- Terror
- Postado em
A MANSÃO
A menina estava em pé na fila do brinquedo, já se passava das sete da noite. Entediada, chamou a atenção de sua amiga tentando passar o tempo.
- Mas que demora Luiza, já não agüento mais esperar.
- Fique calma, Isabela, você me fez ficar aqui por duas horas, agora vamos ir neste, e pare de encher. – Luiza disse em um tom de brincadeira.
- Está bem, vamos esperar, então. – Isabela retrucou de forma entediante.
- Meninas corajosas, vocês. – falou um garoto sorridente logo atrás, Luiza virou-se educadamente e proferiu de maneira amistosa com uma sobrancelha arqueada:
- Parece que a coragem não está extinta em todos os rapazes também. – seu sorriso aumentou quando a viu, Luiza era um pouco baixa, mas muito bonita, com cabelos escuros e pele bem clara quase aveludada, olhos castanhos bem marcantes, realmente era bem corajosa e às vezes atrevida. Muito diferente de sua amiga, de pele amorenada e cabelos claros, alta, com olhos azuis bem escuros, o que a deixavam muito atraente, era bem quieta, mas fazia amizade com facilidade.
- Somos um tipo raro de homens, vocês não sabiam?! – disse de forma divertida, o amigo do sorridente. Ambos eram bem bonitos, muito parecidos, loiros de olhos claros, estatura mediana e um tanto fortes. Isabela só observava, mas para não ficar de fora, interferiu de forma sutil.
- Como se chamam, garotos? – proferiu sorrindo pouco, mas bem carismática.
- Eu sou Diego – informou o sorridente - e este é meu amigo, Victor.- Sou Isabela e ela é Luiza.
- Prazer em conhecê-las – responderam junto, o que soou um tanto estranho. O assunto encerrou-se rápido, e para quebrar o silencio incômodo, Luiza indagou:- Alguém sabe que horas são?
- Oito horas, agora. – respondeu Victor.
- Nossa, estamos esperando a três horas. – reclamou Isabela.
- De quantas em quantas pessoas entram? – perguntou Diego, já que o brinquedo em questão tratava-se de uma replica de mansão assombrada
- Umas dez – continuou Luiza – mas na verdade, somos as únicas que vieram aqui, depois dos acontecimentos poucos tem coragem. – Isabela a medrosa, já se virou rapidamente e questionou:
- Acontecimentos? Que tipo de acontecimentos? – sua voz saiu tremula.
- Ah! Sim, estão falando da reforma. – acrescentou Diego
- Não estou falando disso – rebateu Luiza– estou falando do aconteceu durante a reforma.
- Para com isso – Isabela interrompeu – você ama essas coisas, não é?! Tem sempre que ter algo sobrenatural em tudo que vai, pelo amor de Deus.
- Fique calma, Isa, é só uma historinha de terror. – riu e fez cócegas em sua amiga para descontrair. Porém os rapazes interessaram-se.
- O que aconteceu durante a reforma? – perguntou Vitor, já curioso, pois também venerava tudo que era oculto.
- E por que reformaram? – Diego indagou também já curioso.
- Chega deste assunto – falou a medrosa.
- Fique calma, deixe-me contar. – sentaram-se no chão, pois já estavam todos cansados de esperar.
- Conte logo – os rapazes disseram
- Tudo bem, vou contar, relaxem – Luiza disse franzindo a testa e continuou – Antes de isto aqui se transformar em um parque de diversão, está mansão já estava nessas terras.
- Serio? Quem morava aqui? – interrompeu Diego.
- Vai ficar me cortando mesmo ou vai prestar atenção?! – disse a narradora de forma irritada.
- Desculpa, pode continuar – Diego respondeu revirando os olhos.
- Então, voltando. Antes da construção deste parque essas terras eram de um Lorde muito importante, não se sabe ao certo seu nome, mas sua historia assombrada percorre há séculos. Era um homem muito rico, que chegará por estas bandas com sua mulher, seus dois filhos e mais alguns parentes e muitos empregados.
- Está chato isso – Diego interrompeu novamente.
