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Romace

  • Os olhos

    Os olhos vidrados no espelho de outra alma. Reflexos de incertezas são lançados ao abismos. A circunferência em prata alega sentimentos puros mas os olhos alegam desejos Inconcebíveis. Os olhares se contornam à procura de resguardo, sem êxito eles se chocam, abalando a  máquina interna que faz pulsar o calor nas veias. Nervosismo petrifica o olhar. Os poros transpiram. Os lábios mantêm-se retraídos evitando articular palavras comprometedoras, entretanto o silêncio denuncia o anseio da carne. 

    Voltando aos olhos, eles refletem veracidade atribuindo nexo ao que outrora foi desnexo.
  • Os três passos para o amor

    Os três passos para o amor:

    1)Se ame como você é hoje! -
    Compre as suas roupas, perfumes e o que gosta pensando em usá-los no presente e não daqui meses ou anos.
    Lembre-se: você é lindo(a) do jeitinho que é, então se mime e usufrua do que gosta sem julgamentos. 

    2)O seu presente também traz felicidade-
    Crie as suas metas futuras, mas se admirando e sendo grato pelo hoje, bem como pelas suas metas já conquistadas. 
    Ânimo, você já é um vencedor!

    3)Viva o agora! -
    Seja grato pelas oportunidades e não deixe-as passar. Respeite o seu tempo sempre, todavia se já der para fazer, não se sabote e acredite: esse já é o momento.
    Faça hoje e não no próximo ano...o seu livro de vida é o agora!
  • Pânico na Ponte Rio - Niterói CAPITULO – 2

    Bom Fernanda continua a sua saga para encontrar um emprego e tudo que escuta é que é muito nova e precisa estudar primeiro mesmo ela garantindo que não precisa ser um bom emprego para ela o importante é não ficar em casa a toa sem nada para fazer e claro conquistar uma independência financeira podendo assim comprar tudo ou quase tudo o que ela queira sem ter a necessidade de ter que ficar pedindo dinheiro para seus pais a todo instante inclusive para sair o que seus pais sempre emcresparam mais. Fernanda parecia ser muito consciente e diferente dos outros jovens nesse sentido mas nem tão diferente assim como poderemos ver mais na frente quando se trata de se divertir entenda como sair por exemplo. E por isso ela estuda na parte da noite para poder trabalhar na parte da manhã assim que encontrar um emprego. É de manhã na casa dos Correto e todos estão comendo um saboroso café da manhã preparado por Tania com torradas bolo suco café frutas como banana uva e maça parecia um comercial de margarina todos rindo felizes. Mauricio se levanta para ir trabalhar sem terminar todo o seu café da manhã como sempre sob reclamações da esposa Tania que diz :
    __ Não deixe de comer se não ficara fraco enquanto o impede de ir embora arrumando a sua roupa.
    E Mauricio fala:
    __ Amor sinto muito mas não tenho tempo se despede com um até mais tarde beija a esposa Tania e filha Fernanda e vai embora trabalhar em seu carro um Monza.
    De repente o celular de Fernanda toca e ela sai correndo para atender no seu quarto.
  • Pari, Meu Amor

    Um final de tarde chuvoso
    Um frio agradável.
    Minha atenção vacila
    entre a xícara de chá
    e o som suave do piano.
    Uma apaixonante canção
    “13 jours La France”.
    Um ambiente convidativo
    “ Le Blanc Café.”
    Na Champs Elisees.
    É fascinante observar o movimento.
    Transeuntes com seus coloridos guarda chuvas.
    Mas sem nenhuma pressa
    Como a contemplar o entardecer
    naquela fria tarde de inverno.
    Paris transmite tranqüilidade
    Paris é inigualável
    Paris encanta
    Paris,  reduto dos amantes
    Âmago das paixões.
    Paris, meu inesquecível amor.
  • Pequeno Liam Desaparecido

    By- Marvin Lee.
    A esperança é o sentimento de que as coisas que desejamos irão acontecer quando menos esperamos, é acreditar que algo é possível mesmo quando há indicações do contrário. Algumas pessoas acham que isso não passa de uma ilusão que criamos para nós mesmos, até um certo momento em que finalmente caímos na realidade, tenho o meu dilema de sempre dizer que “A esperança é a última que morre”, e sigo com ela até hoje.
    Não tenho pouca esperança, mas sim muita, e sabe o porquê?
    Porque a minha vontade de encontrar a pessoa que amo, é maior que qualquer coisa nesse mundo. A esperança de o encontrar e o abraçar novamente me faz ter forças para lutar todos os dias, me faz querer ajudar as pessoas a seguir em frente e continuar acreditando no impossível. Nem tudo é um poço sem saída, de alguma forma ou maneira você vai sair de lá, com a ajuda de alguém ou até mesmo sozinho, tem sempre uma solução pra tudo, basta apenas persistir e acreditar que vai conseguir. Mas basta somente dizer e não agir?
    “Eu vou conseguir!”
    “Eu sei que vou encontra-lo.”
    Você tem que correr atrás assim como eu fiz, lutar e continuar a ter esperanças mesmo quando tudo e todos estão contra você. Mostre pra eles que você é forte e que nunca vai perder as forças, e vai continuar sonhando alto, como a mim.
    [...]
    Fui destruído por três homens horríveis que não ligaram para minha idade, e fizeram aqueles atos de agressão contra mim e meus amigos, aquela cena ficou martelando e continua me assombrando em minha mente até hoje. Meu amigo Lionel sendo jogado contra a parede, o Liam sendo levado ensanguentado para um lugar desconhecido, e eu sendo forçado a ver aquela cena toda. Perdemos toda a nossa infância, não consegui confiar em mais ninguém.
    Meu sorriso?
    Foi levado junto com aqueles homens, pesadelos viraram rotinas para mim, e eu não tinha nenhum dia de paz, me sentindo culpado por aquilo ter acontecido, mesmo não tendo culpa de absolutamente nada. Meu nome é Marvin Lee, e eu sou o garotinho que foi destruído a 19 anos atrás, mas que nunca perdeu a esperança de encontrar o amigo, e hoje vocês iram entender o que aconteceu no caso Pequeno Liam Desaparecido.
    By- Lionel Case.
    Sabe quando você sente que tudo na sua vida foi arruinado por você mesmo, e que não tem mais volta?
    Eu me senti assim quando coloquei a vida de duas pessoas importantes para mim em risco, mas eu era criança e não sabia que naquele exato momento a vida do meu melhor amigo estava em perigo, e que eu me sentiria culpado pelo o resto da minha vida. Aqueles homens me jogaram contra a parede sem nem mesmo pensar duas vezes, não ligaram se eu era apenas uma criança ou não, fui pro hospital e saí de lá traumatizado. Tenho que tomar relaxantes musculares todos os dias para ter um boa noite de sono, minhas costas doem sempre que tento fazer algo que meu corpo se mexa demais, e acabei tendo que desistir do meu sonho de ser dançarino. Mas encontrei o meu verdadeiro eu, virei um mafioso, encontrei duas almas gêmeas que cuidam de mim com todo amor que podem.
    Aprendi com eles que a vingança nos traz infelicidade, e que embora temos tanta raiva que não conseguimos controlar, devemos nos acalmar e descansar. Mas como um mafioso não procura por vingança? Sim, eu procuro por vingança a muito tempo, mas acabei me livrando dela quando descobri que meu amigo ainda estava do meu lado —Marvin—. Eu estava preocupado e temendo de que ele pudesse fazer algo para se machucar, e sempre que eu perguntava sobre o mesmo, meus pais me olhavam com uma expressão triste que me fazia pensar que ele não estava mais vivo, foi quando na verdade eu descobri que ele estava sendo observado por 24 horas, isso significaria que ele estava sofrendo demais, e aquilo era a "minha" culpa, isso me fez querer fugir e o encontrar para pedir perdão.
    Ele me ensinou que embora nos sentimos culpado por algo, esse sentimento está errado, porque dependendo do que aconteceu a culpa não foi totalmente sua, somos seres humanos e não somos perfeitos, errar faz parte da vida. Eu estava errado em me sentir culpado, porque não era a minha culpa, eu não sabia que tinha homens armados em minha casa, não sabia que naquele dia nossa infância ia ser destruída, então eu não tinha motivos para me culpar. A vida nos faz passar por coisas difíceis, para que mais tarde nos tornemos fortes e confiantes, embora essa cicatriz continue doendo, o passado deve ser uma forma de nós podermos enxergar que somos fortes e que aguentamos isso tudo por muito tempo, e que não devemos desistir tão fácil. Sou Lionel Case, e espero ansioso pela consciência de que a culpa dessa tragédia não foi minha.
  • Perfeitamente

    Teus olhos brilham.
    Brilham pois refletem tamanha beleza que está em minha frente, é apenas o seu brilho refletindo sobre minha pupila e fazendo com que a mesma transmita amor e confiança que em ti deposito, tú és tão belo que não é necessário olhar para o céu e ver estrelas, pois consigo vê-las através de seus lindo olhos que se deixam cair sobre os meus. Tu és raro, és minha rosa, a razão de todos os meus sorrisos e risadas que perto de ti me fazem a pessoa mais feliz de todos que estavam ao nosso redor, me fizestes ver o mundo com um sentimento a mais, e me fizestes dançar na chuva sem ter medo de me machucar, pois estava ao teu lado e nada poderia me fazer mal algum. E digo sem medo, que perfeitamente, absolutamente, sou apaixonada por ti.
  • Poder de Conquista (Não julga o livro pela capa) Parte II

    Ela - Eu tenho 20 anos, você é muito criança pra mim
    Eu - Criança! Eu ainda vou-te mostrar que "idade é apenas número e que maturidade não esta na idade mas na experiência".
    Era de noite e eu estava em casa quando o telefone tocou.
    Eu - Alô,
    Ele - Yá wí como é que foi?
    Eu - Normal, já que ela chamou-me de criança mas estou no activo.
    Ele - Ok, este fim-de-semana irei a minha tia
    Eu - Ta fixe brother, aproveita as gatas e boa viagem
    Ele - Ok, valeu.
    No segundo dia de noite o telefone tocou e eu atendi.
    Eu - Alô
    Ela - Oi tudo bem? Hoje não saíste a rua?
    Eu - Estava ocupado com a organização e arrumação da casa
    Ela - E agora pode sair? Vamos a uma cantina
    Eu - Ok, espera um pouco estou a sair.
    Fomos andando devagar e a conversar quando chegamos ao local, ela comprou o que queria e depois estávamos a voltar, eu senti alguma coisa diferente por parte dela parecia estar interessada ou com vergonha de mim a minha desconfia confirmou-se quando ela pediu para voltarmos de uma outra rua que tinha pouca iluminação, quando entramos na rua dei por conta que também estava isolada, eu pensei "depois dela ter-me chamado de criança ela nunca vai me falar que quer alguma coisa, ela esta com vergonha ou com medo de ser rejeitada? Vou ter que tentar alguma coisa".
    Seguro na mão dela e puxo-a para uma parede com pouca iluminação, ela fica de costa na parede o meu corpo estava próximo do dela, como sou mais alto agachei-me para poder beija-la para a minha surpresa, ela correspondeu, mas ficou admirada e sem perceber como é que então pouco tempo a minha mão já estava dentro da sua calcinha e o meu dedo médio estava dentro da sua xana. Ela afastou um pouco os seus seios do meu corpo e a sua boca da minha mas quando ela tentou falar, eu puxei ela de volta enquanto a minha língua passava pelos seus lábios, tirei a minha mão do seu pescoço e coloquei em seus seios, ela enrolou os seus braços no meu pescoço e eu mordi os seus lábios, quando deslizei a minha boca para o seu pescoço ela conseguiu falar em um gemido enquanto eu mordia o seu pescoço.
    Ela - espera Cláudio
    Eu não liguei e apenas continuei, voltei a beijar a sua boca depois de um tempo, eu senti algo a molhar a minha mão e percebe que ela tinha tido um orgasmo “Quanto tempo ela estava sem fazer sexo?”, eu sabia que tinha que controlar-me mas não consegui e comecei a rir. Ela empurrou-me e disse: você é um parvo. E saio correndo, fui atrás dela, demorou apenas alguns segundos para alcança-la e fazê-la parar de corre.
  • Poder de Conquista (Não julga o livro pela capa) Parte III

    Eu - Sei que só um parvo, idiota, mas é que nunca esperei que uma criança conseguiria fazer isso a uma kota (pessoa mais velha)
    Ela - Não és nada um parvo muito menos idiota, e além disso eu já percebi que és uma criança muito especial.
    Continuamos a caminhar nas calmas e eu fiz ela rir de várias coisas, enquanto conversamos, infelizmente o nosso passeio chegou a fim quando chegamos a porta de sua casa, ela deu-me um beijo de tirar o fôlego, para que eu percebesse que ela não estava chateada e que realmente estava interessada.

