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Erotismo na Televisão

Resumo

Este artigo foi construído a partir de exames e leituras dispensados em literaturas, que tratam da comunicação desempenhada pela televisão, e de como esta se faz presente no cotidiano do homem moderno, transformando sua realidade. Discute os efeitos do uso massificado de apelo erótico sobre um grupo de telespectadores de grande abrangência e repercussão. Os autores atentam para os interesses mercadológicos que determinam a exibição de conteúdos libidinosos da televisão. Concluem, alertando para os riscos advindos de uma exibição negligente e inconseqüente de programas produzidos por profissionais da televisão.

 

 Palavras-chave: televisão – erotismo – sexo – sexualidade

 

EROTISMO NA TELEVISÃO

uma discussão inicial[1]

Beatriz Cruz, Eliel Davi de Almeida[2] 

Este texto tem por pretensão, discutir a presença de imagens, cenas e símbolos, que induzem a incitação sexual, ou a representação do ato, seus motivos, formas e conseqüências para o telespectador.

O pressuposto é de que a televisão ocupa um papel preponderante na rotina do homem moderno. Ela é sua fonte de entretenimento, informação, e lhe serve como um espelho a ser refletido em sua vida.

Sendo o erotismo algo substancial na grade da programação televisiva, faz-se necessário um estudo sobre como este conteúdo afeta e transforma a realidade social e privada sem, contudo, negligenciar a vastidão e a abrangência do público que compõe a audiência, que alcança pessoas dos mais variados níveis etários e econômicos.

Sendo a televisão um meio de comunicação de massa por excelência, busca-se neste texto, tratar do tema erotismo na televisão focalizando, nos limites do artigo, como o sexo é estimulado e representado, como o telespectador reage em face de tal exposição, os propósitos que levam as emissoras a transmitir produtos ou programas contendo apelo sensual, bem como os impactos destes derivados.

 

O erotismo na televisão

O homem urbano, contemporâneo e pós-moderno, têm a maior parte do seu tempo depois do trabalho, ocupada pela interação com os meios de comunicação de massa.

Dos meios de comunicação de massa, é a televisão que desempenha o papel preponderante, por ser mais acessível.

A televisão distingue-se não apenas pela sua acessibilidade, mas também pela diversidade de seus produtos exibidos diariamente na grade de sua programação. Novelas, seriados, filmes, noticiários, programas de auditório, anúncios publicitários, transmissões de eventos (shows musicais, desfile de carnaval, etc.).

No que se refere ao cunho dos produtos veiculados pela televisão, é notável o apelo erótico que assinalam muitos destes. Sobre isso, o autor Luís Carlos Lopes (2006, p. 4) afirma que: “Os temas do amor e do sexo dominam, não casualmente, segmentos inteiros das indústrias culturais contemporâneas. Estão fortemente representados nas produções cinematográficas, televisivas e fonográficas. São bastante exploradas nas mídias escritas, auditivas, visuais contemporâneas e nas derivadas das novas tecnologias. A referência ao afetivo e ao sexual, quase sempre em ordem invertida, consiste também na base de construção dos artefatos publicitários que vendem qualquer coisa, inclusive a si próprios”.

Para melhor entender a presença do erotismo na televisão, faz-se necessário dedicar algumas linhas do presente texto a uma sucinta definição do que e erotismo, bem como as formas em que ele se apresenta. Baseado em Ciro Marcondes Filho, o erotismo, de modo geral, é a nudez representada de forma artística e estética; é a arte de se despir, ou de se movimentar simulando o ato sexual. Com finalidade de provocar desejo sexual nos homens e para confirmar sexualmente as mulheres. (Marcondes Filho, 1887, p.97)

No que concerne às formas de erotismo, Marcondes Filho (1988) esclarece que essas se expressam distintas: (1) Uma primeira direta, com a exibição de corpos seminus, em atitudes libidinosas; (2) a outra, mais indireta, ocorre com a fetichização de objetos e partes do corpo.