- Da para calar a boca ou está difícil?! – Victor disse bravo.
- Desculpa, continua.
- A ultima vez em! – disse Luiza, e já voltando a historia – Pode parecer um homem rico, com uma família normal, mas não eram. Sua mulher, Elizabeth, era tudo para ele, muito bonita diziam. Alta e magra, com longos cabelos ruivos e pele bem pálida, tinha os lábios mais rosados já vistos, com olhos tão azuis que até o próprio oceano sentia inveja.
- Parece ser mesmo muito bonita – acrescentou Isabela
- E realmente era – continuou Luiza – mas claro que tinha um pequeno problema, sempre tem. A ganância foi sua ruína, não só dela, mas também, de sua família. A arrogância e o desejo de sempre ter mais e mais, a fez desejar tudo, e seu marido fazia sempre o que era pedido por ela. Assim que pisaram nesta terra, Elizabeth queria que construíssem a maior mansão já existente, queria que fosse tão enorme e exuberante, que até os próprios servos perdessem-se dentro dela. O Lorde, rapidamente ordenou a construção, e sempre que um cômodo era erguido ou um salão de festa era feito, sua mulher perguntava, “Já está pronta?” e o Lorde cego de amor respondia, “A mansão vai estar pronta, quando você disser que está.”
- Ta, mais e daí? – Diego interrompeu novamente.
- Da para se acalmar, por favor, estou chegando lá – Luiza disse nervosa. Isabela estava estranhamente fascinada e não dizia nada.
- Continuando, então. – retomou – Meses passaram-se e nada era o suficiente para aplacar tanta ganância, ao decorrer da construção, trabalhadores cansados continuavam a construir, causando terríveis acidentes.
- Que tipo de acidentes? – indagou Isabela, já com o medo tomando sua mente.
- O engenheiro teve a cabeça perfurada por uma britadeira, três dos trabalhadores foram esmagados por tabuas enormes, o encarregado da parte interna dos cômodos, caiu da escada e quebrou o pescoço.
- Acidentes acontecem. – Victor proferiu rindo.
- Foi bem isso que Elizabeth disse, quando seu marido perguntou se não seria melhor parar a construção. Mas seu desejo de ter aquilo que queria foi maior, até que um dia sua arrogância atingiu a única coisa considerada mais importante.
- Atingiu quem? O Lorde? – perguntou Victor roendo-se de curiosidade.
- Não – Luiza respondeu em um tom sério– atingiu seus filhos.
Via-se lagrimas formando nos cantos dos olhos de Isabela.
- A pequena Kate e o garotinho Enzo, estavam brincando perto da mansão, quando a janela de vidro partiu-se atingindo os dois logo abaixo. Isso foi o suficiente, a dor da perda dos filhos a deixou tão perturbada, que se jogou da sacada, e seu marido angustiado com a perda do amor de sua vida, enlouqueceu, então ateou fogo a casa com ele ainda dentro.
- O cara se matou, certo, mas e os outros parentes e empregados? – questionou Diego, duvidando da veracidade da historia.
- Bem, vamos se dizer que foi encontrado mais de um corpo carbonizado dentro da mansão. – a narradora respondeu com um sorriso irônico.
- Que homem louco, matou todos dentro da casa junto com ele, que horror! –disse Isabela espantada.
- Cada louco com sua mania – disse Victor brincando e deduziu – então foi por isso que o parque reformou a mansão, pois estava queimada.
-Isso mesmo – confirmou Luiza acrescentando – e nessa reforma atual, os encarregados das mesmas funções dos operários daquela época, morreram do mesmo modo e dizem que se consegue ouvir os barulhos dos antigos trabalhadores construindo, pois Elizabeth ainda não está satisfeita.
- E você está achando que vamos entrar ai?! Pode ter certeza que não. Eu vou embora. – falou Isabela já se virando para saída, quando Luiza a segurou pelo braço.
- Pode esperar ai, mocinha. Não é só porque hoje é a inauguração e somos a únicas pessoas aqui, que você vai fugir. – a menina defendeu a situação de forma autoritária. Ao mesmo instante a porta da mansão se abriu.