    Quando cheguei em casa peguei no telefone e liguei para o meu camba (amigo)
    Ele - Alô
    Eu - Miguel, nem vais acreditar o que aconteceu...
    Ele - Lhe kissaste?
    Eu - Yá wí, você sabe como é que é,"uma formiga pode derrubar um elefante"
    Ele - Essa é a ideia, também estou com uma kota de 24 anos
    Eu - Não maia mostra-lhe que "grande não é dois e pequeno não é metade"
    Ele - Risos a ideia é essa, depois actualizo-te
    Eu - Ok.

    Depois de falar com Miguel acabei por adormecer, "droga já é segunda-feira!", quando vi a hora, já eram 10h da manhã, preparei-me e foi a escola, voltei as 18h, essa era a rotina da semana, e dificilmente saia de casa porque a semana estava a ser chata e muito estressante, falava com ela as vezes pelo telefone mas conversávamos por muito tempo quando nós encontramos na rua, felizmente era sexta-feira "Dia do homem", o telefone tocou.
    Eu - Alô
    Ele - O que foi? Estas doente?
    Eu - Não, apenas cansado, essa semana foi chata
    Ele – Ham! Entendo, hoje é dia do homem vamos curtir? (diverte-nos)
    Eu - Não posso os meus velhos (pais) foram a um óbito, só voltaram na segunda
    Ele - Tens a casa só para ti vais aproveita a oportunidade?
    Eu - Talvez a Jéssica possa vir da um passeio na minha casa
    Ele - Talvez! Eu aposto que ela vem
    Eu - Combinamos de nos encontrar hoje
    Ele - Tá fixe, falamos depois, estou a ir curte
    Eu - Curte também por mim
    Ele - Pêra também por mim (faz sexo também por mim)
    Eu e Ele - Darei o meu melhor por ti.

    Saí de casa para me encontra com ela no local combinado, ela levou-me para conhecer alguns dos seus amigos, todos eles eram mais velho de mim e encontravam-se em pares, ao total formamos um grupo de 8 pessoas, quando começamos a conversa eles deram por conta que a minha carinha de criança não tinha nada a ver com o conhecimento que eu possuía, debatemos sobre vários assuntos e eu fazia questão de participar em todos eles, por vezes ficava calado a ouvir o que eles falavam, mas acabava sempre abortado para participar do assunto, estava muito divertido mas como estávamos a fazer muito barulho o dono do estabelecimento veio ter connosco, por isso achamos melhor sairmos do local, andamos em grupo a conversa e a fazer muito barulho, as gargalhadas eram constante e trocamos de lugar frequentemente, as vez me encontrava na direita outras vez na esquerda e por vezes no meio deles e fomos caminhado a este ritmo. Quando voltamos já eram 22h.
    Ela - Gostei muito de estar contigo
    Eu – Também eu, foi muito divertido
    Ela - É verdade mas infelizmente acabou
    Eu - Quês ir a minha casa?
    Ela - E os teus pais?
    Eu - Eles foram ao óbito e só voltaram na segunda-feira
    Ela - Sim quero, mas encontrarei-te lá, primeiro tenho que fazer algo em casa
    Eu - Não demora.

    Beijei ela e depois foi para casa, demorou algum tempo até baterem a porta, quando fui abrir era ela, tinha mudado de roupa e prendido o cabelo, sem demora peguei na pasta que ela trazia para ajudar-lha a carregar e pedi para ela entra, coloquei a pasta no quarto e depois apresentei-lhe a casa, por últimos sentamos no sofá da sala.
    Eu - Porque que cortaste as unhas?
    Ela - Fogo, você repara! Não quero aleijar-te
    Eu - Gostei do teu visual
    Ela - Obrigada, porque que o teu corpo fica quente? Não fico com vontade largar-te quando isso acontece.
    Eu - Não sei o porque, mas isso só acontece quando estou excitado.
  • Ponto final?

    Escrevi centenas de livrossobre nósporque eu não queriaem hipótese algumaque tivéssemos um fime quando finalmente percebi queseríamos sempre uma vírgulanunca tivemos um ponto final.
  • Porque é Você Quem Eu Imagino

    Porque eu me pergunto se faz sentido? Tenho total confiança em mim... Se você não valer a pena pelo menos uma vez tive confiança de que valia. Se um dia eu me arrepender, posso me lembrar de um dia em que pensei que você não fosse me decepcionar. Se você me decepcionar eu posso apenas atirar longe qualquer sentimento bom que tive sobre você.
       Não me faça arrepender. Quero que te presentear com beijos e abraços. Com momentos bons e agradáveis. E se não pensar em mim tanto como penso em você, e se seu coração não bater no mesmo ritmo que o meu quando pensa nisso. Pelo menos sei o que sinto, e as borboletas definitivamente não se foram. Talvez elas estivessem esperando por alguém como você, basta saber se as suas estavam esperando por alguém como eu.
    Tuas borboletas querem bater asas com as minhas?
    Tuas borboletas querem voar com as minhas?
    Querem ir embora com as minhas?
    Querem ficar como as minhas?
    Querem insistir e não ser mais uma desistente como as minhas?
    Tuas borboletas são como as minhas, me diga que elas querem ficar e as minhas não irão mais embora...
  • Precauções do COVID-19

    Se cuide do jeito certo
    Se os sintomas surgir
    Se afaste de perto 
    Depois chame um médico

    Mantenha distância do infectado
    Fique o mais possível afastado
    Mantenha-se mascarado
    Faça tudo que logo estará curado

    Se o resultado der negativo
    A proteção deverá continuar
    Se esforce para seguir protegido
    Que logo a vacina chegará
  • Preto & Roxo - minha vida de cabeça para baixo

    Se eu acredito em destino e pessoas destinadas?….
    13 de setembro, foi quando tudo começou, o dia que vai ficar marcado na minha memória, foi o dia que ela apareceu…. Na frente do meu carro!!!
    Eu estava dirigindo, não muito focada na pista porém devagar, quando de repente surgiu alguém na frente do carro, eu freiei rapidamente não acertando a pessoa, essa que caiu no chão por conta do susto.
     – ai merda — digo enquanto saio do carro apressada. – Está bem? — pergunto assim que me aproximo da garota que estava no chão resmungando. – você se machucou? – a garota apenas olha para mim com um semblante de raiva e diz: – Eu pareço bem? você por acaso tirou a carteira ontem ou é cega? eu poderia ter sido atropelada de verdade, como pode dirigir perto do campus onde tem tantos alunos passando sempre desse modo descuidado?— ela estava dando um verdadeiro chilique, e eu apenas resolvi não me estressar.
     – Olha aqui, você está reclamando mas eu nem encostei em ti não é mesmo? — Eu apenas disse sem muito ligar. – Como não? olha meu pulso arranhado — ela me mostra seu pulso ainda sentada naquele asfalto sujo.
     – Irei denunciar você — se levantou limpando suas roupas, que por sinal eram bem infantis e meio chamativas por parecerem roupas de criança, não é comum ver mulheres adultas usando saia colegial lilás, blusa social branca com suéter roxo por cima, botas com meias coloridas e presilhas no cabelo, essa garota saiu de um filme adolescente?
    – Vai me denunciar por esse incidente bobo? você por acaso quebrou alguma coisa? – digo agora sem muita paciência. – Eu…. – antes que ela pudesse responder foi interrompida por uma mulher que estava comigo no carro, ela era apenas mais uma de muitas que eu ficava, digamos que relacionamento sério não é pra mim então eu apenas durmo com algumas mulheres para me satisfazer quando necessário, às vezes posso até ser legal e levá– las para passear e gastar algum dinheiro. – Ei garota! sai logo dai, para de ser esquisita e querer chamar atenção, suas roupas já são chamativas o suficiente, quem te vestiu,sua mãe? – riu da garota.
    – Ou! você cale a boca antes que eu vá aí fazer você calar — eu disse em um tom áspero e ela apenas engoliu seco e entrou no carro de novo sem mais pestanejar e eu voltei o olhar para a garota a minha frente. 
    – Você também já tomou muito do meu tempo, apenas siga seu caminho eu tenho coisas para fazer e não vou me atrasar por causa de ….. – Há olho de cima a baixo e logo reviro os olhos – Que seja, só levanta e sai da frente antes que eu te atropele de verdade.
      Apenas ignoro o que a garota iria falar e volto para meu carro dando partida, mas aquela garota infantil decidiu ficar parada de braços cruzados e com um grande bico nos lábios me impedindo de continuar, eu por outro lado apenas bufo e começo a buzinar para que ela saísse, essa que por sua vez permaneceu persistente por um tempo mas logo saiu batendo o pé forte para seu caminho inicial.
      — Até que enfim – piso no acelerador seguindo meu caminho. — Qual o problema dela? – a morena que estava do meu lado perguntou.
     Eu nada falei pois estava tão confusa com o que acabou de acontecer que não conseguia pensar em mais nada, apenas continuei dirigindo para dentro daquele enorme campus que mais parecia um pequeno vilarejo, lá era bem fresco com grandes árvores que faziam sombras para os campistas que iam a pé, e ruas de paralelepípedo para os que iam de carro ou moto, e nesse mesmo momento eu comecei a dirigir com mais cuidado pois haviam muitos estudantes passando e eu não queria que acontecessem novamente o que acabou de acontecer minutos atrás.
      — Você fica neste prédio? – perguntei para a garota que estava comigo.  — Sim. – abriu um grande sorriso e rapidamente em um minuto de descuido meu, se atreveu a me puxar para um selinho e saiu do carro logo em seguida. — Qualquer coisa é só me ligar – fez sinal de telefone com os dedos e saiu em direção a uma garota que estava esperando ela sentada em um banco de cimento que havia ali.
      Eu novamente segui meu caminho em direção a área dos prédios do meu curso, eu já sou formada em gastronomia e agora estou cursando artes visuais, pela tarde dia sim e dia não trabalho em uma cafeteria que possui aqui dentro do campus ( que é de uma amiga que cursou gastronomia comigo). Com muita dificuldade encontro uma vaga para estacionar, tranco o carro e saio em direção para dentro do prédio em seguida, ali tinha uma enorme área confortável com escadas de subidas imensas para as salas e alguns veteranos ajudando aqueles que tinham dificuldade em se situar, e eu lógico era uma delas — ah, com licença, poderia me mostrar onde encontro essa sala? – mostro para ela o papel que tinha as informações e ela logo me mostra o local – Obrigada – agradeço e entro na sala, que era muito arejada, as paredes eram brancas sem mancha alguma, parecia que tinha sido acabado de ser pintada, armários e cavaletes de quadro todos organizados, em uma das paredes tinha uma porta e ao passar por ela uma outra sala um pouco menor, nela as janelas eram de fora à fora, nesta sala também tinham mesas grandes e alguns alunos à espera, eu logo me aconchego e aguardo junto com os outros.
    Passando alguns minutos logo a professora entra na sala, se apresenta e começa a explicação de todo começo de ano.  – Que tal se quebrarmos um pouco o gelo? Vamos todos para a outra sala, vamos começar lá nossa interação — ela diz e aponta para a porta na qual eu tinha passado minutos atrás e os alunos logo se dispersam para o local.
     – Peço que todos comecem a andar aleatoriamente pela sala — ela diz novamente e todos fazem como dito. – Quando eu disser pare, todos vocês vão parar e fazer dupla com a pessoa a sua esquerda, porém, só irá olhar para a esquerda aqueles que a letra do primeiro nome seja ímpar e irá olhar para a direita aqueles que a primeira letra seja par,prontos? — e assim ela contou 1, 2 ,3. – parem! — todos paramos e olhamos para a pessoa à nossa esquerda e direita…..– Tá de brincadeira. — sorrio nervosa.  
  • Quem é Você?

