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delírio

  • Assassino Familiar

    Todos estavam festejando e brindando com as suas caras garrafas de champanhe em um pequeno círculo. Era fim de ano e toda a família estava comemorando por estarem bem e juntos em uma bela cobertura de frente para o mar. Não era uma família muito grande, tendo uma esposa e seu marido, que tinham uns 45 anos, e seus 4 filhos: um casal de gêmeos com 20 anos, uma menina com 18 e um menino de 15 anos. Antes mesmo da meia-noite e ainda com vários pratos à disposição para serem devorados, todos estavam dormindo e nem os fogos de artifício que brotavam de todos os cantos foram capazes de acordar essa família.
    O primeiro a acordar foi o jovem de 15 anos. Ele abriu os olhos bem devagar como se as suas pálpebras pesassem dezenas de quilos e percebeu que ainda estava de noite. Ele tentou se levantar jogando um dos braços para a frente para se apoiar no chão, mas não conseguiu e acabou com a cara no chão. Na queda, mordeu a língua e uma dor aguda foi direto para o seu cérebro, fazendo todos os músculos faciais se revirarem. Foi aí que percebeu que os seus braços e pernas estavam amarrados de maneira bem firme, chegando inclusive a doer um pouco. E o cheiro, o cheiro também era forte e confundia os sentidos. Ele vinha de todos os lugares: das roupas, das paredes e da enorme poça em que estava sentado. Finalmente percebeu que estava em uma piscina inflável que nunca tinha visto antes com outras três pessoas ainda desacordadas. Piscou algumas vezes tentando aumentar a velocidade dos seus olhos para fazer com que o seu cérebro pegasse no tranco. Depois de uma dezena de piscadas, percebeu que o cheiro era de gasolina. E que não era pouca, pois parecia que tinha uns três postos à sua volta em um dia bem movimentado de promoção. Sentiu o seu estômago se revirar por causa do cheiro e do medo crescente. Os seus olhos começaram a marejar, mas pouco antes de sua visão ficar encoberta pelas lágrimas identificou que aqueles que estavam ao seu lado eram a sua família com a exceção dos gêmeos.
    Ele não tinha forças o suficiente para voltar a ficar sentado, então foi tentando se virar de barriga para cima para tentar achar os seus irmãos. Quando se virou para o lado oposto, o seu rosto ficou paralisado tentando entender o que estava acontecendo. Ele viu a sua irmã segurando uma faca enquanto encarava o gêmeo que estava amarrado em uma cadeira de madeira. Ela sorria com os seus olhos vidrados no gêmeo, sem desviá-los nem mesmo por um segundo. Ainda deitado no chão, ele tentou falar alguma coisa, perguntar o que estava acontecendo, o porquê disso tudo ou qualquer outra coisa que levasse a algum diálogo, mas só conseguiu balbuciar alguns sons sem sentido. Foi o suficiente para que ela virasse o rosto. Embora os seus olhos parecessem aterrorizados, o sorriso macabro continuava em seu rosto. Ela deu alguns passos em direção a ele e ao resto dos seus familiares amarrados, mas repentinamente e bruscamente parou na metade do caminho. Ficou os encarando por uns 10 segundos antes de começar a falar:
    — Finalmente acordaram para o show! — a sua voz estava trêmula — Não é nada pessoal com nenhum de vocês, só quero me divertir um pouco. Se me deixarem em paz, a vida continuará! — ela voltou a andar na direção deles, levantou o irmão que estava no chão o deixando sentado e depois deu as costas e voltou a encarar o seu gêmeo. Durante toda a fala os olhos dela estavam marejados e assustados, mas o sorriso maníaco não saiu em momento algum.
    Todos da família estavam assistindo atentamente cada movimento que ela fazia sem pronunciar nenhuma palavra. Ela ficou olhando para uma mesa que, pela distância, a sua família não conseguia saber o que tinha nela. Depois de quase um minuto em que ficou quase sem se movimentar, a não ser por uns leves movimentos de não com a cabeça, ela pegou um martelo e um prego de uns 8 centímetros, posicionou o prego no joelho do gêmeo que não parava de repetir a palavra “não”, tomou distância com a mão, disse “sim” e com apenas uma martelada enfiou o prego inteiro bem na articulação do joelho. O gêmeo deu um enorme grito de dor e recebeu um soco por causa disso. Ele chorava como um recém-nascido e, talvez por causa do barulho, ela amordaçou o gêmeo. Os seus pais começaram a implorar para que ela parasse e por isso foram amordaçados também. Os outros dois irmãos não emitiram nenhum som. Eles olhavam, mas não acreditavam. Talvez pensassem que era um pesadelo ou que tinha alguma droga alucinógena no champanhe, aquilo só não podia ser real. Mas para o gêmeo era real e ficava ainda mais a cada minuto que passava e a tortura aumentava.
    Logo quando terminou de amordaçar os pais, voltou para o gêmeo e pregou o outro joelho dele. A família tentava desviar o olhar, mas sempre um acabava vendo alguma parte da tortura. As unhas sendo arrancadas lentamente com alicate ou rapidamente com pedaços de madeira embaixo delas, os diversos cortes feitos pelo corpo, a órbita ocular sendo arrancada com uma colher, a língua sendo arrancada com uma faca quente e as articulações sendo rompidas uma a uma. Essas foram apenas algumas das que eles tiveram estômago para ver. Normalmente elas aconteciam depois de um momento de alívio quando tudo ficava em silêncio. Esse silêncio era a esperança de que o gêmeo tinha morrido e que o seu sofrimento tinha acabado. Mas em todas as vezes ele só tinha desmaiado e em todas elas o gêmeo era obrigado a acordar seja por injeções de adrenalina ou por cheirar amônia, a tortura tinha que continuar.
    Ela só acabou depois de umas duas horas quando ela encharcou o corpo do gêmeo com gasolina e ficou parada na frente de todos com o seu maldito sorriso e com lágrimas saindo dos seus olhos.
    — Todos nos comportamos muito bem e por isso vamos sobreviver. Logo tudo isso irá acabar e poderemos voltar a viver nossas vidas normalmente. — Ela acendeu o isqueiro e ficou com ele no ar de olhos fechados enquanto as lágrimas aumentavam. Depois de uns quinze segundos a sua mão ficou mole e o soltou, caindo em uma poça de gasolina no chão e iniciando um incêndio sobre o corpo do gêmeo. Todos da família assistiam sem acreditar no que os olhos viam, quietos, pasmos. Eles viram o fogo atingir primeiro as pernas do gêmeo, fazendo com que os músculos da panturrilha se contraíssem em meio aos gritos de dor. Quando o fogo atingiu a barriga e o peito, os punhos já estavam fechados, mas os músculos da nuca se enrijeceram forçando o pescoço a virar a cabeça para o alto como se os seus gritos praguejassem contra um deus cruel. Até que um silêncio quase total atingiu a cobertura, a não ser pelos choros e pelo baixo estalar do fogo. O gêmeo agora parecia uma estátua de pedra completamente cinza e sem vida, mas que ainda transmitia a dor e o sofrimento que a artista queria provocar.
    Logo depois que os gritos acabaram, o resto da família foi dopada novamente e posta para dormir. Eles só acordaram quando a polícia chegou e todos esperavam que os policiais dissessem que tinha sido só um pesadelo. Quando era confirmada a realidade, o choro intenso voltava a acontecer. A gêmea também foi encontrada desacordada e quando voltou a consciência não parava de repetir que foi forçada a fazer tudo. Durante os depoimentos da família à polícia, tudo a apontava como culpada, mas ela insistia em sua inocência. Segundo sua versão, ela também foi dopada e acordou um pouco antes de todos. O seu irmão gêmeo já estava amarrado e, por mais que tentasse, não conseguia tirar o sorriso do rosto que parecia pregado na face. Foi aí que começou a ouvir uma voz em seu ouvido direito como se tivesse outra pessoa falando em um ponto nele. Era essa voz que estava ordenando cada ação que ela fazia e, se sequer hesitasse em obedecer, a voz dizia que toda a sua família iria sofrer e morrer por culpa dela. Então ela teve que decidir quantos iriam morrer e ela optou pela opção que tinha menos vítimas.
    Apesar de uma extensa investigação, nenhuma prova que sustentasse a versão dela foi encontrada. Não havia sinal de toxinas em seu organismo que pudessem ter causado o sorriso e nem algum vestígio de qualquer equipamento eletrônico que pudesse justificar as vozes em seu ouvido. Quase toda a sua família acreditava que ela era um monstro, com exceção do seu irmão que se apegava ao terror que viu nos olhos dela no dia do ano novo. Mesmo com o apoio dele, ela foi condenada a quase cem anos de prisão em um hospital psiquiátrico. Será nele onde passará o resto de sua vida como uma vilã sádica para alguns e, para outros, como uma heroína que se sacrificou para que sua família pudesse sobreviver.
  • Ausência e Devaneio

    Sem objetivo ou motivo
    A bebida vai acabando
    O cigarro vai queimando
    Infinitamente
    Em um ciclo, vicioso.

    Como esse nossos desejo
    Um pelo outro
    Eufórico e ansioso
    Na sua ausência, o meu desejo.
    Na sua presença, o meu anseio.
    Amo-te e te odeio

    Na primeira estrofe, nos primeiros versos.
    É onde me encontro
    Nesse mundo vazio
    Cheios de devaneios
  • Beco do Adeus

    Com os olhos fechados e calo nesse mundo de ódio e amor aos poucos meus olhos escorem gotas que caiem no chão, que me lembra de tudo que fiz e cada vez me deixa mais confuso já não sei oque fazer perdido em delírio de pensamento pessimistas que me levaram esse lugar escoro chamado de beco. Jogado no chão a chorar parece apenas um conto de um livro de ficção momento que o protagonista é derrota ou perde alguém que ama bem minha historia é diferente estou aqui, pois nunca ter nada, perde sempre, ser zero a esquerda, não consegui ser o protagonista da minha própria vida é engraçado dizer nesse momento poderia ser aqueles que as pessoas percebem que ficarem chorando não vai mudar nada, mas já passei por isso, mas não mudou nada sabe antes que m julgue como um cara que não quer lutar pelos seus sonhos entenda que  nem todos desistem por não ter coragem de lutar uns só estão cansados de perder sabe é fácil falar levante a cabeça e siga em frente quando  você não  perdeu mais vezes que pode contar. Caralho isso esta  muito desmotivador até pra min mas vou te mandar real irmão você  provável que seja alguém  melhor que eu já que estou morto nesse momento que esta lendo isso, mas mesmo tendo uma vida de bosta tive momentos  bons, olha tive um amor ela era linda mas tive que deixar ela parti ter uma vida melhor, amigos verdadeiros,  muitas coisas boas só que tudo oque realmente tentava  fazer de útil não dava certo desde de criança então hoje eu parto para um outro começo. Adeus caro leitor.
  • Café, Rotina e um Pouco de Horror

    Essa sempre foi minha rotina no final da tarde: chegava do trabalho muito cansada, sem coragem até mesmo para usar as chaves e abrir a porta, deixar o café esquentar na cafeteira, enquanto jogava minhas roupas por todo lado da casa e procurava por algum filme na Netflix.
    Filmes de terror nunca me assustaram, mas ver pessoas tomando sustos e entrar em desespero me garantia boas gargalhadas antes de cair no sono. Hoje algo diferente e assustador aconteceu.
    Assim que cheguei e seguia rigidamente minha rotina, na cozinha aconteceu algo que para mim não passava de um acidente doméstico causado por algum descuido. Afinal, é comum que uma pessoa cansada coloque sua cafeteira na beirada da mesa de cozinha e ele caia com o chacoalhar da água fervendo. Pois bem, a cafeteira caiu, tomei um susto, mas ignorei e nem mesmo levantei para limpar o chão, apenas voltei para a TV, mas quando olhei, ela estava na página do YouTube e na caixa de pesquisa, tinha palavras como: demônio, rituais e suicídios. O que me deixou confusa foi o fato de que eu não lembro de abrir o YouTube. Enquanto tentava lembrar em que momento eu havia entrado naquela aba, algo ainda mais estranho aconteceu. Senti um frio na minha nuca, na verdade era como se alguém estivesse soprando em linha reta nas minhas costas, assustada, imediatamente virei sem saber o que procurar, pois estava sozinha e neste mesmo instante sentir um dedo subir por minhas pernas, a parti dos joelhos, em direção a minha virilha.
    Aquilo já era demais, eu tentei não acreditar, queria não acreditar. Corri em direção as minhas roupas espalhadas pela casa e tentei vesti-las o mais rápido possível. Ainda sem terminar de me vestir, com a intenção de sair, dei alguns passos até a poltrona onde deixei o controle da TV e o peguei, mas quando pressionei o botão de desligar, a TV nem mesmo piscava. Aproximei-me para desliga-la manualmente e ainda assim ela permanecia ligada, mas a angustia tomou total controle quando puxei o cabo de energia e ela não desligou, aquilo fez meu mundo desmoronar, não era possível.
    O frio aumentou e eu já podia sentir meus dentes tremer, e não sabia se era de frio ou medo. Olhei ao meu redor e tudo que passava por minha cabeça eram as palavras; suicídio e demônio. Corri até a porta, não queria passar nem mesmo mais um segundo ali dentro, mas antes de sair fui desligar a luz, a luz também não desligava, mesmo clicando várias vezes com muita raiva e isso pareceu dar mais força para tudo aquilo, pois o controle foi arremessado na parede, espalhando-se em alguns pedaços no chão. Senti minha pele umedecer em lágrimas, estava entrando em pânico. Pânico ainda não é suficiente para descrever o meu estado emocional naquele momento e foi por consequência que decidi fazer a única coisa que podia me tirar daquele pesadelo. Peguei garfo todo metálico e fui até a primeira tomada de energia e empurrei-o, eu esperava que fosse instantâneo, nada aconteceu, achei que estivesse fazendo errado e continuei tentando, mas quando percebi que nada aconteceria, eu dei um grito estridente e chorei ainda mais. Ajoelhada e sem esperanças coloquei as mãos nos ouvidos para não ouvir as batidas das gavetas de talheres que havia acabado de começar junto com uma almofada que foi arremessada em direção a janela, não pensei duas vezes quando a segui e pulei para fora da janela.
    Tudo ficou escuro por alguns segundos, seguido por um clarão. Eu estava acordada. Estava confusa. Peguei o controle da TV onde passava o vídeo de um homem com máscara de coelho e parecia contar uma história sobre demônios, quase me distraí, mas quando finalmente pressionei o botão, rapidamente ela desligou. Fui até a cozinha e a cafeteira estava inteira em cima da mesa e o café nem estava fervendo ainda. Mas eu continuava com muito frio!
  • Cão Morto

    Muito morto, tanto quanto pode ser. Sim. E mais: Contente.
    Senti uma bofetada no rosto. Ele não, estava morto. Um morto não se assusta com um vivo, muito menos aquele desvivido, bravo. Negaram, abandonaram, maltrataram e por fim, mataram-no. E mesmo assim, permanecia como um monumento anônimo numa rua perdida de uma Curitiba estranha. Olhos escancarados em desafio inconveniente à vida que lhe foi tão custosa, a língua para fora estancando um sorriso macabro.
    Voltando ao golpe. Fui pego de surpresa, mas é redundante, golpes são assim. Eu que, arrogantemente, andava em plena vida nesse mundo de imortais, me virei, dei de cara com a morte. E ela me esbofeteou. Justo. Sem aviso ou mensagem, interrompi sua peça póstuma em ousadia digna de gente. Como quem não quer nada adentrei em sua morada e chutei o trabalho de sua, ironicamente, vida.
    Mas foi ela (a vida) quem primeiro me bateu, a fragrância de milhões e milhões de seres vivos lutando uma batalha infinda pelos restos do cão, excretando compostos dos mais variados e malcheirosos. Desculpa, menti, afinal a vida e a morte são a mesma donzela, e seu tapa era igual. E ele ria, em deboche. Ele? Sim, o cão.
    Porque, fruto do desprezo de milhares de pessoas estava ali, morto mas nunca tão cheio de vida, contra a vontade de todos que empinaram o nariz a ele. Havia vencido. Pela ação de milhões de decompositores cada pedaço de matéria em sua carcaça renasceria, era imortal e isso lhe dava certo contentamento a morte e a vida que teve.
    Um dia, pensei eu afagando o rosto moralmente doído, ele será gente, e empinará o nariz para aqueles que um dia lhe foram irmãos no abandono. Ai eu entendi. Tempos atrás, havia sido cão e, algum dia, amaldiçoei essa raça esnobe e estranha que me negava. Ironicamente, em uso do ciclo interminável da matéria, eu renasci gente e tive a chance também de negar meu passado oculto. Devo tê-la tomado, não lembro, o que torna o pecado ainda pior.
    Ele ria entre moscas e tive pena, por fim. Meu rosto já esfriava, o dele era o próximo. As mil próximas vidas lhe custariam muito mais que essa, ele ria, morto, contente, inocente.
  • Cascas de Semente

    Era um sábado quando vi nuvens de tempestade se aproximando. Ventos fortes atingiam a cidade em um fim de tarde, e a escuridão que se aproximava estragou o lindo pôr do sol que estava prestes a acontecer. Pássaros cantavam enquanto voltavam para as suas casas em busca de proteção.