-Vejo que chegou nossa vez – observou Victor
- Vamos, então – proferiu Luiza, virando os olhos para amiga – Vamos todos, então.
Adentraram em um espaço escuro que cheirava a mofo. Com um efeito bem realista, velas acenderam-se, deixando uma penumbra nas paredes, era realmente enorme, havia um lustre grandioso na sala principal, a porta fechou-se com força, fazendo com que o barulho ecoasse pelas paredes. Bem a frente dos adolescentes seguia um corredor escuro que passava pelo meio de duas longas escadas feitas do que parecia ser puro marfim. Quadros e fotos antigas decoravam as paredes dando um ar mais sombrio a casa. Diego aproximou-se de um dos quadros que havia um casal retratado, o homem estava em pé ao lado de uma mulher de cabelos longos escarlate.
- Essa seria Elizabeth, então?! – deduziu Diego.
- Uma representação bem por cima – comentou Luiza – mas acho que é falso, ate porque quase tudo foi queimado com a mansão.
Isabela já estava arrepiando com o lugar quando interrompeu a turma.
- Acho que devíamos ir embora, o parque fecha as dez e agora faltam dez minutos.
- Talvez seja melhor deixar para próxima mesmo. – finalizou Victor indo em direção a entrada, virando a maçaneta, a enorme porta de madeira não se abriu.
- Acho que está trancada – falou com a voz serrada pela força que fazia tentando abri-la.
- Impossível, acabamos de passar por ai. – disse Isabela, já com o medo crescendo.
- Fique calma, garota – Diego tocou em seu ombro e continuou virando-se para os outros. – deve ser eletrônica, estamos em parque, esqueceram?! Vamos seguir o corredor, a saída deve ser logo ali.
Os rapazes foram à frente, enquanto Isabela estava agarrada a Luiza logo atrás, o corredor era bem mais longo do que imaginavam e um tanto estreito. Havia muitas portas e estava mais escuro a cada passo.
- Com certeza, Elizabeth não sabia o que era luz. – falou Victor, tirando sarro.
A pouca iluminação das velas e alguns pequenos lustres espalhados pela mansão apagaram-se, ruídos de martelos e serras surgiram vindo das paredes.
- O que está acontecendo?– Isabela disse em tom de pânico.
- Fique calma, Isa, faz parte da encenação – disse Luiza, tentando acalmar sua amiga.
As luzes acenderam-se novamente, fracas ainda, mas o suficiente para perceberem que alguém tinha desaparecido.
- Onde está o Victor? – questionou Diego
-Eu não sei, ele estava ao seu lado o tempo todo. – falou Luiza, sentindo uma estranha sensação na espinha. Como se houvesse alguém ou algo, respirando bem atrás de sua nuca. Virou-se vagarosamente, mas não havia nada a não ser o breu do corredor mal iluminado.
- Está tudo bem, Lu?
- Acho que sim; mas enfim, onde o Victor se meteu?
- Ele deve estar fazendo alguma brincadeira para assustar a gente – deduziu Diego sorrindo.
-Acho que devia ligar para ele, antes que se perca. - falou uma das meninas.
O rapaz pegou o celular e chamou, ouviu-se um barulho vindo de um cômodo bem ao lado deles, Isabela já com medo apertou a mão de sua amiga, andaram até o quarto que estava com a porta apenas encostada, a empurraram vagarosamente e encontrando o celular do desaparecido no carpete, era um aposento muito bonito, mas parecia bem castigado pelo tempo. As paredes tinham uma textura diferente como se estivessem em decomposição.
- Mas que droga, o infeliz perdeu o celular – disse Diego, pegando o aparelho do chão e colocando-o no bolso.
- E agora? O que faremos? Não quero ficar aqui procurando um garoto idiota perdido! – disse nervosamente Isabela, cujas mãos suavam frio.
- Faz o seguinte – sugeriu Diego – saiam vocês, que eu o procuro, ele deve estar escondido em algum lugar esperando para nos dar um susto. Isso é bem a cara dele.