    Peraí, respira e me diz
    Quem é você que mexeu com meu ser?
    E me fez entender
    Que vale a pena sim
    Me conquistou com esse sorriso
    Fez da paz o paraíso
    Me ganhou num olhar
    Fez acreditar que o amor também era pra mim
    Não consigo
     parar de te abraçar
    Seu sorriso pra me desconcertar
    Vive em mim
    Invadiu meu consciente
    Dominou meus pensamentos
    Preenchendo os meus dias
    Transforma a minha vida
    Completa minha existência
    Me agrada sua presença
    Dá razão a minha história
    Não consigo
     parar de te abraçar
    Seu sorriso pra me desconcertar
    Me deu a energia que eu não sentia
    Trouxe outro sentido a vida
    Ilumina minha essência
    Tira minha carência
    Completa nossa história
    Essa paixão consciente
    Mais a gente sente }
    Não consigo
     parar de te abraçar
    Seu sorriso pra me desconcertar
    Meu amor, eu preciso te falar
    Pode parecer tarde mas ainda quero te amar
    Sei que não tá fácil mas dá para tentar
    Quanto aos nossos planos quero te contar
    Só está mais perto de se realizar

     

  • Rainha de ébano.

    O que há de mais belo e terno nessas trevas? Se não a sua bela pele negra e nua sob o pálido brilho da lua.
    Refletindo e brilhando como uma jóia, polida e esculpida pela própria afrodide a sua imagem e semelhança.
    Doce criança filha de Oxum, em seus olhos vejo o infinito de Orum.
    Mas estou em Aiê olhando para você, aberta e convidativa como uma flor afrodisíaca.
    Preta e bela, brinco entre suas pétalas e tomo do seu néctar!
    Então paro, não penso, não falo, somente sinto a essência volátil do que palavras não expressaram.
    Deitada em meus braços, entrelaço meus dedos em seus cachos.
    Nossos corpos flutuando como bruma pelo espaço.
    Lentos, atordoados pela endorfina de um orgasmo.
    Mas sou insaciável como um viciado, louco e alucinado quero sempre mais de você.
    Templo sagrado de prazer, que ilumina, fascina e inspira a mais doce poesia.
    Que ganha forma em cada linha, que se curva em perfeita simetria na harmonia de seus traços.
     
     
     
     
     
     

     

  • Rápido demais — Crônicas do Parque

    Já fazia cinco solitários anos em que se encontrava separado e divorciado. Se mantinha firme em sua promessa de não mais se envolver e se entregar a um relacionamento amoroso. Afinal, sofrera bastante quando se separou da sua amada e louca esposa norte-americana (USA), que de repente enlouquecera quando ele achava estar tudo indo bem.

    Lembrara-se quando, por causa da separação, se ergueu de uma depressão que quase o matou de fome. Em que ao final do quinto dia sem comer, desmaiara caindo da cadeira em que estava sentado solitário trancado no escuro do seu apartamento. Em um instante se viu envolto em uma luz alvamente branca, flutuando em um corredor que o erguera para cima. Aquilo o atraia como dando um basta a sua vida terrena de sofrimentos. Porém, de repente, olhara para baixo vendo o seu corpo caído ao chão desgraçadamente. E disse para si mesmo:

    _ Não! Não é minha hora, tenho que voltar.

    E, novamente, lá estava ele, desgraçadamente em seu corpo caído ao chão. Juntou forças e foi se arrastando até a cozinha. Ao chegar, viu um pedaço de baguete duro sobre a mesa, e se esforçando apoiando penosamente os seus braços na cadeira, ergueu-se para pegá-lo. Já com o pão duro na mão, rastejou até o filtro de água potável, em que enchera um copo. E ali caído ao solo com as costas recostadas nas gavetas do armário da pia, comeu vagarosamente o tosco pedaço de pão duro, junto a goladas de água.

    Quando sentiu que já tinha forças para se levantar, ergueu-se pausadamente segurando com suas mãos as gavetas da pia, como se estivesse escalando o monte Everest. E, apoiou-se sobre seus pês. Foi até o banheiro, e tomou uma longa ducha quente. Ao final, viu que carecera de um choque térmico, e virou a torneira fazendo com que água esfriasse, tomando uma outra ducha fria. E bocejava, estremecia e ofegava.

    Vestiu-se, entrou em seu carro e pegou seu smartphone o ligando depois de uma semana, e vira múltiplas notificações de mensagens e ligações em sua tela. Ignorou-as, indo diretamente ao Google Maps para procurar um bom restaurante italiano mais próximo, pois desejara comer uma pasta com frutos do mar. Depois dessa recaída em que quase lhe valera a vida, prometeu para si mesmo viver como um monge eunuco, distante das perigosas mulheres.

    Assim, estava ele vivendo feliz, sem dar satisfação a ninguém para onde ia e o que fazia. Procurava ocupar ao máximo o seu tempo fazendo classes de yoga, teatro e aprendendo a tocar flauta e piano. Evitava ler, ver e ouvir romances, series e filmes, músicas e histórias de relações amorosas. Em que baixara o Google Keep, um moderno e super aplicativo de tarefas, para seu smartphone. Onde ao final de cada dia, dedicava meia hora da sua atarefada vida para fazer a programação do próximo dia, não dando oportunidades para surpresas. Fechando assim as portas para novos imprevistos que o poderia levar a um novo relacionamento, ao conhecer uma interessante pessoa em um lugar desconhecido, fora da sua agenda digital de compromissos fictícios.

    Portanto, acordava, se levantava e ia correr por uma hora todas as manhãs antes de ir para o seu entediante trabalho de programador, em uma dessas grandes corporações Hi-Tech Israelense.

    Em uma dessas manhãs em que corria no parque de Kfar Saba, viu a sua frente uma jovem que tropeçara na pista de exercícios, e machucara um dos joelhos. Por um instante decidiu ignorar aquele acidente, ultrapassando-a. Porém, por um ataque de consciência deu meia volta, indo ao encontro da jovem que se encontrava sentada no chão chorando.

    Ao chegar até ela, agachou-se e disse ainda ofegando pelo esforço do seu exercício:

    _ Você está bem?

    _ Claro que não! Você não vê?

    _ Desculpe! Só estou tentando ajudar. Venha, vou te levantar.

    _ Ai! Ai! Ai! _ resmungou a moça não podendo se apoiar em uma das pernas.

    Então, ele a carregou em seus braços a levando para grama, pondo-a debaixo de uma Tamareira que fazia uma refrescante sombra. E a perguntou:

    _ Você mora por aqui por perto?

    _ Moro em Rosh Haayin.

    _ Não está tão longe. _ falou ele enquanto estava lavando o ferimento do joelho da jovem moça, com a água de sua garrafa.

    _ Você está de carro? Será que pode me levar até minha casa.

    Ele hesitou ao responder de imediato, e olhou para o seu smartwatch que se encontrava no pulso direito, sabendo que se a ajudasse, chegaria tarde no trabalho. E, olhando para aquela jovem e linda moça de olhos verdes molhados de lágrimas, não resistindo ao seu apelo, disse:

    _ Sim, eu te levo para casa.

    Ela sorriu, e de súbito o beijou no rosto como forma de reverencia. E aquele beijo repentino ascendeu um chama nele que há muito tempo se encontrava apagada. E temeu, ignorando aquele beijo ao levantar a moça nas suas costas, apoiando-a como se fosse uma mochila. Ao passo em que ele caminhava com a pesada moça sobre as costas, ela ia tagarelando:

    _ Nem ao menos nos apresentamos, e aqui estamos como namorados em que você me leva de macaquinho. Como é o destino, ultimamente só estou conhecendo novas pessoas através do Facebook, e agora te conheço assim, em um acidente, e já temos um contato físico como pessoas que se conhecem a muito tempo. Acho que só os acidentes são capazes disso. O que acha? Eu ainda não sei o seu nome. Como você se chama?

    _ Em primeiro lugar não somos amigos, nem muito menos namorados. Em segundo você está muito pesada, e não estou conseguindo me concentrar com essa sua tagarelice. Me chamo Nimirod.

    _ Desculpa Nimi, eu só estava querendo te distrair por causa do meu peso e seu esforço. Me chamo Einat. Prometo que não falo mais. Naim meod (Prazer em conhecê-lo)!

    Juntos chegaram ao estacionamento, e ele a colocou no banco da frente do seu carro. Ela ainda se encontrava calada pela dura que recebera dele, e, ele se encontrava sério, meio puto em chegar atrasado para o trabalho.

    Então, ela resolveu quebrar o gelo que existia entre os dois, perguntando-o:

    _ Você corre no parque de Kfar Saba todos os dias?

    _ Sim. _ respondeu ele secamente.

    _ Você mora em Kfar Saba?

    _ Não. _ deu outra resposta seca.

    _ Onde mora?

    _ Próximo. _ disse isso não querendo responde-la.

    _ Sim. Não. Próximo. Você fala hebraico? _ disse ela o provocando.

    _ Você é da polícia? Não pode se calar um pouco, apenas por um momento. Não gosto de ser interrogado, e por sua causa estou me atrasando para o trabalho.

    Ao ver essa resposta arrogante, mais uma vez os olhos da jovem se encheram de lágrimas, e ela pediu para descer ali em qualquer lugar, já que estava incomodando.

    Diante disso, arrependido ele disse:

    _ Desculpe-me Einat. Apenas fiquei irritado por me atrasar para ir ao trabalho hoje, tenho muitas tarefas e meu chefe está já há uma semana no meu pé para que eu termine. Vou te levar para casa e tentar responder suas perguntas, ok.

    A jovem enxugou suas lágrimas, deu um grande sorriso, e perguntou:

    _ Quantos anos você tem?

    _ Trinta e sete. E você?

    _ Vinte e três.

    _ Você é nova. Fez o exército?

    _ Sim. Terminei faz um ano.

    _ E não viajou?

    _ Acabei de chegar da Índia, estive lá por dez meses.

    _ E como foi?

    _ Louco. Já foi a Índia?

    _ Sim.

    _ E como foi?

    _ Louco.

    _ Então, não preciso lhe dizer nada _ disse ela sorrindo.

    Ele sorriu em resposta, e a perguntou já chegando em Rosh Haayin:

    _ Em que direção fica sua casa aqui.

    _ Eu não sei direito lhe instruir, pois sou nova aqui, mas posso ver no Waze. _ disse ela pegando o seu smartphone, e abrindo o aplicativo GPS digitando o nome da rua.

    _ Você é daqui? _ perguntou ele, enquanto ela ainda digitava.

    _ Não. Sou de Tel Aviv. Vim morar aqui por causa do emprego de ajudante de enfermeira veterinária, pois quero estudar veterinária no futuro. Amo animais, principalmente gatos.

    _ Eu odeio gatos. São egoístas e interesseiros.

    _ Assim como nós. _ disse ela.

    _ Prefiro os cachorros. São amáveis e amigos. _ disse ele ignorando o que ela disse.

    _ Já eu, não sou muito afeiçoada a eles. São dependentes de mais e bagunceiros.

    _ Assim como nós, quando crianças. _ disse ele.

    Ambos se olharam e sorriram como se concordassem um com o outro, e a voz robótica do aplicativo falou dizendo que se encontravam no local de chegada.

    _ É aqui, nesse prédio. _ disse ela apontando, e continuou_ Quer entrar para tomar um café? Afinal, você já está atrasado mesmo.

    _ Não, obrigado! Não quero me atrasar mais ainda.

    _ Só que tem um probleminha! Esqueceu que não posso andar, e no meu prédio não tem elevador, e vivo no terraço no quarto andar. _ disse ela sorrindo.