    A chuva é boa para diversas pessoas, mas ruim para muitas outras. Infelizmente, não tinha como pensar nessas pessoas quando a chuva estava vindo, afinal não tinha nenhuma delas por perto para me lembrar disso. Ao contrário de boa parte da cidade, estava abrigado quando trovões soavam e raios eram vistos no meio dos relâmpagos. Porém eu ainda podia pensar em algo. Antes dos trovões, quando a tempestade ainda estava para chegar, era possível ver uma árvore da janela da qual eu estava perto. Ela estava carregada de grandes cascas de sementes, a maioria seca, com tons amarronzados, duras e velhas. O vento forte venceu quase todas, exceto duas. Elas não pareciam mais jovens do que as outras, eram simplesmente normais. Estavam no mesmo galho, mas eu não conseguia crer que só sobraram elas. Procurei por um longo tempo, examinando cada parte da árvore, porém não tinha nada além delas.

    Agora, já de volta com os raios e relâmpagos, fiquei me perguntando sobre o porquê de duas e somente essas duas tentarem resistir a uma tempestade mortífera. Elas podiam estar com medo de se soltarem e do que viria depois disso. Esse medo pode ter paralisado elas, impedindo que se juntassem as outras que já estavam no chão. Talvez também quisessem ver mais uma vez a paisagem lá de cima antes de serem jogadas para todos os lados pelo vento forte. Porém há uma outra explicação que particularmente me encanta: as duas cascas de semente, mesmo já estando velhas e terem visto muito isso, queriam apreciar o seu último pôr do sol que ocorreria no dia seguinte, já que este lhes fora surrupiado. Pode ser que, em sua morte, elas só queriam ver o sol sumindo devagar mais uma última vez enquanto uma brisa suave, e não um vento violento, as retirava calmamente de seu galho.

    Essa última hipótese me cativou tanto que de cinco em cinco minutos olhava pela janela para verificar se elas continuavam lá. Não queria fazer isso, lutava contra essa vontade de ficar observando elas para poder me concentrar em outros afazeres, mas simplesmente não conseguia. Percebi, então, que eu estava torcendo pelas lindas cascas de semente. Queria que elas sobrevivessem para que pudessem ver o seu pôr do sol.

    Peguei no sono antes da tempestade terminar e a primeira coisa que fiz quando acordei foi olhar pela janela. Lá estavam elas, as duas grandes sobreviventes. Esperei até o sol começar a dar tchau e me sentei embaixo da árvore para comemorar essa vitória com as cascas de semente. Depois disso, não quis mais olhar pela janela, pois não queria ver a morte das minhas duas heroínas.
     
  • Celeiro de José

    O dardejar dos raios de sol pressagiava mais uma aurora naquela fazendola no interior agrestino. As sabiás e os bem-te-vis desatavam a cantar e as cigarras já indicavam o castigo solar que vinha. Seu José acordou tremendamente diferente, tinha tido um pesadelo que talvez prenunciasse a algo. Acordou abatido, mesmo assim, não se deixou levar pelas intempéries oníricas, foi metodicamente realizar seus quefazeres cotidianos: ordenhar a vaca, cuidar da ração dos bois e carneiros, alimentar as aves; enquanto isso Maria, sua mulher, estava preparando o café. Quando foram tomar café, maria notou josé muito abatido e questionou-o: 
    —o que aconteceu com você? 
    —nada não mulher. 
    —deixe de enrolação, sei muito bem quando está incomodado com alguma coisa. 
    —deixe de bobagem e vá tomar seu café. 
    —Mas num vou de jeito nenhum. cuide e desembuche logo. 
    —eu já disse 
    — você num disse nada. pois tá bem. 
    e assim maria saiu arretada da cozinha. Durante a tarde, após José chegar da roça, maria notou muito estranho; ele estava escrevendo algo em um papel. Maria ao vê-lo, gritou: 
    —Que danado tu tá fazendo agora? 
    —nada não 
    —endoidou agora. Este matuto tá escrevendo agora. Meu Deus, é o fim do mundo. 
    —não tô escrevendo. Cuide procurar o que fazer. 
    —Vish maria, tá perdendo o juízo. Nem cinquenta anos tem ainda e já tá pirando. 
    Após esse ínterim, Maria foi preparar uma sopa para o jantar. Seu José ainda não saiu do quarto e isso causou novamente um grande incômodo a maria. Ao terminar a sopa, maria pegou uma colher de pau e foi até ele descobrir o que estava fazendo. 
    —O que danado tu tai fazendo zé. 
    —já disse, nada. 
    —cuide, me dê esse papel aí. 
    E maria ferozmente tomou o papel da mão de josé e ficou muito surpresa, ele não estava escrevendo e sim desenhando; desenhou uma espécie de casa. 
    —que diabos é isso agora? você virou desenhista foi? 
    —não! disse ele friamente 
    — e o que é isto então? 
    —já falei que não é nada. 
    —Mas num to cega. Você vai me dizer dum jeito ou doutro. cuide desembuche de uma vez hôme. 
    —Eita mulher para aperrear meu juízo. Isto aí é apenas um desenho que veio na minha cabeça. 
    —pra que tu quer isso? 
    —pra nada. 
    foi quando maria pegou uma vassoura que estava no quarto e ameaçou ele impiedosamente. Ele, temendo levar umas porradas, acabou contando o que estava por trás daquele desenho. 
    Maria ao ouvir, disse que ele estava bem doido mesmo. José calmamente retrucou: talvez! 
    No dia seguinte josé foi coletar madeira para tal projeto e isso deixou maria perplexa. 
    Passaram 4 meses, José estava prestes a terminar o seu projeto. Maria cada dia ficava mais preocupada com a loucura dele. José de tempos para cá, começou a trabalhar incansavelmente, plantando, colhendo, estocando, construindo... 
    Quando por fim terminou seu projeto, não aparentava uma casa e sim um grande celeiro. Ele estocou comida não só para ele como também para seus animais. Os vizinhos acharam josé muito estranho, eles se perguntavam o por quê de tanto trabalhado, e além do mais, para quê um celeiro no sertão. Certa vez, veio uns primos distante até a casa de José, com uma pretensão implícita, eles vieram trazer alguns produtos orgânicos como forma de omitir sua verdadeira intensão: descobrir o porquê dessa construção. Ao passar o dia, eles em uma conversa trivial, acabaram induzindo ao questionamento do celeiro. José disse que era para se proteger contra o frio, e assim, eles discretamente riram, e retrucaram: 
    —Seu zé, de onde é que esse frio virá? Aqui é sertão e o único frio que tem é o da geladeira. 
    José por um momento se omitiu mentalmente, refletindo sobre o seu sonho assustador. Após alguns segundos, ele retornou e disse: 
    — Certa vez tive um sonho curioso. E que me fez fazer isto. 
    — Que sonho, conte-nos? 
    — A terra quente e amarronzada do sertão ficava fria e branca. 
    —Mas zé, ter pesadelos é normal, pesadelos e sonhos são distorções da realidade. 
    —tempos atrás, sonhei durante 2 semanas o sertão morrendo, não pelo calor e sim pelo frio, nos dois últimos dias da sucessão de sonhos, vi uma casa no meio do gelo, era grande e abrigava animais, era o celeiro que fiz. 
    —Zé, aqui é agreste, é até difícil chover, imagine gear . Sertão é seco, nem Antônio estava certo, quando disse que o sertão ia virar mar. E agora vem você, dizendo que vai nevar. 
    —Se não acreditas, não cabe a eu julgar. O que eu tive foi uma visão, que por mais que seja bobagem, a convicção que tenho é que esta estiagem vai dar lugar a uma passagem, em que ninguém ia imaginar. 
    E assim, seus primos saíram rindo, e josé calado ficou, Maria cada vez mais preocupada com José, pensou que ele deva está doente e que o sol quente tenha fritado seu juízo. 
    Em uma noite calma, uma chuvinha fina dançava sobre as telhas. Acresce que, aos poucos essa chuvinha começava a engrossar, e José na cama dizendo que a hora já ia chegar. De manhã cedo, José acordou, a chuva ainda estava forte, pegou um guarda-chuva, e foi até seus bichos guardar no celeiro. Quando voltou molhado, a mulher se arrepiou, pensava ela: será que ele está certo, será que com o dilúvio a neve vai chegar?. Mas tarde a chuva parou e o sol novamente raiou, sem piedades evaporou tudo que na terra foi abençoado. O calor reinou e com isso maria viu que josé estava errado. José não ficou preocupado, disse a maria que no seu sonho, aquilo era um aviso, e mas tarde a neve ia chegar. Passaram semanas, meses, e o sol cada vez mais forte, o sol castigava tudo e todos, a água estava escassa e josé ainda não desanimou. Maria estava com medo de José perder o resto do juízo que tinha com aquela ideia fixa. Após 3 meses do projeto de josé ter sido finalizado, a chuva começava a lavar a terra estéril, o pasto vagarosamente crescia, os animais se deliciavam, as seriemas gritavam anunciando a vida que nascia do solo rachado — era o paraíso. José sempre com a convicção iminente, tinha fé na sua profecia. Os meses foram se passando e a seca foi reinando, tudo que em um momento vivia o apogeu, viu seu declínio sendo devastado com sol... 
    Até hoje os bisnetos de José levam a profecia do tataravô como uma emblema. Quem sabe um dia do sertão o sol se canse, da chuva a neve surja e José fique lembrado como um profeta do passado, que tanto foi criticado, com seu sonho enigmático.
  • Chá das Cinco



    Peço às visitas que entrem
    Entrem, mas apenas se forem ficar
    Pois, senão, que sozinha me deixem
    Basta de ir embora antes de chegar.

    A porta está sempre aberta e espera
    Espera muito, se precisar
    Até que finde a primavera,
    Não há problema em demorar.

    Leve muito tempo, mas venha certo
    Certo que ao puxar a cadeira
    Ficará do outono ao próximo inverno
    Ou até que floresça a última videira.

    Pois quero viver uma vida inteira
    Inteira, de verdadeiros sentimentos
    Da lua cheia ao raiar da aurora,
    Não apenas de breves momentos.
  • Complexo de Afrodite

    “O Reino dos Céus é semelhante a um Rei que comemora o casamento de seu filho (Mt-22:2)”, e um dia presenciarei isso em todos os casamentos da humanidade...
    E considerando que o Reino dos Céus é simplesmente um Reino erigido pela verdade não religiosa e não científica atual, quantos casamentos hoje seriam comemorados com alegria e total união de seus participantes.
    Mas...
    Se eu pudesse contar a quantidade de Afrodites que se encontram no mundo hoje seria esta quantidade o tamanho do mundo sem contar as suas respectivas descendentes onde uma coisa é certa de todas as Afrodites existentes algumas me chamaram a atenção e é destas que eu falarei.
    Antes preciso lembrar que uma Afrodite é aquela mulher que, independente de seus diversos romances em vida, diversas histórias que a envolve, o que claro será fatídico para personifica-la, permite entre todas as Afrodites um ‘que’ em comum, o ser Afrodite sempre amada e cuidadora de seu Cupido no seu mais elementar ‘ser’ em si mesma.
    Da Psique esta com certeza nestas entrelinhas se aqui descrita ou não, será sentida. E do Cupido conheceremos outros universos de Afrodite que o envolvem como as pequenas e futuras Afrodites também.
    Mas quem são realmente estas Afrodites e o que leva este amor muitas vezes exagerado, muitas vezes sufocado, muitas vezes manipulado, muitas vezes separado, esquecido, abandonado e sempre revestido de um certo oculto quase manifesto a acontecer e/ou sem acontecer, acontecendo no próprio oculto das coisas ser o que é...
    E é isto que mergulharemos em o Complexo de Afrodite.
    05 de agosto de 2016.
    Pequena Afrodite e o Monstro Embriagado
    Não conheci pessoalmente esta Afrodite, mas o relato de sua filha me foi suficiente.
    Contava sua filha que era ela uma Afrodite dedicada, guerreira, sonhadora como todas as Afrodites.
    Era ela aquela Afrodite bela, cozinheira, amada pelos filhos e filhas, mas que em um determinado momento do dia se deparava com uma situação monstruosa.
    Dizia a filha que um ser entrava em sua casa com um aspecto cruel e embriagado muitas vezes a noite, apontava sobre ela, sobre a Afrodite dedos sujos e junto com uma grande boca aberta gritava horrores e muitas vezes a espancava.
    Esta quem me dizia, a filha mais velha, em frente a sua Afrodite de tão pequena que era nada podia fazer, apenas assistia com medo e sufoco os maus tratos de sua Afrodite, assistia aquela Afrodite que a alimentava, cuidava e a embebia de leite ser muitas vezes quase devorada por aquela boca grande tão suja como seus dedos.
    Aquela Afrodite que ao mesmo tempo guerreira era tão frágil e perfeita e que insistia talvez por ‘amor’ em enfrentar do seu jeito Afrodite e não mais outra Afrodite de ser aquele monstro todos os dias, apenas enfrentava, do seu jeito Afrodite, mas por incrível que pareça, aquela embriaguez nunca teve fim, e aquela Afrodite a enfrentou por toda uma vida. Sim, toda uma quase miserável vida, pois se não fosse o Monstro Embriagado, talvez tudo seria diferente!
    A filha mais velha de Afrodite, desta Afrodite, por sua vez, foi crescendo e em um determinado tempo percebeu que poderia defender sua Afrodite, poderia enfrentar aquele monstro, mas muitas, muitas tentativas foram feitas, e aquela menininha de Afrodite já crescida não conseguia de alguma forma organizar aquela loucura defendendo casualmente sua Afrodite e assim junto a isso não só agora tentar de alguma forma defender Afrodite certeiramente, a sua amada Pequena Afrodite, como todos os filhos e filhas de seu clã e isto era nas suas noites acordadas uma meta a ser meticulosamente labutada.
    Ah o amor por Pequena Afrodite era tão excelso e ao mesmo tempo tantas dúvidas pairavam na cabeça daquela filha mais velha de Afrodite, que questões deste cunho no dia a dia eram normais:
    Porque aceitar esta monstruosidade embriagada que a todos nos fere?
    Porque permitir que isto aconteça?
    Minha Pequena Afrodite que me aleitou, me pegou nos braços, me amou, me alimentou, me envolveu por uma vida inteira não é capaz de desatar este nó, este laço dos lados demoníacos dos Deuses?
    Que monstro é este que fere minha Pequena Afrodite e meus irmãos e irmãs?
    Como resolver? O que posso fazer? Como fazer?
    E tentava, e tentava.
    Todos os dias quando aquele monstro chegava a sua casa embriagado e a filha de Afrodite cada vez mais esbelta, forte e crescida se deparava com ele contra sua Pequena Afrodite, contra todo o seu clã, desfalecia; desfalecia, mas não fisicamente e sim mentalmente, sentia até neste desfalecimento uma leveza e mal estar físico, porque suas pernas por mais que a cada vez conseguia enfrentar aquele monstro e aquela embriaguez: bambeavam.
    Mas Crhonos o tempo não lhe parecia nunca suave, pois dotado de seu Aeon aparentemente eterno nunca parecia predispor o tão esperado Kayros daquela situação e por isso distante de suas orações e medos, já realisticamente disposta a entender que não havia mais esperanças, principalmente por aquele ser forte, mas ao mesmo tempo sensível e medroso de sua Pequena Afrodite, desta Afrodite, e não outra; ela a filha em seu crescendo junto a Crhonos percebeu que o Éter tinha muito a lhe dizer.
    E em uma serena noite aparente vinha ali o Éter tocar em suas narinas suavemente através de Zéfiro e assim ela entendeu, uma mortal finalmente entendeu que a partir dali para se chegar ao Kayros no Aeon de Chronos era necessária sua transformação e que já vinha sendo perceptível fisicamente nos pelos de suas pernas, nos pelos de suas axilas, nos pequenos brotos mamários de sua pré-adolescência atado aquela perceptiva já pré-definida de amor e ódio por Afrodite e incrivelmente de amor e ódio por aquele Monstro Embriagado.
    Porque os Deuses deram a minha Pequena Afrodite, pensava ela, este Monstro Embriagado provindo das profundezas de Hades quando se deparado a Dionísio após o entardecer e muitas vezes nos dias em que Apolo não provia o trabalho e o fruto das colheitas?
    Porque meu Anima tocado por Zéfiro através do Éter para entender as determinações de Chronos em seu Aeon do Kayros naquela noite aparente consegue amar e odiar Pequena Afrodite e este Monstro Embriagado ao mesmo tempo?
    Amar e odiar?
    Amar e odiar.
    Porque estou começando a ter vontade de me aproximar também de Dionísio? 
    (continua....)
  • Conversando Com O Silêncio

