Essa noite eu sonhei com o Rafael. Na verdade, eu sonhei que estava sonhando com ele. Fazia tempo que não o encontrava em meus sonhos e ele estava um pouco mais novo do que dá última vez que o vi.
Nesse sonho, dentro do meu sonho, eu pressentia que logo não o teria mais comigo. Então peguei-o no colo, afaguei-lhe os cabelos e disse:
"Você sabe que para mim, nesse mundo não existe nada e nem ninguém mais importante do que você, não sabe?"
Ele assentiu com a cabeça de forma rápida e me olhou com uma expressão alegre estampada no rosto.
"Eu também te amo muito, papai". Ele abriu os braços e continuou: “Eu te amo deste tamanho! Do tamanho do mundo!”.
"Então me abrace bem forte, como nunca me abraçou antes" - pedi.
Nos abraçamos e o beijei de forma carinhosa como, talvez, eu nunca tivesse feito antes de perdê-lo. Curti aquele momento ao máximo, sentindo aquele corpinho frágil agarrado ao meu, num sentimento estranho de alegria e desespero por pressentir que em breve não o teria mais comigo.
E naquele instante, como num filme, uma série de imagens passou por minha cabeça. Lembranças vívidas de momentos em que brincamos juntos, de momentos de descontração e de momentos de alegria que meu filhinho me proporcionou. Como foi bom abraçá-lo outra vez!
Ah, se eu pudesse parar o tempo e eternizar aquele momento! Mas então acordei daquele sonho que eu estava tendo dentro de meu sonho. Ainda sonhando, contei para outras pessoas do encontro que eu tivera com meu filho e contando o que havia sonhado, relembrando os pormenores observados pude, de certa forma, prolongar a sensação de tê-lo comigo outra vez.
Por fim, despertei também desse sonho. Lá fora chovia forte e os pingos de chuva tamborilavam na janela. Numa vã tentativa de prolongar ainda aquele momento único de ternura ao lado de meu filhinho tão amado, permaneci imóvel, de olhos fechados, por mais um instante.
Entretanto, a contragosto, precisei abandonar meus devaneios e voltar à realidade. Apesar da chuva que insistia em cair, o relógio marcava 8h e eu precisava ir para o escritório, onde montes de processo aguardavam por mim.
Ah, Rafael, meu filho! Onde você estiver, saiba que nesse mundo eu nunca amei nada e nem ninguém mais do que amei você...