    _ Ok! Te levo até lá, mas não tenho tempo para o café.

    Ela sorriu. Ele saiu do carro, foi até a porta do assento lateral, a carregou em seus braços, e ela disse:

    _ Agora parece que acabamos de nos casar, e você me leva para lua de mel.

    Ele a encarou com seriedade não gostando nada do que ela disse, e a colocou em suas costas indo em direção ao prédio a sua frente. Chegando a porta, ele se virou de lado para que ela pudesse digitar o código chave de cinco dígitos para abrir, fazendo um barulho entediante afirmando que já estava destrancada. Ele empurrou a porta de vidro com o pé, e enquanto adentrava ela ajudou com uma das mãos, sendo que a outra estava envolvendo o busto e pescoço dele.

    E seguiram subindo a escada. A cada andar ele parava um pouco para pegar um fôlego e descansar. E ela resolveu dessa vez ficar em silêncio, pois ele não estava nada gostando daquela situação. Então, chegaram a porta do apartamento dela. E ela disse:

    _ Não vai nem ao menos entrar para um copo d’água e descansar um pouco.

    E, ofegante ele disse:

    _ Não. Melhor não. Estou muito atrasado, tenho que ir.

    _ Vai me deixar aqui na porta para que eu me arraste até a cama? _ perguntou ela com uma dengosa voz.

    _ Acho melhor você já aprender a se virar sozinha com essa situação. Depois você vai me pedir para te levar para o banheiro, e te dar banho e depois fazer comida.

    _ Eu bem que poderia comer você. _ disse ela, e continuou_ Brincadeirinha. _ disse isso, querendo desfazer o que disse.

    _ É por isso que não quero entrar. É disso que eu tenho medo. Vocês jovens são rápidos demais. Bye! _ disse ele descendo as escadas.

    _ Hei, espera aí! Você não me disse onde mora. _ disse ela gritando.

    _ Moro em Kfar Saba. _ respondeu ele já de baixo.

    _ Me dá o número do seu telefone. _ ela gritou de cima.

    _ Rápido demais, já disse! E se eu for casado…

    _ Você é casado? _ Ela gritou o mais alto que pode.

    _Não! Mas, enquanto o meu número de telefone, vai ter que descobrir por si só.

    _ Isso já é bom! _ gritou ela, e já não houve mais respostas. _ “Ele se foi” _ pensou ela entrando no seu apartamento.

    Ele entrou no carro e dirigiu rapidamente para o local de trabalho, fazendo consideráveis esforços para esquecer aquilo tudo, repetindo um milhão de vezes em sua mente _ “Isso nunca existiu” _ tentando assim ignorar os fatos, que já fora fisgado pelas garras do destino.

    Ela estava maravilhada com ele, achava ele bonito e responsável, o tipo certo para uma mulher se casar. Ela era tão jovem, mas já pensava em um bom partido. Estava meia que traumatizada pelo motivo de suas duas irmãs mais velhas não conseguirem ter relacionamentos por serem gordas, não suprindo as exigências dos homens israelenses, numa sociedade que admira e fortalece a indústria da moda e cosméticos. Sendo que sua irmã mais velha de trinta e oito anos, fizera bebês em um laboratório de banco de espermas, tendo assim filhos gêmeos. E sua segunda irmã de trinta e quatro, já estava pensando em fazer a mesma coisa. Ela não era assim tão gordinha, mas geneticamente tinha formas arredondadas, e isso a preocupava. Passava muito tempo na frente do espelho, e se achava gorda e feia.

    Porém, não era bem assim, suas amigas a invejavam pela sua cintura bem definida, seu bumbum farto e arredondado, seus seios medianos e seu rosto de anjo com olhos verdes e cabelos loiros cor de mel. Um belo corpo de violoncelo, unida a um belo rosto e altura de um metro e setenta e cinco invejável. Não era gorda de jeito e maneira, era dessas mulheres mutantes de forma gigantesca.

    O despertador do smartphone tocou as cinco horas da manhã, como de costume ele se levantou indo diretamente ao banheiro, lavara o rosto e escovara os dentes apressadamente. Vestiu-se com sua roupa e assessórios de correr, colocou seus fones de ouvidos bluetooth, e pendurou o seu smartphone por uma capa detentora em seu braço esquerdo, começando o seu exercício matinal ao som do piano de Richard Clayderman. Pelo esforço que fizera para esquecer do evento inconveniente do dia anterior, já não se lembrara com emoção daquela moça linda e alta de olhos verdes, sua mente se voltara a sua rotina diária de solteirão feliz.

    Mas para o seu desgosto, lá estava a jovem linda moça correndo em sua direção pela contramão com o joelho enfaixado. Ao passo em que se aproximava dela, ele pensava em ignorá-la. Dizendo em seus pensamentos: “Puta-merda! O que ela quer de mim. Droga! Porque logo hoje fui me esquecer de colocar meus óculos escuros”.

    Ao se aproximarem, param ainda correndo e trocaram sorrisos, e ela disse:

    _ Olá como está?

    _ Bem. Vejo que seu joelho já está bom.

    _ Quase. Mas não resistir ter que parar com os meus exercícios matinais.

    _ Entendo. Bom! Não quero me atrasar mais um dia para o trabalho. Bye!

    _ Bye! Lehitraot (Até mais ver)!

    E, continuaram os seus percursos, entretanto, enquanto se distanciavam ela disse em alta voz:

    _ Ainda quero o número do seu telefone.

    _ Ainda vai ter que descobrir. _ disse ele não olhando para trás.

    E, isso se repetia dia após dia, semana após semana.

    Até em que um belo dia de Yom Rishon (domingo) ensolarado, em que ele estava a correr como de costume no parque de Kfar Sabah, não a viu durante todo o percurso. E, pensou: “Ela não veio correr hoje. O que será que aconteceu. Não importa! Bom para mim”. E, Yom Sheni (segunda-feira) a mesma coisa. E, Yom Shilishi (terça-feira), Yom Revyi (quarta-feira), Yom Hamishi (quinta-feira), Yom Shishi (sexta-feira) a mesma ausência.

    Yom Shabat (sábado), ele despertara já sem o apito do seu despertador. Continuou ainda deitado em sua confortável cama elétrica com colchões de astronauta, e não conseguia pensar em outra coisa, senão, nela. E vislumbrara em seus pensamentos o sorriso contagiante que enfeitava seu belo e limpo rosto redondo. Sua meiga voz de menina mimada. E seu gigante corpo perfeito. A ausência dela o fisgara, como as coloridas iscas artificiais dos profissionais esportistas pescadores. Aconteceu o que ele mais temia, se viu apaixonado, e sabia que esse sentimento era o mesmo que estar enfermo. Mas, agora, o que fazer, pensou. Ir procurá-la. Não! Isso era se entregar a loucura novamente. E se lastimou pelo fato de não ter dado o número do seu telefone a ela.

    Levantou-se da cama, foi ao banheiro, levantou a tampa da latrina e fez xixi. Deu descarga, e foi ao lavatório. Se olhou no espelho, e pela primeira vez viu um fio de cabelo branco em sua cabeça e dois em sua barba. Meu deus! Pensou. Abriu a gaveta procurando uma tesoura, e achando-a, rapidamente com cuidado fora até a raiz dos seus intrusos cabelos brancos para expulsá-los.

    _ Estou ficando velho. _ disse em alta voz para si mesmo.

    Teve medo por um instante de pânico de envelhecer sozinho. E pensou nela. Rapidamente entrara na banheira, ligara a ducha tomando um banho. Pegou a tolha, se enxugou apressadamente, passara um creme facial no rosto e se perfumara. Correu até o quarto, se vestindo elegantemente com roupas de verão. Uma curta bermuda branca, uma camiseta verde e uma sandália de couro esportiva. E, pensou em convidá-la para ir à praia em Herzliya.

    Ao chegar no prédio em que ela morava, correu em direção a porta, e não se lembrando o número do seu apartamento, não sabia em que botão devia apertar para chama-la pelo interfone. Esperou um pouco, e teve a oportunidade quando um casal estava para sair, aproveitou essa oportunidade em que a porta fora aberta, adentrando-a. E subiu as escadas em direção ao terraço no quarto andar. Lá chegando, parou e fez um pequeno exercício de respiração para aliviar a tensão. E, antes de bater à porta hesitou, não sabendo bem o que dizer a ela. E quando fora bater, a porta se abriu. Sendo, que ambos se assustaram. E ela disse:

    _ Você aqui! Eu já estava prestes a sair.

    _ Pois é, resolvi ainda que tarde aceitar seu convite para tomar um café. Mas, vejo que tens compromisso.

    _ Eu estava indo à praia.

    _ Uau! Foi isso mesmo que vim fazer aqui, te convidar para ir à praia.

    _ Ainda quer entrar e tomar um café antes?

    _ Seria um prazer!

    Ele entrou, e viu que ela morava em um pequeno apartamento de solteiro de apenas um quarto, com uma pequena cozinha e banheiro acoplados. Mas, que continha uma enorme varanda no terraço com muitas flores, plantas, um cagado, um papagaio branco, uma iguana e três gatos. O apartamento era pequeno, mas estava muito bem organizado com uma cama de casal ao meio, a cozinha no estilo americano a frente, o banheiro ao lado e uma grande mesa com impressora e computador, improvisando um escritório de trabalho. Do outro lado havia também uma porta e uma larga janela que dava para varanda. O ambiente estava bem iluminado e confortável, havia odores de incenso, e um toque alegre maravilhosamente feminino. Muito distante do seu escuro apartamento, triste e sem graça. E, enquanto ela aprontava o café, ele disse ao se sentar a cama:

    _ Bonito e aconchegante aqui.

    _ Foi isso que você perdeu antes. Muito lento você, Sr. Lesma.

    _ E você, apressada demais, Sra. Papa Léguas.

    _ Viu!

    _ Viu o quê?

    _ Agora já estamos nos comportando como um casal rotineiro, discutindo por besteiras.

    _ Rápida demais menina! _ Ele a alertou, e continuo _ Nem começamos ainda a namorar, e você fala em casamento. Mas me diga, porque não foi ao parque correr essa semana.

    _ Funcionou!

    _ Funcionou o quê? _ perguntou ele sem nada entender.

    _ Não está vendo. _ disse ela sorrindo.

    _ Como sou idiota! Bye! _ disse ele indo revoltado em direção a porta.

    _ Bye! _ disse ela tranquilamente sem olhar para traz, enquanto ainda preparava o café.

    Rapidamente ele saiu, e descendo as escadas às pressas, parou no meio, colocou a mão na cabeça, e dizia para si em voz alta:

    _ Como sou idiota! Hahhhh!

    Continuou a descer, e ao chegar a porta. Hesitou em abri-la. E se viu completamente apaixonado e envolvido a ela. Tão rápido, mais rápido do que a velocidade dos pensamentos era a velocidade dos sentimentos. Sua cabeça lhe dizia: “Saia imediatamente dessa arapuca, e esqueça essa garota que só vai atrapalhar a sua vida”. E o coração rebatia, dizendo: “Volte imediatamente, peça desculpas e diga que gosta dela”.

    O coração foi mais forte, assim deu meia volta e subiu as escadas. E lá estava ela a porta, com duas xícaras na mão, uma de café e outra de chá de folhas de Luiza Limão do seu pequeno canteiro de ervas. Ele subiu a passos lentos em sua direção. E pediu desculpas, e ela abrindo os braços com as mãos ocupadas com as xícaras cheias, disse:

    _ Só desculpo se me der um beijo.

    Ele se aproximou o mais perto possível, encostando barriga a barriga, e sentiu o calor atraente do corpo dela o chamando. Olho a olho se olhavam, e o olhar dela ficou meio vesgo, tornando-a mais linda e atraente, ainda mais do que já era. Suas respirações estavam ofegantes, e seus corações pulsavam tão alto, que faziam os líquidos das xícaras que estavam nas mãos dela ondularem pelas laterais, respigando todo o chão. E por um instante se cheiravam, enquanto seus narizes se tocavam. Rapidamente ele se afastou, pegando a xícara de café da mão dela, e disse:

    _ Rápido demais menina. Rápido demais…

    Ela sorriu, e ambos caminharam até a varanda. Assim, se sentaram um a frente do outro em uma pequena mesa de ferro, com a plataforma de cimento com mosaicos feitos de pedaços de azulejo que ela mesma confeccionara. E, apenas se olhavam por longos minutos sem nada dizer, enquanto saboreavam o gosto do café e chá, e os gatos se enroscavam em seus pés.