    Conversamos por horas, sem dizer apenas uma palavra.
    As pessoas estão muito ocupadas em suas vidas barulhentas para escutar o que o silêncio tem a dizer.
    Se tornaram adversários de um aliado valioso, o tempo.
    Em uma competição que não parece ter vencedores.
    Elas estão perdidas…
    Estão apenas tentando fazer algum sentido...
    Os fracos estão aí para justificar os fortes.
    Mas ainda há esperança, talvez, apenas talvez você possa ser um dos escolhidos.
    Um dos abençoados por Deus.
    O resto de nós apenas rezamos para que o amanhã seja melhor do que o ontem costumava ser.
    Enquanto isso o silêncio se mantém mudo.
    Apenas aguardando o seu momento, o momento de finalmente ser escutado.
  • DAS MESMAS VEZES

    A voz abriu a janela com furor e pudor, como se não quisesse fazer barulho. Porém, com o impacto insano dos próprios gestos embaralhados, desconcertados e desengonçados fez-se o estrondo sem querer. Havia o intuito de perturbar, de estilhaçar e por fim de fazer não viver. A voz sugava a alma da moça deitada na cama, quase que desfalecida. A voz que não se importava com a tortura agoniante dos ossos que se contorciam rapidamente em uma expulsão do próprio espírito. A voz que não era dos cabelos negros que estavam embalando o travesseiro em um abraço meio "graceiro", benéfico. A voz acariciou o pescoço nu da jovem imóvel. Fez-se um calafrio. Em um estupefato movimento do vento insone, a vocalização perdia-se no deserto frio da alma. A moça pestanejou, fez rangir os dentes, ignorou o grito de socorro estridente. Acordou, já era manhã. E, logo que se ergueu pela janela para contemplar o sol escaldante, a vista foi atingida com a dor do morto que a olhava com pupilas saltitantes. "O grito era dele!", exclamou. Agora não era mais. 
  • Delirio

    Todos os dias eles chegam sem avisar, não consigo controlar, substância amorfa, não existe definição, não encaixa na câmada fisio-corpóreo. Estranha sensação fora do limite, trazendo sofrimento e incômodo. Convulsões que gritam de dor, clamando por revelações!! Meus sentidos estão tomados por esta corrente elétrica do pensamento que ao mesmo tempo reflete capacidade de demonstrar habilidades, tal limitação destaca singela experiência dos diferentes quadros. Delirio exclusivo de gen.
  • Desabafo

    Ao que título indica esse texto é uma forma de desabafar, é a primeira palavra que veio quando vi que necessitava de um título.
    Enfim pessoas são incostantes, variáveis que nunca podem ser lidas com 100% de precisão, palavras machucam pessoas e isso sempre vai continuar a acontecer mas o pior não é ser machucado por palavras e sim ser usado apenas como um objeto ou trampolim para alguém que se diz amigo... "pisar em ovos" acho que essa seria a melhor frase para definir como todas as pessoas devem agir. Nem tudo está um caos mas apenas alguns sentimentos vem e parece que nosso mundo vira de ponta cabeça, raiva ou alegria são sentimentos contrários porém sentidos na mesma intensidade em momentos distintos. Uma pessoa pode estar transbordando felicidade mas basta bater o dedo mindinho na quina da mesa e altera-se rapidamente, claro podemos entender que dói e qualquer um faz isso mas é apenas uma analogia que acontece com todas as pessoas(ou grande maioria delas)
    A cada novo ciclo fechado ficamos apáticos isso é um fato, porém sempre serão 66 dias para superar algo e criar uma nova rotina, eu não culpo sentimentos mas sim as pessoas que acreditam 100% em sentimentos, nunca por a mão no fogo por alguém que não tem o mesmo sangue isso foi o que meus pais me ensinaram e eles estão certos, acreditei em uma pessoa e não foi bom o resultado me fechei até que quando me abri com outra pessoa tive o mesmo resultado ao total eu conto que foram 5 pessoas as quais acreditei e não deveria.
    Todo dia nossa apatia vai sumindo aos poucos e assim vamos sentir novas sensações e enxergar novas cores, mas existem sensações que não devemos "pular" pois tem muita importância para a vida humana a mais simples de se exemplificar é o luto. Quem nunca perdeu um parente e pensou que tudo na sua vida seria diferente, passou alguns dias chorando toda vez que acordava e também chorava até pegar no sono. Somos humanos que são tratados como máquinas pelos " *ideais* " de pessoas "superiores" econômicamente ou que tem maiores influêcias. Precisamos perceber que nem todos humanos tem humanidade, era atípico pessoas se matarem e em um roda de conversa quando se comentava o assunto alguem não ter espanto. Banalizamos o mal seja quaisquer um deles. Perder amigos é melhor que usa-lós como trampolim.
    Cômico que como uma paixão pode render varios textos, eu sou apaixonado pela humanidade porém parece que as pessoas perdem um pouco dela a cada dia assim como a apatia das pessoas passam. Hippies vocês realmente são um grupo que o mundo deveria adotar a filosofia de vida de vocês, uma pena que após mais de 5 décadas do movimento, ele foi esquecido e hoje vivemos no "sistema" onde apenas o papel que tem um número e a cara de um presidente estampada, realmente importa.
  • Deveria ter te falado

    Oi venho-te falar que tenho uma doença terminal não tenho muito tempo de vida, na verdade os médicos me falaram que tinha três meses de vida no máximo hoje esta quase no final desses três meses, não me brigue por não ter contado é que odiaria ver você perdendo tempo da sua vida se preocupando com alguém que já esta morta, e ver seu olhar de dó pra min não ia suportar isso acho melhor tomar um tiro, mas me desculpe por não ter contado antes, acho que sou idiota por não ter contado pode xingar me odeia  seria melhor, só de imaginar  você chorando me parte aquele meu coração que lava endurecida, mas se não chorar me arranca um sorriso. Sabe todo dai queria te contar, mas não consegui, por favor, entenda eu já estou morto não queria ser só um incomodo ver falsa esperança, não muito obrigado, mas não  quero. Você não tem ideia como não queria entrar em sua vida para partir tão breve, pensei todo dia de sumir com uma brisa que bate no rosto e se vai rápida mente não conseguia sempre queria aproveitar um pouco mais já que era meu fim queria acabar com lembranças boas mesmo que fosse só uma conversa boba ou um inteligente. Agora me despeço ADEUS vou sentir sua falta.
  • Em Branco

    O LADO REAL DO ABSTRATO, meu primeiro romance, disponível em: http://www.selojovem.com.br/pd-62fc17-o-lado-real-do-abstrato.html?ct=4356e&p=4&s=1 
    Ebook: www.amazon.com.br/dp/B07CZZTPJC 
    Assistam ao Book Trailer: www.youtube.com/watch?v=ojbpvk6CxvE&feature=youtu.be  

    Apoiem os escritores nacionais - êta Literatura rica essa! s2
     
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    Pegou um copo d’água.
    E saiu andando pela casa enquanto o tomava. Entretanto, derruba parte do líquido no chão mediante seu então agitamento.
    Na escada, depara-se com alguém lá embaixo. Alguém que não reconheceu. Seria por culpa da distância? Distância astuta.
    – Quem é você?
    Então o homem – o desconhecido lá embaixo –, na verdade um senhor, que lia sossegado um jornal com auxílio de óculos, olha a menina um pouco perplexo, sem entender a pergunta, intolerante para brincadeiras.
    – Como quem sou eu?
    – Quem é você? Já disse! – agora o temor afasta-se dela, criando um tom autoritário e exigindo-lhe uma resposta exata.
    – Sou seu tio, oras! – perde a paciência. – Não está me reconhecendo? Será que tá precisando de óculos também? – agora parecia mais compreensivo.
    Desse modo, a garota sai correndo de volta à cozinha (de onde emergiu). Estava aflita, temperada ao desespero.
    Sabia perfeitamente que enxergava muito bem. E que a questão não era essa: também não reconheceu a voz daquele senhor. Seria, mesmo assim, verdade? Era cética demais para lhe acreditar. 
    Então, visando salvar seu pai (com quem vivia) do pior, busca pelo revólver que sabia que ele tinha em casa, onde, certa vez, ainda mais jovem, descobriu “por um acaso” o esconderijo do objeto – que, aliás, por falta de desconfiança, o pai nunca mais o mudara de lugar.
    Mas não havia revólver. Será que o idoso ladrão disfarçado de seu tio já tinha se apoderado dele antes?
    Num repente, se lembra de que o solicitado revólver fora enterrado junto de seu pai.
  • Entrevista com Grazi – organizadora da antologia Contos do Desconhecido

    1 – A Editora Immortal surge num momento em que há uma crise no nosso modelo de distribuição, com livrarias fechando e gente sendo demitida. O que a casa editorial está fazendo para driblar essa dificuldade?
    R- Após conversar com alguns livreiros locais, decidimos continuar as vendas no nosso próprio site, pois as livrarias cobram um valor muito alto pela consignação. Optamos por investir mais na divulgação dos nossos títulos e autores. A antologia teve como principal objetivo conquistar mais público e
    graças a ela estamos conquistando nosso espaço aos pouquinhos.
    2 – Porque a editora optou por se especializar na publicação de terror e seus gêneros correlatos?
    R – Logo que abrimos nosso objetivo era publicar somente livros de terror, o público desse gênero vem crescendo muito em nosso país e a equipe é composta por muitos amantes do terror. Entretanto, no segundo semestre de 2019 decidimos expandir nossas publicações para todos os gêneros, com o intuito de aumentar ainda mais nosso público e claro, ter mais lucro.
    3 – O mercado independente têm duas características principais: alto índice de concorrência e grau de rentabilidade. Como a editora se destaca no meio desse furacão indie?
    R – Estamos sempre fazendo novas parcerias e focamos em caprichar muuuito no projeto gráfico, principalmente na capa. Quanto mais bonito o livro for, mais chances ele vai ter se destacar. Também buscamos originalidade no texto, nossos autores trazem isso à tona, muitas são as resenhas que elogiam a criatividade dos livros.
    4 – Hoje, além da qualidade gráfica e dos títulos, uma editora deve procurar meios de divulgação eficiente, qual o modelo de parceria que a editora desenvolveu nesse quesito?
    R – A formação de parceria com blogs grandes e pequenos, por mais que tenhamos de fornecer o ebook ou livro físico gratuitamente para esses, a parceria sempre ajuda a impulsionar uma obra.
    5 – A Editora Immortal criou uma assinatura na plataforma Catarse. Como ela funciona e quais os seus benefícios?
    R- Colocamos a antologia na categoria flex para que pudéssemos arrecadar verba e ajudar na produção do livro, que conta com muitos profissionais envolvidos.
    Os benefícios ao apoiador são as recompensas exclusivas da antologia, itens que não irão para o mercado.
    6 – A antologia Contos do Desconhecido reúne dezenas de escritores. Como a antologia é dividida e que tipo de conto os leitores podem encontrar?
    R – Antologia está dividida em 3 temas: Creppy Pasta, Lendas Urbanas e Releituras de Clássicos. Os leitores encontrarão sobretudo o terror em diversas categorias. A inspiração para antologia é uma frase muito famosa do autor Lovecraft “A emoção mais antiga e mais forte da humanidade é o medo, e o mais antigo e mais forte de todos os medos é o medo do desconhecido." Queremos trazer o Desconhecido às páginas da antologia.
    7 – Qual o modelo de publicação dessa antologia?
    R – O primeiro lote será direcionado aos apoiadores. Após isso realizaremos as vendas em nosso site conforme disponibilidade.
    8 – Quais títulos a editora já publicou e nos dê uma breve sinopse?
    R – Cidadolls.
    Fred é um escritor iniciante que pretende escrever seu primeiro sucesso. Fascinado por histórias de suspense e mistério, decide viajar para Cidadoll, uma cidade onde a fama de bonecas realistas se espalhou pela internet. Porém, o local é marcado por poucos visitantes em fator da distância e do difícil acesso. Através desta fama, e dos mistérios que cercam a cidade, o jovem escritor decide escrever o seu mais novo livro... O único problema é que Cidadoll guarda coisas muito além do que Fred poderia imaginar, ou melhor, escrever.
    Cartas de Sangue
    Cartas de Sangue e outras histórias de Violência Gratuita é uma coletânea de contos, mas conta uma só história: a corrupção humana
    Transfigurada em contos de suspense, tensão e gore, no vão entre ficção e a realidade, a violência humana aparece crua (e por vezes nua), levando o leitor a refletir sobre o quão longe alguém pode chegar.
    Evangelhos da Desgraça
    Estas páginas tumultuosas, vindas de uma imaginação mórbida, não mais contêm que textos inspirados nos grandes mestres do terror, criados para o prazer obscuro dos amantes desse gênero.
    Nestes escritos, o autor admite-se enquanto artista enlouquecido mutilando a sua sombra para prazer de um público. Pelas suas palavras, esforça-se para nos mostrar o horror da insanidade em suas várias faces, explorando ao máximo a capacidade da mente humana para se refugiar de uma realidade adversa no mais profundo desconforto e desespero.
    Prometo: estes Evangelhos não foram redigidos pelas mãos de santos. Aqui, é-nos apresentado um conjunto seleto de pequenas blasfémias, excretadas indecentemente pela língua da própria Desgraça.
    Eis, para a podridão humana, "o recriminador vidro de um espelho".
    O Landau Vermelho
    Após presenciar a morte trágica de seu irmão gêmeo e passar os doze anos seguintes desaparecido, Adam Peixoto retorna a Contagem para assumir os negócios de seu falecido pai e tentar dar um novo rumo à sua vida.
    Seu retorno, no entanto, coincide com o início de uma série de assassinatos cruéis, sangrentos e inexplicáveis, provocados por um demônio enorme, com quatro rodas, faróis duplos e capota de vinil, pesando quase duas toneladas e saído diretamente de alguma funilaria do Inferno.
    Um demônio metálico. Violento. Frio.
    Um Ford Landau.
    O Pecado de Cyn
    O meu nascimento se deu na morte.
    Nasci de um parto espontâneo, do corpo enforcado de minha mãe. Ela se foi e tentou levar consigo a aberração que gerava no ventre. Eu já nasci lutando pela vida e tenho as cicatrizes até hoje.
    Eu sou um pária. Um meio orc.
    Eternamente preso entre dois mundos que nunca vão me aceitar como um deles.
    Mas não sinta piedade de mim. Se você tiver alguma, guarde para quem merece. Até o final dessa história você vai ver que eu sou um monstro, criado para ser um monstro. Eu não quero sua simpatia. Eu sobrevivi sem ela até hoje.
    Eu só quero contar minha versão da história. Por quê? Porque se alguém pode encontrar essa história e destruí-la?
    Porque eu quero. Não importa que o mundo não conheça minha história. Nada mais importa. Você que está lendo saberá.
    E isso basta. Deve bastar.
    Meu nome é Cyn.
    Cyn dos Olhos Azuis. Pária, meio orc, criado para ser um monstro.
    E essa é a minha história.
    9 – Qual a projeção que a Editora Immortal tem para o segundo semestre de 2019?
    R – Vamos focar em publicar novos títulos, pois no primeiro semestre a equipe se dedicou apenas à antologia.
    10 – Conte tudo e não esconda nada! Quais os planos para o futuro?
    R – Pretendemos tornar novos best-sellers todos os nossos autores.
  • Entrevista com Matheus Braga – autor de O Landau vermelho

