrição

    O mundo bipolarizado

    Decretaram o fim da história

    Mas o destino não foi selado

    A gente só se revolta,

    Mas se estiver embriagado

    Precisamos de combustível

    Por isso que usamos álcool

    O brasileiro tem fetiche masoquista

    Mesmo com várias ditaduras?

    Formem mais historiadores

    Contratem mais arquivistas.

     

    Aprendi mais com o Rage Against The Machine

    Do que nas aulas de História

    Do presente ao passado

    Do passado para a glória

    Da glória ao presente

    E do presente à História.

  • Por que o PT sobreviveu?

       O PT não é santo, e nunca foi. Disso sabemos Está contaminado pelo fisiologismo da politica tradicional. Foi completamente engolido pelo status quo. O Mensalão, por exemplo, que ensejou a prisão da cúpula do partido, demonstrou que o PT, para se manter no poder, rasgou o discurso ético que tanto caracterizou sua trajetória..
       No entanto, apesar dos escândalos de corrupção, o PT ficará registrado na historia por ter rompido um ciclo de políticas que beneficiavam apenas a elite. Graças ao governo petista, milhões de pessoas saíram da miséria e conseguiram a tão sonhada casa própria. Milhões de jovens tiveram acesso ao ensino superior e técnico. O social, como nunca antes neste país, tornou-se uma prioridade. E é justamente por isso que muitos ainda vestem com paixão e orgulho a camisa do petismo.
  • Por Toda Lágrima Que Eu Derramei

    EU ESTOU MORRENDO

    Você ao menos está ouvindo isso?
    Que eu estou morrendo?
    Me perdendo do caminho, tentando me encontrar e ficando mais perdido;
    Você ao menos imagina, ou está sabendo?
    Você sabe e finge que não se importa?
    Ou sabe e fecha os olhos pra isso...

    EU ESTOU MORRENDO TODO OS DIAS

    Erramos muito até chegarmos onde estamos;
    Achamos que podíamos proteger um ao outro mentindo...
    Eu queria a verdade, e você também;
    Mas nenhum de nós dois iríamos ceder, lutamos até hoje e ninguém cedeu, o que faz você achar que vou parar agora?

    EU QUERO MORRER TODO DIA

    Éramos parecidos, ainda somos...mas diferente do que você pensa eu não quero continuar assim... Mas ainda não vou ceder
     
  • Precauções do COVID-19

    Se cuide do jeito certo
    Se os sintomas surgir
    Se afaste de perto 
    Depois chame um médico

    Mantenha distância do infectado
    Fique o mais possível afastado
    Mantenha-se mascarado
    Faça tudo que logo estará curado

    Se o resultado der negativo
    A proteção deverá continuar
    Se esforce para seguir protegido
    Que logo a vacina chegará
  • Presa

    Eu costumava prestar atenção nos olhos, no movimento das mãos, respiração, podia sentir a bondade ou a maldade só de olhar. Hoje vejo se vai demorar, se vão me xingar, não da problema, gente entra e sai por aquela porta e eu só penso em não ser uma vergonha no fim do dia. Ver tanta gente está tirando minha humanidade. A vontade de passar os dias trancada no quarto sem ouvir aquela campainha me consome, o tocar do telefone ecoa mesmo numa terça-feira de folga. Necessito de ar. O controle sobre meus afazeres, o dinheiro gasto, o cheque que não posso ir trocar, a única preocupação em trabalhar, a frase "Evelyn, você tem que resolver minha vida", ela pesa, ele pesa, as costas doem e os olhos sentem as noites sem dormir. É minha obrigação, mas acho que não assim... "É fraqueza desistir, tem muita gente querendo estar no seu lugar". Estou me perdendo dentro de mim, estou me perdendo de vista. Ver que perdi o dia inteiro dentro de um cubículo, sem agradecimentos, sem tempo para viver afoga-me. Não tem janelas para ver o céu, não tem tempo pra ir comer algo quando o dia já está escurecendo.
    Ver aquele vai e vem, ver as pessoas perdendo anos de suas vidas na mesma cidade, na mesma casa, na mesma vida era estranho, me perguntava como conseguiam... Hoje me pergunto ainda mais, como conseguem? Como consigo? Não consigo!
  • Primeiro dia

    Hoje é o primeiro dia,
    Por isso aprecie bem o caminho,
    Valorize, esteja ou não sozinho,
    Agradeça o instante com alegria;

    Hoje é o primeiro dia
    Em que podemos mudar
    Bem ou mal que nos fez aqui chegar,
    Agradeça se tiver ou não companhia;

    Hoje é o primeiro dia
    Dos melhores em nossa vida
    Plantemos as sementes dos nossos desejos,

    Agradeça cada segundo com alegria
    O amanhecer, a água fresca bebida
    Porque o que é bom é muito bom mesmo.
  • Primeiro Entendimento