    Então, ele rompera o silêncio dizendo:

    _ Vamos devagar, Ok! Assim será melhor e mais prazeroso. Não quero ter uma relação de palito de fósforo.

    _ Como assim, palito de fósforo? _ indagou ela.

    _ Você tem uma caixa de fósforos? _ perguntou.

    Ela sem nada dizer, adentrou a casa para apanhar. E trazendo, foi vagarosamente por detrás dele o abraçando em tons provocativos, enquanto estendia com uma das mãos a caixa de palitos de fósforos a frente dos seus olhos. Ele pegou a caixa, ela voltou ao seu assento, e ele disse:

    _ Tome essa caixa, pegue um fósforo e ascenda.

    E, assim como foi dito, ela fez. E ele disse:

    _ Está vendo! O fósforo ascendeu ligeiro se inflamando rapidamente, e da mesma forma ligeiro se apagou. O mesmo acontecerá com nós se formos tão depressa nisso. Tudo não passará de uma inflamante paixão. Devemos começar como uma pequena fogueira de acampamento. Catar folhas e palhas secas, colocar gravetos em cima, depois paus grossos e duros, e acende-la com muita atenção cuidadosamente, e ir alimentando-a com esse combustível de matéria orgânica dura aos poucos, para que permaneça acesa, e venha nos aquecer por toda noite, até a vinda do sol.

    _ Mas, essa sua fogueira só poderá ser acesa com um palito de fósforo, não é? _ questionou a moça a sua frente com ironia.

    Nisso, ele se irritou novamente. E ela rapidamente disse:

    _ Brincadeirinha, Sr. Nervosinho. _ e sorriu como uma esperta menina, que ganhou a aposta.

    _ Ok! Nada de telefones, SMS, Telegram, WhatsApp, Facebook, Skype e todas essas parafernálias da internet. Usaremos cartas. E só nos encontraremos no local especificado por elas. Faremos a moda antiga, antes da tecnologia. _ rebateu ele, irritado por se sentir derrotado.

    _ E se as cartas não chegarem? Você sabe como são os correios aqui em Israel.

    _ Vamos usar então uma empresa de correios privada, a Deutsche Post DHL. Não se preocupe, eu cobrirei todos os custos.

    _ Está bem, Sr. A Moda Antiga _ disse ela ironicamente concordando.

    Assim, terminaram com o café e chá, e foram para praia em Herzliya. Lá, conversaram bastante abrindo o livro de suas vidas um para o outro, e o tempo em que passaram juntos foram mágicos para os dois.

    Ele a levou de volta para o apartamento dela em Rosh Haayin. E, ao se despedir saindo do carro, enquanto ainda caminhavam até a porta do prédio, ela o surpreendeu com um beijo apaixonante em sua boca, em que ele nem ao menos teve chance de resistir, apenas pela altura dela, teve que ficar suspenso nas pontas dos pés. Então, ela percebendo o seu desconforto, o puxou ainda o beijando descendo para rua, enquanto ele ainda ficava sobre o paralelepípedo da calçada, dessa forma ele ficou mais alto e ela mais baixa. Esse beijo em que se abraçaram amorosamente, durou por quase dois minutos. Ao terminar ela disse se despedindo:

    _ Isso foi apenas o fósforo que acendeu a fogueira no nosso acampamento.

    E assim, ele e ela, Nimi e Einat se encontravam esporadicamente através de cartas que indicavam locais estratégicos como um jogo de RPG. Ela o escrevia cartas amorosas, as desenhando com lápis de cor, ou aquarela, e fazia também colagens de flores e folhas do seu jardim suspenso. Ele a enviava cartas com bombons e flores, sempre ditando os lugares de encontro como o mestre do jogo. Até que um dia, ela recebeu uma encomenda vinda em um carro forte de alta segurança, tendo que dar várias assinaturas nos protocolos de papeis para recebe-la. Parecia-lhe algo extremamente de muito valor financeiro, para vim com aqueles seguranças todos bem armados, com pistolas e escopetas Glock. Era uma caixa grande que envolvia outras pequenas caixas, como degraus de escada de caixas sobre caixas. E, ao chegar à última e pequena caixa preta. Encontrou um pequeno papel vermelho, dobrado em quatro partes. E ao abri-lo, viu um número de telefone escrito em tinta negra: 0529516651. De imediato foi a sua bolsa procurando o seu smartphone, e ao acha-lo ligou imediatamente. E ao dizer alô, ouviu uma voz que emocionado perguntava:

    _ Quer se casar comigo?

    _ Rápido demais seu moço. Nem ao menos ficamos noivos e você já pensa em casamento.

    Então, ele ao ouvir essa resposta, desligou de imediato o telefone.

    E, ela se desesperou dizendo para si: “Droga! Eu brinco demais com ele, e ele sempre me leva a sério. Apenas só repeti as suas palavras. Droga!”.

    Todavia, enquanto ela tentava ligar para ele novamente, desesperada para lhe dizer: “Sim! Era isso que eu mais desejava desde quando nos conhecemos”. Ela ouviu um toc, toc em sua porta. E abrindo-a, lá estava ele de joelhos com uma caixa de anéis na mão dizendo:

    _ Case-se comigo agora, mesmo que seja rápido demais! É que não precisamos mais da fogueira no nosso acampamento. Pois o sol raiou, e já é dia.
  • RELAÇÃO MEIO AMARGO