    1 – Quem é Matheus Braga e porque você resolveu contar a história de um carro assassino?
    R – Já começamos com uma pergunta difícil, porque sou péssimo para falar de mim mesmo, rsrsrsrs. Bem, posso dizer que sou um sonhador. Sou uma pessoa que sonha com a cabeça nas nuvens e os pés no chão e corre atrás da realização desses sonhos. Sou uma pessoa determinada, resiliente, apaixonada pela natureza, que ama animais e a-do-ra carros desde que se entende por gente. Pode-se dizer que aprendi a nomear carros antes mesmo de aprender a falar “papai” e “mamãe”, rsrsrs. Quando pequeno, meus brinquedos favoritos eram as miniaturas de carros e meu Ferrorama, e sempre gostei muito dos filmes cult sobre perseguição de carros como Encurralado e Christine – O carro assassino, e foi daí que, anos mais tarde, vieram algumas das inspirações para meu livro.
    2 – Como foi o processo de produção do seu romance de terror O Landau Vermelho?
    R – Gosto de dizer que O Landau vermelho foi um livro construído ao longo de muitos anos. Como já disse, sempre nutri uma paixão muito grande por carros e sempre tive vontade de escrever algo dentro desse universo, mas nunca havia tido a ideia para isso. Eu estava sempre esboçando plots e cenas separadas, mas nunca havia chegado a um enredo satisfatório. Este só veio quando num dia, ao organizar minha pasta de arquivos no computador, acabei lendo todas as cenas separadas em sequência e, baseada numa dessas cenas em específico, intitulada Corrida Infernal, formou-se a ideia para o livro. Também me inspirei nos filmes clássicos do gênero “carro assassino” para me ajudar a enxergar melhor a história. A partir desse ponto, foram mais dois anos e meio de escrita e muita pesquisa para finalizar o livro, e depois ainda precisamos de uns 5 ou 6 meses de revisões pontuais antes que a versão final finalmente saísse em e-book e, agora, em versão impressa. Cabe aqui uma curiosidade: quase todo esse processo aconteceu tendo como trilha sonora a música Two black Cadillacs, da Carrie Underwood, cujo videoclipe também conta a história de um carro assassino.
    3 – Quais suas maiores influências no mundo da escrita?
    R – Sempre me identifiquei muito com o gênero de romance policial, e minha maior influência foi o mestre Sidney Sheldon. É dele o primeiro romance policial que li, Conte-me seus sonhos, e o estilo narrativo dele sempre foi o que mais me fascinou. Ele constrói as cenas de forma quase cinematográfica, explorando as sensações e percepções tanto dos personagens quanto do ambiente em si, de forma a obrigar o leitor a continuar lendo, e lendo, e lendo até que, quando dá por si, o livro já acabou. Venho praticando muito para conseguir escrever dessa forma também, como pode ser percebido no meu romance O Landau vermelho. Mas além do Sidney Sheldon, também sempre li muito Harlan Coben, Stephen King e Agatha Christie.
    4 – As editoras independentes estão dando um show de como se publicar livros no Brasil, muitas vezes exportando esses livros para a Europa e EUA. Como você percebe essa mudança no nosso mercado literário?
    R – Infelizmente a mudança ainda é relativamente sutil no mercado como um todo, mas já é perceptível para quem está atento. As grandes livrarias e editoras sempre dominaram o mercado literário de forma cavalar, quase sempre valorizando autores já expressivos ou que possuam o famoso “Q.I.”, mas com o advento da internet é possível perceber um crescimento das publicações de editoras menores e autores independentes, principalmente no que diz respeito aos e-books. Tal crescimento tem se mostrado uma grata surpresa aos leitores de plantão, pois tem revelado autores talentosíssimos e histórias extremamente deliciosas de se ler. É bastante notável que estes novos autores quase sempre vêm do mundo das fanfics, que já é bastante popular desde a época dos fóruns, no início dos anos 2000, e temos sido agraciados com grandes talentos que até então estavam ocultos ou não tinham uma divulgação expressiva de seu trabalho, e estes talentos acabam por ser a nossa esperança de que, apesar do mercado literário ter entrado em declínio nos últimos anos, ainda poderemos desfrutar por muito, muito tempo deste prazer indescritível que é a leitura de um bom livro.
    5 – Quais as maiores dificuldades para um escritor iniciante conseguir sua primeira publicação?
    R – Sinceramente não tenho propriedade para responder esta pergunta, pois a editora Immortal foi a primeira e única para a qual enviei o original de O Landau vermelho e ele já foi aceito para publicação, rsrsrsrs. Mas acredito que a dificuldade maior seja justamente encontrar a editora certa para a publicação. Escrever em si já é algo muito difícil, mas encontrar uma editora onde sua história se encaixe da forma devida pode ser um tanto delicado, pois pode haver divergência entre a mensagem que o autor quer passar com a história e a interpretação que a editora dará para ela. Além disso pode haver também o fator financeiro, pois não são todas as editoras que se dispõem a publicar o livro antes para colher os lucros depois, e também não é fácil para um autor iniciante dispor de determinada quantia financeira para investir na publicação, mesmo que a realização de um sonho não tenha preço. De qualquer forma, acredito que com a devida paciência tudo pode se ajeitar.
    6 – Qual sua preferência de leitura: e-book ou impresso? E porquê?
    R – Impresso, com certeza. Além de adorar o cheiro de um livro novo, sou muito tradicional nesse quesito, e ter o livro em mãos me proporciona uma experiência de leitura muito melhor. Gosto da sensação de folhear as páginas e consigo imergir melhor na história e absorver a mensagem do livro de forma mais satisfatória. Ler e-book é algo que requer muita disciplina, pois nos aparelhos eletrônicos as distrações são constantes (WhatsApp, Facebook, Instagram, etc...) e eu sempre acabo desviando minha atenção com outras coisas. O engraçado é que leio fanfics com constância no meu celular e não desvio tanto minha atenção, rsrsrs, mas simplesmente não consigo ler um e-book.
    7 – O autor tem outros hobbies além de escrever? Quais são?
    R – Meus principais hobbies além da escrita são o colecionismo/modelismo e o trekking. Tenho várias coleções, desde miniaturas de carros e trens até minifiguras de Lego e moedas raras, e sempre que disponho de um dia livre ou feriado prolongado gosto de fazer caminhadas ao ar livre para serras ou cachoeiras, pois adoro estar em contato com a natureza. Ainda tenho o sonho de montar um “carro projeto” apenas por hobby, que é comprar um carro antigo e fazer alterações no estilo e na performance dele para um uso mais divertido, mas ainda não tenho condições financeiras para isso, rsrsrs.
    8 – O mercado editorial passa por mudanças, elas já são perceptíveis ao ponto de dizermos que temos um novo mercado ou não?
    R – Acredito que a maior mudança que o mercado editorial vem passando nos últimos tempos é a popularização dos livros digitais. Apesar de admitir isso a contragosto, os e-books são bem mais práticos e acessíveis do que os livros impressos, principalmente para fins acadêmicos e profissionais, e podem ser a melhor opção para pessoas que querem passar a ter o hábito de ler mas não abrem mão da conectividade. Com isso, acredito que é seguro dizer que sim, temos um novo mercado, com novas estratégias de vendas, marketing e lucros adaptadas à nova realidade dos leitores.
    9 – Nos conte quais os planos para o futuro desse escritor?
    R – Adoro fazer planos e sonhar com o desenrolar deles, mas sempre mantendo os pés no chão. Entre os principais planos na minha vida hoje estão: morar sozinho, para finalmente conquistar minha independência; publicar mais um livro até o fim de 2019; conseguir mais uma promoção no meu emprego para me estabilizar financeiramente; e no segundo semestre, quem sabe, começar uma das minhas pós-graduações.
    10 – Como e onde os leitores podem adquirir o seu livro e em que projetos está envolvido ultimamente?
    R – Meu livro pode ser adquirido diretamente com a Editora Immortal ou pelos sites Amazon e Clube de Autores, tanto o e-book quanto a versão impressa. Os links estão no meu perfil e na página da editora. Meu próximo projeto é uma participação na antologia Contos do desconhecido, também da Editora Immortal, que será uma compilação de contos de terror onde estarei participando com os contos originais Ferrorama e Sussurros à meia-noite.
  • Estátua Humana

    Sou uma estátua humana
    Inerte e estática, mas ainda humana
    E, sendo humana, tenho sentimentos
    Mas todos se parecem iguais

    Até mesmo as novidades não mudam isso
    Talvez porque toda novidade não é uma novidade
    Algo ruim aconteceu, mesmo que tenha sido planejado para ser bom

    Mas como toda boa estátua humana, sigo
    Talvez esperando uma boa novidade ou um bom sentimento
    Para que assim possa sair da inércia e me movimentar um pouco
    Deixando por um segundo de ser a porra
    De uma
    Estátua
    Humana.
  • Gata

    Pensamentos......
    Gata, aquela menina mulher gata sabe? Gata não só na sentido de linda, que também faz sentido! Sabe? Aquela gata que é uma fera, mas não só no sentido de feroz, apesar de ser também quando quer muito brava! Sabe? Aquela gata astuta, ligeira veloz, mas não só no sentido de rápida! Mas no sentido de estar ligada, prestar atenção, admirar coisas pequenas e quase imperceptíveis! Sabe? Ao mesmo tempo aquela gata que tão arisca quando recebe carinho amansa, descansa, respira e admira! Sabe? É ela mesmo, tá ali, se escondendo, desaparecendo, nem sempre sendo mas estando ali para voar!
  • Goela Abaixo

    O alvoroço de mil homens lota-me o pescoço
    Já torto, cheio e entupido
    Tenho no esôfago um comprido bolo
    Ferindo canais comprimidos.
     
    Fumo, falo e tagarelo
    Sobre as coisas que enchem a boca
    No som, sai simples farelo
    Do pouco dito, sobre as coisas.
     
    Logo, não há nada mais singelo
    No que digo mal, bem sincero;
    nos devaneios das noites loucas.
     
    E o que desce, me entorpece
    Como um bolo de quermesse
    Que, grunhindo, ponho a boca.
  • Livrai-nos do mal

    Pai nosso, que estás nos céus

    Santificado seja o teu nome. Venha o teu reino;
     
    Seja feita a tua vontade,
     
    Assim na terra como no céu
     
    Dá-nos hoje nosso pão de cada dia
     
    Perdoai-nos as nossas ofensas 
     
    Assim como nós perdoamos
     
    A quem nos tem ofendido
     
    E não nos deixeis cair em tentação
     
    Mas livrai-nos do mal
     
    Amém"
     
    "Mateus 6:9-13"



    Capítulo 1
     
    Investigação (1990)
     
    1
     
    O tempo se fecha no céu, as gotas se formam nas nuvens enquanto as lagrimas escorem dos rostos familiares em volta de Maria Carolina Ruschel. Seus pais, Sophia Ruschel e José Ruschel, estão sendo sepultados no cemitério atrás da igreja. Maria com apenas 8 anos assassinou eles, um ato que no futuro ela entenderia como vingança. Isso era apenas o começo dos assassinatos da pequena criança.
     
    Todos estavam de preto, alguns seguravam guarda-chuvas, outros lenços, o padre lia uma passagem da bíblia, trovões assustavam os presentes, o vento assoviava entre as folhas, Maria estava congelada de medo, não pelos corpos de José e Sophia, e sim pelo homem de terno preto que sorria logo atrás do padre, era um sorriso de satisfação, de trabalho bem feito. De repente a voz do padre fica cada vez mais distante, o som do vento e do choramingo de seus parentes começa a sumir. Quando o lugar todo fica em completo silencio, o homem começa a gargalhar euforicamente, Maria começa a tremer, suas pernas estão quentes, um liquido estranho esta escorrendo entre elas, ela cai no chão de joelhos, todas as pessoas ao seu redor sumiram, ela está sozinha junto ao homem desconhecido, Maria coloca a mão entre as pernas e sente o liquido grosso e viscoso. Sua vagina está sangrando. Ela começa a chorar, mas não demora muito e para, uma boa sensação toma seu corpo, o homem gargalha em dobro agora. Todo seu corpo começa a formigar, seus olhos ficam brancos, ela geme cada vez mais alto. Neste momento o homem mistura sua gargalhada com gritos.
     
    -ISSO! ISSO! MINHA GAROTA, NÃO RESISTA AO PECADO
     
    Ela tremeu e gemeu por mais alguns instantes e depois desmaiou. O homem estalou seus dedos e Maria acordou, ainda desnorteada limpou a saliva em sua boa, lambeu os lábios e olhou para o homem com cara de dúvida.
     
    -O que aconteceu? Cadê todas aquelas pessoas? Quem é você? –Disse ela rapidamente, se levantou assustada e cruzou os braços sentindo frio.
     
