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EMPREENDIMENTOS COMERCIAIS: IMPORTÂNCIA E PERSPECTIVA PARA O CRESCIMENTO URBANO DO DISTRITO PÉ–LEVE
EMPREENDIMENTOS COMERCIAIS: IMPORTÂNCIA E PERSPECTIVA PARA O CRESCIMENTO URBANO DO DISTRITO PÉ–LEVE, LIMOEIRO DE ANADIA – AL[1]
Rafael Vieira da Silva – UNEAL[2]
Resumo:
O presente artigo teve por objetivo compreender a importância do comércio para a formação e transformação do espaço urbano do Distrito Pé-Leve enfatizando os aspectos econômicos, políticos e culturais como fatores geradores do crescimento urbano. A metodologia utilizada foi a pesquisa de campo, com entrevistas a moradores e a pesquisa bibliográfica. Os resultados apresentados no trabalho evidenciam o poder que o comércio teve na formação do núcleo urbano Pé-Leve e mostra as perspectivas de crescimento para o referido Distrito.
Palavras-Chave:comércio, espaço urbano, relações sociais.
1.- Considerações Iniciais
Compreender os processos de formação do comércio possibilita não só entender e interpretar a reprodução do espaço urbano. Possibilita também identificar as novas relações sociais, principalmente na sociedade capitalista contemporânea. Partindo do pressuposto de que o comércio surgiu para suprir as necessidades das populações, ele apresenta um papel fundamental na formação de núcleos urbanos, a exemplo do objeto de pesquisa deste artigo (o Distrito Pé-Leve).
A história nos ajuda nessa tarefa mostrando a fragmentação do espaço urbano de Limoeiro de Anadia, quando as relações comerciais agem como fatores determinantes nessas transformações. A repetição dessa história parece esta mais próxima do que nunca.
O maior número de empreendimentos comerciais, a maior representação na população municipal e a localização estratégica do Distrito, fazem a população local sonhar em um dia o Pé-Leve ser o mais novo município desmembrado de Limoeiro e Anadia. Tal fato em conversas com populares sobre o crescimento do Distrito é sempre citado com entusiasmo. Sempre sendo ressaltada a estagnação da sede.
O Distrito vem sendo alvo de muitos “investimentos” da Prefeitura Municipal, do Governo Estadual e até do Governo Federal, entre esses investimentos estão à construção de uma “orla” na lagoa do Pé-Leve, um Pólo Multisetorial etc. Esses empreendimentos se saídos do papel, poderão trazer um crescimento populacional e comercial ainda maior para o Distrito. Possibilitando uma mudança considerável nas relações sociais Limoeiro/Pé-Leve.
2.- O Comércio
Interpretar as questões relacionadas à (re) produção do espaço urbano é de extrema importância para compreender as especificidades da sociedade capitalista em que estamos inseridos.
De acordo com Santos (2005, p.42) “o espaço torna-se fluido, permitindo que os fatores de produção, o trabalho, os produtos, as mercadorias, o capital passem a ter uma maior distribuição”. Desta forma, o comércio passa a ser um fator determinante na ocupação do espaço urbano e da reprodução das relações sociais.
Em sua origem o comércio surge como uma forma de suprir as necessidades das populações. A partir de trocas sucessivas, essa relação fica cada vez mais complexo. O escambo passa a dividir lugar com uma forma de comércio onde a troca ganha um propósito de geração de capita. E é a partir deste momento que surge os primeiros empreendimentos comerciais da história.
As novas formas de comércio surgiram com o propósito de concentrar o maior número de produtos diferentes em único lugar. Tal fato possibilitou a formação de pequenos aglomerados que giravam em torno desta inovação. Ano após ano essas formas comerciais ganharam “corpo” e possibilitaram uma maior concentração de pessoas nesses aglomerados. Começava a surgir então à história primitiva das cidades.
As primeiras cidades fazem seu aparecimento na esteia da chamada Revolução Agrícola ou, também, “Revolução Neolítica”, por ter ocorrido no período pré-histórico conhecido como Idade da Pedra Polida ou período neolítico. É, com efeito, na Idade da Pedra Polida que se inicia a prática da agricultura, e graças a isso irão surgindo, aos poucos, assentamentos sedentários, e depois as primeiras cidades. (...) A cidade em contrapartida ao campo, que é de onde vinham os alimentos, foi se constituindo, paulatinamente, como um local onde se concentravam os grupos e classes cuja existência, enquanto pessoas não diretamente vinculadas às atividades agropastoris, era tornada possível graças a possibilidade de se produzirem mais alimentos do que o que seria necessário pra alimentar os produtores diretos. (Souza, 2003, p. 43-44).