    — Eu sinto muito, não foi por querer — imploro pelo seu perdão, segurando seu antebraço para que ao menos olhe no meu rosto —, Eu estava muito ocupado no trabalho e cheguei tarde no planetário, posso recompensar de outra forma.
    — Só saia, por favor — disse ele de costas, afastando-se ao puxar seu braço de volta.
    — Natanael…
    — Sai! — grita.
    Mantive-me imóvel vendo-o se distanciar até adentrar no quarto e fechar a porta. Fiz novamente: como na primeira, na segunda, na terceira e assim em diante pelos últimos quatro anos juntos. Não posso pedir para que ouça minhas explicações. Prometi que não esqueceria; não aceitaria nenhuma tarefa e chegaria a tempo, porém mais uma vez não mantive a tal palavra.
    Pego minha mochila que está jogada sobre o sofá. Desligo a luz da sala antes de entrar numa intensa indecisão mental: vou atrás dele ou devo de verdade ir embora? Minhas mãos estão trêmulas e sinto um excruciante aperto no coração. Viro meu rosto na direção do quarto, encarando-o por alguns minutos até finalmente decidir que neste exato momento, seria melhor deixá-lo em paz.
    ∞∞∞
    — Por Deus, eu quero fechar o bar e ir dormir — reclama minha tia jogando um pedaço de pano velho e úmido sobre a mesa vermelha de plástico tendo o nome de alguma cerveja — São mais de duas horas da madrugada, não percebeu que você é o único aqui? — pôs as mãos na cintura.
    — Eu posso fechar para você depois — digo, tomando o último gole da cerveja num copo branco descartável — Fui expulso, não posso voltar agora — senti um amargo na minha boca, mas não foi causado pela cerveja.
    — Você é expulso de casa e é no meu bar que vem se lamentar? — ela tem seu cabelo cacheado de tom marrom preso em um coque baixo, veste uma camisa preta de manga curta e um short jeans escuro acima dos joelhos.. 
    — A senhorita está ganhando dinheiro do seu sobrinho e mesmo assim reclama? Já vi esse bar ficar aberto até às quatro horas da manhã.
    Acabei sendo pego de surpresa por um forte tapa na minha nuca, virei meu rosto para ela sem saber o que dizer pois faz anos que eu não recebia um único golpe dela — tive más recordações dessa bendita mão pesada e dedos gordos.
    — Esqueça essa porcaria de cerveja e vai dormir, você tem trabalho amanhã. Coloque seus pensamentos no lugar e espere um bom momento para conversar com ele e se redimir.
    — Tia, você sempre incluí que eu tenha que me desculpar, mas nunca o Natanael — ainda que tenha razão sobre.
    Um segundo tapa foi me dado.
    — E quem é que vive fazendo besteira? Eu já teria largado você há muito tempo se eu fosse o Nael — pega o pano úmido de volta e retorna para juntar as cadeiras e as mesas — Ele é muito paciente, eu já teria te metido a facada igual a desgramada da Rita — soltei um sorriso forçado ao ouvi-la citando a música do Tierry.
    Ser paciente e cauteloso ao ponto de nunca ter jogado nada na minha cara pelas tantas vezes que quebrei minhas promessas é o que me faz sentir como um merda. Pelo menos eu saberia o quão machucado está, mas segurar tudo para si é milhares de vezes pior. 
    Conheço Natanael desde a minha adolescência. Frequentamos a mesma universidade em áreas diferentes e nos graduamos no mesmo ano —, só então, tive coragem de pedi-lo em namoro. Seria impossível não despertar sentimentos por ele, conseguiu me conquistar sem fazer nenhum esforço.
    Acho que eu nunca gaguejei tanto na minha vida como naquele dia. O fato dele ter rido daquela situação só me deixou mais nervoso, entretanto, eu fiquei feliz; pois além de ter me graduado na área que tanto almejei, também consegui o "sim" do Nael. Durante três anos juntos, seu comportamento nunca mudou e sequer deixou de ser o mesmo por quem me apaixonei.
    Não posso dizer o mesmo sobre mim.
    Quando que nosso relacionamento começou a desandar?
    Até o final do meu estágio estava indo tudo bem entre a gente, sequer discutimos, tampouco quebrava minhas promessas. Então… foi quando comecei a aceitar trabalhos extras? Obviamente é isso. Acreditei que apenas amar é o suficiente para manter uma relação — conseguir dinheiro é essencial. Aceitei muitas tarefas em tais dias que eu deveria ter folgado.
    Como ele deve ter se sentido por ter me esperado tanto e dado conta de que eu não apareceria? Meu peito se apertou só de imaginar a sua reação. Certamente, minha tia tem razão. Sou o único a quem devo desculpas a ele, por nunca ter sido presente nos planos em que ele sozinho preparou…
    — Merda — sussurrei, sentindo minhas lágrimas escorrendo por meus lábios — Eu realmente… sinto muito.
    ∞∞∞
    — Bom dia, Gustavo — diz minha colega de trabalho, Carolina — Sua cara tá péssima hoje.
    — Bom dia — retribuo — Sim, sei disso — murmurei me aproximando da minha mesa, coloco a mochila sob ela.
    Sento na cadeira e ligo meu computador. Preciso revisar um contrato para um dos clientes e firmá-lo com a seguradora. Observando a hora no meu relógio de pulso, tenho cerca de três horas para deixar tudo pronto até nos encontrarmos.
    Meus pensamentos voltavam para a noite passada, o que me atrapalhou no prosseguimento da minha leitura. Bufo relaxando meu corpo no encosto acolchoado da cadeira, junto às minhas mãos entrelaçando os dedos enquanto a cena de ontem está fixada na minha mente, repetindo como um loop infinito.
    — O que eu faço? — resmungo.
    Inclino meu corpo a frente pressionando meus cotovelos na borda da mesa. Esfrego meus dedos nas sobrancelhas sentindo uma leve dor de cabeça. Tenho de fazer algo, mas infelizmente, nenhuma ideia boa o suficiente surgiu e somente foquei no trabalho até o horário de voltar para a casa chegar.
    ∞∞∞
    O dia terminou bem, tirando o fato que a sensação de culpa continua me invadindo. Após pegar um Uber, pois meu carro continua na oficina há três dias, desci em frente a minha casa —, respirei fundo antes de passar pelo portão. Já que não aceitei nenhuma tarefa extra para esta noite, consegui chegar cedo.
    Devo entrar? — pergunto-me mentalmente.
    Não tive coragem de passar pela porta da sala. As luzes podem estar apagadas, mas o som da televisão ligada deixa claro que Natanael já está lá dentro. Respiro fundo pela segunda vez e giro a maçaneta da porta. Dando alguns passos ao entrar, vejo Nael sentado no sofá vestindo uma calça moletom cinza e camisa vermelha, assistindo a animação do Gato de botas.
    — Boa noite — falo baixo.
    — Boa noite — corresponde, sem ao menos olhar na minha direção.
    Decidi não insistir, por agora, irei começar devagar. Entro no quarto onde deixei minha mochila, levo algumas peças de roupas comigo para o banheiro e tomo um banho frio. Passando pela sala, notei que Nael não estava mais no sofá e ouço ruídos vindo da cozinha.
    Bebendo água a frente da pia
    — Podemos conversar? — pergunto.
    — Agora não, estou cansado — respondeu, guardando a jarra d'água na geladeira — Deixa pra amanhã, ou quando você tiver tempo.
    Suas últimas palavras foram como uma faca perfurando meu coração — ainda que eu não saiba a sensação, acho que não faria nenhuma diferença. Ele passou por mim e voltou a sentar-se no sofá.
    Voltei meu olhar para a cozinha caindo sobre a mesa, onde alguns chocolates foram deixados numa tigela. Ele tentou mais uma receita nos doces? As vezes quando não saem da forma que esperava, costuma trazê-los para casa. Natanael é formado em confeitaria e junto com mais dois amigos, eles abriram uma doceria.
    Caminhei até eles e peguei um pedaço para experimentar. O sabor amargo tocando minha língua me fez fazer careta e mal consegui engolir. Olhando para o pequeno pedaço entre meus dedos, suspirei.
    — Está amargo — balbucio. — Muito amargo.
    Retorno para a entrada entre a cozinha e a sala, observando-no em silêncio.
    Está cansado… ele deixa visível que não está falando de cansaço físico. Com clareza foi apenas para evitar de falar comigo. Iniciei passos curtos até o sofá e sento ao seu lado mantendo uma pequena distância de alguns centímetros. Desvio meu olhar de forma sorrateira da televisão para ele, o mesmo encarava o nada do outro lado.
    [...] Na real, não sei oque dizer. Já disse tantas desculpas anteriores que isso não significa nada agora.
    — Nael, eu… — ouvi resmungos vindo dele, inclinei minha cabeça para frente tentando saber o que estava acontecendo. Queria que fosse ele me amaldiçoando, mas não isto. — Você está chorando?
    Não houve respostas. Pego o controle pausando a animação, me aproximo dele e no instante em que o toquei, Nael se levantou a fim de distanciar-se outra vez. Segurei seu antebraço e o puxei para meu colo, deixando-o sentado de lado.
    — Tem o total direito de ficar com raiva, só não se afaste — deslizei meus dedos sob seus olhos para enxugar suas lágrimas.
    — Não estou com raiva de você, Gustavo — segura minha mão distanciado do seu rosto. — Estou magoado. Morarmos juntos não é tão diferente de morar sozinho, eu mal vejo você aqui. Muito menos nas suas folgas.
    Ele tem razão. Estou mais para um visitante do que morador, pois passo muito tempo no trabalho.
    — No início deixei passar, mas ficou cansativo. Foram poucas vezes que você compareceu em algum planejamento que fiz para passarmos juntos.
    Levantei meu rosto para olhá-lo nos olhos, a decepção está tão nítida que não aguentei e desviei para o lado. Esse olhar… é a primeira vez que o vejo em seu semblante.
    — Sei que gosta do seu trabalho, fico feliz com isso, mas dinheiro não compra tudo. — Nael junta suas mãos entre as coxas, e eu, continuei ouvindo em silêncio — É muito difícil aceitar a folga e ficar em casa? Não estamos passando necessidades, o quanto devo esperar? Até quando tenho que esperar? Eu fiquei lá parado por horas e você não apareceu, tem noção de como me senti?
    Não consegui pronunciar uma única palavra. Meus olhos encheram-se de lágrimas e segurei a força para que elas não caíssem e nenhum som saísse da minha boca. Nesse dia, Natanael havia marcado para nós nos encontrarmos no planetário assim que eu saísse do trabalho, mas minutos antes foi oferecida uma tarefa nada difícil. Acreditei que eu fosse terminar a tempo, mas ao chegar no local ele já não estava lá. Todavia, a tarefa não era obrigatória, me deixei levar pelo extra que eu receberia.
    — Desculpa — fora tudo o que consegui dizer. — Desculpas… — me peguei chorando novamente. Abracei sua cintura pondo meu rosto sobre ela.
    — Eu não quero suas desculpas, mas que tire um tempo comigo.
    Queria poder voltar no tempo e ter comparecido em todas aquelas ocasiões — o que de fato nunca irá acontecer. Consigo lidar com erros no trabalho, mas se tratando dele eu nunca sei como reagir.
    Eu o amo muito; tanto suas perfeições que mal sinto as imperfeições. Me sinto transbordando quando estou com ele, no entanto, devo tê-lo feito sentir-se de outra forma ao invés de usufruir da mesma sensação que ele me traz.
    Senti o toque de suas mãos deslizando na minha cabeça até as minhas bochechas, fui afastado e ele elevou meu rosto e nos encaramos.
    — Na sua próxima folga, você pode ficar em casa? Sem aceitar nenhuma tarefa?
    — Sim… — coloquei minha mão sobre a sua e trouxe para frente da minha boca, dando um leve selinho. — Eu vou ficar em casa — fez-se uma expressão desconfiado, o que foi compreensível. — Quando você acordar de manhã na minha folga, estarei do seu lado na cama, eu prometo.
    — Eu preciso de você aqui, só isso.
    Puxei ele para um abraço, não consigo imaginar o quão solitário ele estava se sentindo na minha ausência. Não confessei meus sentimentos naquela época para deixá-lo magoado. Eu errei. Deveria ter sido mais presente nem que fosse apenas para ficar em casa fazendo nada. Coloquei minha profissão em primeiro lugar sem ter percebido e, deixei de lado a pessoa que sempre esteve esperando a minha volta..
    Infelizmente, não tem como apagar o que já foi feito.
    — Eu estarei aqui — afirmei repetidas vezes.
    ∞∞∞
    — Soube pela minha irmã que você e o Nael discutiram outra vez — disse minha mãe, sentada na sua poltrona próxima ao rack da sala enquanto tricota um tapete.
    Ela me chamou para vir pegar um casaco que tricotou para Natanael. Desde que cheguei após sair do trabalho, me mantive aqui na sala sentado à sua frente sem saber onde está o bendito casaco que disse entregar. Me sinto um adolescente sendo repreendido.
    — Sim, mas já nos resolvemos — expliquei raso, coçando minha nuca.
    — Trabalho outra vez?
    — Eu cheguei um pouco tarde — respirei fundo e soltei o ar de uma só vez. — Onde está o casaco? Vai ficar tarde para voltar se eu demorar — levantei do sofá caminhando para outro cômodo, minha mãe veio logo atrás.
    — Está no meu quarto, vou pegar.
    — A senhora só fez um?
    — Sim, você não está merecendo. Talvez eu faça um tapete para você colocar perto do vaso — adentra no quarto. — Não posso acreditar que você é seu pai cuspido e escarrado até nisso.
    — Mãe, já falei que resolvemos isso — repito pondo minhas mãos na cintura.
    — E então? Por quanto tempo vai durar até a próxima pelo mesmo motivo? Seu pai dizia sempre as mesmas palavras e não durava muito. Não é atoa que pedi pelo divórcio, por que não? Era como ter me casado com um fantasma de qualquer forma.
    Ela remexeu dentro do guarda-roupa e trouxe um casaco dobrado de tom azul bebê.
    — Se não consegue separar o trabalho da vida pessoal, fica solteiro. Assim evita machucar quem está do seu lado.
    Fiquei encostado na parede do corredor segurando o casaco e observei minha mãe retornando para a sala. Ela pode ser tagarela e na maioria das vezes direta demais, mas admito que ela tem razão. Porém, não acho que terminar seja a solução.
    Não no meu caso.
    ∞∞∞
    A semana está passando calmamente e minha relação com Nael voltou ao normal, mas ainda tenho algo a ser feito. Falta pouco para meu horário ser encerrado e como previsto, William surgiu trazendo com ele mais uma tarefa extra.
    — Gustavo, você pode resolver isso? Irá ser pago como sempre — aponta uma pasta fina contendo alguns papéis dentro.
    — Desculpa William, mas irei passar dessa vez. Tenho algo importante para fazer, quem sabe na próxima.
    — Não tem problema, irei pedir a outra pessoa — dito isso, ele se afastou a caminho de outros funcionários.
    A princípio, imaginei que ele fosse insistir, mas foi tão fácil de aceitar minha recusa que me sinto patético por não ter feito isso antes. Continuei com meu trabalho até que terminasse por completo antes de finalmente ir embora.
    ∞∞∞
    Eu mal lembro de quando foi a última vez que cheguei em casa primeiro. O silêncio é algo que não estou acostumado já que sempre possui algum som quando Nael está presente.
    Guardei a mochila e tomei banho, entrei na cozinha para comer algo e me deparei com a cafeteira elétrica ainda ligada na tomada. Encaro ela por um tempo. Eu odeio café e qualquer coisa que seja amarga, mas nunca contei a Natanael depois que começamos a viver juntos.
    E não pretendo contar nunca.
    Ele está sempre bebendo esse negócio horrível e imaginei que fazer companhia não seria uma má ideia — tive de me esforçar para não fazer careta. O que ajudou a manter serenidade foi colocar bastante açúcar.
    Parando pra pensar, eu fingi gostar de muitas coisas por causa dele. Percebi que eram poucas coisas que tínhamos em comum, apesar disso, não me impediu de nutrir sentimentos em relação a ele. Creio que se Nael descobrir, estarei ferrado.
    Limpei a cafeteira e a guardei, fiz um lanche e fiquei pela sala assistindo televisão. Sequer me dei conta de que caí no sono e despertei pelo barulho na casa. Sentei ainda sonolento e esperei alguns segundos para me levantar.
    — Por que não me acordou? — perguntei após entrar na cozinha.
    — Você estava dormindo como uma pedra, não queria te acordar.
    Cruzei os braços e logo coloquei a mão de frente a boca no momento em que bocejei. Fiquei no mesmo lugar observando-o fazendo café depois de pegar a cafeteira dentro do armário. Encaro o relógio quadrado na parede, apenas três horas se passaram desde que cheguei.
    — Está cansado? — pergunto.
    — Não, hoje não foi tão corrido.
    — Você quer sair?
    Natanael virou-se com uma expressão um tanto engraçada, eu queria ter rido, mas o quanto ele estava esperando por esse convite? Essa minha pergunta mental me impediu de rir. O mesmo se aproximou me dando um abraço junto com sua confirmação.
    ∞∞∞
    Acabamos vindo no Burger King no centro da cidade, desde que abriu há pouco menos de dois anos nunca viemos aqui. Felizmente não está tão cheio pois detesto barulho em excesso — mesmo se tivesse, eu não me importaria de suportar.
    — Vou escolher o lugar — avisa Nael.
    — Certo, vou fazer o pedido.
    Nos distanciamos e fiquei na fila que apesar de grande o que deu a entender que o lugar não estava realmente — pouco — vazio, andou rápido. Pedi por um milkshake de morango e outro de chocolate, dois… mega stacker cheddar empanado ou seja lá nome —, por que tão grande? Peguei o papel contendo o código do meu pedido e fui à procura do lugar que Nael escolheu.
    Bem escondido, aliás.
    Sentei de frente para ele e do nosso lado contém a vidraça dando a vista movimentada da cidade do rio de janeiro anoitecendo.
    — Estou feliz que tenha me convidado, mas…
    — Sei o que vai dizer, e não — interrompi. — Não estou fazendo isso só porque pediu, e sim porque eu não queria te decepcionar novamente e deixar esperando que eu compareça.
    — Você nunca me decepcionou da onde tirou isso?
    — Mas deveria — insinuei. — Me conta quando eu estiver passando dos limites, se fiz algo que não gostou ou qualquer coisa que eu precise melhorar, só não quero que guarde para si mesmo.
    Aquela foi a primeira vez que o vi chorando de tristeza. Meu estômago parecia embrulhar pelo que causei a ele.
    — Eu só fiquei muito emotivo — belisquei seu nariz vendo que ele ainda insiste em cobrir o que estava sentindo. — Merda, isso dói!
     — Estou falando sério, não vou ficar chateado se você for sincero.
    Natanael estava com a mão no nariz e não pude conter o riso ao ver o vermelho se intensificando na ponta. Recebi um chute na perna e ouvi o número do meu pedido soar. Me levantei para pegar e voltei sem demora para a mesa.
    Esperei que ele pegasse primeiro, observei o casaco que veste feito por minha mãe dias atrás. Serviu tão bem nele que às vezes penso que o filho verdadeiro dela é ele e não eu — a mesma se atreveu a me entregar um conjunto de tapetes para pôr no banheiro. Terminar… eu nunca me atreveria a tocar nesse assunto.
    — Está me encarando por que? Não vai comer? Se demorar demais vai ficar sem — diz com a boca cheia.
    — Passa fome — resmungo pegando o copo de milkshake.
    Eu não bebi após colocar o canudo na boca, por algum motivo senti que não iria descer pois o gosto amargo se fazia presente na minha língua. Encarei novamente Natanael que parecia não ter comido há dias. Dei um leve sorriso e coloquei o copo de volta na mesa.
    — Nael?
    — Hum?
    — Eu te amo — esperei que levantasse o olhar e repeti, apenas no caso dele achar que ouviu errado. — Eu te amo muito, muito mesmo.
    — Eu também te amo — retribui. — Muito mesmo. — sorriu.
    Finalmente senti meu coração leve, peguei o milkshake de volta e bebi sentindo o sabor doce do chocolate descer pela minha garganta. Irei me esforçar para manter esse sorriso no rosto dele, não quero sentir essa amargura no meu interior, tampouco possuir uma relação meio amargo com quem eu quero que seja apenas doce.


