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"O MUNDO SEGUNDO GARP"

Em 1978, o consagrado escritor norte-americano John Irving entregou ao filho mais velho Colin, de 12 anos, o original de sua obra "O Mundo segundo Garp", um denso romance com mais de quinhentas páginas manuscritas e aguardou, ansioso, que ele expressasse seu parecer. A princípio, Irving ficou meio apreensivo com uma possível reação de desagrado do filho em virtude do excesso de lubricidade ("ainda acho que há no livro trechos inadequados para quem tem doze anos", afirmou ele na introdução à segunda edição desse trabalho). Ficou surpreso, contudo, quando após a leitura o garoto afirmou categórico que a obra era sobre "o medo dos pais em perder seus filhos"

No universo estranhamente simbólico de Garp tudo é ponto de partida para reflexões inusitadas e introspecções que fascinam, fantasias onde o lúdico se envolve absurdamente com o pragmático e a filosofia vagueia como ondas pontuais num oceano plácido e exuberante. A cada página descortinada vislumbra-se um nicho de lágrimas ou um mar de risos e comicidade. Tudo é ao mesmo tempo contraditório, absurdo, surreal e estranho para os padrões normais, mas também humano, singelo e tocante nesse mundo frenético que os capítulos vão desdobrando como camadas de sombras doentias porém tomadas por uma aura verossímil e características de pessoas com as quais nos defrontamos no cotidiano. Apesar do cenário mirabolante com que nos deparamos em diversos pontos nelvrágicos da obra percebe-se um espetacular equilíbrio do autor no manipular da trama e de seus muitos personagens.

Narra-se em O Mundo Segundo Garp a vida do escritor T.S.Garp, filho bastardo da líder feminista Jenny Fields - que nesse rótulo prefere não se engajar apesar de suas atitudes e decisões - cujo nome tem uma divertida e quase bufônica origem, muito pela maneira como foi concebido, e aí se exibe o aspecto histriônico da mãe com suas incongruentes esquisitices, e tanto quanto em razão da estirpe do sobrenome que lhe foi dado, tudo a deixar o leitor perplexo e risonho com a descoberta. Mas a realidade de Garp é povoada por inesperada mistura de figurantes que vão desde um jogador de futebol transexual até um urso cliclista, passando por adúlteros compulsivos e inacreditáveis feministas que cortam a própria língua em apoio às mulheres vítimadas por estupro. O "Sapo lá no fundo" é a utilização que Irving faz do jogo de palavras para dar sentido a diversos acontecimentos secundários da estória, completando o mosaico do além-imaginado - para não chamar de loucura - que se mostra, ao epílogo, de um realismo inimaginável.

O Mundo Segundo Garp, considerado pela crítica especializada como "um dos melhores romances americanos do século XX" foi adaptado para o cinema, tendo ninguém menos que o famoso ator Robin Williams no papel de Garp. Não é obra para ser facilmente esquecida após o ponto final, e talvez o leitor se identifique com Colin, o filho de John Irving, se entender que trata do medo dos pais em perder seus filhos.


O Mundo segundo Garp
de John Irving
514 páginas   
Editora Record
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Atualizado em: Sex 25 Jun 2010

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