Conforme os pressupostos acima expostos, o erotismo é patente em programas de auditório com dançarinas rebolando seminuas, em filmes e novelas que simulam o ato sexual e o orgasmo, exibição de seios, nádegas, pernas, dorsos. De acordo com Lopes, o erotismo é encontrado também nos anúncios publicitários, que são relacionados à felicidade e incorporados à criação do desejo de se adquirir produtos que pretensamente permitiriam uma melhor performance, como por exemplo, as propagandas de carros e cervejas, dentre outras mercadorias e serviços associando-os à prática sexual. (Lopes, 2006, p.6).

O autor Luciano Guimarães (2001), vai além, afirma que o apelo libidinoso não está apenas na exposição de corpos e na fetichização de objetos. Está também nas cores. Especificando-se na cor vermelha. Na cor vermelha das frutas, como cerejas e morangos, nos objetos que compõem cenários, e nos figurinos. Isto é, nas cores das roupas utilizadas nas encenações, nas apresentadoras de telejornais. O vermelho também se faz presente nos esmaltes das unhas daquelas que estão frente às câmeras, do batom usado por essas mulheres, tudo visa ao sensualismo, pelo fato do vermelho ser associado ao fogo, ao proibido, ao erótico.

Nas imagens de conteúdo erótico da televisão, nota-se com clareza o predomínio do feminino. O homem com rara freqüência é erotizado. Nas cenas que há a promoção do desejo sexual, é a mulher que figura como objeto de desejo. Para tanto, Ciro Marcondes Filho, Luís Carlos Lopes e Muniz Sodré, tem cada qual, pareceres específicos.

Marcondes Filho (1988) sustenta que a explicação para a exclusividade feminina no erotismo televisivo não se trata apenas de uma imposição de valores e interesses masculinos, mas também a compactuação feminina, que se aproveita para aferir lucros, exibindo-se. Para afirmar isso, o ator baseia-se no complexo de castração[3], teoria de Sigmund Freud.

Luis Carlos Lopes (2006) apresenta dois motivos para o predomínio da nudez feminina na televisão. O primeiro justifica-se na idéia da posse/conquista. Ou seja, exibi-se o corpo feminino como um troféu. O segundo motivo consiste no corpo da mulher como um modelo de beleza perfeita, isso, para o autor, justificaria o fato de que papéis em destaque de filmes e novelas, apresentadoras de programas, ou simplesmente figurantes, é desempenhado por mulheres que se enquadram nesse padrão de beleza.

Muniz Sodré (1994), diz que a fetichização do corpo da mulher, é produto de um serviço desta à lei do mercado. Isto é, no mundo pós-moderno a supervalorização feminina, transformou a mulher em força sexual e força de moda, obrigando-a a assimilar os efeitos narcísicos com o privilegiamento erótico de seu corpo.

Conhecer os motivos que leva as emissoras de televisão a transmitir produtos de conteúdo erótico é imperativo, e a resposta para tanto pode ser encontrada no telespectador enquanto ser humano cm fantasias e desejos reprimidos, sabendo disso, as emissoras de televisão se aproveitam dessa fragilidade do telespectador, para manter sua audiência. O indivíduo integrante da sociedade viu-se face à proibidade e à moral conservadora cultivadas pelo Estado em seus aparelhos (família, religião, etc.). A televisão, ao fomentar idéia de liberalidade e tolerância mental, provoca a sensação de liberdade e de escape para os instintos e desejos reprimidos, no entanto, Lopes (2006, p 6) atesta que tal idéia é paradoxal, uma vez que as crenças baseadas na moral conservadora, pouco é alterada. Contrariamente, a moral tradicional é reafirmada.

Sobre isso, Marcondes Filho corrobora expressando que no caso da exibição insistente de mulheres de biquíni na TV, o artifício é usado porque uma mulher resumidamente vestida excita mais que uma mulher nua. No entanto, agindo assim, a TV concorre para tornar algo que é natural, neste caso a nudez, em tabu, reforçando assim a moral tradicional. (Marcondes Filho, 1991, p.33),

Para responder a indagação sobre os motivos que explicam o erotismo televisivo, é preciso considerar também os interesses econômicos que direcionam as emissoras de televisão. Seja na publicidade, na exibição de garotas seminuas, ou nas danças eróticas de passistas de escolas de samba, assiste-se a um espetáculo voltado a incitação sexual, uma vez que isto atrai a atenção do telespectador, aumentando assim, a audiência do canal.