    Fim!!


  • Renascerei.

    Eu amo você, mas eu me amo mais.
    Amo cada palavra que você disse, aquelas meias verdades banhadas de carência e maldade, que me prendiam cada vez mais ao que você chamava de "nosso amor".
    Fala que ama sussurrando ao meu ouvido, mas fala olhando nos meus olhos? Fala que ama em várias mensagens que me enviou, mas ama quando não estou perto?
    Fala que ama mas, meu bem, você não sabe o que é amor. A boca que me beijou, que me levou a loucura, que me jurou o para sempre, é a mesma que destila ódio sobre mim.
    Você me teve, em cada respiração, em cada sorriso, em cada lágrima, em cada eu.te.amo. Você me teve não porque merecia, mas porque o meu amor era só teu. Você me teve. Mas meu bem, você não sabe amar.
    Fala que me ama, mas meu amor, você se ama? Eu respondo para você: você ama o que tem para si. Você ama o controle emocional que exerce, a dependência afetiva. Você ama me ter, mas não me ama porque, meu bem, você não sabe amar.
    Olha aqui nos meus olhos. Você acha mesmo que vai encontrar esse brilho, essa paz, esse amor verdadeiro que eu tenho por você, esse cuidado por aí? Nas festas, nos bares, nas esquinas? Você não sabe amar, mas sabe que eu sei. Você sabe.
    Hoje, longe de você, eu sofro. Amar é um verbo que fica ótimo completo, recíproco. Mas, meu bem, por que você não sabe amar?
    Hoje, o amor que te florescia é o mesmo que me seca. É o que me fere. Mas serei forte. Pegarei cada gota de amor que meu coração derrama por você e irei me regar. Regar minha mente, para que ela pare de pensar em você. Regar meu corpo, para que ele pare de pedir pelo seu. Regar meus olhos, para que ele não procure seu sorriso no meio da multidão. Hoje, sou pó. Mas eu sei amar. Renascerei.
  • Satélite

    Mon Coeur, quantas baleias por aí
    Astróides, como nós, navegam sem
    Rumo ou destino ou segurança

    Quantos sóis vagam pelo infinito
    Baleiando entre poeira cósmica
    Entre rochas destroçadas e gases tóxicos

    Quem sem um telescópio
    Quem sem um sonar
    os verá contemplando a imensidão,
    Desafiando mundos nefastos e incríveis?

    Eu, mi corazón, te vejo
    Mas, um cetaceo no fundo do oceano
    e uma estrela além do infinito
    São apenas esperanças distantes
  • Saudade daquele mar

    Deixei-me envolver pela água salgada. Talvez tenha descido fundo, mas não o suficiente. Então, meio raso meio profundo quanto estava, só pude deixar-me envolver pelo verde do mar. Nada à frente, dos lados ou atrás. Nem sequer um palmo. Em minha confusão, perdido sem direção no abraço esverdeado, não prestei atenção o suficiente na luz do sol. Se tivesse esticados as pernas, quem sabe teria sentindo a areia com meus pés. Mas não. Permaneci ali. Sendo embalado pelas águas. Imagino hoje quanto perdi. Caso tivesse lutado, me levantado, ou, até talvez me lançado até o mais profundo fundo, o que teria visto? O medo me impediu de me entregar, ancorou-me e ali me manteve, me fez brigar com o mar. Mar aquele, que quem quer que o amasse se deixaria levar. Agora, em lapsos de melancolia, me recordo das poucas vezes que meus olhos foram a superfície daquela praia. O vermelho do pôr do sol ondulando nas águas, as árvores dançando na brisa como se suas raízes fossem se soltar e participar. As cores da areia, pedras de todos os tons que, com sua aspereza prendiam parte da espuma do mar e se deixavam brilhar como se disputassem com estrelas um lugar.
     Mas eu inspirei o sal da água. Deixei a ardência, o assombro do desconhecido me infectar. E hoje me arrependo, porque pra garota dos cabelos vermelhos que me lembra o mar… Não voltarei mais.
  • Saudades daquele dia...

    Saudades daquele dia,
    De inocência no olhar,
    De sentia-me um jovem apaixonado,
    Apaixonado por uma imagem que havia criado,
    Uma criação santa, e perfeita...

    Um amor imaginável,
    No entanto indesejável.
    Um amor idealizável,
    No entanto rejeitado.

    Jaz um homem amadurecido,
    Jaz o talento das dores
    Jaz o nascimento de um grande,
    De um grande homem.

    De um homem forjado,
    Pelas dores das escolhas,
    Pelas tensões das insonias,
    E pela doce amargura de se curar.
  • Saudades que se manifestam profanas

    A noite aqui muitas vezes cai sôfrega e se estende nessa minha nova realidade, me reviro na cama refletindo o quanto é cruel você não saber como me sinto, olho para os lados e observo os reflexos lunares que adentram silenciosos pela janela e refletem nas paredes ao redor, únicas testemunhas das noites em que palavras chulas ecoavam destemidas em meio aos gemidos trêmulos.
    Abro os braços sobre a cama buscando partes de você e meu corpo se ondula sobre os lençóis que meses atrás estariam carregados de suor. Fecho olhos e te imagino passando pela porta usando apenas a minha camisa larga, me direcionando o antigo olhar safado e em seguida o sorriso que eu bem conheço. Sozinha, mordisco os lábios e me pego ofegante quando meu pensamento te toca, sinto minhas mãos deslizando em meu corpo como se clamassem em refazer os caminhos que antes eram percorridos pelas suas. De olhos fechados consigo sentir o aroma quente de sua respiração em meu ouvido e posso ouvir sua voz entrecortada dizendo o quanto te enlouqueço.
    Cravo uma das mãos em meio aos meus cabelos puxando-os loucamente e procuro a força ideal que antes tu usaras, enquanto a outra segura fortemente o travesseiro que agora se encontra sobre mim. Sinto como se as partes restadas de você percorressem ágeis em minhas veias.
    Abro os olhos e me pego sôfrega, ofegante e a pele brilha em um suor já visível. Sinto o nervo rígido e pulsante, como se nesse momento competisse com o coração, difícil é saber quem dos dois almeja mais o seu corpo.
    As mãos percorrem inconscientemente e adentram minhas roupas, enquanto uma toca meus seios a outra encontra o sexo encharcado, replico os movimentos antes feitos por seus dedos e nesse momento sem escrúpulos ou pudores, fecho os olhos e pronuncio seu nome em uma voz que soa emergente e descompassada. Os movimentos se multiplicam e me levam a um êxtase a muito tempo guardado.
    Me deixo trêmula sobre a cama, agora úmida, abro e fecho os olhos enquanto a respiração se normaliza. Nesse momento, meus instintos mais despudorados esperam que onde estiver, você receba ao menos uma carta de tesão ou sinta o mínimo da excitação que as lembranças de sua antiga presença ainda me trazem.
    Que maldade meu amor, que maldade foi a sua em aparecer sorrateira, e por meses me proporcionar as melhores noites, os melhores gozos e deixar que eu me entregasse das formas mais profanas para enfim partir e levar consigo os meus desejos mais intensos e obscuros.
    Que maldade a sua.
  • Sem um beijo, sem teu abraço, mas eu te amo

    O intuito era de viver contigo tudo daquilo do qual foi nos tirado há anos.
    Era matar covardemente a saudade nos envolvendo fortemente um ao outro. Enfim, tudo nos surpreendeu. 
     
    O que era para ser o reinício de nossa vida, foi o fim daquilo que nem bem começou, mas que sonhávamos e desejávamos. 
     
    Que pena! Tudo não passou de um sonho e esperança perdida. 
     
    Jurávamos de que a noite vinte e cinco de setembro de dois mil e nove, seria inesquecível. E foi, mas não do jeito que merecíamos. 
     
    Encontrava-me no quarto do hotel do qual havíamos acertados de nos encontrar em poucas horas daquela noite. Seria às vinte e uma horas. Cheguei uma hora mais cedo para uma surpresa te fazer. 
    Solicitei o seu prato predileto. Vesti a peça de roupa da qual você sempre me lisonjeava. 
     
    Que droga! Minutos antes de nos encontrar, o aparelho tocou. Cismei ser  você chegando inesperadamente. 
     
    Que nada! Era um dos funcionários do SAMU avisando do seu grave acidente. 
     
    Tenso, larguei tudo do que estaria fazendo e corri para te mostrar o quanto não estaria sozinha.
    Que tragédia! Chegando ao local, nem pude ouvi-la pela última vez. Nem uma recepção ou despedida houve entre nós. 
     
    Quando percebi, você estava no chão, enrolada a um pano branco, onde segundo os policiais de plantão, aguardava o cara do Instituto Médico Legal. 
     
    Que dor! Fui proibido de tocar em você. Os poucos minutos que atrevi te encostar, os policiais me impediram.
     
    Fui obrigado a sentar na sarjeta e brigar silenciosamente com a vida em razão de ela ter sido tão cruel conosco!
     
    De repente, começou a chover bem fraquinho. Seu corpo umedecido, vi há longas horas aguardando pela chegada do Instituto Médico Legal. 
     
    Não ausentei um minuto do pouco espaço oferecido entre nós. O carro do IML chegou e te colocou num enorme caixote de ferro, onde partiu. 
     
    Horas mais tarde, já pela boca da manhãzinha, teu corpo foi velado.
     
    Tentaram me dopar. Neguei! Fui rude e coloquei minha vida em risco. Preferi ficar sóbrio no que pude ao nossos últimos instantes desta vida. Nem de roupa eu troquei. Permaneci com peça da qual seria o nosso último encontro.
     
    Já você, a roupa da qual estava, foi desfeita e sem orientação minha foi dada um paradeiro. 
     
    De você só pude guardar as mais belas palavras de nosso último contato via celular. Algo que eternizei dos nossos poucos momentos vividos. 