    Eu nem lembro quando começou... Não lembro o que sou.
    Um erro grotesco do divino ou um acerto jocoso do diabo. Sei que sou assim. Ganho minha vida como posso e... De verdade? Faço uma ótima grana com isso. Não há orgulho. Não há satisfação na morte, mas também não há remorso. Há um serviço demandado. Há um serviço sempre cumprido.
    Atualmente moro na cidade grande. São Paulo. Perto da Avenida São João no centro mesmo. Disseram que era melhor não chamar muita atenção, mesmo ganhando uma grana monstra, e eu acatei... Afinal, quem me paga é que manda. Eu até gosto da paisagem urbana. Gosto de não ter medo em uma cidade que é movida por ele. Gosto do cheiro de sujeira e até da falta de silêncio na madrugada. Ela tá viva. Tá pulsante. Tá com as veias todas cheias de gordura... Mas tá aí... Fazendo o que pode! São Paulo... Eu curto São Paulo.
    Eu ando de noite e às vezes quase torço pra me abordarem. Eu curto o olhar ae terror. De surpresa. De medo. Eu não ligo tanto. Ninguém vai acreditar se contarem mesmo. Enfim... Deixa eu começar a contar.
    Eu tenho atendimento psicológico toda quarta as três da matina. É... Esse horário mesmo. Nada a ver com a negação da santíssima trindade nem essas bostas, acho que é só logística mesmo. Os big boss arranjam um prédio abandonado, que tem pra caralho aqui em SP, me avisam, me buscam etc... Tudo certinho! Toda quarta! Acho que eles têm medo deu me virar contra eles. Deviam ter medo mesmo. Mas num vou fazer isso. Aí quem me paga?
    O seu Javier é meu psicólogo. Ele me aconselhou a escrever sobre como me sinto. Como sinto pouca coisa acho que vou relatar o que faço e vivencio. Talvez seja interessante no futuro, se alguém achar isso aqui, né. Às vezes dá vontade de aparecer na TV, num programa ao vivo, num criança esperança e BOOM! Sentir o temor em rede nacional... Se pá mundial. Mas aí acaba tudo... Por uns 15 segundos de satisfação. Foda-se fama. Não ligo pra isso. Pois é... Eu disse que não há satisfação na morte! Só na morte! Eu curto ser assim. Curto fazer as paradas que faço.
    Eu tenho um código no dorso da mão esquerda. É U01101987. Como parece uma data assumi que é meu aniversário. A letra eu não sei de onde veio. Mas eu uso como nome. Quando perguntam às vezes, na rua mesmo, eu falo que é Uriel o nome. Eu curto. Anjo da morte e pá. Curto simbolismo. Mas sei lá. Não ligo muito não.
    O Javier me disse pra escrever um blog ou alguma merda assim. Não dava pra dar trela em algum lugar onde nego ia achar então tentei escrever umas paradas na deep web. Mas achei muito zoado aquilo lá e resolvi escrever aqui mesmo. Só pra mim e pra quem achar algum dia.
    Então... Eu tenho umas noções muito escassas acerca do período que eu vou chamar de Primeiro Entendimento. Eu tenho uns flashes porque eu era muito moleque e porque os caras eram muito escrotos. Tinha choque, tinha surra e já rolou até de me jogarem com uns bichos grandes num quarto fechado. Ninguém encosta mais em mim. Só se eu quiser. Eu me dividia entre a barbárie e os livros que eu podia ler no meu quarto. Tinha muito livro! Daí rola a dicotomia deu parecer um filha da puta favelado, falar como um, mas conseguir discutir com qualquer pau no cu que tenha um doutorado enfiado no rabo... Eu sabia que havia outros moleques também, eu sei que eu vi uma guria sendo arrastada quando eu tava apanhando dentro duma sala de vidro. E também já vi umas manchas de sangue mal limpas nos lugares que me levavam lá... Sei lá onde era. Enfim... Eu peguei umas palavras soltas da minha cabeça dessa época e taquei na internet. Quem tiver lendo isso aqui se prepara... Seu mundo vai acabar, mano.
    Ta ligado projeto Montauk? MK Ultra? Stargate? E se eu te falar que é tudo verdade e parte de uma coisa só? Que não é coisa de uma nação só? Mas quer a real? Não to aqui pra falar disso... sou fruto disso! Não sei como, não sei o porquê, não sei origem, não sei porra nenhuma! Só sei que hoje eu consigo controlar e sou a mão mais influente nesse jogo de pôquer que ninguém vê que ta rolando. Não conheço ninguém aqui no Brasil e nem sei se essa parada ta ativa em outros países. Mas quando eu cansar disso aqui vou procurar. Assim... Por diversão. Porque eu nem ligo muito. De qualquer maneira, é importante você saber dessas coisas pra não achar que isso aqui é um conto de um bosta punheteiro. Junta os pontos.
    No Primeiro Entendimento eu não sabia pra onde tava indo. Eu ficava puto, eu ficava com medo, eu ficava no cagaço e as coisas aconteciam. Apagava por um tempo e a parada acontecia. Quando eu acordava já tava na maca indo pro quarto. Com o passar dos anos (acho que eram anos, eu não tinha noção... Era tudo muito igual todo dia. Mas foram muitos dias... Então acho que foram anos.) esse tempo que eu ficava apagado era cada vez menor.
    Teve uma vez que quase mordi minha língua toda fora porque os choques eram cada vez mais fortes e eu não apagava. Quando eu apaguei não foi completamente. Lembro do barulho do ferro dobrando, de carne torando e de osso quebrando. Lembro do cheiro de sangue, lembro da minha cara molhada com uma parada quente e lembro de silêncio. Quando voltei eu não tava caído no chão, eu tava ajoelhado. Passei a mão na cara e tava cheia de sangue. Como não tava sentindo nenhuma dor, tirando a língua que eu tava mordendo, tentei entender o que aconteceu ao mesmo tempo em que minha visão se acostumava com a escuridão de uma sala recém-destruída iluminada por 2 lâmpadas vacilantes. Olhei pra frente; a maca de ferro onde eu tava dobrada igual um pano de chão. Olhei pra esquerda; tênis brancos encharcados de vermelho e pouco depois um par de pernas em calças azuis. Olhei pra direita; uma cabeça me olhava de volta. Sem nenhum sinal de raiva, temor ou horror. Só olhava de volta. Sem reação.
    Minha visão tava bem acostumada quando eu consegui ver o sangue que pintava a parede de uma maneira estranhamente bonita. Eu não sabia ainda, mas chamavam aquilo de expressionismo abstrato. Eu curti. Então... Eu tinha rasgado a mulher que me dava choque, espalhado os órgãos internos dela pra todo lado, retorcido uma maca de aço maciço. Tinha feito tudo isso sem encostar um dedo nela. Mas o que mais me chamava a atenção era aquele vermelho na parede ao melhor estilo Pollock, segundo o que li depois em livros de história da arte. Me senti um puta artista. Talvez tenha sido o mais perto de sorrir que cheguei.
    Depois de alguns anos eu não apagava mais. Passei a ficar muito mais tempo no quarto do que em experimentos. Até que um dia eu resolvi amassar a porta e sair pela porta da frente. Acho que todo mundo viu. Tocou um barulho alto quando eu passei por uma porta, mas poucos segundos depois ele parou. Ninguém fez nada.
    Eu andei um bom tempo. Talvez uma outra hora eu conte tudo que se passou da minha saída até os meus antigos “donos” estabelecerem uma relação empregatícia comigo. Nesse meio tempo eu já estava no que chamo de Segundo Entendimento. É tipo o velho e o novo testamento, saca? Mas sei lá... Vai que rola um terceiro. Não sei. Não ligo muito.
    Sei que eu passei muita coisa e entendi melhor como o mundo funciona. Eu tava atrasado pra caralho! Eu não sabia muita coisa. Conhecimento é poder. Acho que eles sabem disso. Por isso preferiram me ter como sócio.
    Tem uns trabalhos menores que eu não faço ideia do porquê eles são pedidos, nem ligo. Matar uns pé rapados, pegar umas pastas, sei lá! Deve ter uma razão, mas não me importa. Agora os trabalhos que pagam bem, esses devem demandar um trabalho sinistro de engenharia social. Mas foda-se! Nesses eu ganho uma grana que daria pra comprar uma cobertura duplex em Moema. Só que não vou dar na telha, né.
    O primeiro trabalho grande que fiz já tem uns três anos. Foi em agosto e os big boss disseram que iam “deixar o clima em condições ideais para que eu pudesse agir”. Depois de um tempo eu fui ler sobre as máquinas HAARP e fez sentido. Mas não ligo, quero só a grana mesmo. Rola uma preparação. Uma concentração. Parece controverso, mas meditação me ajuda bastante. Sinto que otimiza o que faço. O cronograma é o seguinte. Me dão a situação, o objetivo e a rota do alvo. Eles cuidam do planejamento e do controle pós-evento. Eu lido com a direção e a organização da parada. Nesse caso em particular eles me pagaram uma passagem pra Santos e me deram umas coordenadas no celular mesmo. Subi num ponto que me desse o mínimo de visibilidade e me concedi o direito de apreciar a sensação que era a de estar prestes a pintar um novo quadro. Enfim, é só isso que preciso. Concentração e o mínimo de visibilidade. Às vezes acho que nem preciso de visibilidade, não sei. Depois vou testar. Eu gosto de mirar, como um sniper. Mas também acho que é desnecessário. Só um pouco de pose. Uma mania de artista.
    O tempo começou a fechar e pra mim foi o sinal de que era hora. Era uma quarta feira e ainda estava de manhã... Acho que umas nove ou dez horas. Quando eu vi o avião dei aquela concentrada, levantei as mãos e visualizei, como sempre faço, meu objetivo. Daí comecei a pintar o quadro na minha cabeça. Minhas mãos fazem um movimento rápido pra baixo e, como se eu estivesse jogando no kinect, o avião começa a descer. Eu vacilei! Joguei o avião em cima de umas casas. Devia ter jogado pra fora, sei lá. Mas nem ligo não. Fiquei pensando se iam diminuir o pagamento, mas ele tava todo lá na conta. Bem certinho. Mais tarde eu descobri que meu alvo era um candidato à presidência. Lembro que ouvi a notícia dentro duma hamburgueria artesanal e tava bem de cara com o fato de nunca ter comido esses hambúrgueres antes. Fiquei pensando se devia ter pedido mais grana. Porque porra... Era um candidato à presidência. Mas nem precisava de mais grana. Na real? Eu acho que nessa época eu já era um dos caras mais ricos do Brasil. Mas foda-se.
    Os trabalhos grandes aparecem pouco, mas os pequenos não pagam mal. O último trabalho grande que tive foi o que me pagou mais. Eu acho, de verdade, que eu consigo comprar um país pequeno com o que eu recebi só nesse trabalho. Depois eu entendi o porquê! Esse foi por agora. Em janeiro. Mesmo modus operandi. Pagaram a passagem, me deram localização, objetivo e rota do alvo. Esse foi até mais fácil porque tava perto da água. Lembrei só na hora de não jogar em um lugar cheio de gente. Só porque acho que ia ser mais difícil de encobrir, sei lá. Descobri depois que esse alvo era um juiz que tava pra pegar uma galera, algo assim. Não me entenda mal. Eu sou bem curioso acerca de tudo. Mas eu gosto de manter uma certa distância dos alvos. Pode chamar de profissionalismo.
    Acho que o Javier tava certo. Esse negócio de escrever me faz entender as coisas um pouco melhor. É como a meditação, mas tem palavras. Vou conversar com ele quarta que vem. Começo a questionar se realmente não ligo para as coisas. Mas acho que gosto de fazer o que faço mais do que pensava. Bem, acho que foi Confúcio que falou uma parada acerca encontrar um trabalho que ama, né? Daí você não vai trabalhar nenhum dia, algo assim. Não sei. Não sei se amo. Mas eu curto pintar esses quadros. Na quarta vou contar pro Javier essas coisas. Talvez seja o começo do Terceiro Entendimento... Ou não.
    Enfim...To com fome. Vou comer um hambúrguer e vou dormir.
  • Psicroalgia