    -Calma minha menina. Quem sou? Bom depende a pessoa, mas para você, saiba que sou seu verdadeiro pai. E aquilo que você sentiu e um presente que dei a todas as pessoas do mundo, e você, Maria, teve a sorte de receber muito cedo. Bom, eu chamo isso que sentiu minha querida de felicidade, já meu pai chama de pecado, e os seres humanos deram um nome diferente, não gosto muito, espero que tenha gostado do meu presente-Ele dizia tudo isso se aproximando dela e gesticulando com as mãos.
     
    Maria agora se sentia bem, de uma maneira que nunca se sentira antes, o homem falava a verdade? Ele realmente era quem dizia ser? Ela não sabia, mas confiava nele. De repente ela sentiu vontade de querer mais, mais calor, mais formigamento, mais sangue, mais felicidade. Ele finalmente chegou ao lado dela, se agachou, colocou a mão em seu ombro-Era um homem muito bem arrumado, tinha um cheiro bom misturado com enxofre (ela amou o cheiro de enxofre) ele tinha uma rosa vermelha no bolso do terno, o cabelo era muito bem penteado, usava um bigode que se enrolava nas pontas, e um sorriso extremamente branco, os olhos eram seu destaque, as vezes vermelhos, as vezes violetas, as vezes roxos, a cor ia mudando sem serem notados.
     
    -Gostou? -Diz ele.
     
    -Sim...
     
    -Quer mais, não quer?
     
    -Sim...
     
    -Bom, é muito simples, é só me obedecer, você vai?
     
    -Sim...
     
    -Ótimo!
     
    O homem então beijou sua testa. Acordou deitada no chão, chuva caia forte agora, todos seus parentes e o padre estavam ao seu redor. O padre quebrou o silencio.
     
    -Menina! Você está bem?!-gritou ele ainda assustado.
     
    -Nunca estive melhor-disse ela sorrindo.
     
    2
     
    O padre, Joseph Levitt, carrega Maria em seus braços para dentro da igreja, ele tenta se apressar, mas já não é o jovem Bépe faz muitos anos. À chuva deixou o gramado escorregadio, se ele caísse poderia quebrar algum osso e ali ficar por um bom tempo pois os familiares de Maria não estavam por perto para ajudá-lo. Parece impossível levar a garota para dentro. Sua respiração fraca, sua velhice, não faria ele desistir-Bépe nunca foi de desistir das pessoas que podia ajudar. Um passo de cada vez, ele pensava respirando profundamente, chegando bem perto da porta, Joseph, teve o desagradável sentimento de ser observado, ele parou por um instante, seu coração dobrou os batimentos que já estavam acelerados. Por um pequeno instante o pobre padre (misturado aos sons de vento e trovões) ouviu uma gargalhada não muito nítida que parecia vir ao fundo da floresta, ou talvez foi sua imaginação de uma mente que estava em decadência junto com o restante do corpo. Finalmente ignorou todo o resto e entrou na igreja com a menina que estava tremendo de frio. Com dores nas costas, levou Maria para os primeiros bancos que ficavam perto do altar.
     
    Joseph procurou roupas secas nos pequenos armários-onde somente padres, freiras tinham acesso-encontrou um pequeno vestido branco para a menina e uma batina seca para ele. De volta ao altar Bépe trouce um cálice de vinho-agora de roupas secas- e um pão para alimentar a criança. Maria agora acordada sorria para ele ao ver a comida e o vestido. Porém o padre não gostou muito de ver aquele sorriso no rosto de Maria, era desagradável, não era um sorriso inocente e alegre de qualquer criança de sua idade, tinha malicia, uma malicia tão horrível e perturbadora que assustou o pobre senhor de uma maneira que ele teve vontade de jogar tudo no chão e puxar sua bíblia de bolso, mas não o fez, pois era somente uma pequena menina de cabelos longos e loiros com olhos azuis, na verdade até parecia um anjinho. Com toda a calma, Bépe, chamou Maria e mandou ela se vestir em algum dos quartos da igreja e depois voltar para comer o pão e beber um pouco de vinho-ele achou que tudo bem ela beber um pouco para esquentar o corpo, Na Europa e completamente normal crianças desta idade beber alguns goles de vinho, refletiu. A direita do altar existia um pequeno escritório, com bíblias, outros livros católicos, e até mesmo um telefone, em cima da mesa de Joseph. Ele se deslocou até sua mesa, sentou, e começou a pensar no que fazer com a garota. Alguns minutos se passaram e ele teve a ideia de ligar para a delegacia-ele tinha um amigo que era policial e poderia levar Maria em segurança para o orfanato e também escola de freiras da cidade- lá ela vai ter educação, comida e uma nova família, lembrou-se de sua infância. Sim, Madre Bárbara, será perfeito para ela. Com esse último pensamento em ordem, percebeu a escuridão de sua sala então ligou o abajur de sua mesa, no mesmo momento o sino badalou e fez Bépe voltar a realidade, ele viajava em lembranças. Já são sete horas, preciso me apressar. Finalmente pegou o telefone e digitou os números, meio relutante pois o rosto sorrindo de Maria não saia de sua mente, em seus 40 anos como padre, nunca tivera presenciado um sorriso tão maligno. Bépe era o apelido que ganhou por todos que moravam na cidadezinha de Vera Cruz. Uma cidadezinha que habitava dentro de si um mal que crescia a cada ano que passava, pelo menos era como o padre se lembrava. Com o dedo no ultimo digito da delegacia, Joseph ouvia o som do vento e da chuva, parecia que o passado o chamava. Bépe. Agora tremendo um pouco se lembrou de uma frase, não lembrava o contexto, nem onde estava, nem com quem falava. Se algum dia o anticristo nascer, e com ele trazer o apocalipse, Vera Cruz será seu berço. Com isso fez a ligação e após três longos Beeps, ouviu uma voz grossa e rouca sair do telefone
     
    -Alô, delegacia de Vera Cruz
     
    -A-Alô-diz o padre com a voz tremula
     
    3
     
    Vera Cruz nem sempre foi uma cidade onde coisas horríveis acontecem normalmente. Em algum dia no final de maio, o pequeno Bépe descobriria que sua cidade estava amaldiçoada com muito mais do que apenas alguns assassinatos, estupros, e até mesmo animais que simplesmente sumiam, ou morriam de alguma doença desconhecida que apodrecia sua pele e ossos em pouquíssimos dias. Era ainda pior, pode acreditar. 
     
    No verão de 1934, Joseph Levitt completava seus 12 anos, se sentia quase um adolescente agora. Suas primeiras paixões começaram a surgir. Além do futebol, Levitt admirava uma moça ruiva de cabelos longos que passava na frente de sua casa. Essa moça é Rosemary Aine. Sorriso longo, sua pele branca realçava sua boca excessivamente vermelha e pequena. Seus olhos verdes combinavam com seu vestido estilo camponesa alemã. Algumas sardas cobriam suas bochechas e nariz. Tinha seios fartos o bastante para marcar o pequeno decote apertado, e um quadril largo o suficiente para marcar o vestido. Com ela sempre levava uma cesta com flores e alguns vegetais. Rosemary sempre fazia o mesmo caminho ao leste da cidade, onde ficava a famosa vila das bruxas. Lugar onde viviam famílias irlandesas, que no passado foram expulsas de Vera Cruz, por puro e completo preconceito da sociedade na época
     
    Mas elas não são bruxas de verdade, certo? Levitt em um jantar após os pais contarem a ele sobre fogueiras feitas por seus avôs e outros moradores da cidade que na época era muito menor (mesmo hoje em dia a cidade dificilmente chegaria a dez mil moradores). Algumas bruxas foram queimadas vivas. Outras, esfaqueadas, decapitadas, enforcadas e afogadas. Mas no final todas era queimadas para retornarem para o inferno. Os pais-Morgana e Alfonso, Levitt-não contaram a parte mais pesada da história. Um simples coral vindo dos dois- É claro que não – Junto a risadas quase convenceu Joseph, mas sua curiosidade era maior.
     
    Um certo acontecimento mudou um pouco a sua conclusão, e despertou a curiosidade de Bépe em uma manhã fria de começo de inverno.
     
    Joseph, um menino loiro de olhos azuis (esse era um padrão de beleza que chamava a atenção de Rosemary e de muitas meninas, mas esse tempo se foi) de boca sempre aberta quando Rose passavam em frente à sua casa. O garoto usava sempre uma camisa branca junto ao seu macacão. Ele se sentava ao balanço de pinéu-que estava amarado na árvore de família-que o pai tinha projetado para ele. A árvore era da família a gerações, e tinha o nome de Maria, em homenagem a sua tataravó. Bépe brincava no balanço todos os dias após a escola, esperando sempre sua amiga passar para sorrir e alegrar seu coração.
     
    Em uma manhã de sábado, Joseph estava animado, desceu as escadas do seu quarto correndo, levando cobertor e travesseiro. Era dia de assistir desenhos animados. Ele era muito pontual sobre isso, todos os sábados, as sete horas ele estava em frente à televisão. Morgana prepara seu café da manhã, toradas com geleia de morango e leite morno com um pouco de açúcar. Morgana Levitt, era uma mulher muito alegre, cantava todas as manhãs de sábado. Ele comeu as toradas, bebeu seu leite, e riu, riu muito com os desenhos animados, o dia de Joseph Levitt estava perfeito até ele cometer o erro de seguir Rosemary até a casa na colina. Aquele era o dia em que Bépe teria certeza que além de um garoto solitário ele seria assombrado. Ao final dos desenhos, e do café, o garoto só precisava ver o sorriso de sua amada para seu dia ser perfeito. Correu pela sala e para fora de casa, correu ainda mais no gramado, com os braços abertos, se sentia um pássaro livre do cativeiro, livre para conhecer o mundo. Subiu no balanço e se jogou para frente com os pés, para trás, várias vezes, pegou velocidade, vou para longe, para o alto, sentiu o vento gelado, sentiu o sol. De repente vou fora do balanço, fora do gramado, por um instante seu coração quase saiu do peito mas voltou quando sentiu mãos gentis segurarem ele evitando que se quebrasse na calçada, mas não evitou o grito que saiu do fundo de seus pulmões.
     
    -AAAAH!
     
    -Calma garoto, eu te peguei viu? Tudo vai ficar bem-uma voz suave e gentil vinha da pessoa.
     
    -O-obrigado-disse ele envergonhado, porem se colocando no chão e vendo quem era sua salvadora. E agora seu coração realmente quase parrou. Era Rosemary.
     
    -Come se chama garotinho? Você mora aqui?
     
    -S- s -sim, me chamo Joseph.
     
    -A que lindo nome, prazer em te conhecer Joseph, me chamo Rosemary, eu sei parece complicado de lembrar, por isso pode me chamar de Mary, ou Rose se preferir, o que acha?
     
    -Acho legal-Ele estava menos nervoso, ela sorria para ele de uma maneira encantadora
     
    -Tome mais cuidado Joseph, você é um rapaz muito lindo, e sabe de uma coisa, essa cidade é perigosa demais para meninos lindos como você, e se acabar se machucando assim, pode ser difícil de correr do perigo não acha? –Ela disse mantendo o sorriso lindo, porem seus olhos mudaram do verde claro para o vermelho, isso fez Bépe se arrepiar totalmente, e tremer um pouco. Algo estava errado, o coral de vozes dos pais ressoou na cabeça-Claro que não.
     
    Com isso Mary continuou seu caminho. Tremendo um pouco, Joseph começou a seguir ela, ele estava curioso e com medo da história dos pais. Será verdade? Ele parou e esperou um pouco pensando no assunto. Aqueles olhos...
     
    Um menino apaixonado por uma jovem com talvez o dobro de sua idade, e não era só ele, ela seduzia qualquer um. Rosemary Aine tinha algo especial, e também escondia segredos terríveis. Segredos que traumatizariam Joseph. Porem ajudaria ele a descobrir a verdade por trás de toda a maldade de Vera Cruz. Mas naquele momento, ele não sabia de nada, ele só queria desvendar um mistério que atormentava sua cabeça O coral voltou-Claro que não.
     
    Ela começou a ganhar distância do menino, entrando agora no centro da cidade. Joseph morava na última casa da última rua antes do centro. Alfonso Levitt gostava porque podia comprar seu jornal do outro lado da rua todas as manhãs. Era um bairro de ricos, os mais ricos da cidade, se quisessem, juntos somente os pais de Joseph, comprariam toda a cidade e ainda assim sobraria dinheiro (não tinha muito no que gastar). A moça passara a banca de jornal, o jornaleiro gritava algumas manchetes sobre a bolsa de valores, assassinatos, e sobre a peste que estava devastando os animais no interior da cidade. O menino esperou pacientemente Rose se afastar uns bons metros, para que ele avançasse em sua direção. Ele estava realmente determinado em descobrir o que ela realmente era.
     
    Quando Mary alcançou a feira da cidade-onde aos sábados se reunira muitas pessoas em busca de vegetais, frutas, carnes, leite, pois as pessoas achavam que esses produtos que vendiam no mercado não eram saudáveis, apesar que os produtos que vinham do campo eram os que sobreviviam a praga, e outros que eram importados da vila das bruxas- o menino apresou o passo. Pessoas saiam de todas as lojas ao mesmo tempo, ele se esbarrava com muitas delas e pedia desculpa quase automaticamente. Joseph realmente achava que Rosemary não sabia de sua intenção, mas ele se enganava, e com isso ela pensava na forma mais "talentosa" de "impressionar" o menino.
     
    Ao passar a multidão de pessoas na feira, o garoto, seguia sua amada por toda a cidade, com passos minuciosos. Quando finalmente viu para onde Rose seguia caminho, Bépe ficou relutante. A vila das bruxas, no fundo ele sabia que provavelmente era lá que acabaria sua jornada. Mas algo o fez continuar, paixão? Talvez, ele não tinha certeza. Parado em frente a última farmácia de Vera Cruz, vendo a trilha e imensa floresta fechada onde Rose entrava cantarolando como se fosse a chapeuzinho vermelho, o menino tremia de medo da tremenda escuridão que habitava a floresta as dez horas da manhã. Uma escuridão tão densa que parecia que podia tocar e segurar em suas próprias mãos. As árvores, ele ouvia sussurros fracos de onde estava, uma língua desconhecida por Joseph, talvez já ouvira o padre Sebastião falar em uma de suas missas que o menino frequentava todos os domingos. Após um tempo ouvindo as vozes e os galhos sendo esmagados e o cantarolar ser diminuído, Joseph teve coragem o suficiente e se aproximou da floresta que parecia sugar sua alma e felicidade a cada passo que dava em sua direção. Em alguns segundos não existia mais a calçada em seus pés, e sim terra, grama, galhos, e folhas, os sussurros aumentavam. Ao chegar na entrada da floresta fechada, Bépe olhou para dentro, para o coração da floresta, e depois para o alto das árvores e percebeu que o tempo se fechava em cima da floresta, ele começou a ficar com frio, as folhas das árvores começaram a tremer e assoviar.
  • Lua de Meu Existir

    Minha Amada que fertiliza o meu existir.

    Em plena beleza me perco em teu reflexo deitado sobre as águas escuras de minha alma.

    Mesmo com toda calma e mansidão de tua noite em que te revelas nua, cheia e completa.

    Teu reflexo iluminador é tremulo, desconexo e vibrante, intercalado por linhas negras que desconfiguram em saudades meu pobre e solitário coração de poeta.