Os produtores da TV aberta dizem que não haveria outro jeito. Segundo os publicitários, as mulheres jovens e com pouca roupa vendem carros e cerveja. Os apresentadores de programas de auditório afirmam que a nudez espetacular e o escândalo moral, catalisam a atenção do grande público, aumentando os índices de audiência. Os responsáveis pelos programas de humor defendem o sexismo, o gosto duvidoso, os excessos verbais e o chiste escabroso. Dizem que é isto que o público quer.

A audiência seria, segundo eles, a grande responsável pela ‘baixaria’ da TV aberta...” (Lopes, 2006, p.8)

Para fins comerciais, a televisão explora os tabus sexuais através de símbolos, principalmente no que tange a publicidade. Ciro Marcondes Filho, embasado em Freud, cita o caso de propagandas de batom e refrigerantes em que o aparecimento de lábios carnudos, estaria associado à idéia de uma vagina ou de sexo oral. Objetos cilíndricos e frascos de shampoo, por exemplo, corresponderiam à imagem de um pênis. (1991, p.30)

Após tratar de modo breve, como o erotismo é representado na televisão, e o motivo que leva a exibi-lo, é apropriado reservar algumas linhas deste texto a abordar como o telespectador reage diante de tanto estímulo sexual. Primeiramente, é preciso ater para o fato de que a mulher e o homem possuem reações distintas, face às exposições eróticas.

Já foi explicado, que no erotismo televisivo, quase todo espaço é ocupado pela mulher, também já foi exposto as razões que levam ao predomínio feminino. Convém mencionar que o exclusivismo feminino, desperta no homem o voyerismo, por este de acordo com pensamento de Freud, citado por Marcondes Filho (1991, p.41), está na busca permanente do prazer sexual, o que o leva a exigir de si mesmo a ereção. Na mulher, o voyerismo é tratado como uma atração a fim de favorecê-la na conquista do homem. É no voyeurismo que a mulher obtém um espelho de pretensão narcisista para autoerotizar-se como objeto fálico, ou trasferindo para um objeto externo, como roupas, acessórios, e adornos. Ou investindo libidinosamente, no falar, no agir, ou no andar. Deste modo, a televisão desperta na mulher uma reação exibicionista.

Indiferentemente, homens e mulheres, com grande intensidade e freqüência, são afetados por cenas de filmes e novelas que simulam um ato sexual, o que concorre para a assimilação de um modelo ideal de sexo a ser praticado, da busca de um parceiro ideal, tudo isso para ser aceito pela sociedade. O fato de tais aspirações serem irrealizáveis leva o sujeito à angústia e a frustração.

A discrepância entre a aspiração e a realização, também atingem homens e mulheres de modos diferentes. No caso do homem, a freqüência com que é alvejada pelas atrações eróticas, provoca nele hiperexcitação, que não pode ser consumada por se tratar de um mero atrativo visual. O resultado disso é o tédio, a frustração e a viciosidade. A exacerbação dos sentidos, o leva assim a permanente busca da mulher para um prazer sexual que esta não poderá atender.  A mulher por sua vez, ao ser exposta ao exibicionismo feminino, é instigada a adotar a mulher erótica, como um modelo a ser seguido, mas a incompatibilidade entre o exibido e sua condição real, provoca nela a frustração de não atender a demanda, bem como a neutralização de sua sexualidade.

Resumindo o tema erotismo na televisão, concluímos que erotismo e sexualidade não têm correspondência direta, isso é uma imposição da visão masculina da sexualidade sobre os dois sexos, o que significa que as mulheres também compartilham desses mecanismos de forma masculinista, assumindo elas mesmas essa posição.   (Marcondes Filho, 1988, p.102)

Por fim, há que ressaltar que a influência da televisão concorre para a mistificação da sexualidade e sua des-humanização. A saturação causada pelo excesso de imagens eróticas tem como detrimento não apenas o desgosto e a frustração a nível individual, como também transferida para práticas sexuais saudáveis.