    HUMBERTO resolvera tomar coragem e ir contra os pais, ele queria ser climatologista, a única reação dos seus pais foi perguntar se ele realmente queria morrer de fome! A mãe disse que ele deveria pensar em Medicina ou Direito. Humberto estava resignado, disse não, foi para a faculdade de Metereologia e nunca mais os pais o viram. Humberto estudou quatro anos e concluiu com êxito.
        Para ganhar uma renda, ele começou a trabalhar como consultor de climatologia para emissoras de TV regionais. Mas nada daquilo foi suficiente para ele. Tinha uma teoria que gostaria de aplicar em termos de climatologia. Mas com suas escassas condições, ele não pôde evoluir com suas pesquisas. O dinheiro das consultorias não dava nem pra pagar o aluguel, menos ainda montar um laboratório.
        Poderia ter voltado para os seus pais e dizer que precisava de ajuda e que estava errado, mas Humberto não temia a tormenta. Pediu auxílio ao professor da faculdade e ganhou uma chance de lecionar. Como aluno ele tinha sido brilhante, para decepção do professor, lecionando o prodígio era um fracasso. Apesar de dominar a matéria como ninguém, Humberto não conseguia ensinar muito bem a matéria.
        A saída da faculdade foi mais uma geada na vida do cientista. Foi nessa mesma época que ele conheceu sua esposa e futura mãe de seus filhos. Com a única coisa que lhe restava, o nome de sua família, Humberto passou a trabalhar numa corretora de imóveis, e para sua felicidade numa área em que não decepcionaria: financeiro. A corretora de imóveis logo se apaixonou pelo sério e competente Humberto.
        Depois de meses de namoro, o climatologista foi morar no apartamento dela. Dividindo as despesas, a ideia de montar o seu próprio laboratório foi ficando esquecida por um longo período de tempo. A chegada dos filhos praticamente enterrou o sonho de continuar com suas pesquisas sobre o aquecimento global. O mundo estava mudando rápido demais para Humberto e ele se importava com o que estava acontecendo.
        Então um dia, sem querer, viu o anúncio de uma equipe de pesquisas de climatologia. A missão organizada pelo governo iria transportar o grupo de cientistas para a Antártica. A estação brasileira ficava em contêineres. O objetivo era descobrir sobre os fatores do degelo e suas consequências nos Oceanos Atlântico e Pacifico. A ida ocorreu após uma discussão com ameaças de divórcio pela sua esposa, que por fim cedeu.
        Humberto após ser admitido na equipe, foi mandado em um avião para a Patagônia. O cientista achou o lugar parecido com as descrições da mitologia nórdica sobre o mundo de gelo e fogo. E em pleno deserto ele viu pinguins. Realmente um lugar com fauna e flora tão impressionantes quanto a Floresta Amazônica. O climatologista não conseguiu conter as ondas de frio, para quem estava acostumado ao Nordeste, o frio doía muito.
        Depois de um mês de adaptação e quatro desistências, o navio partiu para a base científica na Antártica. O guia da equipe era um gaúcho de cinquenta anos chamado Heckman. O grisalho de Santa Catarina, acostumado com as geadas na fazenda em que foi criado, vendo Humberto bater o queixo devido ao frio, resolveu esquentar o momento com uma piada típica dos moradores do Polo Sul.
         — Bah, se um urso mui grande encontrasse um desses pinguizinhos daqui, o que aconteceria com eles amigo?
         — N-nada — disse Humberto batendo os dentes. — No Pólo Sul não tem urso.
        Heckman bateu em suas costas e o levou para proa. O velho guia inspirou o ar frio nos pulmões e depois soltou. Logo depois ele pediu para Humberto fazer o mesmo.
        — Se eu fizer isso eu corro o risco de ficar resfriado — desculpou-se Humberto.
        — Bah chê, é como uma nebulização, para se costumar com o frio você tem que sentir frio.
        — Você está falando por que não nasceu sobre um sol de 40°!
        — Essa temperatura aqui é muito comum, mas abaixo de zero — sorriu Heckman.
        Os dois entraram de volta no navio. À noite, no quarto de Humberto, o metal da embarcação rangia sobre as baixas temperaturas, como um grito de socorro. A esposa ligava todas as noites para ele, o começo da conversa girava em torno de seu bem-estar, depois terminava com uma tremenda discussão. Quinze dias ausente do marido era muito tempo para ela, acostumada a agir como o homem da casa.
        Humberto tentava passar o máximo de tranquilidade para ela. O celular transmitia as chamadas diretamente pelo satélite do governo, então podia gastar todo tempo do mundo desculpando-se por não estar em casa dando apoio a ela, vendo os filhos crescer. Não se sentia um pai ou marido ruim, mas a cobrança da esposa o sufocava, parecia que de alguma forma ela estava contra os seus ideais científicos.
        Para ele, estudar o clima era como garantir um futuro melhor para os seus filhos. Como crianças eles não entenderiam o seu sacrifício, mas ela já era adulta e gostaria que pela primeira vez em sua vida alguém que amasse, lhe desse um ponto de confiança. Isso não veio a acontecer. Humberto sentia no frio medo e ao mesmo tempo liberdade.
       Quando o navio aportou, as botas se cravaram na neve como os caninos de um lobo na jugular de sua presa. Os contêineres davam uma sensação de frigorífico à base brasileira. Mas sem dúvidas para Humberto, aquela era a maior chance da sua vida. Chance essa que não podia ser desperdiçada por nenhum motivo. Nem mesmo sua família poderia atrapalhar suas intenções.
        A base brasileira chamada de Estação Comandante Ferraz ficava numa península do continente glacial, mais próximo da América do Sul, na Ilha Rei George. A primeira expedição brasileira a Antártida foi feita na década de 80 por um grupo de dezenas de cientistas. O continente é o menos habitado do planeta, por ter muito poucas condições de abrigar vida humana.
        Diferente de outros lugares como a Sibéria e o Alasca, a geleira eterna contém fauna e flora escassa. Pinguins, aves e insetos compõem o bioma litorâneo junto a uma vegetação semelhante à tundra, que chega a desaparecer nos períodos de frio intenso. Mas diferente do que as pessoas possam acreditar, as imensidões brancas constituem um belo cenário, tendo planaltos, montanhas e até vulcões.
        Num lugar em que a temperatura pode chegar a -90° C, mais de cinquenta bases científicas foram montadas sobre os cerca de 30 milhões de km3 de gelo acumulado. Seus habitantes se resumem a cientistas e pesquisadores das mais diversas áreas. Em 1959 foi assinado o Tratado da Antártida, no qual se aboliu as disputas de posse da terra. Mas o tratado só entrou em vigor no ano de 1961.
        Em 1991, foi assinado Tratado de Madri no qual 39 países, o Brasil incluso, proibiram a exploração territorial na Antártida por 50 anos. Entretanto, muito dos 26 países reivindicaram territórios, como a Argentina. Outros países a reclamar territórios “extra-oficialmente” foram à Noruega, Reino Unido, Argentina, Chile, Nova Zelândia, Austrália e França. Vários outros países montaram suas bases na Antártida.
        O Brasil aderiu ao Tratado da Antártida em 1975, o Programa Antártico Brasileiro (Proantar), foi criado em 1982, mas o governo não tinha o controle da missão, e o núcleo coordenador era formado por universidades, institutos, além de entidades públicas e privadas. A comissão, entretanto teve participação pelos ministérios da Marinha e Tecnologia. Quatro núcleos de pesquisas foram criados, ou refúgios.
        Além da Ilha Rei George, temos um nas Ilhas Elefantes, outro em Nelson e o navio de apoio oceanógrafo Ary Rongel. A Força Aérea Brasileira realiza sete voos de apoio levando aos cientistas equipamentos e viveres. Os 24 pesquisadores, erma divididos pelos quatro refúgios, dez militares comandavam as operações, estes últimos permaneciam na Antártida por doze meses.
        Humberto e Heckman aportaram na Ilha Rei George. Com permissão dos EUA, eles iriam coletar gelo na área central do continente. Essa técnica de coleta de gelo é um dos maiores instrumentos para estudar o clima. O gelo é um gravador natural da composição do clima, registrando milhões de anos de história climática. As diversas bolhas indicam a concentração de carbono.
        Partes por milhões (PPM) indicava que a concentração carbônica na atmosfera estava batendo recordes. Humberto iria participar com mais três cientistas e dois militares brasileiros. A viagem seria longa. Cortando o território antártico, eles iriam com motos de neve. Heckman estava animado para viajar até o Centro Antártico. Humberto sentia-se ameaçado com a viagem de alguma forma.
        — Tem alguma coisa que eu preciso saber sobre o frio lá fora? — perguntou Humberto a Heckman.
        — Qual a sua dúvida exatamente?
        — Bom, caso aconteça algum acidente, como retornaremos?
        — Estamos com GPS e celulares por satélite. Temos sinalizadores e muitas bases científicas estão agrupadas no entorno.
        — Tudo bem, mas e si acontecer alguma tempestade, sei lá!
        — Estamos no verão cientista, bah! É uma verdadeira Copacabana aqui. Gostaria de te pedir uma coisa, não retire sua viseira no frio.
        — Porque não posso? Como vou enxergar?
        — Os raios do Sol refletidos em seus olhos vão queimar a sua retina.
        Depois da conversa eles começaram a arrumar os equipamentos e as provisões para a viagem. Humberto deu a atender que já começava a odiar a comida enlatada. O velho militar retrucou que a única coisa que odiava na Antártida era a ausência de churrascarias. Humberto sorriu, Heckman parecia um cara legal e divertido. Desde o início dos trabalhos da base brasileira, ele estava lá e a cada dois anos ele voltava como voluntário.
        Heckman adorava tanto a Antártida que já tinha feito um tour pelo continente visitando as diversas bases: África do Sul, Alemanha, Bulgária, China, Coreia do Sul, Equador, Espanha, Rússia, Finlândia, Índia, Itália, Japão, Peru, Polônia, Suécia, Ucrânia, Uruguai e outras. O gaúcho tinha tanto vigor que participara uma vez da maratona antártica, mas como tinha exigido demais dele, abandonou nos primeiros dez quilômetros.
        A viagem seguiu bem até eles chegarem ao ponto de coleta, com as mudanças climáticas, uma nevasca podia ocorrer a qualquer momento. À noite, as estrelas do céu brilhavam com calor e rara beleza como se fosse uma nobre tapeçaria persa.
        O dia começou cedo. Depois de um rápido café da manhã, a broca começou a perfurar o gelo. O sistema muito semelhante aos poços artesianos feitos no Nordeste, com uma caçamba, eles retiravam camadas de gelo em cilindros que eram armazenados em grandes garrafas térmicas. Entretanto, quando chegaram a 1.500 m, invés de um cilindro de gelo, veio água pura.
        — Uê, cadê nosso picolé? — perguntou-se Heckman.
        Humberto bebeu um pouco da água. Depois exclamou:
        — É água doce!
        — Droga — disse Heckman. — Acertamos uma fonte natural de água, CORRAM!
        Não houve tempo para todos escaparem. O gelo rachou e uma cratera enorme se formou, os mais próximos eram Humberto e Heckman. O velho militar e o cientista ficaram numa pequena plataforma de gelo, que não aguentaria o peso dos dois por muito tempo. Os outros integrantes do grupo gritavam para que ambos pulassem, mas se um deles pulasse, o outro teria o gelo como catacumba.
        — Pule! — ordenou Heckman.
        — Não e você? — retrucou Humberto.
        — Se não pular, nós dois morremos.
        — Eu não vou sem...
        Humberto não pôde completar a frase. Ele foi empurrado com tanta força que conseguiu vencer seis metros de abertura da plataforma onde estava. Ele só teve tempo de se virar para trás e notar Heckman cair junto dos blocos de gelo. Mas diferente de outras pessoas nessa situação, ele não demonstrava desespero ou medo, ao contrário, estava sorrindo, pois ele sabia que debaixo do gelo, havia apenas água gelada.
  • PT e PSDB