    Ao subir lentamente cheia, contemplo a tua chegada no meu inabitado lago interior.

    Ao passo que te levantas se abre vagarosamente uma estrada de luz ‘brancamente’ prateada em meu encontro.

    Ó! Doce fonte de luz que me intensifica… ainda que eu possa ser tocado por tua energia iluminada, estás tão ‘lusitaneamente’ longe de mim…

    De súbito me imagino a caminhar em tua prateada e tremula estrada, então, poder ao menos abraçá-la calorosamente, enquanto ainda não flutuastes em mágica para o mais alto dos céus estrelados… tua influência elementar do Sagrado Feminino em mim, desperta a Consciência Mística da intuição emotiva do meu ser, quebrando os meus viciantes padrões interiores em ciclos de transformações ascendentes e decadentes de toda uma existência apaixonada.

    Como eu te amo, Meu Amor!

    Ó! Fruto do meu desejo insaciável…

    Sobes agora livremente… e tua estrada de luz desaparece nas águas de minha emoção, e agora debaixo de tua luz prateada, volto a minha singularidade pequenina e frágil, onde realizo o meu ritual de amor à tua Lua Cheia embelezada em sua aureola majestosa repleta de teu amor.

    Nisso, me vejo sendo irradiado pela luz azul de sua aureola… meu corpo negro encandece inflamado pela sua onda radiativa, tornando-se fosforescente, atraindo toda espécie de pequeninos seres noturnos em divindade graciosa. Pela tua dádiva amorosa, tornei-me um ser luminescente, e… quem me dera ser carregado pelos pequenos vaga-lumes que agora me cercam, no único amoroso objetivo de poder pousar em teu grandioso ventre oculto nos teus misteriosos segredos noturnos.

    Tua pele branca me seduz, teus cabelos de nuvens negras a flutuar me enfeitiçam. Como és bela! Como sou teu!

    Embora possa, eu, ser um diurno ser flamejante, de que me vale toda essa potência… se em minha forte luz te ofusco, ao ponto de nem eu mesmo poder contemplar a tua clara beleza? Estou preso na majestade de mim mesmo, e nisso, sigo meu solitário baile diário.

    Ó! Meu Amor, meu doce Amor… Meu Encanto! Como te imagino e me imagino juntos… ao te contemplar no silêncio de uma tarde em que apareces repentinamente no reflexo espelhado no limpo céu azul… mas, esta linda visão que tenho no dia, bela e cheia de graça… apenas se faz ecoar, ecoando a ecoar… a ecoar.

    Em tua face clara, lusa e juvenil me vejo iluminar. Abrindo meus olhos… retirando de mim as impregnações infrutíferas e residuárias de meu sofrido passado e presente agoniante tedioso.

    No meu mágico ritual… derramo as águas de aquários em uma bacia de prata e deixo exposta à luz de tua Lua Cheia, para que parte de Ti possa se desprender e lá habitar. Ponho minhas mãos sobre as águas e o recipiente, e faço riscos imaginários mágicos escrevendo palavras místicas de amor… em oração Celta na alta voz… dizendo:

    — Ó! Sagrada Mística Sabedoria Lunar… que tua luz fêmea caia sobre essas águas, envolvida na Magia da Prata e, de suas perenes divindades noturnas do Argentum branco e brilhante. Invoco sua áurea iluminada que reflete o poder divino de tua purificação e amor. Ser gigantesco feminino que controla todas as forças ocultas das águas naturais, que constitui todos os seres orgânicos e abarca os seres inorgânicos… se faça aqui fluidamente presente no Sagrado Agora… vem, e me Ilumina!

    Ao terminar meu mágico culto de oração… vi sua luz em forma feminina descer em baile e encanto, se deleitando nas águas… transformando-as em plasma prateado. Ali mesmo sob a luz de tua magnífica e sagrada presença me despi de minhas rudimentares vestes, assim como, também, estavas despida dos teus véus de nuvens negras. Derramei o teu leite prateado em meu corpo nu… pude te sentir me tocando todo e por completo, onde me acariciava com beijos de uma paixão apaixonadamente purificante… a este tocante… me perdi em fluxos energéticos de amor que me fazia flutuar e ecoar… ecoando a ecoar.

    Quando regressei a mim… já tinhas desaparecido, restando apenas a lembrança do teu beijo, teu calor, tua sensação purificadora e teu carinhoso amor, e teu céu noturno no vazio estrelado.

    Minha Amada… silenciosamente fechei meus olhos em reverência, e, de mim, restou lhe dizer:

    — Te amo… Te amo… e Te amo!
  • Luz

    Boa parte das crianças tem medo do escuro e a grande solução para isso é uma luzinha pequena feita em diferentes cores para plugar na tomada. Assim era possível ter uma noite inteira de sono sem achar que tem algum monstro perdido na escuridão. Agora, no auge dos seus 29 anos, Manu não vê mais necessidade de ter essa luzinha já faz tempo, mas em uma noite observou o seu novo repelente elétrico de mosquitos e o pequeno LED vermelho que tinha para indicar que estava ligado. Ele projetava a sua luz para o teto e ela o encarava enquanto se lembrava da sua infância.
    Essa luz formava um círculo vermelho no teto, mas com o interior escuro como se fosse um eclipse solar dentro de sua casa, totalmente privativo. Aquela projeção de uns 30 centímetros de diâmetro era hipnotizante e ela o encarava com fascinação. Era lindo, embora um pouco assustador. Ao mesmo tempo que queria dormir e descansar do longo dia de trabalho, queria ficar ali olhando para cima enquanto viajava em sua mente. Talvez tenha se passado uns dez, vinte minutos ou talvez uma ou duas horas quando ela viu algo na escuridão do interior do halo vermelho. Eram pequenos círculos ovalados de um vermelho bem mais intenso. O topo deles foi lentamente se achatando, se transformando em olhos zangados, e logo abaixo um sorriso com dentes brancos e afiados começou a surgir como se a desejassem. Ela prendeu a respiração durante alguns segundos sem perceber e fechou os olhos com força, espremendo uma pálpebra contra a outra, para não ver aquilo que a sua mente implorava para não ser real. Enquanto isso o seu corpo foi lentamente deixando de sentir a sua cama e as suas mãos foram se fechando para tentar conter o medo. Se não bastasse o frio subindo pela espinha, ela sentia o frio se aproximar como se tivesse algo o empurrando para perto dela. Não aguentando o terror, o seu corpo se virou de lado, os joelhos começaram a ir em direção aos seus seios enquanto os seus braços abraçavam firmemente as pernas. De olhos fechados e em posição fetal, ouviu uma voz velha, que era aguda como unhas arranhando um quadro negro, sussurrando em seus ouvidos.
    — Esqueça o medo e venha brincaar! Não sabe brincaar? Fique traanquila, eu ditarei as regras antes de caada fase começar! A morte pode ser o prêmio ou a punição, vocÊ decide! — e a cada palavra e sílaba arrastada os seus olhos se apertavam mais e os seus braços abraçavam as pernas com mais força — Vaaamos, abra os seus olhos! Eu juuro que você não irá me ver!
    Ela queria acreditar que estava sonhando e que tudo não passava de um pesadelo produzido pelo seu doente subconsciente, mas não importava o quanto se esforçava em seus argumentos, a sua mente sabia que era real. E, por saber que era real, se obrigou a ter coragem e abrir os olhos, mas não sem relutância, é claro. Afinal, se visse uma sombra de algo assustador, a sua reação provavelmente seria fechá-los novamente. Mas não viu nada. Estava tudo completamente escuro, então foi se levantando aos poucos, tomando muito cuidado. Quando finalmente estava totalmente erguida, uma luz apareceu a uns dez metros de distância iluminando um grande pedaço de pedra de cor barrosa. Por não ver onde estava pisando, cada passo é tomado com um enorme cuidado, mas o destino era certo: a grande pedra. A uns três metros de distância, percebeu que tinha algo escrito nela como se garras tivessem arranhado a pedra em uns dois centímetros de profundidade, dando um aspecto sombrio a cada letra. Quando chegou perto o suficiente, percebeu que eram as regras do jogo que a criatura falou no início. Estava escrito: “Caminhe rápido porque na escuridão estarei lá, mas, se quieta ficar, viva continuará!”. Havia um X bem grande cruzando a palavra viva o que gerou um frio na espinha de Manu. Mas não teve tempo para refletir sobre isso porque, no momento em que terminou de ler, a luz que antes iluminava a pedra tinha sumido e a voz da criatura voltou a aparecer.
    — A primeeira faase começou! Siiga o vento, miinha criaança! — a sua voz ia engrossando à medida que falava, chegando a parecer um trovão no final — BOA SORTE! —  Com a explosão da última palavra, duas enormes bolas de fogo, parecendo uma mistura de pássaros com olhos gigantes, passaram dando um rasante em Manu que se lembrou a tempo das regras e se impediu de gritar de medo colocando as mãos na boca enquanto caia de costas no chão.
    Com a respiração acelerada, ficou encarando a direção em que foi o fogo alado, lutando para que o seu medo não enchesse os seus olhos de lágrimas. Quando conseguiu se acalmar um pouco, se levantou e começou a seguir o caminho da bola de fogo, mas, depois de apenas três passos, ela se lembrou das grandes asas do fogo batendo e se deu conta de que o vento delas era direcionado para trás. Já que a regra era seguir o vento, tinha que dar as costas para as imensas bolas de fogo que iluminavam o horizonte e seguir a escuridão.
    Não tinha nada para ver a sua direita, a sua esquerda e nem na sua frente. A sua única alternativa era se afastar silenciosamente da sua única, e ainda assim temida, fonte de luz. Quando até essa luz não era mais visível, começou a ouvir um zumbido distante. Era um ou mais insetos voando em sua direção, ela sabia disso. O zumbido era um som grosso que não se lembrava de ter ouvido em lugar algum, mas que indicava que não eram insetos pequenos. Ela não gostava de insetos, principalmente daqueles que voavam e eram totalmente imprevisíveis em seus movimentos. Sempre que via um perdido em sua casa, tentava matar o mais rápido possível mesmo que sentisse que não era o correto. Era o jeito que ela encontrava de se livrar desse problema, mas que agora não poderia fazer já que matar, seja lá o que estivesse vindo, poderia fazer barulho e violar as regras. Pelo mesmo motivo, teria que evitar correr ou se desesperar, então, nesse meio tempo em que os insetos estavam se aproximando, tentaria se acalmar o máximo possível.
    No momento em que o primeiro zumbido passou pelo seu ouvido, a sua respiração acelerou e teve que segurar a sua mão para que não soltasse um frustrado tapa em seu pescoço tentando acertar o bicho. Ao mesmo tempo, uma outra rocha passou a ser iluminada indicando o destino final dessa fase e as regras da outra. Mas essa pequena fonte de luz repentina também servia para ver como eram os insetos. O monstro que a atormentava queria que ela os visse. E ela viu. Eram aranhas de diferentes tipos, mas a maioria parecia com peludas tarântulas com dois pares de asas de cada lado e um afiado ferrão na sua parte traseira que soltava uma gosma nojenta e verde. Parecia uma junção de abelhas com aranhas que vinham para cima dela como se fosse uma presa fácil. Ao ver o que enfrentava, Manu só conseguiu colocar as mãos ao redor do rosto para diminuir o seu campo de visão enquanto os seus olhos lutam para não ficarem fechados, franzindo todos os músculos da testa.
    Mesmo sentindo uma mistura de medo de ser machucada e nojo daqueles insetos, continuou a caminhar no mesmo ritmo. Reto e constante, os seus passos pareciam ignorar os insetos. Pelo menos até o primeiro pousar em seu ombro, fazendo com ela sentisse todas as oito patas em sua pele e a luta delas para ficarem estáveis enquanto Manu mexia os seus ombros para frente e para trás se esforçando para que aquele monstro minúsculo voltasse para o ar. Mas esse monstro decidiu que não sairia de lá tão fácil e rapidamente fincou o seu ferrão traseiro no ombro dela enquanto as presas da frente mordiam o seu pescoço, causando uma dor causticante. A primeira reação de Manu foi olhar para cima como reflexo da dor e soltar alguns xingamentos em sua mente, mas logo pegou o inseto com a mão e o jogou longe, retirando a força suas presas dela e causando mais dor. O local agora latejava e ardia, dificultando o seu raciocínio. Os seus pés pareciam fazer mais esforço para dar cada passo como se estivesse entrando em um lamaçal, a obrigando a diminuir o ritmo de caminhada. Por causa disso, mais e mais insetos começaram a pousar nela, a ferroando e mordendo incessantemente. Os seus dentes estavam quase se quebrando com a força que fazia para manter a boca fechada e não emitir nem sequer um “aí”. Ela até tentava retirar algumas das aranhas com as mãos, mas eram muitas e os seus músculos se contraíam a cada nova picada. Em uma dessas, não conseguiu se aguentar e caiu no chão, continuando a sua jornada engatinhando enquanto as suas costas se cobriam de aranhas. A sua visão já não condizia com a realidade, vendo a pedra se aproximando e afastando sucessivamente. Ela lutava para continuar se movimentando, levando cada músculo ao seu esforço máximo. Até que a sua panturrilha não aguentou mais e causou uma dolorosa cãibra. Com a sucessão de dores latejantes que pareciam emanar de todo o corpo e subir até a sua mente já tonta, não aguentou mais engatinhar e caiu no chão. Ficou deitada no chão por alguns segundos, talvez tenha até desmaiado, e os insetos começaram a cobrir cada parte do seu corpo, inclusive o rosto. Em um certo momento, quando uma das aranhas mordeu a sua língua, ganhou um pequeno lampejo de força que a permitiu começar a se arrastar, se impulsionando com o braço esquerdo. Ela não sentia mais nada em seu corpo e nem sabia se os insetos continuavam em cima dela, só tentava continuar enquanto ainda estava consciente. E, logo quando estava com a visão completamente turva e sentindo a sua cabeça caindo no chão, levantou o braço direito, encostou em uma rocha e desmaiou.
    — Acoorde, minha querida dama! — sussurrou a criatura despertando pequenos reflexos nas pálpebras de Manu — Você aiinda está viva, mas só por sorte do deestino. Mais alguuns segundos e vocÊ seria minha. Minha, minha, minha, vocÊ será miinha! MAS não sou cruel, vejo que está debiliitada, então deixarei você repousar... Você ficará bem quietinha, sem se mover enquaanto o caminho vem até vocÊ! — Manu, que ainda estava zonza e dolorida, já tinha conseguido ficar de joelhos em meio a escuridão e percebeu que mais uma fase tinha começado quando viu um ponto de luz brilhante no horizonte.
    Ainda respirando com dificuldade, tentando assimilar tudo o que aconteceu e tudo o que ainda irá acontecer, Manu ficou parada enquanto encarava aquele ponto de luz que parecia uma estrela distante, piscando e oscilando. Ela queria coçar os olhos para ver se enxergava melhor, mas entendeu as regras dessa fase. Podia não estar entendendo tudo, mas sabia que não podia se mover muito nem mesmo com sabe se lá qual armadilha a criatura colocar. Alguma coisa iria vir, tinha certeza disso, embora não quisesse pensar muito para não sofrer por antecipação mais do que já estava sofrendo fisicamente. Ia aproveitar esse tempo para se recuperar, mesmo que fosse bem pouco, então fechou os olhos para adiar ao máximo o momento de sofrimento.
    Ela continuava tentando adiar e ignorar tudo quando algo peludo passou pela lateral da sua perna direita. Ela fechou os olhos com mais força quando sentiu algo rápido e pequeno subir em sua coxa com as suas seis pequenas pernas. Mas não conseguiu mantê-los assim quando ouviu um forte bater de asas e, pensando que podia ser novamente as aranhas, teve que ver o que tinha a sua volta. A sua primeira visão foi do chão e teve que segurar o seu corpo para não ter nenhum reflexo. O chão era um tapete de baratas e ratos, não dando pra ver nem sequer um milímetro de terra, piso ou seja lá que estivesse embaixo dela. Os ratos tinham tufos de pelo cinza encardido espalhados pelo seu grande corpo e os seus olhos vermelhos iluminavam os seus enormes dentes. Já as baratas eram marrons, beirando ao preto, com uns 10 centímetros de corpo e que não paravam de mexer as suas antenas enquanto as suas asas ficavam ameaçando voar. Quando finalmente percebeu que algumas lágrimas pareciam estar presas na parte de trás dos seus olhos e que não iriam cair, teve coragem de parar de encarar o movimento aleatório dos ratos e baratas. Então Manu olhou para cima sem movimentar a cabeça e viu a criatura que batia as asas. Era um majestoso e nada assustador beija-flor extremamente colorido, tendo penas que iam do roxo, passavam pelo azul e terminavam no verde. Ela encarava os seus olhos e ele os dela, a deixando imersa nesse pequeno campo de visão como se a hipnotizasse, mas as suas poderosas asas começaram a levá-lo para a direita até sair do campo de visão de Manu. Agora ela só conseguia ouvir o som alto de suas asas batendo bem próximas ao seu ouvido e o seu coração parecia tentar igualar os seus batimentos com a impossível velocidade daquelas asas. A sua respiração ficou curta e acelerada, temendo o que vinha pela frente. E o seu temor se confirmou quando começou a sentir algo longo, fino e levemente úmido entrando e saindo de seu ouvido em uma velocidade assustadora como se estivesse escavando, procurando alguma coisa enquanto causava uma agonia dolorosa. Com as lágrimas caindo dos seus olhos e lutando contra as contrações involuntárias de seu abdómen, forçou os seus olhos a ficarem abertos para tentar se concentrar em alguma outra coisa. Mas, assim que olhou para baixo, começou a ouvir um zumbido agudo em seu ouvido que causava uma forte dor em sua cabeça, tendo que se esforçar para não entrar em posição fetal. No mesmo momento, viu as baratas subindo em seu corpo até a sua cabeça, tentando forçar uma passagem pela sua boca, nariz e olhos. Seu corpo tremia com a dor e agonia quando os ratos começaram a roer as suas pernas, mas Manu continuava sem se mexer mesmo não conseguindo mais ver a que distância estava a luz. O tempo parecia uma eternidade e cada segundo demorava a se passar em meio ao sofrimento. Ela só queria que tudo acabasse e não estar mais nesse pesadelo. Ela só queria...
    — PARABÉNS, vocÊ passou por maais uma fase! Pode se mexer agora! — nesse momento ela simplesmente desabou no chão como se tivesse sem forças enquanto dava longas puxadas de ar — agora só resta mais uuma fase e ela é beem simples! Você não está vendo, maas tem uma porta a sua frente. NÃO abra ela em hipótese alguma! Até loguiinho, minha você!
    Demorou um pouco até que Manu conseguisse sentar e depois finalmente levantar. O seu corpo inteiro doía, as articulações pareciam estar inchadas, o seu ouvido zumbia de maneira incessante e havia sangue escorrendo por todo o seu corpo. O cansaço era grande, mas a curiosidade pela prova ser só uma porta era ainda maior. Por ser a última prova, tinha dúvidas se deveria seguir as regras ou não. Mesmo agora podendo fazer barulho e se mover à vontade, ela ficou olhando para a porta até conseguir se decidir. Durante o seu raciocínio, começou a ouvir em meios aos zumbidos o barulho de alguma coisa correndo a alguns metros de distância. A sua respiração voltou a acelerar e começou a ouvir os seus próprios batimentos quando o som de um rosnado se espalhou pelo ar.
    Podia sentir a criatura se aproximando e a cercando quando se lembrou de que, segundo o monstro que a atormentava, a morte poderia ser o prêmio ou a punição. Talvez por causa disso ou somente por puro instinto, deu uma pequena corrida cambaleante até a porta e começou a puxá-la com toda a sua força, mas não havia nenhum movimento. Os rosnados aumentaram em volume e proximidade, aumentando também o seu desespero. Talvez pela adrenalina que continuava a inundar o seu corpo, outro pensamento pairou sobre a sua cabeça: “não estou dentro, estou fora”. Por isso parou de puxar a porta e colocou o peso todo do seu corpo para empurrá-la. Quase todo o seu corpo passou por ela, mas, quando as suas pernas estavam suspensas no ar, a criatura mordeu a parte interna da coxa direita. A violência do choque fez com que ela girasse no ar enquanto gritava de dor. Tudo ficou em silêncio quando a cabeça de Manu bateu em alguma coisa na escuridão e a fez desmaiar.
    Já era de manhã quando acordou em sua cama. Sentindo todo o seu corpo dolorido, tentou se levantar e ir até um espelho, mas a dor na sua perna direita não permitiu e a levou até o chão. Lá mesmo tirou a sua calça de pijama e viu uma grande ferida já cicatrizada de uns trinta centímetros em formato de dentes bem na parte interior da coxa. O resto do seu corpo estava marcado por picadas em cicatrização e não ouvia mais nada em seu ouvido direito. Manu chorou, chegou a ir ao hospital, mas nada adiantou. Além do constante medo de dormir, essa dor e essas marcas a perseguiram pelo resto de sua vida.
  • Maestro infernal: capítulo 1

