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Gosto Musical

Bernadete era vítima da maior doença social do último milênio: ela tinha vizinhos. Como se já não bastasse tal sorte, havia algo que elevava sua doença para um ‘estado terminal’: a vizinha do andar de baixo era apreciadora de funk. 

Bernadete gostava muito de música, por esta razão, odiava funk! 

Mas antes que você pense em comprar uma coroa de flores para levar ao velório da pobre Bernadete, ouça sua história! Se você gosta de música (eu disse MÚSICA!) provavelmente decidirá substituir a coroa de flores por um busto em sua homenagem.

Como todo funkeiro que se preze (se é que o verbo prezar pode ser conjugado com qualquer derivação do gênero, dito, musical – deve haver uma regra gramatical que proíba este paradoxo), a vizinha do andar de baixo tinha a mesma sociabilidade do menino da propaganda “Mamãe, quero fazer cocô na casa do Pedrinho”. Além disto, apresentava sintomas de surdez e déficit de inteligência (o volume em decibéis era inversamente proporcional ao tamanho do seu QI).

Otimista, Bernadete agradeceu a Deus por Ele ter separado muito bem os sentidos da audição e do olfato: seria insuportável viver cheirando a merda da vizinha por tanto tempo! Afinal de contas, algodão no ouvido ainda é menos fatalista do que algodão no nariz.

Contudo, nem mesmo o otimismo do diretor do Banco Central poderia durar tanto tempo. O de Bernadete sucumbiu aos primeiros sinais de seus neurônios agonizarem, dada a exposição prolongada ao tóxico gênero musical. Ela, então, desceu, e pediu para a vizinha parar com aquilo. Quiçá reduzir o volume. Recebeu um categórico: “vai-ti-catá” complementado por um conselho que mudaria sua vida: “Tá faltano música na sua vida, vadia!”. Bernadete sabia que era verdade.

Foi quando procurou ajuda. Inscreveu-se num curso de sapateado. Comprou sapatos especiais para o novo gênero musical. Passou a ensaiar 8 horas por dia, hora na sala, hora na cozinha, hora no quarto, sempre nas madrugadas. Formou um grupo, que ficou conhecido como “Pantufas pra quê?”. Na época intensificou os ensaios para 12 horas diárias, sempre em seu apartamento.

Numa dessas coincidências da vida, encerrou o grupo de sapateado e aposentou os pés, no dia em que a vizinha do andar de baixo levou seu Microsystem CCE para o caminhão de mudança.

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Atualizado em: Seg 6 Maio 2013

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