Com a dinamização da produção, das relações sociais e das praticas capitalistas, intensificou-se a “troca” de produtos entre pessoas e países, atribuindo ao comércio um caráter de distribuição sócio-espacial, tendo por princípio a estratégia de mercado.
3.- Limoeiro de Anadia: a terra dos desmembramentos
A história de Limoeiro de Anadia muitas vezes se confunde com o processo de formação do Estado de Alagoas: desmembramentos e emancipações sucessivas.
Foi no século XIX, mais precisamente em 1882 que Limoeiro de Anadia foi elevado à condição de Vila Independente de Anadia pela Lei Provincial nº 866. Limoeiro agora era sede de uma vasta região que englobava os povoados de Arapiraca, Coité do Nóia, Craíbas, Junqueiro, Lagoa da Canoa e Taquarana.
Já no século XX o comércio apresentou-se como fator determinante na fragmentação espacial do território limoeirense. A sede municipal localizada sobre o Embasamento do maciço Pernambuco-Alagoas fica cercada por serras, dominadas por grandes latifundiários que até hoje as utilizam para a criação extensiva de gado. Sendo assim, existia uma grande dificuldade na prática da agricultura familiar pela população local, que foi obrigada a cultivar em povoados próximos ao município. Tal fato provocou um grande crescimento demográfico destes povoados, que em pouco tempo superariam a população residente na sede. Era uma evolução gerada pela riqueza vinda do fumo.
Foi a partir deste crescimento demográfico advindo da cultura do fumo que os antigos povoados de Limoeiro se tornaram as novas sedes municípios do Agreste Alagoano. Foi um período de desmembramentos em massa. Arapiraca (1924), Junqueiro (1903-1947), Taquarana (1962), Coité do Nóia (1963) e em seguida, separando-se de Arapiraca, Lagoa da Canoa (1962) e Craíbas (1982).
Limoeiro hoje possui uma área de 316 km² (IBGE 2010) e continua com uma sede municipal estagnada. Resta uma pergunta: Será que a história de desmembramentos acabou?
4.- A História Continua – Distrito Pé – Leve
Localizado estrategicamente ás margens da AL 220 a aproximadamente 9 km de Arapiraca e 117 km de Maceió, o Distrito Pé-Leve pertence ao município de Limoeiro de Anadia. Apresenta uma população de 7.826 habitantes, onde é quase quatro vezes maior que a da sede municipal (2.246 habitantes).
Sua localização vai ser um fator determinante na ocupação do distrito e também em sua formação econômica. Desde o inicio do povoamento o Distrito fazia parte do caminho utilizado por comerciantes para chegar à Arapiraca. Eram comerciantes de várias cidades de Alagoas e até de outros estados da região nordeste, que tinham por objetivo a compra e venda de produtos. Com a intensificação do comércio em Arapiraca (surgimento da feira livre), os comerciantes começaram a fixar residência na região. Começava a se formar aglomerados de pessoas em várias áreas, que hoje são municípios da região agreste.
O fumo era a base da economia dos povoados que ano após ano desmembravam-se de Limoeiro de Anadia. Entretanto, o Pé-Leve passava a criar características diferentes. Seu quadro econômico fica indefinido por muito tempo, sendo pouco a pouco definido com a invasão de empreendimento na AL 220.
Após anos de intenso fluxo de comerciantes na região, estava se formando às margens da lagoa do Pé-Leve e da AL 220 o Distrito Pé-Leve.
4.1-A Rodovia AL 220
Principal centro de comércio do Distrito a AL 220 torna-se o fator mais importante no seu desenvolvimento econômico e urbano, sendo capaz de atrair pessoas de várias cidades que por ali passam. A AL apresenta 33,33% dos empreendimentos comerciais do Distrito, sem contar as várias barracas instaladas que vendem desde frutas ao famoso pé-de-moleque do Pé-Leve.