     
    A chuva batia no para brisa do corola 2008, como se fosse um pianista profissional tocando uma sinfonia maravilhosa de Beethoven. Sem dúvidas Rodrigues, babava em cima do volante, trabalhar de detetive particular nas horas vagas, e manter seu trabalho na polícia estava acabando com ele. Mas, ele precisava. Vento forte, trovões, pancadas de chuva, até mesmo a própria buzina que tocava eventualmente, não o acordava, dava pequenos pulos no banco, de hora em hora, não adianta, seu sono era pesado, e a chuva ajudou a tranquilizar o homem, vivia a base de pão do 3 dia e café de má qualidade. Dias em claro atormentavam sua cabeça. O rádio da polícia toca, aparentemente um terrível assassinato aconteceu, homicídio duplo, menina abandonada ao meio do sangue, isso sim o despertou novamente. Rodrigues era por natureza um predador de casos bizarros e sem sentido, amava seu trabalho, sempre se sentia um tal de Sherlock do sobrenatural, o próprio Scooby-Doo farejador de corpos esquartejados e dilacerados, mofados sujos, nojentos. Bom, Rodrigues não amava o banho de sangue, mas, amava e fascinava pelo sobrenatural. Nesses cenários complicados, sem pistas normais, sempre existia algo do outro lado, do mundo invertido, purgatório, seja lá como preferir chamar, era a única explicação pra alguns casos de mortes extraordinárias sem marcas. Quando criança Rodrigues vira vultos e etc. Porém ninguém acreditava nele, hoje em dia muito menos. Ele se sente ligado a esse mundo de monstros, fantasmas, bruxas, homens que pulam em uma perna só ou de pés invertidos, seu pai sempre contava a história de que um menino dos pés ao contrário e cabelos de fogo vigiava a floresta, era pra assustar o pequeno Gui, hoje em dia, esse se pergunta, eram só histórias? Algumas poderiam ser mesmo, outras ele não tinha certeza. Com um belo solavanco, Gui pulou, pegou o rádio, e ouviu com atenção. “Dois corpos na mansão Volkman, na colina do Dia bom, certamente identificados como Senhor Paulo Volkman e senhorita Valeria Volkman, ambos com 43 anos, aparentemente os dois tiveram todos os ossos quebrados, porém sem hematomas graves externos. Encontrada na cena somente a filha única, Clarisse Volkman, em prantos, nenhum outro parente da menina foi localiza...” Gui ouvirá suficiente, ligou o corola, partiu a todo vapor pra colina Dia bom. Rodrigues esperou a movimentação acalmar, queria investigar sozinho a cena, policiais iam e viam, lanternas nas mãos, capas de chuva, guarda-chuva sirenes e luzes pra todo lado. Rodrigues deixou o carro na mata, e seguiu caminhando o resto da colina, se esgueirou, escondido vigiava, coberto pelo seu sobre tudo preto e uma capa de chuva provisória. Aparentemente ninguém o notara, avistava com um binóculos, dois policiais conduziam uma pequena menina de olhos claros e cabelo loiro curtinho estilo chanel e encaracolados linda como uma margarida, mas murcha, pela chuva, e pelas lagrimas. Os policiais largaram a menina no banco traseiro da viatura, parecia tentar consolar a menina. Não funcionou, continuava cabisbaixa. Percebendo que nada iria mudar na menina, se afastaram e continuaram seu trabalho. Rodrigues notou a oportunidade perfeita e se aproximou da viatura, deveria fazer perguntas, ele era ótimo com crianças, não exatamente crianças mesmo, mas seus dois gatinhos, franjinha e bolota amavam ele, crianças não deveriam ser diferentes, somente mudava o tipo de petiscos oferecidos, e sem caixinhas de areias, definitivamente crianças eram mais fáceis de lidas, sem sombra de dúvidas. A barra parecia limpa, Rodrigues chegou perto suficiente do vidro da viatura escura e fria, cutucou a janela cuidadosamente, tentando ganhar atenção da menina, mas alerta para não ser percebido. Com um pulinho do banco a maninha encarou aquele projeto de sem teto esquisitão, sorrindo de orelha a orelha, acenando como se a garota fosse uma nova espécie de macacos australianos. Clarisse torceu o rosto, mas não gritou, o homem tinha olheiras fundas, barba por fazer, fios brancos na barba e na cabeça, topete mal feito pele branca e dentes amarelos de café expresso de má qualidade, o bafo deveria ser terrível, pensou a menina. Cuidadosamente, ela abaixa o vidro e pergunta. -O que você quer? Não me resta mais nada, sem esmolas hoje senhor, por favor se retire. Sentia-se enojada só de encarar aquele projeto de homem das cavernas. -Muito mal educada você, uma menina tão linda com uma boca suja assim, desse jeito não vai ganhar mais meu chocolate superespecial-Rodrigues fala isso fazendo uma cara emburrada e um biquinho esnobe. Clarisse fica intrigada. -Qual sabor? -Chocolate ao leite com avelã e castanhas caramelizadas. -Mentira! -grita escandalizada, batendo o pé, cruzando os braços com força- esse chocolate não existe, nunca vi em lugar nenhum, e já fui a muitas lojas diferentes, com chocolates importados da Bélgica, Suíça, Alemanha, e nunca vi esse sabor, além de feio o senhor e mentiroso. Rodrigues tira do bolso do sobretudo um envelope dourado, um chocolate muito aromático, como ele descreveu, e da uma baita mordida, enchendo a boca. -Huhummmm-exclama Rodrigues, muito satisfeito e saboreando seu chocolate perfeito e inigualável. -Deve ser um chocolate qualquer, você não me engana- Clarisse esnoba o detetive. -Certeza? Por que não prova? Com um estalar crocante, como se um lenhador quebrasse uma tora ao meio próprias mãos, o chocolate é partido, ele estende ate a menina encolhida no canto. Ela encara com curiosidade, avança a mãozinha e pega, olha, cheira e morde a pontinha, incrédula com o sabor irresistível e maravilhosa chuva de sabores na boca, a garotinha, funga e chora um pouco, seca as lágrimas no rosto com a manga da blusa lilás. Ainda choramingando, confessa. -Lembra meu papai. Rodrigues fica sério em silêncio. Retoma a conversa com um tom mais sério. -Qual seu nome menina? -Clarisse, porque te interessa? Eu não sou ninguém pra você, eu não sou mais ninguém agora. Rodrigues da um longo suspiro e continua -Clarisse, certo? Tudo bem, pode me chamar de Gui, apelido na escola. Olha eu sei que você perdeu tudo hoje, não sou a melhor pessoa com conselhos, mas, preciso saber o que você viu lá dentro, tenho algumas ideias mas não a certeza, preciso de ajuda, da sua ajuda, você é muito inteligente, tenho certeza- Termina dando sorrindo meigo. -Gui, qual é seu nome, tipo, completo? -Rodrigues, faz sentido pra você? -Não exatamente mas tudo bem- Ela para, e respira fundo- Se contar pra você, promete não rir? Os policiais riram, e debocharam, disseram que eu estava alucinando, “demônios, monstros? Isso é história de criancinha” fiquei muito envergonhada. -Clarisse, vem comigo, pode contar a sua história, já vi milhares de coisas esquisitas, acredito em cada palavra sua. Mas tive um ideia, vai ser melhor, me segue por favor. Rodrigues abre a viatura e estende a mão- Vem vamos, no caminho me conta tudo oque lembra, ouvi no rádio parte dos acontecimentos. A menina fica desconfiada, mas segue o policial esquisitão, esgueirando se pelas viaturas, pelo mato até a entrada dos fundos da mansão, ao entrar Rodrigues e Clarissa se depararam com uma enorme cozinha, mesa de jantar, tudo completamente arrumado e limpo, deveria caber dez, doze convidados na longa mesa preta se ornamentada , pia de mármore, geladeira de duas portas, Gui fica maravilhado ao se deparar ao bar da família, taças, vinhos importados, e oque mais chamou sua atenção, uma cafeteira de expresso, provavelmente italiana, profissional, o mais puro café que jamais tomaria. Peças de queijo, salames espalhados pendurados sobre o teto, uma variedade de uísques importados. Se existem um céu certamente era parecido, Rodrigues imaginava. Clarisse ficou confusa com o homem babão olhando todo aquele banquete, estalou os dedos o mais próximo do rosto dele, dando pulos, puxando a manga do seu braço e exclamando, parecia estar em transe. - Gui, ei acorda! Nada. -EII ALOU. A menina impaciente chutou sua canela. -Aiii! Clarisse, calma. Esfregava seu calcanhar que podia inchar futuramente. -Acorda por favor, preciso que fique atento, estou com medo de voltar aqui, mas ainda assim estou curiosa, preciso entender que aconteceu com eles. Ela aponta pra saída da cozinha/sala de jantar. -Onde eles estão? Na sala? -Papai, piano. -Certo. Começam a caminhar em direção a cena mais aterrorizante de Clarisse até hoje, inimaginável, passos largos e frios, chuva ainda batendo, coração acelerado e ansioso , Rodrigues nunca tinha ouvido de algo assim antes, ossos quebrados, sem machucados visíveis...Precisava ver, precisava sentir o paranormal novamente o chamar, aquilo o...E chegaram, os dois atirados, dois buracos no rosto de Paulo, onde deveria estar seus olhos, enormes, quase como duas bocas, isso era novo certamente, faixas da polícia por todo lado, o piano no centro da sala a mãe, Valéria, jogada no tapete enorme, poucos passos da poltrona onde sentava, parecendo querer chegar no marido, se arrastou com os últimos suspiros. Paulo estático, se tivesse os olhos ainda, certamente estariam vidrados na partitura em cima do piano, Gui reconhece a música que tocava, pelas notas marcadas em preto, como se alguém queimou as exatas notas da nona sinfonia de Beethoven. Clarisse não entrou, notou Gui, olhou para os lados, sumiu, voltou à cozinha, sentada a pequenina na ponta da enorme mesa, assim como um líder mafioso. -Eu entendo, querida, não precisa ver a cena novamente, me conta pelo menos oque aconteceu. Dizia Rodrigues puxando uma cadeira e sentando-se próximo da garota, inquieta balançando as perninhas. -Certo. Uma pequena pausa, parecia estar juntando todas as informações pra não ter que reviver mais vezes a mesma cena-Papai, estava na sala tocando varias músicas de piano, como sempre fazia aos sábados a noite, nada anormal, enquanto mamãe lia seus romances gigantescos. Eu estava no quarto, vendo alguns vídeos no meu Ipad, Felipe Neto, conhece? Ele e muito engraçado. -Ah, sim eu tenho alguma ideia, mas continue por favor. Clarisse, deu um breve sorriso e continuou. -Então de repente, ouvi minha mãe batendo na porta, e me chamando, ela falou alguma coisa relacionada à meu pai precisar de mim, queria minha opinião sobre uma música que aprendera a tocar, desci e, bom, sentei no colo dele atentamente ouvindo ele tocar, estava bonita a melodia, como sempre. Rodrigues sorri. -Desculpe mas, você e muito educada com seus pais, parabéns. Pode continuar. -Obrigada-Clarisse levemente corada-E difícil encontrar homens assim gentis, e você é, assim como meu papai- Ela para desconfortável com oque acabou de dizer, a realidade dos fatos era difícil de encarar ainda-Deixa pra lá, vou acabar logo com isso. Enfim, como ia dizendo, a música estava agradável, era uma nova certamente, mas logo as coisas ficaram estranhas. Uma pequena pausa novamente, a menininha olhava fixamente a mesa. -Aos poucos a melodia foi mudando, ficando sombria, meu papai me segurava cada vez mais forte, não queria me deixar sair, comecei a gritar, estava assustada, chamei minha mãe e. Parou novamente, começou a lagrimejar. -Os olhos dela, totalmente pretos, vibravam-Abanava os braços com força, e começou a chorar- Me...me...meu pai, não parava cada vez mais rápido a tocar, falar coisas estranhas em alemão. -Que coisas? Entendeu alguma palavra? Em prantos, ela fungava e secava as lágrimas. -Sim, mas só uma coisa, transferência de receptáculo, repetia inúmeras vezes. Ela tomou fôlego tentando se focar para acabar logo. -Depois disso, eu juro por todos os ursinhos carinhosos, que vi os dedos dele pegarem fogo, mais e mais rápido, a boca retorcendo e falando coisas incompreensíveis, provavelmente ainda alemão, mamãe caiu no chão, um brilho na nuca dela em vermelho, fumaça ou gosma preta saiu dela, tomou a forma de serpente, cobra, não lembro perfeitamente, desmaiei, foi isso. Acordei e eles estavam assim. A menina banhava-se nas lágrimas, a dor de ver aquele rostinho sem esperança apertou o coração de Rodrigues. Ninguém deveria presenciar evento algum assim, era