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Assim encontrei Mario

Durante anos, atendi uma cliente em meu consultório de psicoterapia e um dos personagens  de sua história , que ela trazia com certa constância, era um grande amigo de infância e juventude. Cada descrição sua, do jeito de Mário, me deixava contra-transferir. Mário era como uma parte que convivia com problemas semelhantes aos que eu vivia em meu casamento. Levei à minha análise, o assunto , para descobrir que Mario era o meu abandono, a minha solidão e talvez o remédio para as minhas angústias. Foi um período difícil e raro, vivido em toda a minha trajetória profissional.

Mário era sofrido, estava sozinho hospitalizado, e sua esposa era citada como uma mulher desligada, fria, possessiva. Mário era descrito como um homem amoroso que sofria de depressão, escrevia lindos poemas e procurava a minha cliente para elogiá-lo, escutá-lo e dar o seu ombro. Mário estava melancólico, na narrativa da cliente. Eu tinha que escutá-la, tentando ao máximo, não sonhar durante os relatos.

Enfim, o tempo passou, e encontrei Mário, sem saber que era o mesmo, citado pela cliente Quando o olhava, o sentia enigmático. sério, estranho e até antipático. Nossos filhos,  tornaram-se grandes amigos e conversávamos sempre sobre a educação deles. Ele era de falar pouco. Seu olhar era triste.

Ele era realmente presente como pai e sua esposa era tal qual a definição da minha ex- cliente: Uma mulher calada, observadora, olhar sedutor, com pouca conversa. Nessa época, eu achava Mário muito bonito, mas sem charme, sem vida.

Certo dia, Mario foi com sua esposa, em minha casa de praia, e depois de alguns drinks, ele me perguntou se eu trabalhava na clínica de sua amiga. Eu dei um freio em meu coração e estanquei: " Mário, você conhece alguém de lá?" Sim, e falou o nome da minha cliente. Eu dei gargalhadas, sem o menor controle. A coincidência já parecia destino e perguntei falando comigo mesma: " Mário, dos poemas? da cirugia no joelho? E ele assustou-se com a minha intimidade e não entendeu a razão de minhas perguntas. Eu apenas disse que já tinha ouvido falar nele, em conversa com a moça que também era psicóloga da clínica, mas também era minha cliente. Ele ficou assustado, mas me calei, mesmo após a reação súbita e inesperada. Mário havia sido admirado , antes de ser conhecido.

São coisas que acontecem e que a gente tem que saber guardar. Impossível ter Mário ao lado. Respeito sua família e o quero feliz. Do futuro, eu não sei. Alías , eu só sei que nada sei.

Mário faz parte de meus sonhos, hoje mais concretos que me fazem companhia.

Saudades de Mário.

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Atualizado em: Ter 29 Mar 2011

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