        PSDB e PT são dois lados de uma mesma moeda. São, originalmente, e em certo sentido, filhos da social democracia europeia. Todavia, os tucanos se renderam, sem freios, ao consenso de Washington e ao conservadorismo, o que esvaziou por completo o conteúdo social da sigla. Sendo assim, saiu da centro-esquerda para militar com fervor na direita mais reacionária e perversa. O PT, por sua vez, nasceu com o discurso de modernizar a agenda política da esquerda, na tentativa de compatibilizar o mercado e o pluripartidarismo com o projeto de um socialismo moderno, diferente do adotado no Leste europeu. Quando no poder, a sigla fez alianças com setores antes duramente criticados e barganhou cargos em troca da governabilidade. Desse modo, reproduziu,  ampliou o clientelismo e as práticas patrimonialistas que combateu no passado. No entanto, cabe salientar que o PT, apesar de ter se aliado a setores reacionários de nossa política, manteve seu projeto de poder alinhado com exitosas políticas sociais, que mudaram o Brasil.
       Comparando os governos, fica patente a superioridade do governo petista sobre o governo tucano. Em todos os índices, inclusive no combate à corrupção. Isso não significa negar a importância do PSDB, que fez reformas importantes no intuito de modernizar o país. Entretanto, reforçando o que fora dito antes: O PT soube construir e reconstruir sua imagem e, aliado a uma série de programas de cunho assistencialista e social, chamar a população para o seu lado.  Portanto, longe de ser um partido que pretende instalar uma ditadura comunista, o PT deu provas cabais de ser um mero gestor do Capital(verifiquem a lucratividade dos bancos). A diferença reside no fato de que o PT é mais competente que o PSDB. Simples assim. 
  • Quem se importa?