As meninas concordaram, virando-se para saída do quarto, surgiu novamente um ruído, porém este não era o toque de um celular, mas parecia algo como vidro sendo quebrado e vinha do banheiro, Diego caminhou com passos leves até a porta meio aberta, colocou os dedos entre a fresta abrindo-a.
- AH! MEU DEUS – gritaram às garotas, Isabela começou a chorar horrorizada, Luiza perdera palavras perante tanto sangue. Diego caiu de joelhos inerte. No banheiro, Victor estava pendurado pelo pescoço por um lençol manchado, com os olhos e o corpo perfurados por pedaços de vidro, agora ensanguentados.
Luiza se recompôs, correu até o banheiro e fechou à porta, tentando aplacar aquela imagem de sua mente, o sangue escorrendo, os membros perfurados, a sensação de dor no rosto de Victor. Sabia que jamais esqueceria. Isabela estava chorando encostada na parede, Luiza ajudou Diego a levantar-se tentando trazê-lo de volta a consciência.
- Por favor, vamos, temos que sair daqui, precisamos procurar ajuda – disse contendo suas lagrimas de terror – Vamos Isa, levante-se, precisamos ir.
Todos saíram do aposento agitados e imersos a medo e lagrimas. Diego puxou a porta e a fechou, encostando-se nela e deslizando até chegar ao chão, colocando a cabeça entre as mãos
- Mas o que foi que aconteceu? – proferiu tão baixo que as meninas quase não entenderam o que era dito.
- Temos que chamar a polícia – disse Isabela, cessando o choro.
- Precisamos sair daqui primeiro, o assassino pode estar aqui ainda – resolveu Luiza, e prosseguiu – mas não entendo o por quê de alguém vir aqui apenas para matar um bando de adolescentes.
- Não importa a intenção desse cara, ou sei lá, temos que sair, não quero morrer aqui também. – concluiu Diego, já se levantando e assumindo a frente do grupo.
O rapaz andou em silêncio todo o percurso, até que chegaram a um ponto do corredor, o fim. Era uma parede que se dividia em mais dois caminhos.
- E agora? Para onde? – Isabela indagou
- Vamos pela direita. – concluiu Luiza
- Tem certeza? – perguntou Diego
- Não – o respondeu
- Que seja, vamos pela direita, então.
Seguiram pelo corredor, o chão era espelhado e as paredes vermelhas, o teto era estofado. Chegaram a um salão espaçoso e com detalhes bem refinados, havia sofás e mesas estrategicamente espalhados, esculturas por todos os lados e tinha muita luz, bem diferente do restante dos cômodos, era tão inacreditavelmente belo, que se esqueceram por um instante do que acontecerá e de onde estavam.
- Eu não acredito que não pensamos nisso – Luiza quebrou o silêncio animada.
- Não pensamos em que? - perguntou Isabela.
- Em usar o celular para pedir ajuda.
- Como somos burros, meu deus – falou Diego colocando já a mão em seu bolso.
- Só pode ser piada. – disse o rapaz com raiva
- O que foi? - perguntaram as meninas
- Sem sinal – as respondeu com tanta raiva que jogou longe o aparelho
- Tente se acalmar. Vamos conseguir sair daqui, uma hora ou outra. –Luiza proferiu de maneira tentando amenizar a situação.
As luzes começaram a oscilar.
- Isso de novo não. – choramingou Isabela, agarrando-se nos restantes.
Uma silhueta surgiu, não conseguiam distinguir o que era, pois a falha das luzes impedia. Novamente ruídos de martelos e serras voltaram a ecoar, as paredes começaram a rachar e escorrer algo que parecia ser sangue, a sombra aproximou mais e mais.
- Quem é você? Fique longe! – gritava Isabela, assustada.
Elas choravam e tentavam se afastar, enquanto a tenebrosa imagemaproximava-se rastejante como um verme.
- Vamos garotas, corram rápido!!! – agitou-se Diego, empurrando-as para a saída do salão. Passaram por mais corredores escuros.
- Isso aqui é um labirinto?! – indagou Isabela, sem saber para onde correr.