     

  • Sentido

    - Escute, menina. A vida tem um sentido. Os maiores sábios do mundo sempre procuraram saber qual é, mas para eles o sentido jamais será mostrado. Ou melhor, quando lhes é mostrado, eles o descartam. Não acreditam que o sentido seja este, e logo o lançam fora como quem descarta uma bobagem qualquer. Acham que é desprezível, sequer se colocam a pensar sobre o assunto. O sentido da vida humana é claro como um dia sem nuvens. Acredite você na criação de Deus ou na evolução dos animais até o homem, o sentido continua sendo o mesmo. Seja você uma pessoa que quer o bem de seus parentes ou o bem da humanidade, o sentido continua sendo o mesmo. Seja você racional ou irracional, há apenas um sentido. Você certamente já sabe qual é, e ficará decepcionada em saber o quão simples é.
    Maria continuava ouvindo, cada vez mais ansiosa pela conclusão. Havia feito uma pergunta despretensiosa, que não esperava que aquele homem pudesse responder. Mas, para sua surpresa, lá estava ele, com suas palavras bonitas e ares de nobreza, respondendo. O olhar dele a ela, paternal e sereno, lhe trazia uma sensação boa. Talvez por não ter conhecido seu pai. Talvez pelo marido de sua mãe nunca ter lhe dado um pingo de atenção, exceto para brigar com ela. Talvez por aquele homem ser o homem mais educado e atencioso que ela já tinha visto. Só sabia que ele era alguém importante. Um desconhecido, convalescente, recém salvo por ela e sua mãe na porta de casa, mas certamente alguém importante na vida dela a partir daquele dia. Sempre sonhou em conhecer seu pai. Seu pai era um nobre, dissera sua mãe. E, por incrível que pareça, aquele homem se parecia muito com a imagem que Maria tinha de seu falecido pai. Ele continuava.
    - Não vou lhe dar a resposta de mão beijada. Ela é tão simples que você a esqueceria ainda hoje. Farei com que a desenvolva. Para começar, você me perguntou se sou nobre. Ora, isso nada tem a ver com algo que importe. Neste país, como em tantos outros, um fidalgo pode vir a se tornar um escravo, se a lei assim determinar. Um escravo também pode ascender a nobreza, em determinadas condições e com muito esforço. Mas, ambos continuam sendo homens. Um duque ou o próprio imperador, assim como os dois anteriores, são homens. Você irá se deparar com dezenas de homens em sua vida. Talvez mais do que dezenas. E irá notar que todos eles são homens, assim como todas as mulheres são mulheres. Essas pessoas podem ganhar ou adquirir qualquer coisa na vida. Podem sofrer ou sorrir, podem escolher o caminho do bem ou do mal, mas sua essência jamais mudará. Um homem sempre será um homem. E ambos são criaturas humanas. Toda a diferença que há entre um rei e um escravo é uma gota d'água em comparação ao ribeiro de diferenças entre um homem e uma mulher. Mas a diferença entre os dois não é nada comparada ao oceano de diferenças que existem entre o ser humano e qualquer animal que ande sobre a terra, nade sob a água ou voe pelos céus. Mas o sentido... ouso dizer que mesmo os animais o tem. Eles o seguem, sem questionamentos, e o tomam como óbvio. Enquanto isso, nossos eruditos, os iluminados sábios, estão cegos, a tatear no escuro. Mal sabem que o dia está claro, e basta que abram os olhos para que vejam. Quando alguém ameaça a tua vida, ou a de sua mãe, qual o teu impulso? 
    - Quando ameaçam a mim, eu fujo. Ou me defendo, se conseguir, ou se não puder fugir. Se ameaçam a minha mãe, eu me coloco na frente, quero proteger ela. 
    - Muito bem. Já sabe o que ela faria caso a situação fosse inversa, não é? Sabe que ela a defenderia com sua vida. 
    - Sim, é claro. Mas, isso é o sentido? 
    - Não, pequena, isso é apenas o primeiro sinal. Você não se pergunta como eu sei disso? Como eu já sabia suas respostas, e assim lhe fiz perguntas retóricas?
    - Mas é óbvio. Todo mundo tem medo de morrer ou de perder quem ama. 
    - Sim. Contudo, o medo, por si, não é uma causa. Ele tem um motivo para existir, e este é o sentido. Afinal de contas, uma parte da sua resposta é baseada não no medo, mas na coragem. Colocar-se na frente de um agressor para defender um ente querido não é medo. É coragem. Coragem que sobrepuja o medo. Não o nega, mas o supera. Afinal, a coragem não existe sem medo. O medo não é uma virtude. Não posso dizer, porém, que seja uma falha. Ele é necessário para a coragem. Essa sim, é uma virtude. Sabe o que é uma virtude? 
    - Er... hum... uma qualidade?
    - A beleza é uma qualidade. Força física, inteligência, destreza... são qualidades, não virtudes. Uma virtude é mais do que uma qualidade. As virtudes nos aproximam de Deus, pelo simples fato de elas advirem d'Ele. Virtudes são qualidades da alma. E não importa quantas qualidades um homem possa ter, se ele não tem ou busca ter virtudes, ele é apenas um animal. E mesmo entre os animais, ele é o mais baixo, pois mesmo eles demonstram algum traço de virtude quando confrontados pelo mal. 
    Ela pensou nisso por alguns instantes. Como seria possível diferenciar uma virtude de uma qualidade, sendo que ambas parecem ser características boas? Deus. Seria essa a resposta? Não... Deus é belo, forte, poderoso e habilidoso com toda certeza. Ele tem todas as características boas. Então seríam as características exclusivas de Deus? Também não, já que pessoas também podem ter. O sorriso de canto de boca estampado em seu sábio convidado demonstrava que ele estava se divertindo com isso. Enfim Maria perguntou.
    - O que diferencia uma virtude de uma qualidade? 
    - Uma qualiade nega um defeito. Quanto mais forte você for, menos fraca será. Quanto mais bela, menos feia. Uma virtude pode te fazer suprimir seu oposto, independentemente da intensidade desse. Você pode odiar alguém e mesmo assim ainda amá-lo a ponto de se sacrificar. O mesmo vale para a coragem, que existe independente do tamanho do medo. 
    Pensou por mais alguns instantes.
    - O sentido da vida é a busca pelas virtudes? 
    - Está mais próxima da resposta. Mas não. As virtudes são provas do sentido, não o próprio. Ao mesmo tempo, são ferramentas. Para atingir o sentido você precisa delas. Precisa fomentá-las em seu coração e em sua mente até que não se lembre mais de como era antes disso. Não há um limite para virtude alguma. E todas elas levam seu portador para o mesmo resultado em caso de confrontação. Virtudes como a justiça, a misericórdia, o amor, a sabedoria, a coragem, a honestidade... caso você tenha em si todas essas virtudes tendendo ao infinito, em caso de confronto, como procederia? 
    - Lutaria. Eu acho...
    - Está indo bem. Certamente lutaria. Não há outra opção. Lutar pelo que é justo, por quem não consegue, por quem se ama, por uma certeza, apesar do medo e pelo que é certo. Agora pense mais um pouco. A luta nem sempre é ganha. Você pode ser obrigada a confrontar uma força maior que a sua. Pode ter que dar de si mais do que possa lhe ser devolvido. Pode ter que perder algo, ou mesmo a si. Daria sua vida por essas virtudes? Daria sua vida pelo certo ou por quem ama?
    - Eu com certeza daria. Entendi. É o sacrifício. 
    Ele não falou mais nada. Um sorriso de satisfação percorreu seu rosto e ele respirou profundamente, como se tivesse finalmente relaxado. Nesse momento, Maria soube que havia encontrado o sentido da vida. O sacrifício. Realmente, não tinha como ser mais óbvio. 
  • Sentir

    Inerte é o amor que  
    Sinto por você  
    Ou melhor que eu sentia  
    Flutuava nessa maré  
    De sentimentos 
    Que no final  
    Foi se despedaçando 
    Tornando assim 
    Apenas pó
  • Sessão Curuja

          





    sessão curuja


          Passeio, viagem. Era uma modesta noite. Setembro de 2017, na cidade de Ouro Preto. Chegávamos de viagem, para conhecer a suntuosa cidadela com suas fortificações coloniais. Era plácida; sobrados, lampiões, treliça nas janelas que mantiam o oculto. Ar de mistério! O que se passava por detrás dos patrimônios de pedra e cal? Na verdade é uma incógnita que por mim não será revelada. Apreciava como estrangeiro, que só percebe o quão formosa era a cidadela.
     
           Alojamo-nos em uma dessas construções velhas, eu e mais um grupo de amigos, dividíamos o mesmo quarto. A velha casa contava com inúmeros quartos, banheiros, oratório e uma singela sala de conversação. A última foi apreciada até o último instante pelo grupo.

           Bebidas, cigarros e uma bela vista - Parecia que a igreja brotava da mata em um ponto alto da cidade. Uma amostra de quão é soberana a igreja sobre os pecados dos homens? Não sei. Falava-se de disputas de irmandades - E como pareciam ser religiosas essas irmandades. Havia inúmeras igrejas e talvez nem houvesse lugar para o pecado.
          
           Já passava das onze da noite, o silêncio tomou conta da casa. Já não era permitido ruídos ou sons de conversação. Aproximava-me da porta. Foi então que no silêncio da noite em meio a escuridão, veio ao meu encontro, uma mulher... uma mocinha! Não era bela, nem feia, aparentava vinte e dois anos, magrela, pele clara! Sorriso? Havia, de forma simpática. Entrelaçava os dedos... passava as mãos no cabelo... Reconheci-lhe as feições, era a garota da recepção, com quem horas antes tive uma prosa.
          - O que está fazendo aqui?  Não quer se divertir? Todo o grupo de pessoas com quem chegou, acabara de sair!
    Respondi-lhe:
          - Estava pensando na vida! Reconheço que a cidade dispõe de muitos artifícios, que garantam diversão. Inclusive frequentei a Igreja do Pilar horas antes.
          - Ahh entendo, também és devoto de fé e não frequenta bares! Mas temos outras coisas! Lanchonetes e pessoas novas a conhecer! Ou jaz comprometido com outros amores?
         
           Modesta foi a pergunta, desassossegado eram meus pensamentos, já estava longe de casa... longe dos amores. Não lhe pude ao menos responder, tornaram a chamá-la na recepção. Mas antes de partir, aconselhou a assistir TV, para que o sono chegasse.
         - Se quiser ligar o televisor, pode assim fazer, mas já são horas, não permita que o som perturbe os demais hóspedes.
          
           Dizendo isso, sumiu na escuridão do corredor, pisando levemente sobre o assoalho. Restava-nos ali eu, televisor, um velho candeeiro e um livro que contava a história de um caboclo negro, Chico Rei. Que era diariamente lembrado pela memória dos cidadãos locais. Entre os passos curtos dentro da sala optei por me acomodar, sentei-me e liguei a tv.
            
           Colocando o volume quase no mudo, dava pra escutar até melhor o tic-tac do pendulo de madeira suspenso no fundo da sala. Trocava olhares entre tv, as obras nas paredes, que pela luz fraca do abajur se tornavam ainda mais fúnebres junto a chuva que caía do lado de fora.

           Passeava entre esses meios. Já estava assonorentado, olho aberto... outro mais fechado... entre uma soneca e outra, notei que não estava sozinho... uma cabocla mestiça. Assustei-me, de modo que despertara a vê-la melhor. Olhos escuros, cabelos negros... cacheados. Era formosa! A mim não dirigiu uma só palavra, mas contentava-me em tê-la como companhia. Comecei a ter com ela pensamentos. Frenesi. Ela sorria e se movia. Meu sono ali acabara. Apesar de não oralizar, nos entendíamos apenas pela maneira de olhar. Foram-se tempos e tempos. Sua maneira de se mover, o balançar daquela corpo moreno e sereno me cativava e à medida em que me tocava, ainda mais jorrava.
     
           Ahh... e assim foi. E, eis que então, entre o corredor escuro do casarão, ressurge a mocinha que por fim, me mandou desligar a televisão!

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