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Uma Dose de Ar Cênico
Fragmento do texto teatral Uma Dose de Ar Cênico
Nº Registro: 78.868
PEÇA EM ATO ÚNICO
Herêndida
Não prentendia mesmo cobrir-me. A noite está fresca. Apenas isto. Não tenho tanto frio, só meu queixo que se queixa de tanto bater, mas à toa. Não sinto a mudança de temperatura sobre a minha pele. Acho lindo o inverno, a neve branca que purifica a minha alma. Preferiria cobrir-me com a neve, para que ela entranhasse dentro de mim e lavasse toda a sujeira que me resta, apesar de eu ser somente podridão. Cada vez que eu a olho sofro, pela necessidade que tenho dela. Esmero-me em alcançar, em possui-la, mas ela só me aumentaria o frio; essa impossibilidade faz crescer minha ânsia em conquistá-la e cada vez que vejo o quanto é impossível, mais minha ânsia acelera, não consigo me conter. Para quê? Para quê? Ela me aumentaria o frio. Me congelaria e eu morreria por fim... Entretanto, talvez não seria um fim trágico. Morreria congelada, porém feliz, porque teria conquistado o impossível, e este sentimento de conquista que emergiria do meu íntimo seria maior que a razão de viver. Onde possivelmente restaria um fiapo de vida para sentir o prazer desta vitória? Meu dilema... é por isto que não te conquisto e por revolta também não me cubro. Se não posso dominá-la, quem és tu para subjugar-me? Repito que não me cobrirei porque não estou com frio. (Sai da posição, dá alguns passos para frente, e faz o gesto de desligar alguma coisa). Não posso permitir que Malvice possua o trono. Preciso arquitetar algum plano para destrui-la, mas seja qual for, meu pai, o rei, desconfiaria de mim. Enquanto isso, fico confinada entre um aposento e outro, frustrada de certa forma, mas não vencida. (Tempo) Me resta algum tempo, o rei ainda não morreu e mamãe não mais tem idade para gerar filhos. Com calma, poderei preparar uma cilada absolutamente grande para minha irmã, e assim passarei a ser a única herdeira e poderei dominar todo este reino, inclusive ela, que sonha com a coroa. Os fatos são vagos. Não existem primogênitos. Somos frutos do mesmo parto, do mesmo ventre. Mas não! Tenho que eliminar Malvice do limite de minha visão, e poder assim descansar com o meu centro garantido.
Nº Registro: 78.868
PEÇA EM ATO ÚNICO
Herêndida
Não prentendia mesmo cobrir-me. A noite está fresca. Apenas isto. Não tenho tanto frio, só meu queixo que se queixa de tanto bater, mas à toa. Não sinto a mudança de temperatura sobre a minha pele. Acho lindo o inverno, a neve branca que purifica a minha alma. Preferiria cobrir-me com a neve, para que ela entranhasse dentro de mim e lavasse toda a sujeira que me resta, apesar de eu ser somente podridão. Cada vez que eu a olho sofro, pela necessidade que tenho dela. Esmero-me em alcançar, em possui-la, mas ela só me aumentaria o frio; essa impossibilidade faz crescer minha ânsia em conquistá-la e cada vez que vejo o quanto é impossível, mais minha ânsia acelera, não consigo me conter. Para quê? Para quê? Ela me aumentaria o frio. Me congelaria e eu morreria por fim... Entretanto, talvez não seria um fim trágico. Morreria congelada, porém feliz, porque teria conquistado o impossível, e este sentimento de conquista que emergiria do meu íntimo seria maior que a razão de viver. Onde possivelmente restaria um fiapo de vida para sentir o prazer desta vitória? Meu dilema... é por isto que não te conquisto e por revolta também não me cubro. Se não posso dominá-la, quem és tu para subjugar-me? Repito que não me cobrirei porque não estou com frio. (Sai da posição, dá alguns passos para frente, e faz o gesto de desligar alguma coisa). Não posso permitir que Malvice possua o trono. Preciso arquitetar algum plano para destrui-la, mas seja qual for, meu pai, o rei, desconfiaria de mim. Enquanto isso, fico confinada entre um aposento e outro, frustrada de certa forma, mas não vencida. (Tempo) Me resta algum tempo, o rei ainda não morreu e mamãe não mais tem idade para gerar filhos. Com calma, poderei preparar uma cilada absolutamente grande para minha irmã, e assim passarei a ser a única herdeira e poderei dominar todo este reino, inclusive ela, que sonha com a coroa. Os fatos são vagos. Não existem primogênitos. Somos frutos do mesmo parto, do mesmo ventre. Mas não! Tenho que eliminar Malvice do limite de minha visão, e poder assim descansar com o meu centro garantido.
Atualizado em: Qua 6 Maio 2009
Comentários
Encontrou muita poeira por aqui? rsrsrs
É o fragmento de uma peça, onde o tema é a busca desenfreada pelo poder. E como é uma peça surrealista, as 2 personagens (2 priscesas gêmeas que lutam pelo trono) Ela vão pirando ao longo da peça, ao ponto de quererem dominar as formigas, o vento e o fogo, por exemplo. Um dia publico aqui.
Bjs e obrigado pela constante presença.
Que bela surpresa encontrar você em uma de minhas postagens mais antigas. Por acaso este trabalho é muito antigo tb, tem mais de 20 anos, é a fala inicial de um peça que discute o desejo de poder e cobiça, e o grande sofrimento da consciência diante do senso moral. Você acertou em cheio no seu comentário.
Particularmente gosto muito dessa peça, apesar de hoje em dia achá-la um pouco simplista. Um dia posto na íntegra no site.
Bjs e obrigado!
Este fragmento é claro, devido ao modo como ela maltrata a si mesma, numa pré punição para com suas intenções.
Bjs estrelas.
Este fragmento é claro, devido ao modo como ela maltrata a si mesma, numa pré punição para com suas intenções.
Bjs estrelas.