É na Semana Santa que a AL ganha seu maior fluxo de carros. São pessoas a procura dos tradicionais bolos de massa puba (pé-de-moleque). Em virtude disso, acontece nesse período a maior produção da “especiaria”, que chega a subir em 150 vezes a produção normal.
Durante todo o ano são produzidos bolos de milho, massa puba e malcasada que se tornaram marca registrada do Distrito Pé-Leve. Essa relação, povo, pé-de-moleque e AL 220 fez surgir uma identidade própria para a população local. O que a diferenciou da população de Limoeiro e Anadia.
Ao ser perguntado onde mora, o pelevense não pensa duas vezes e responde: no Pé-Leve. Ao ouvir a resposta, aquele que perguntou logo liga o Pé-Leve ao pé-de-moleque, provando a nova identidade do Distrito. Na verdade a lagoa não deixou de fazer esse papel, mas agora ganhou um aliado forte.
A AL 220 ainda guarda muitas surpresas para o futuro do Distrito, surpresas essas que poderão ser positivas ou negativa, dependendo muito do ponto de vista que ela for observada.
4.2 – O Comércio no Centro do Distrito
O centro se destaca principalmente pela existência do Mercadinho Primavera e da Feira Livre aos domingos.
4.2.1- O Mercadinho Primavera
Mais antigo empreendimento comercial de destaque do distrito Pé – Leve, o mercadinho Primavera foi inaugurado em 1992. De propriedade do senhor Elizio, o empreendimento localiza-se na parte central do Distrito, conseguindo atrair pessoas de todos os povoados circunvizinhos, principalmente em dias de domingo, quando é realizada a feira livre local.O referido mercadinho teve sua última reforma em 2009, quando segundo o proprietário o espaço físico do empreendimento não suportava o crescente mercado consumidor. No mesmo ano, o empresário decidiu ampliar seus negócios na localidade, inaugurando ao lado do mercadinho uma papelaria, (única do distrito).
4.2.2- A Feira Livre
A feira surge como ampliador das relações sociais entre a população local e as populações vizinhas, atraindo principalmente pessoas dos povoados Areia Branca, Campestre, Mamoeiro, Jenipapo, Rio dos Bichos e Bom Jardim. Os dois últimos de Arapiraca. Sua localização faz crescer cada vez mais empreendimentos próximos a feira, pois quando atraídos por ela acabam sempre passando nesses empreendimentos. Exemplo disso é o Mercadinho Primavera.
4.3 - As Relações Limoeiro/Pé-Leve
Essa relação nunca esteve tão abalada, o sentimento de revolta dos limoeirenses cresce a cada ação da Prefeitura Municipal, que ao ver o crescimento do Distrito Pé-Leve “investe”. Os investimentos estão ligados principalmente a áreas visíveis à população. O motivo é simples, a população do Pé-Leve é fator determinante para eleger um candidato a prefeito em Limoeiro de Anadia.
Quando se fala em empreendimentos comerciais constata-se mais uma vez a importância do Pé-Leve no cenário municipal, tanto pela quantidade quanto pela diversidade. Em pesquisa realizada entre os dias 24 e 26 de agosto de 2011 em Limoeiro de Anadia e no Distrito Pé-Leve foi contabilizado o número de empreendimentos comerciais e qual sua finalidade. O resultado é apresentado na tabela abaixo.
Tabela 2: Número de estabelecimentos comerciais por gênero – Limoeiro de Anadia e Pé – Leve
Discriminação |
Limoeiro de Anadia |
Pé - Leve |
Abatedouro |
01 |
- |
Alimentício (Pé – de – Moleque) |
- |
02 |
Automação e Eletrificação |
- |
01 |
Bar |
05 |
15 |
Carpintaria |
- |
03 |
Depósito de Construção |
01 |
04 |
Distribuidora (bebidas, e gêneros alimentícios) |
02 |
03 |
Farmácia |
02 |
02 |
Lanchonete, Restaurante |
04 |
04 |
Lan House |
02 |
03 |
Loja Agropecuária |
01 |
05 |
Loja de Confecção |
06 |
04 |
Loja de Cosméticos |
01 |
01 |
Loja de Móveis |
02 |
02 |
Mercadinho, Mercearia |
12 |
13 |
Oficina Mecânica |
01 |
06 |
Panificadora |
02 |
04 |
Papelaria |
01 |
01 |
Posto de Gasolina |
- |
01 |
Quitanda |
- |
05 |
Salão de Beleza |
04 |
10 |
Total |
46 |
89 |
Fonte:Rafael Vieira da Silva
Elaboração:Rafael Vieira da silva
A pesquisa teve um resultado que já era esperado. A maior quantidade de empreendimentos comerciais, quase o dobro, e a maior diversidade de produtos foram resultantes também da interferência provocada pela AL 220. Tal fato não favoreceu o crescimento econômico de Limoeiro porque a cidade não é cortada pela AL.