    Meu celular vibra. Não é importante, talvez deixei alguma atualização pendente. Afinal, quem liga? Estou deitado na cama, numa crise infernal de insônia. Quem liga? Mas, o que mais me perturba é minha habilidade de me autoflagelar à noite. Incrível, as lembranças boas conto nos dedos. As ruins, demoro a noite recordando. Quem liga?
    - Eu ligo. – disse, palidamente ela.
    - Você está morta. Não tem mais o que sentir.
    Mas, do alto, sua cabeça espetada na lança insistia em falar.
    - Você me matou. Eu senti muito com isso.
    Estava escuro na sala, mas a cabeça dela era fácil de ser identificada, mesmo com todos aqueles fios bagunçados cobrindo seu rosto.
    Agora o celular toca. Uma ligação de presídio ou da operadora. Claro que não seria alguém me procurando. Ninguém se importa. Sou inútil. Minha única companhia é essa fria faça úmida de sangue que esfrego em meu rosto.
    - Me reajunte. – disse outra cabeça no chão.
    - Como unir laços que já foram rompidos? – disse para os pedaços dos corpos espalhados pelo quarto – Afinal, fui eu mesmo que os rompi... eu só a queria de volta...
    A porta bate. Salteadores, talvez. Alguém batendo por engano. Ou você acha mesmo que alguém me procura... Não, não. Bobagem.
    Agora a ouço arrombando-a. E gritos. Mas não vieram por mim. Vieram por eles. Oras, quem viria por mim? Kkk ninguém sequer se incomodaria. Por quê eu não faço um favor para o mundo e tiro minha vida? Não, não. Vejo que querem me poupar desse trabalho. Pelo menos isso fazem por mim. Estão gritando comigo agora. Me espancando. Me furando, como furei os amigos deles. Ah, pelo menos isso eles fazem por mim.
  • Quem Sou Eu?

    Um lago congelado. Petrificado. Perigoso. Atrativo. Não venha visitar, não toque. Nem pense em arriscar caminhar pelas camadas gélidas do lago.
    Se tentar, pode até conseguir atravessar. Porém, se o gelo partir, o lago te engole e você afunda na escuridão molhada e gelada do lago.
    A primeira sensação é calor, o medo faz teu coração bater mais forte e você tenta escapar.
    A segunda, dor. É como diversas agulhas entrando por todas as partes da sua pele. E você já perdeu o fôlego que trancou no momento em que caiu.
    A terceira, nada. Você já está tão gelado que já não sente. Seus movimentos de vida vão se acalmando e você começa a abraçar seu destino congelado.
    Na quarta sensação, seu coração já congelou e você se vê no fundo do lago, imóvel, sem expressões, sem reações, sem sensações.
  • RECLAMAR MENOS E AGRADECER MAIS

     Durante nossas vidas, todos nós reclamamos de algo que nunca está bom ou que não sai como planejamos. Muitas destas vezes podemos até ter razão, mas o que adianta sair por aí brigando ou xingando as pessoas ao nosso redor? Como você se sente diante disto?  Não adianta achar que o mundo vai girar em torno de si mesma (o) dia após dia, pois sempre irá te afetar, ou seja, em vez de progredir com coisas boas você acaba regredindo da pior maneira possível. A pessoa que passa o dia inteiro resmungando, é igual aquela que vive deitada o dia todo no sofá, no qual nunca está satisfeita com tudo, acha que nada tem um valor simples e significativo. 
    A  partir do momento em que você começa a parar de querer reclamar de tudo, seu modo de pensar muda, suas escolhas se tornam diferentes e é ai que você percebe que é capaz de assumir o controle do seu futuro. É normal que aos poucos, algumas coisas acabam não dando certo, mas é a partir de atitudes concretas que as situações tomam rumos melhores.    Então, pare e comece a adotar atitudes que te fazem bem, que te tragam felicidade.  Tire um tempo para conversar com Deus, se precisar chorar, chore, mas pela tua força de vontade mesmo os dias estando complicados, você vai vencer, e por desejar sempre o bem das pessoas verdadeiras ao seu redor. Nunca esqueça de agradecer por ter vida, por ter uma família que mesmo passando por altos e baixos, eles estarão ao seu lado para te apoiar e por estar com saúde. Se você tem algo que te incomode, bote para fora essa negatividade, mas NUNCA desconte em alguém que te quer bem! 

    -- Os momentos positivos na nossa vida são lembranças agradáveis que levamos pela vida para testar nossa gratidão, já os negativos são para o nosso aprendizado.  
  • Reflexões da Pandemia Parte 1

    Em tempos de crise não é fácil adquirir resiliência 

    Pois agora as aulas e cursos são por videoconferência 

    Contato social seria tratado como negligência  

    Mas claro, estamos respaldados pela ciência

    Sem exceção, todos conhecerão a dor da abstinência 


    Na verdade isso tudo deveria ajudar 

    Mas sem contato social, só faz atrapalhar 

    Quem sabe assim quando tudo isso passar 

    Daremos mais valor às coisas que merecem

    Não ficaremos somente vagando na internet 

    Cobiçando, comparando, se frustrando

    Com coisas que não nos compete

    Espero que isso mude a humanidade

    Aumente a racionalidade? 

    Expansão das cidades? 

    Reflexões sobre religiosidade ou espiritualidade?  