deprimente. Levantou, anotou tudo com sua caneta e caderno de bolso, guardou novamente, e deu um leve abraço na garotinha mais miúda e cabisbaixa do que nunca, fungava e soluçava. Ele compreendia sua dor. -Pronto, acabou, você é incrível garota. Abraçava e dava pequenos tapinhas nas costas de Clarisse, que estava imóvel. Movimentação vinha da sala de estar, piano voltou a tocar, em um susto, a dupla investigadora correu para investigar, totalmente rígido, Paulo dedilhava ferozmente, fogo se ascendia nos dedos, exatamente como Clarisse relatou. A chama subiu e consumia seu rosto, entrava nas cavidades oculares, queimando sua carne de dentro para fora. Certamente não era Beethoven, sons melodiosos horríveis, entravam na mente do detetive e da menininha, latejavam seus crânios, como se estivem em chamas também. Clarisse se encolheu no chão, suplicando que a música infernal para-se de imediato, mas, não parou, aumentou, mais e mais, a sensação de enlouquecer estava próxima. Rodrigues, tentou se concentrar, buscou o revolver ao bolso, levantou lentamente ao Sr.Volkman, que agora parecia o verdadeiro maestro infernal, respirou fundo, tremendo puxou o gatilho, uma, duas, cinco vezes. Os disparos foram abafados pela sinfonia diabólica, mas, cessou. A caveira de Paulo, ainda em chamas cai de bruços sobre o piano incendiando. Porém, a sensação de alivio durou pouco, o maestro, agora sem pele nas mãos e na cabeça, levanta, o fogo cessa. O maestro infernal levantasse e caminha na direção da menina e do detetive. Passos lentos mas firmes, que ecoam pelo salão. Rodrigues congela, tenta disparar mais vezes, mas o tambor está vazio. Começa a recuar puxando Clarisse. -Clarisse vamos! –Exclama Rodrigues desesperado. Clarisse não move um musculo, alguma coisa mudou, a menina encara o próprio diabo em sua frente fixamente. Medo talvez? Não fazia sentido. De repente a caveira ambulante para, e começa a falar, apontando em linha reta. - Der Teufel hat sich in dich eingeschlichen Fez-se silencio por um momento, depois a criatura repetiu a mesma coisa, mudando as vezes para”der Teufel ist in dir” e depois “die Schlange des Chaos erwacht wieder”. Rodrigues não entendia, nada fazia sentido, mas decidiu esperar e observar. De repente, as coisas ficariam ainda mais absurdas. Clarisse jogou o rosto pra cima, muito abruptamente, tinha quase certeza, “Quebrou o pescoço”, um estalo forte veio da menininha, flutuava, nada que Rodrigues não presenciara antes, o paranormal, imprevisível até mesmo com criancinhas. Ele mesmo tinha poderes assim, de qualquer forma, não era todo dia que criancinhas saiam voando por ai. Desconforto, uma presença maligna tomava conta do local, não era o senhor caveira ambulante, não, algo mais forte, a fonte dessa energia caótica deixava-o tremendo de ansiedade. Clarisse emanava caos, emanava destruição. Diferente de tudo, uma energia poderosa capaz de matar tudo e todos que a tocassem. Mas a garotinha segurava esse poder na palma de suas mãos. Clarisse no ar, finalmente proclama mais coisas incompreensíveis. -Verstanden, Ruhe Soldat. E como se a pequena garota fosse o comandante superior, o maestro infernal bate continência e se desfaz em cinzas no ar. Clarisse cai, Rapidamente, já esperando, Rodrigues corre e pega a garota no ar. Desmaiada nós seus braços, suspira, e senta, tentando recuperar o folego. Noite estranha e gente esquisita acabavam com ele. A última lembrança de Clarisse antes de cair na total escuridão foi seu pai, esquelético, caminhando em sua direção, falando coisas estranhas, e então, sua visão escureceu. Acordou em outro lugar, não reconhecia aquele lugar, casas com arquitetura germânica medieval, uma igreja ao longe badalava um sino, várias pessoas, camponesas seguiam em direção a um grande poço no centro do vilarejo. Resmungavam coisas em alemão, ela entendia parcialmente. Tentou chamar por ajuda, mas todas as pessoas passavam pela menina como se não existisse. Um circo de camponeses, com tridentes, foices, até mesmo livros de couro preto ou marrom com um símbolo cravado no centro, vermelho como sangue. Certamente um culto maluco, agora se juntavam ao circo, homens e mulheres encapuzados, máscaras de serpentes, o mesmo símbolo, parecia escorrer sangue atrás das capas. Clarisse estremecia, mas curiosa se juntou, sentia-se ainda invisível na multidão. Uma canção, ou oração começou a ser proclamada, todos de livros abertos, os símbolos brilhavam em fogo. Cada um dos encapuzados se aproximou do poço, doando seu próprio sangue, a canção de invocação aumentou, todos juntos em um rito de dar inveja aos seguidores de Satã. Sons começaram a serem ouvidos no poço, uma mare latejava e borbulhava, e como nascida do sangue e do lodo dos mortos, se levantou, uma espécie de cobra, dragão, serpente do mar, ensanguentada. Abocanhou, e pela metade ficou o camponês mais próximo do monstro do poço. Estranhamente ninguém se mexeu, todos hipnotizados pela carnificina. O estômago da serpente rugiu, não saciado, mas sim com sede de sangue e destruição. Clarisse, tenta fugir daquela insanidade, dando passos para trás, ainda encarando, um por um dos camponeses sendo devorados, uns tinham cabeças arrancadas outros metade do corpo, braços, pernas. Finalmente o horror tomou conta do povoado, gritos e desespero por todo lado, a serpente perseguia e devorava tudo que se mexia em sua frente. Clarisse acordou com sangue respingando em seu rosto e correu, “Não é real, não é real” Era impossível, era horrível. Por que tinham invocado um demônio pra destruí-los? Um sonho, terrivelmente real, só podia ser. Correu o mais rápido possível, mas não adiantou, serpente alcançara Clarisse, mas não atacara, e sim, chamou. -Clarissssse, não fuja, nosss somos iguais, somos parte um do outro, não fui eu quem matou todos eles, foi você, não entende? Olhe pra baixo, está ensanguentada. -NÃO! –Clarisse se joga no chão chorando, balançando, desejando que tudo acabasse, E acabou, acordou nos braços de Rodrigues. Desnorteada e com medo, confusa. Viajou no tempo? Não fazia ideia, sentia a cabeça latejando. Rodrigues estendeu uma xícara de chocolate quente para menina, ela agora se encontrava enrolada em um cobertor, mas não em sua casa. Uma cozinha pequena, luz fraca. Sentada em uma pequena mesinha redonda de madeira, um lindo gatinho encarava a menininha, mesclado preto e branco. -Franjinha e o nome.Rodrigues inicia a conversa, sentado do outro lado da mesa bebericando café, obviamente, deveria se passar da meia noite, mas não se importava, ele precisava daquele café, afastaria os sentimentos ruis daquela noite. -Onde estou? Você me trouxe aqui, certo? -Exatamente, bom, pensei que como estava desmaiada e bom, você sabe… -Sozinha- A garotinha corta secamente- Eu entendo, por quê se preocupar com uma garota estranha, que não te deve nada? -Não podia te deixar lá para morrer né? Que tipo de ser humano eu seria? Deve ter aprendido a ajudar os outros, certo?- Tenta dar seu melhor sorriso, mas não sente que se saiu bem. -Onde vai me levar? O quê aconteceu lá, eu simplesmente apaguei, vi meu pai morto vivo caminhar na minha direção, e teve aquela música, e bom, tive um pesadelo horrível com.. - A serpente? -S-sim- uma pequena pausa, desceu o olhar triste- Rodrigues, Gui, estou com medo, a cobra, o monstro seja lá o que for, me acusou, disse ,"nós somos iguais" não entendo. Eu sou um monstro pra você? -Clarisse, vou te explicar uma coisinha- Dá um grande gole final no café,e bati levemente a caneca na mesa, imitando um bêbado afogando as mágoas- Esse mundo, não é um conto de fadas e nem mesmo um mar de rosas, inclusive, qual sua idade mesmo? -11, mas faço 12 mês que vêm, 31 de janeiro -Bom, como imaginei, muito nova , grande poder. Clarisse estremece ao ouvir "poder". Rodrigues continua. -Alguém em algum momento na sua família fez uma grande besteira, e agora vai ter que segurar o fardo, mas vou te ajudar, não te levei pra lar de adoção, pois, não iam saber lidar, você Clarisse, tem poderes sobrenaturais. Essa frase não parecia fazer nexo nenhum com a realidade, e não fazia de maneira alguma, insanidade, no mínimo, ecoava em sua pequenina cabeça. -Eu sei, pode me colocar no hospício, sou maluco, mas, é a verdade. Conhece demônios, certo? Existem, lobisomem, vampiros, todo tipo de criatura maligna que consiga imaginar, bom, testemunhou hoje com teus próprios olhos. Crianças como você, tem um lugar certo, frequentei praticamente na tua idade, matei bruxas velhas, vampiros feiosos, espíritos vingativos, devo ter topado com o próprio diabo nesses anos de caçador. Clarisse pulou com um pequeno susto, outro gatinho se arrastou entre suas pernas, ronronando, esse laranja, um alívio calmante naquela noite. -Escola preparatória contra as artes das trevas, ou EPCAT, sim é uma sigla horrível, mas é um lugar ótimo, outras crianças com e sem poderes sobrenaturais vivem lá, vai fazer amizades e estudar e combater bastante, bom, e claro se você tiver interesse, e um dia vai entender o'que sua família fez, ou de onde veio poderes sobrenaturais e absurdamente fortes. -Gui, eu, matei ele? O maestro ? -Transformou ele em cinzas… Ficou corada, impressionada, estava sonhando, mas ao mesmo tempo, destruiu uma criatura. Seu próprio pai, naquele ponto, já não existia Paulo Volkman ali, Clarisse não entendia isso ainda. -Vão me ajudar? -Vão, e vai ser a melhor caçadora paranormal, sobrenatural do mundo-Agora sim Rodrigues deu um sorriso satisfatório- Acho melhor você descansar, deve estar caindo de sono, não tenho exatamente um quarto ou cama, mas o sofá é perfeito, tenho cobertas travesseiros pode se aconchegar , os gatinhos podem te fazer companhia. Agora dando uma olhada melhor no apartamento, Clarisse nota os sofás de couro marrom, bem cheios e arranhados, um tapete e uma mesinha de centro com livros empilhados, Agatha Christie, Stephen King, Poe , e muitos outros. Tudo na sala e na coy pareciam mais antigos, anos 90 talvez, mas a televisão era muito recente, tela plana 43 polegadas, ao lado do sofá central uma caneca, e outra ao lado da televisão , em cima da mesa da cozinha, canecas no geral se espalharam pelo apartamento,isso e os livros e algumas anotações espalhadas, explicavam as olheiras de Rodrigues. Ele se levanta e vai em direção ao quarto no corredor. Volta trazendo cobertas e travesseiros. -Bom, qual sofá? Geralmente o do centro e dos gatos. Clarisse ainda meio confusa, perdida nos pensamentos, balança a cabeça voltando a realidade. -Pode ser, esse mesmo, não me importo em dormir com ps gatinhos. -Perfeito, vou arrumar pra você. Rodrigues ajeita a coberta e os travesseiros e com um sinal, chama a garota. -Clarisse, uma coisinha importante que precisa saber, primeiramente, tem onde ficar? Algum outro familiar? As aulas da EPCAT só começam em fevereiro. -Não- responde friamente. -Olha pra mim, se importa de ficar comigo nesse meio tempo? Nunca cuidei de crianças, mas sei que você é muito inteligente , vejo isso. Clarisse olha para Rodrigues meio cabisbaixa, mas não tinha para onde correr, perdera tudo, ele era sua única esperança por enquanto. -Gostei daqui- dá um sorrisinho. -Ótimo, prometo que vou fazer tudo para que fique bem até as aulas, Dorme bem garota, boa noite. Rodrigues espera uma resposta, mas a garota caiu no sono.
                    
  • Memória como enfrentamento à cultura atual da amnésia política.

    Como sempre digo, “as lembranças de uma vida não se traduzem somente em papel e caneta, mas também na memória de pessoas sensatas” digo isso porque, na atualidade, diante de tantos meios de comunicação e de informação, a banalidade e futilidade se consolidam nos mais perversos vírus exterminador de memórias afetivas e sensatas, nossas histórias passam e ações de terceiros pouco nos importam quando diz respeito aos nossos sentimentos. Que possamos vivenciar nossos processos da maneira mais salutar às gerações vindouras. É mais ou menos por isso que compartilho um pedacinho de minhas memórias aqui: 


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