- Pelos olhos de Pessoa por Edson Tavares
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QUE MUSA QUE NADA!
Os antigos invocavam as Musas,
Nós invocamo-nos a nós mesmos.
Não sei se as musas apareciam -
Seria sem dúvida conforme o invocado e a invocação -
Mas sei que nós não aparecemos.
Quantas vezes me tenho debruçado
Sobre o poço que me suponho
E balido "ah" para ouvir um eco,
E não tenho ouvido mais que o visto -
O vago alvor escuro com que a água resplandece
Lá na inutilidade do fundo...
Nenhum eco para mim...
Só vagamente uma cara,
Que deve ser a minha, por não poder ser de outro.
É uma coisa quase invisível,
Exceto como luminosamente vejo
Lá no fundo...
No silêncio e na luz falsa do fundo...
Que Musa!...
Saúdo-te, Álvaro de Campos, pela nitidez do teu pensar!
Estamos sozinhos. Por mais que busquemos companhia, por mais que supliquemos proteção, por mais que desejemos a interferência de musas, deuses, anjos, estrelas, Deus... ou o que quer que seja... para nos realizarmos e realizar nossa obra imaginária, estamos sozinhos.
Nada vem em nosso auxílio, e isso, embora nos aborreça, é-nos perfeitamente explicável - óbvio, até. Ninguém aparece porque não há ninguém para aparecer. Porque estamos sós, no que fazemos. Porque o que fazemos, se quisermos fazer algo, é somente nosso, por isso deve vir inteiramente de nós.
Esse negócio de pedir inspiração a elementos ou instituições além ou aquém de nós mesmos, apenas demonstra a falta da confiança plena em nosso poder de criação, denuncia o medo que temos de fracassar, ao nos debruçarmos sobre o que pretendemos. Sentimo-nos incapazes de fazer, por nossa própria conta, grandes coisas. E gememos a interferência alheia. Quão isso é tolo!
Sejam as musas que os antigos invocavam ou nós mesmos, que tentamos acordar, balindo para dentro do poço que somos, não obtemos resposta alguma. Porque não há resposta alguma a se obter. Porque essa história de buscar inspiração nesse elemento meio mágico, fora de nossa racionalidade, é grossa bobagem.
Se olho para dentro de mim, em busca de algum não-eu que possa me valer, decepciono-me com a constatação - óbvia, repito - de que não há ninguém além de mim mesmo. É minha cara que vejo refletida, no fundo do poço. O poço me diz, enfaticamente, que estou só, que não há companhia no que faço. A razão me prova que, mesmo cercado de gente por todos os lados, embora supostamente assistido por divindades ou figuras metafísicas imaginárias, estou sozinho diante de mim, diante do poço que sou, quando desejo fazer algo. De mim e ninguém mais.
Isso pode, em algum momento, assustar. Tanto que procuro me enganar, buscando alguém para me quebrar essa solidão. Mas sei, se pensar serenamente, que não há ninguém, simplesmente não há ninguém que me venha auxiliar, na difícil tarefa de produzir, expressar, construir, materializar meus pensamentos e/ou sentimentos através do que escrevo e/ou falo.
Estou só e não resisto: muito tenho que viver. Sozinho, porque sem outra opção; e porque termina sendo necessário e bom.
Nós invocamo-nos a nós mesmos.
Não sei se as musas apareciam -
Seria sem dúvida conforme o invocado e a invocação -
Mas sei que nós não aparecemos.
Quantas vezes me tenho debruçado
Sobre o poço que me suponho
E balido "ah" para ouvir um eco,
E não tenho ouvido mais que o visto -
O vago alvor escuro com que a água resplandece
Lá na inutilidade do fundo...
Nenhum eco para mim...
Só vagamente uma cara,
Que deve ser a minha, por não poder ser de outro.
É uma coisa quase invisível,
Exceto como luminosamente vejo
Lá no fundo...
No silêncio e na luz falsa do fundo...
Que Musa!...
Saúdo-te, Álvaro de Campos, pela nitidez do teu pensar!
Estamos sozinhos. Por mais que busquemos companhia, por mais que supliquemos proteção, por mais que desejemos a interferência de musas, deuses, anjos, estrelas, Deus... ou o que quer que seja... para nos realizarmos e realizar nossa obra imaginária, estamos sozinhos.
Nada vem em nosso auxílio, e isso, embora nos aborreça, é-nos perfeitamente explicável - óbvio, até. Ninguém aparece porque não há ninguém para aparecer. Porque estamos sós, no que fazemos. Porque o que fazemos, se quisermos fazer algo, é somente nosso, por isso deve vir inteiramente de nós.
Esse negócio de pedir inspiração a elementos ou instituições além ou aquém de nós mesmos, apenas demonstra a falta da confiança plena em nosso poder de criação, denuncia o medo que temos de fracassar, ao nos debruçarmos sobre o que pretendemos. Sentimo-nos incapazes de fazer, por nossa própria conta, grandes coisas. E gememos a interferência alheia. Quão isso é tolo!
Sejam as musas que os antigos invocavam ou nós mesmos, que tentamos acordar, balindo para dentro do poço que somos, não obtemos resposta alguma. Porque não há resposta alguma a se obter. Porque essa história de buscar inspiração nesse elemento meio mágico, fora de nossa racionalidade, é grossa bobagem.
Se olho para dentro de mim, em busca de algum não-eu que possa me valer, decepciono-me com a constatação - óbvia, repito - de que não há ninguém além de mim mesmo. É minha cara que vejo refletida, no fundo do poço. O poço me diz, enfaticamente, que estou só, que não há companhia no que faço. A razão me prova que, mesmo cercado de gente por todos os lados, embora supostamente assistido por divindades ou figuras metafísicas imaginárias, estou sozinho diante de mim, diante do poço que sou, quando desejo fazer algo. De mim e ninguém mais.
Isso pode, em algum momento, assustar. Tanto que procuro me enganar, buscando alguém para me quebrar essa solidão. Mas sei, se pensar serenamente, que não há ninguém, simplesmente não há ninguém que me venha auxiliar, na difícil tarefa de produzir, expressar, construir, materializar meus pensamentos e/ou sentimentos através do que escrevo e/ou falo.
Estou só e não resisto: muito tenho que viver. Sozinho, porque sem outra opção; e porque termina sendo necessário e bom.
Atualizado em: Seg 1 Set 2008
Comentários
Concordo plenamente com vc: não precisamos ter alguém para ser alguém; e mais: ter alguém, sem ser alguém antes, não é muito saudável...
Beijo.
E finalmente, dizer que estou voltando ao site, e, se me for concedida a benesse do perdão pelo afastamento, e se vc ainda estiver por aqui, coloco-me à inteira disposição para conversarmos e trocar idéias.
Grande abraço
Eu quase desisti, mas manilkara e outros amigos me convenceram a ficar. Agora, vou pedir p ela te convencer a escrever também!
Eu quase desisti, mas manilkara e outros amigos me convenceram a ficar. Agora, vou pedir p ela te convencer a escrever também!
Tu é muito bom! Escreve bem demais! Só não concordo no caso de não se ter uma inspiração poética vinda de outra pessoa. Acho que isso é imprescindível, independente de ser a musa (homem, mulher, animal, objeto, etc...) Mas Valeu!
Tu é muito bom! Escreve bem demais! Só não concordo no caso de não se ter uma inspiração poética vinda de outra pessoa. Acho que isso é imprescindível, independente de ser a musa (homem, mulher, animal, objeto, etc...) Mas Valeu!