    Não sei, mas espero que isso mude a sociedade

    No fim de tudo só faltou coerência 

    Pois essa pandemia é a maior prova de resiliência

  • RELAÇÃO MEIO AMARGO

    — Eu sinto muito, não foi por querer — imploro pelo seu perdão, segurando seu antebraço para que ao menos olhe no meu rosto —, Eu estava muito ocupado no trabalho e cheguei tarde no planetário, posso recompensar de outra forma.
    — Só saia, por favor — disse ele de costas, afastando-se ao puxar seu braço de volta.
    — Natanael…
    — Sai! — grita.
    Mantive-me imóvel vendo-o se distanciar até adentrar no quarto e fechar a porta. Fiz novamente: como na primeira, na segunda, na terceira e assim em diante pelos últimos quatro anos juntos. Não posso pedir para que ouça minhas explicações. Prometi que não esqueceria; não aceitaria nenhuma tarefa e chegaria a tempo, porém mais uma vez não mantive a tal palavra.
    Pego minha mochila que está jogada sobre o sofá. Desligo a luz da sala antes de entrar numa intensa indecisão mental: vou atrás dele ou devo de verdade ir embora? Minhas mãos estão trêmulas e sinto um excruciante aperto no coração. Viro meu rosto na direção do quarto, encarando-o por alguns minutos até finalmente decidir que neste exato momento, seria melhor deixá-lo em paz.
    ∞∞∞
    — Por Deus, eu quero fechar o bar e ir dormir — reclama minha tia jogando um pedaço de pano velho e úmido sobre a mesa vermelha de plástico tendo o nome de alguma cerveja — São mais de duas horas da madrugada, não percebeu que você é o único aqui? — pôs as mãos na cintura.
    — Eu posso fechar para você depois — digo, tomando o último gole da cerveja num copo branco descartável — Fui expulso, não posso voltar agora — senti um amargo na minha boca, mas não foi causado pela cerveja.
    — Você é expulso de casa e é no meu bar que vem se lamentar? — ela tem seu cabelo cacheado de tom marrom preso em um coque baixo, veste uma camisa preta de manga curta e um short jeans escuro acima dos joelhos.. 
    — A senhorita está ganhando dinheiro do seu sobrinho e mesmo assim reclama? Já vi esse bar ficar aberto até às quatro horas da manhã.
    Acabei sendo pego de surpresa por um forte tapa na minha nuca, virei meu rosto para ela sem saber o que dizer pois faz anos que eu não recebia um único golpe dela — tive más recordações dessa bendita mão pesada e dedos gordos.
    — Esqueça essa porcaria de cerveja e vai dormir, você tem trabalho amanhã. Coloque seus pensamentos no lugar e espere um bom momento para conversar com ele e se redimir.
    — Tia, você sempre incluí que eu tenha que me desculpar, mas nunca o Natanael — ainda que tenha razão sobre.
    Um segundo tapa foi me dado.
    — E quem é que vive fazendo besteira? Eu já teria largado você há muito tempo se eu fosse o Nael — pega o pano úmido de volta e retorna para juntar as cadeiras e as mesas — Ele é muito paciente, eu já teria te metido a facada igual a desgramada da Rita — soltei um sorriso forçado ao ouvi-la citando a música do Tierry.
    Ser paciente e cauteloso ao ponto de nunca ter jogado nada na minha cara pelas tantas vezes que quebrei minhas promessas é o que me faz sentir como um merda. Pelo menos eu saberia o quão machucado está, mas segurar tudo para si é milhares de vezes pior. 
    Conheço Natanael desde a minha adolescência. Frequentamos a mesma universidade em áreas diferentes e nos graduamos no mesmo ano —, só então, tive coragem de pedi-lo em namoro. Seria impossível não despertar sentimentos por ele, conseguiu me conquistar sem fazer nenhum esforço.
    Acho que eu nunca gaguejei tanto na minha vida como naquele dia. O fato dele ter rido daquela situação só me deixou mais nervoso, entretanto, eu fiquei feliz; pois além de ter me graduado na área que tanto almejei, também consegui o "sim" do Nael. Durante três anos juntos, seu comportamento nunca mudou e sequer deixou de ser o mesmo por quem me apaixonei.
    Não posso dizer o mesmo sobre mim.
    Quando que nosso relacionamento começou a desandar?
    Até o final do meu estágio estava indo tudo bem entre a gente, sequer discutimos, tampouco quebrava minhas promessas. Então… foi quando comecei a aceitar trabalhos extras? Obviamente é isso. Acreditei que apenas amar é o suficiente para manter uma relação — conseguir dinheiro é essencial. Aceitei muitas tarefas em tais dias que eu deveria ter folgado.
    Como ele deve ter se sentido por ter me esperado tanto e dado conta de que eu não apareceria? Meu peito se apertou só de imaginar a sua reação. Certamente, minha tia tem razão. Sou o único a quem devo desculpas a ele, por nunca ter sido presente nos planos em que ele sozinho preparou…
    — Merda — sussurrei, sentindo minhas lágrimas escorrendo por meus lábios — Eu realmente… sinto muito.
    ∞∞∞
    — Bom dia, Gustavo — diz minha colega de trabalho, Carolina — Sua cara tá péssima hoje.
    — Bom dia — retribuo — Sim, sei disso — murmurei me aproximando da minha mesa, coloco a mochila sob ela.
    Sento na cadeira e ligo meu computador. Preciso revisar um contrato para um dos clientes e firmá-lo com a seguradora. Observando a hora no meu relógio de pulso, tenho cerca de três horas para deixar tudo pronto até nos encontrarmos.
    Meus pensamentos voltavam para a noite passada, o que me atrapalhou no prosseguimento da minha leitura. Bufo relaxando meu corpo no encosto acolchoado da cadeira, junto às minhas mãos entrelaçando os dedos enquanto a cena de ontem está fixada na minha mente, repetindo como um loop infinito.
    — O que eu faço? — resmungo.
    Inclino meu corpo a frente pressionando meus cotovelos na borda da mesa. Esfrego meus dedos nas sobrancelhas sentindo uma leve dor de cabeça. Tenho de fazer algo, mas infelizmente, nenhuma ideia boa o suficiente surgiu e somente foquei no trabalho até o horário de voltar para a casa chegar.
    ∞∞∞
    O dia terminou bem, tirando o fato que a sensação de culpa continua me invadindo. Após pegar um Uber, pois meu carro continua na oficina há três dias, desci em frente a minha casa —, respirei fundo antes de passar pelo portão. Já que não aceitei nenhuma tarefa extra para esta noite, consegui chegar cedo.
    Devo entrar? — pergunto-me mentalmente.
    Não tive coragem de passar pela porta da sala. As luzes podem estar apagadas, mas o som da televisão ligada deixa claro que Natanael já está lá dentro. Respiro fundo pela segunda vez e giro a maçaneta da porta. Dando alguns passos ao entrar, vejo Nael sentado no sofá vestindo uma calça moletom cinza e camisa vermelha, assistindo a animação do Gato de botas.
    — Boa noite — falo baixo.
    — Boa noite — corresponde, sem ao menos olhar na minha direção.
    Decidi não insistir, por agora, irei começar devagar. Entro no quarto onde deixei minha mochila, levo algumas peças de roupas comigo para o banheiro e tomo um banho frio. Passando pela sala, notei que Nael não estava mais no sofá e ouço ruídos vindo da cozinha.
    Bebendo água a frente da pia
    — Podemos conversar? — pergunto.
    — Agora não, estou cansado — respondeu, guardando a jarra d'água na geladeira — Deixa pra amanhã, ou quando você tiver tempo.
    Suas últimas palavras foram como uma faca perfurando meu coração — ainda que eu não saiba a sensação, acho que não faria nenhuma diferença. Ele passou por mim e voltou a sentar-se no sofá.
    Voltei meu olhar para a cozinha caindo sobre a mesa, onde alguns chocolates foram deixados numa tigela. Ele tentou mais uma receita nos doces? As vezes quando não saem da forma que esperava, costuma trazê-los para casa. Natanael é formado em confeitaria e junto com mais dois amigos, eles abriram uma doceria.
    Caminhei até eles e peguei um pedaço para experimentar. O sabor amargo tocando minha língua me fez fazer careta e mal consegui engolir. Olhando para o pequeno pedaço entre meus dedos, suspirei.
    — Está amargo — balbucio. — Muito amargo.
    Retorno para a entrada entre a cozinha e a sala, observando-no em silêncio.
    Está cansado… ele deixa visível que não está falando de cansaço físico. Com clareza foi apenas para evitar de falar comigo. Iniciei passos curtos até o sofá e sento ao seu lado mantendo uma pequena distância de alguns centímetros. Desvio meu olhar de forma sorrateira da televisão para ele, o mesmo encarava o nada do outro lado.
    [...] Na real, não sei oque dizer. Já disse tantas desculpas anteriores que isso não significa nada agora.
    — Nael, eu… — ouvi resmungos vindo dele, inclinei minha cabeça para frente tentando saber o que estava acontecendo. Queria que fosse ele me amaldiçoando, mas não isto. — Você está chorando?
    Não houve respostas. Pego o controle pausando a animação, me aproximo dele e no instante em que o toquei, Nael se levantou a fim de distanciar-se outra vez. Segurei seu antebraço e o puxei para meu colo, deixando-o sentado de lado.
    — Tem o total direito de ficar com raiva, só não se afaste — deslizei meus dedos sob seus olhos para enxugar suas lágrimas.
    — Não estou com raiva de você, Gustavo — segura minha mão distanciado do seu rosto. — Estou magoado. Morarmos juntos não é tão diferente de morar sozinho, eu mal vejo você aqui. Muito menos nas suas folgas.
    Ele tem razão. Estou mais para um visitante do que morador, pois passo muito tempo no trabalho.
    — No início deixei passar, mas ficou cansativo. Foram poucas vezes que você compareceu em algum planejamento que fiz para passarmos juntos.
    Levantei meu rosto para olhá-lo nos olhos, a decepção está tão nítida que não aguentei e desviei para o lado. Esse olhar… é a primeira vez que o vejo em seu semblante.
    — Sei que gosta do seu trabalho, fico feliz com isso, mas dinheiro não compra tudo. — Nael junta suas mãos entre as coxas, e eu, continuei ouvindo em silêncio — É muito difícil aceitar a folga e ficar em casa? Não estamos passando necessidades, o quanto devo esperar? Até quando tenho que esperar? Eu fiquei lá parado por horas e você não apareceu, tem noção de como me senti?