As luzes apagaram-se completamente. Todos pararam tentando ver em meio às trevas que parecia ser aquele lugar. Luiza pegou o celular para enxergar onde estava. Uma espécie de sala bem decorada e um tanto pequena, havia quadros e esculturas de anjos medonhos. Diferente do outro salão, parecia ser um cômodo mais reservado para a família do que para um evento.
- Pare de chorar, Isa. – disse baixo e docemente para amiga que estava em prantos, observou a sua volta e questionou– Onde está o Diego?
Isabela diminuiu o choro olhando para os cantos a procura do rapaz, quando de repente algo correu e parou atrás de um móvel de madeira bem desgastado.
- O que era aquilo??? Você viu, Luiza? – disse assustada
- Vi o que? – questionou a outra
- Aquilo passando, não sei o que era, esta ali oh! – respondeu apontando para trás da mesa.
Luiza caminhou até chegar perto o suficiente para olhar. Arregalou os olhos com o que viu, uma menininha abaixada com a cabeça entre os joelhos, pensou em tocá-la, mas mudou rapidamente de idéia quando a criança lentamente levantou o olhar, com seus olhos perfurados e seu pescoço cortado por alguma lamina - ou vidro. Luiza afastou-se calmamente de Kate, o fantasma tornou a se abaixar entre os joelhos.
- O que tem ali? – questionou Isabela, mais curiosa do que com medo.
Colocando o dedo nos lábio a garota incitou o silêncio, Luiza pegou a mão de sua amiga as puxando para fora dali.
A claridade voltou e conseguiram ver que estavam em mais um corredor. Novamente o som de construção apareceu, mas desta vez vinha de um lugar especifico, era um ruído continuo e estridente e bem mais incomodo do que assustador. As duas seguiram o corredor tentando achar a origem daquilo, com a esperança que fosse Diego achando uma saída e não outra coisa. Luzes piscando, deram as mão, Isabela fechou os olhos enquanto sua amiga a guiava. Chegaram à frente de uma porta azul que já estava descascando, havia a letra “E” pintada em branco bem acima da fechadura.
- Quarto do Enzo. – supôs Luiza, em seus pensamentos.
Colocou a mão sobre a maçaneta, enquanto sua amiga ainda de olhos fechados apertava cada vez mais sua mão, abrindo lentamente e rezando para que fosse a saída, o barulho cessou. Era apenas mais um quarto vazio, Isabela abriu os olhos e encantou-se, assim como sua amiga. Era estranhamente perfeito, as paredes tinham nuvens e aviões pintados, no chão havia milhares de carrinhos e bonecos, desenhos espalhados por todos os cantos. Sentiam uma sensação de paz naquele lugar diferente do restante da casa. As garotas não perceberam, mas bem atrás delas estavam as duas crianças mortas em pé. A porta fechou-se com força e então viram. A menina estava com um vestido ensangüentado, o pescoço ainda sangrava e não havia olhos em nenhum dos dois, o menino não tinha as mãos, decepadas na morte, Luiza pensou.
-Vocês vão morrer se continuarem aqui. – falou Kate, com uma voz doce de criança.
- Mamãe vai matá-las se continuarem aqui. – acrescentou Enzo.
- Não conseguimos sair. Não queremos morrer! Nos ajude, por favor! – Isabela disse suplicante.
Luiza estava tão extasiada com a situação que suas palavras foram roubadas.
- Papai não consegue pará-la. – disse o menino novamente.
- Mamãe vai matá-las. – ressaltou a garotinha
Isabela chacoalhou a amiga que a olhou como se tivesse sido despertada de um pesadelo, que se tornou real.
- Por que Elizabeth quer nós matar? – perguntou Luiza, voltando com sua coragem costumeira.
- Mamãe não quer visitante, a casa não está pronta. – explicou Enzo.
- Vão morrer, vão morrer... – Kate começou a falar e o menino a acompanhou, fazendo aquelas palavras ecoarem esquisitas e assustadoras
- Vão morrer, vão morrer – continuaram até Isabela tomar fôlego e perguntar
- Onde fica a saída? Por favor, desculpe, não queríamos entrar. – caiu de joelhos em lagrimas. Luiza a abraçou.