Esse número de empreendimentos é resultado e causa do crescimento urbano do Pé-Leve que em poucos anos fez surgir vários loteamentos, transformando e intensificando as relações sociais dos povoados circunvizinhos com o Distrito. Intensifica-se também a transferência de pessoas destes povoados para o Pé-Leve, causando uma inversão de papeis entre o Distrito e a sede.
Só quando necessário. Foi o que respondeu a maioria dos moradores do Pé-Leve quando perguntados se iam frequentemente a Limoeiro. Completando a resposta falaram também que quando não encontram no Distrito procuram em Arapiraca, já que a distancia é a mesma e é certeza de encontrar.
As principais relações Pé-Leve/Limoeiro são basicamente à procura de serviços públicos que não são prestados no Distrito, a feira em dias de sexta e festas realizadas na cidade.
5.- O Futuro do Distrito
O Distrito vem sendo alvo de vários investimentos do Governo Federal, Estadual e da Prefeitura Municipal com o objetivo de ampliar e desenvolver a região. Esses investimentos estão ligados principalmente nas áreas de desenvolvimento industrial e urbanístico.
Durante a pesquisa de campo pode-se notar uma ampliação de estabelecimentos já tradicionais e a construção de novos. A ampliação do comércio se dá principalmente pelo crescimento da população.
O Pólo Multisetorial do Pé-Leve se saído do papel, pode causar um maior avanço no crescimento urbano do Distrito. Esse “avanço” até então sem nenhuma política de planejamento, pode também trazer o caos para a localidade. Na teoria esse novo empreendimento pode gerar um grande número de empregos, o que na pratica pode não acontecer.
A orla que é investimento do Governo Federal, já está prestes a começar, seu objetivo principal é gerar um ambiente onde os pelevenses possam convier e estreitar suas relações sociais. O investimento equivale a aproximadamente 1,5 milhões, que já foram depositados nos cofres da Prefeitura de Limoeiro de Anadia. Resta saber se irá chegar à obra. A obra prevê a construção de alguns quiosques, aumentando a chegada de empreendimentos. Durante a pesquisa, estava sendo construída próxima a área da futura Orla da Lagoa do Pé-Leve uma loja de confecções, loja essa que será a maior do distrito.
Os avanços são muitos, resta saber se terão sucesso, o distrito aposta nesses avanços para que um dia se torne a novo município da Região Agreste, mais um desmembrado de Limoeiro de Anadia.
6- Considerações Finais
A partir da história do comércio, onde ele é fator determinante na formação de aglomerados urbanos e da história de desmembramentos de Limoeiro de Anadia, podemos constatar que o distrito Pé-Leve vem pouco a pouco se configurando como um possível município desmembrado.Esse fato ao se dá apenas pelo fato de o Distrito está passando por um crescimento urbano e econômico, mas pela construção de uma identidade própria. Fato esse que é determinante na constituição de um aglomerado independente e soberano, seja ele, cidade, estado ou país.
Referências:
SANTOS, Milton.A Urbanização Brasileira, 5ª ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2005, p. 42.
SOUZA, Marcelo Lopes de.ABC do desenvolvimento urbano. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
PLANO DIRETOR MUNICIPAL DE ARAPIRACA, 2005
PREFEITURA MUNICIPAL DE LIMOEIRO E ANADIA
Site:http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1
TENÓRIO, Douglas Aparatto: historiador; CAMPOS, Rochana: Geógrafa; PÉRICLES, Cícero: Economista.Enciclopédia: Municípios de Alagoas.2ª ed. Maceió: Instituto Arnon de Melo, 2006.
[1]Trabalho de Iniciação científica.
[2]Graduando do curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade Estadual de Alagoas.