    Não consegui pronunciar uma única palavra. Meus olhos encheram-se de lágrimas e segurei a força para que elas não caíssem e nenhum som saísse da minha boca. Nesse dia, Natanael havia marcado para nós nos encontrarmos no planetário assim que eu saísse do trabalho, mas minutos antes foi oferecida uma tarefa nada difícil. Acreditei que eu fosse terminar a tempo, mas ao chegar no local ele já não estava lá. Todavia, a tarefa não era obrigatória, me deixei levar pelo extra que eu receberia.
    — Desculpa — fora tudo o que consegui dizer. — Desculpas… — me peguei chorando novamente. Abracei sua cintura pondo meu rosto sobre ela.
    — Eu não quero suas desculpas, mas que tire um tempo comigo.
    Queria poder voltar no tempo e ter comparecido em todas aquelas ocasiões — o que de fato nunca irá acontecer. Consigo lidar com erros no trabalho, mas se tratando dele eu nunca sei como reagir.
    Eu o amo muito; tanto suas perfeições que mal sinto as imperfeições. Me sinto transbordando quando estou com ele, no entanto, devo tê-lo feito sentir-se de outra forma ao invés de usufruir da mesma sensação que ele me traz.
    Senti o toque de suas mãos deslizando na minha cabeça até as minhas bochechas, fui afastado e ele elevou meu rosto e nos encaramos.
    — Na sua próxima folga, você pode ficar em casa? Sem aceitar nenhuma tarefa?
    — Sim… — coloquei minha mão sobre a sua e trouxe para frente da minha boca, dando um leve selinho. — Eu vou ficar em casa — fez-se uma expressão desconfiado, o que foi compreensível. — Quando você acordar de manhã na minha folga, estarei do seu lado na cama, eu prometo.
    — Eu preciso de você aqui, só isso.
    Puxei ele para um abraço, não consigo imaginar o quão solitário ele estava se sentindo na minha ausência. Não confessei meus sentimentos naquela época para deixá-lo magoado. Eu errei. Deveria ter sido mais presente nem que fosse apenas para ficar em casa fazendo nada. Coloquei minha profissão em primeiro lugar sem ter percebido e, deixei de lado a pessoa que sempre esteve esperando a minha volta..
    Infelizmente, não tem como apagar o que já foi feito.
    — Eu estarei aqui — afirmei repetidas vezes.
    ∞∞∞
    — Soube pela minha irmã que você e o Nael discutiram outra vez — disse minha mãe, sentada na sua poltrona próxima ao rack da sala enquanto tricota um tapete.
    Ela me chamou para vir pegar um casaco que tricotou para Natanael. Desde que cheguei após sair do trabalho, me mantive aqui na sala sentado à sua frente sem saber onde está o bendito casaco que disse entregar. Me sinto um adolescente sendo repreendido.
    — Sim, mas já nos resolvemos — expliquei raso, coçando minha nuca.
    — Trabalho outra vez?
    — Eu cheguei um pouco tarde — respirei fundo e soltei o ar de uma só vez. — Onde está o casaco? Vai ficar tarde para voltar se eu demorar — levantei do sofá caminhando para outro cômodo, minha mãe veio logo atrás.
    — Está no meu quarto, vou pegar.
    — A senhora só fez um?
    — Sim, você não está merecendo. Talvez eu faça um tapete para você colocar perto do vaso — adentra no quarto. — Não posso acreditar que você é seu pai cuspido e escarrado até nisso.
    — Mãe, já falei que resolvemos isso — repito pondo minhas mãos na cintura.
    — E então? Por quanto tempo vai durar até a próxima pelo mesmo motivo? Seu pai dizia sempre as mesmas palavras e não durava muito. Não é atoa que pedi pelo divórcio, por que não? Era como ter me casado com um fantasma de qualquer forma.
    Ela remexeu dentro do guarda-roupa e trouxe um casaco dobrado de tom azul bebê.
    — Se não consegue separar o trabalho da vida pessoal, fica solteiro. Assim evita machucar quem está do seu lado.
    Fiquei encostado na parede do corredor segurando o casaco e observei minha mãe retornando para a sala. Ela pode ser tagarela e na maioria das vezes direta demais, mas admito que ela tem razão. Porém, não acho que terminar seja a solução.
    Não no meu caso.
    ∞∞∞
    A semana está passando calmamente e minha relação com Nael voltou ao normal, mas ainda tenho algo a ser feito. Falta pouco para meu horário ser encerrado e como previsto, William surgiu trazendo com ele mais uma tarefa extra.
    — Gustavo, você pode resolver isso? Irá ser pago como sempre — aponta uma pasta fina contendo alguns papéis dentro.
    — Desculpa William, mas irei passar dessa vez. Tenho algo importante para fazer, quem sabe na próxima.
    — Não tem problema, irei pedir a outra pessoa — dito isso, ele se afastou a caminho de outros funcionários.
    A princípio, imaginei que ele fosse insistir, mas foi tão fácil de aceitar minha recusa que me sinto patético por não ter feito isso antes. Continuei com meu trabalho até que terminasse por completo antes de finalmente ir embora.
    ∞∞∞
    Eu mal lembro de quando foi a última vez que cheguei em casa primeiro. O silêncio é algo que não estou acostumado já que sempre possui algum som quando Nael está presente.
    Guardei a mochila e tomei banho, entrei na cozinha para comer algo e me deparei com a cafeteira elétrica ainda ligada na tomada. Encaro ela por um tempo. Eu odeio café e qualquer coisa que seja amarga, mas nunca contei a Natanael depois que começamos a viver juntos.
    E não pretendo contar nunca.
    Ele está sempre bebendo esse negócio horrível e imaginei que fazer companhia não seria uma má ideia — tive de me esforçar para não fazer careta. O que ajudou a manter serenidade foi colocar bastante açúcar.
    Parando pra pensar, eu fingi gostar de muitas coisas por causa dele. Percebi que eram poucas coisas que tínhamos em comum, apesar disso, não me impediu de nutrir sentimentos em relação a ele. Creio que se Nael descobrir, estarei ferrado.
    Limpei a cafeteira e a guardei, fiz um lanche e fiquei pela sala assistindo televisão. Sequer me dei conta de que caí no sono e despertei pelo barulho na casa. Sentei ainda sonolento e esperei alguns segundos para me levantar.
    — Por que não me acordou? — perguntei após entrar na cozinha.
    — Você estava dormindo como uma pedra, não queria te acordar.
    Cruzei os braços e logo coloquei a mão de frente a boca no momento em que bocejei. Fiquei no mesmo lugar observando-o fazendo café depois de pegar a cafeteira dentro do armário. Encaro o relógio quadrado na parede, apenas três horas se passaram desde que cheguei.
    — Está cansado? — pergunto.
    — Não, hoje não foi tão corrido.
    — Você quer sair?
    Natanael virou-se com uma expressão um tanto engraçada, eu queria ter rido, mas o quanto ele estava esperando por esse convite? Essa minha pergunta mental me impediu de rir. O mesmo se aproximou me dando um abraço junto com sua confirmação.
    ∞∞∞
    Acabamos vindo no Burger King no centro da cidade, desde que abriu há pouco menos de dois anos nunca viemos aqui. Felizmente não está tão cheio pois detesto barulho em excesso — mesmo se tivesse, eu não me importaria de suportar.
    — Vou escolher o lugar — avisa Nael.
    — Certo, vou fazer o pedido.
    Nos distanciamos e fiquei na fila que apesar de grande o que deu a entender que o lugar não estava realmente — pouco — vazio, andou rápido. Pedi por um milkshake de morango e outro de chocolate, dois… mega stacker cheddar empanado ou seja lá nome —, por que tão grande? Peguei o papel contendo o código do meu pedido e fui à procura do lugar que Nael escolheu.
    Bem escondido, aliás.
    Sentei de frente para ele e do nosso lado contém a vidraça dando a vista movimentada da cidade do rio de janeiro anoitecendo.
    — Estou feliz que tenha me convidado, mas…
    — Sei o que vai dizer, e não — interrompi. — Não estou fazendo isso só porque pediu, e sim porque eu não queria te decepcionar novamente e deixar esperando que eu compareça.
    — Você nunca me decepcionou da onde tirou isso?
    — Mas deveria — insinuei. — Me conta quando eu estiver passando dos limites, se fiz algo que não gostou ou qualquer coisa que eu precise melhorar, só não quero que guarde para si mesmo.
    Aquela foi a primeira vez que o vi chorando de tristeza. Meu estômago parecia embrulhar pelo que causei a ele.
    — Eu só fiquei muito emotivo — belisquei seu nariz vendo que ele ainda insiste em cobrir o que estava sentindo. — Merda, isso dói!
     — Estou falando sério, não vou ficar chateado se você for sincero.
    Natanael estava com a mão no nariz e não pude conter o riso ao ver o vermelho se intensificando na ponta. Recebi um chute na perna e ouvi o número do meu pedido soar. Me levantei para pegar e voltei sem demora para a mesa.
    Esperei que ele pegasse primeiro, observei o casaco que veste feito por minha mãe dias atrás. Serviu tão bem nele que às vezes penso que o filho verdadeiro dela é ele e não eu — a mesma se atreveu a me entregar um conjunto de tapetes para pôr no banheiro. Terminar… eu nunca me atreveria a tocar nesse assunto.
    — Está me encarando por que? Não vai comer? Se demorar demais vai ficar sem — diz com a boca cheia.
    — Passa fome — resmungo pegando o copo de milkshake.
    Eu não bebi após colocar o canudo na boca, por algum motivo senti que não iria descer pois o gosto amargo se fazia presente na minha língua. Encarei novamente Natanael que parecia não ter comido há dias. Dei um leve sorriso e coloquei o copo de volta na mesa.
    — Nael?
    — Hum?
    — Eu te amo — esperei que levantasse o olhar e repeti, apenas no caso dele achar que ouviu errado. — Eu te amo muito, muito mesmo.
    — Eu também te amo — retribui. — Muito mesmo. — sorriu.
    Finalmente senti meu coração leve, peguei o milkshake de volta e bebi sentindo o sabor doce do chocolate descer pela minha garganta. Irei me esforçar para manter esse sorriso no rosto dele, não quero sentir essa amargura no meu interior, tampouco possuir uma relação meio amargo com quem eu quero que seja apenas doce.