Como encerra Marcondes Filho: “Há a simulação, a caricatura: com a aparência de sexualizar, realiza-se a dessexualização pela redução do sexo ao mecânico, automático, repetitivo e vazio.” (1991, p.31)

 

Considerações Finais

A título de conclusão, é imprescindível afirmar que sobre os efeitos nefastos causados pela transmissão de produtos voltados à incitação sexual, grande responsabilidade têm os profissionais que atuam nos bastidores da TV, e aqueles que se servem dela para veiculação de anúncios publicitários, uma vez que, baseados em Luis Carlos Lopes (2006, p.08) não se pode imputar a culpa do baixo nível da TV aberta à audiência, valendo-se do argumento de que esta contribui para isso. Tal argumento é invalidado ao constatar-se que programas que não usam de apelo erótico, também logram o êxito sem nem mesmo recorrer a outros recursos que constrói a imagem das relações humanas de modo negativo. “Culpar a população é mais fácil para fugir das responsabilidades” (Luis Carlos Lopes, 2006, p.8)

Ainda sobre a responsabilidade dos profissionais da mídia televisiva, é preciso atentar-se para grande parte da população infanto-juvenil. Pois estas, ao absorverem os padrões de consumo e comportamentos impostos pela mídia, muitas vezes inacessíveis a elas, acabam por contribuir para a aproximação entre crianças e adolescentes e as redes de Exploração Sexual das mesmas.

 

Referências Bibliográficas

GUIMARÃES, Luciano. A cor como informação: biofísica, lingüística e cultural da simbologia das cores. São Paulo: Annablume, 2002. 143 p. ISBN 85-7419-168-x. cap. Vermelho.

SODRÉ, M. A maquina de narciso: Televisão, indivíduo e poder no brasil. ed.3. Editora Cortez, 1994, p. 70.

LOPES, L.C. A parole do amor de do sexo nas mídias: o caso da tv aberta brasileira. Revista Latina de Comunicación Social, 61, p. 4 – 8, Dez. 2006.

EXPLORAÇÃO sexual de crianças e adolescentes: guia de referência para a cobertura jornalística. Brasília: 2007.(Jornalista amigo da criança), p.20 – 21.

MARCONDES FILHO, C. Quem manipula quem. ed. 4. Editora Vozes, 1991, p. 31 – 41.

MARCONDES FILHO, Ciro. Televisão: a vida pelo vídeo. São Paulo: Moderna, 1988. p. 93 – 102.

 

[2] Acadêmicos do 1º semestre do curso Comunicação Social - Jornalismo da Universidade Católica Dom Bosco.

[3] Complexo de castração dá-se quando criança. Para o menino, a mãe representa duas coisas é como uma deusa da beleza, o prazer, seu lado “iluminado”. Mas a mãe monopoliza o mundo da criança. A criança não pode viver sem ela, e, no entanto, para obter o controle sobre seus próprios poderes, tem que se livrar dela. A criança então passa a observá-la como uma ameaça. A criança observa que o corpo da mãe é diferente do homem – surpreendentemente diferente (ausência de pênis). E essa diferença vai, aos poucos, fazendo com que a criança se sinta angustiada, Freud chamou essa angustia de “mãe castrada”.

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Atualizado em: Seg 29 Nov 2010

Comentários  

#2 PauloJose 26-08-2014 20:24
parabéns.
mas um lar consagrado pelo amor
t.v não afeta.poetisa gostei do seu trabalho fantástico
É MUITO CARISMÁTICA.DEUS ABENÇOE. :eek:
#1 TondeKstro 30-11-2010 22:54
Por anos a televisão, propaganda e muitos veiculos exploram a sexualidade independente de como seja desde que seja necessária será sempre explorada, sempre...

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