    Fim!!


  • Renascerei.

    Eu amo você, mas eu me amo mais.
    Amo cada palavra que você disse, aquelas meias verdades banhadas de carência e maldade, que me prendiam cada vez mais ao que você chamava de "nosso amor".
    Fala que ama sussurrando ao meu ouvido, mas fala olhando nos meus olhos? Fala que ama em várias mensagens que me enviou, mas ama quando não estou perto?
    Fala que ama mas, meu bem, você não sabe o que é amor. A boca que me beijou, que me levou a loucura, que me jurou o para sempre, é a mesma que destila ódio sobre mim.
    Você me teve, em cada respiração, em cada sorriso, em cada lágrima, em cada eu.te.amo. Você me teve não porque merecia, mas porque o meu amor era só teu. Você me teve. Mas meu bem, você não sabe amar.
    Fala que me ama, mas meu amor, você se ama? Eu respondo para você: você ama o que tem para si. Você ama o controle emocional que exerce, a dependência afetiva. Você ama me ter, mas não me ama porque, meu bem, você não sabe amar.
    Olha aqui nos meus olhos. Você acha mesmo que vai encontrar esse brilho, essa paz, esse amor verdadeiro que eu tenho por você, esse cuidado por aí? Nas festas, nos bares, nas esquinas? Você não sabe amar, mas sabe que eu sei. Você sabe.
    Hoje, longe de você, eu sofro. Amar é um verbo que fica ótimo completo, recíproco. Mas, meu bem, por que você não sabe amar?
    Hoje, o amor que te florescia é o mesmo que me seca. É o que me fere. Mas serei forte. Pegarei cada gota de amor que meu coração derrama por você e irei me regar. Regar minha mente, para que ela pare de pensar em você. Regar meu corpo, para que ele pare de pedir pelo seu. Regar meus olhos, para que ele não procure seu sorriso no meio da multidão. Hoje, sou pó. Mas eu sei amar. Renascerei.
  • Sátiras unebianas

    Eu sou mais competente que a Damares
    “Essa grande defensora da família”
    Não sabia que pra estar num ministério
    Bastava fazer um cursinho de Bíblia
    A faculdade onde ela se graduou
    Teve sua titulação revogada
    Não é mais instituição de Ensino Superior
    Se ela ainda nem é graduada
    Como vai ser mestra de nada?
    Eu vejo ela como um nada
    Multiplique zero x zero
    E o resultado ainda será nada
    Eu nem sei se ela nada!
    Minha pena está cheia de sangue
    Mas não sou uma galinha tratada
    A ministra da Mulher é uma bruxa
    Que acha que é uma fada
    Mais formado que a Damares Alves
    Bibliografia mais real que a do Ricardo Velez
    Mais honesto que o Ricardo Sales
    Não tenho formação fantasma igual o Decotelli
    O navio dele só se afunda
    Enquanto meu avião decola
    Sempre fui aluno da escola pública
    Não precisei de plágio e nem cola
    Cota é um direito adquirido
    Não vejo como uma esmola
    Negros se juntam com o opressor
    Por oportunismo de privilégios
    Quem é que se identifica
    Com gente que não se leva a sério?
    Você viu qual foi o resultado
    Achou que ia ser melhor
    Não tenho nada com capitalista,
    Com comunista ou anarquista
    Eu só não consigo dialogar
    Com gente irracionalista
    Me bloqueia no Zap
    Me exclui da sua lista
    Esse governo é uma piada
    Nem adianta ser absurdista
    E o MBL?
    É mover o Brasil com lerdeza
    A classe média bate panela
    Tão tudo morrendo de fome?
    E nós pobre com comida na mesa
    Essa classe média
    Vai viver na média
    Vai morrer na média
    Enquanto vociferam
    Eu vou ultrapassando a minha própria média
    Eu não faço miçanga
    Nunca tive aula de artesanato
    Mas quando eu me graduar
    Vai ser o meu melhor ato!
    O Brasil não muda com paliativos
    Tem que mexer nas estruturas
    Mas sempre que vem a mudança positiva
    Abrimos as pernas pra uma ditadura
    Eu tenho a poesia social
    Vocês têm a posição social
    Eu acho uma troca justa
    Até que não ficou tão mal.

Autores.com.br
Curitiba - PR

webmaster@number1.com.br