O menino aproximou-se delas e sussurrou de forma diabólica:
- O Victor e o Diego estão aqui com a gente, mamãe os deixou ficar, estamos nos divertindo muito, querem brincar também?
- Diego e Victor? - a valente,questionou. Kate aproximou-se também, os dois estavam tão perto que se pudessem respirar, elas sentiriam.
- Querem vê-los? – perguntou a garotinha com um sorriso no rosto.
- Sim.
Ao lado de Isabela, estava Victor com olhos e membros esfaqueados com vidro e a cabeça inclinada pelo pescoço quebrado, ao lado da outra, estava Diego com o corpo perfurado por uma britadeira. Rodeadas de fantasmas, fecharam os olhos rezando para não morrem ali.
- Pode abrir agora, já foram. – afirmou Luiza
- O que faremos agora, Lu?
- Eu realmente não sei. Se conseguíssemos falar com o Lorde, talvez nos ajude.
- Você enlouqueceu?! Todos aqui são loucos e mortos, agora os rapazes tambémsão parte deles. – disse Isabela quase gritando.
- Então o que você sugere?
- Queimar a casa.
- Vamos morrer. – deduziu Luiz
- Não vamos se ficarmos na porta de entrada. Aquela que não conseguimos abrir, quando a casa desmoronar será mais fácil escapar. – Isabela disse com esperança nos olhos e continuo – mas não sei ainda como podemos queimá-la.
- È simples – explicou Luiza já entusiasmada para sair logo dali – a casa foi reformada, mas muitos dos cômodos permanecem originais pelo fato de não terem sido tão destruídos no incêndio, como alguns banheiros, quartos e principalmente as cozinhas. Onde se tivermos sorte, terá gás.
- Sabe como chegar a alguma delas? – indagou Isabela já se levantando para ir.
- Não, mas se corrermos enquanto as luzes estão normais, vamos conseguir encontrar pelo menos uma.– respondeu Luiza também já em pé
Abriram a porta do quarto, encarando o longo corredor, entre olharam-se respirando fundo, começaram a correr. Passando por várias portas, abriam rezando para não ver nada sobrenatural.
- Não consigo mais correr. – disse Isabela ofegante
- Temos que continuar, sinto que estamos perto.
As luzes voltaram a oscilar. Colocaram-se a correr novamente antes de tudo ficar escuro, até que Luiza abriu uma porta de aço muito frio, quando entraram as luzes ainda piscavam, mas conseguiam ver a pia, a geladeira enferrujada, pratos quebrados e pisos encarvoados pelo antigo incêndio.
- Finalmente - disseram
Puseram-se a procurar rapidamente algo útil para queimar aquele lugar.
- Achou alguma coisa? – perguntou Isabela
- Alguns fósforos, umas garrafas de vinho fechadas e álcool. E você?
- Parece que achei nossa passagem para fora daqui. – disse Isabela sorrindo mostrando o gás a sua amiga.
As luzes ainda oscilavam, mas estavam mais preocupadas com a execução do plano. Espalhando os líquidos inflamáveis pelo chão da cozinha e arrancando as mangueiras do gás, torcendo para que se espalhasse por parte da casa.
- Pegue os fósforos e vamos logo, antes que fique tudo escuro. – disse Luiza derramando a ultima garrafa. Saíram correndo, refazendo os passos para achar a entrada, neste caso a saída.
- Não me lembro de ter passos por aqui. – observou Isabela olhando para as paredes da sala onde estavam.
- Passamos sim, é que você estava com tanto medo que ficou de olhos fechados. – Luiza disse tirando sarro de sua amiga, as duas riram e continuaram. A cada passo apressado à esperança lhes dava a mão, e a felicidade foi por completo quando encontraram a porta enorme de madeira. O cheiro do gás já pairava no ar, andaram até tocarem à maçaneta, olharam-se sorrindo, finalmente iam sair dali. Luiza pegou a caixinha do bolso e a abriu, tomou um fósforo entre os dedos, seu sorriso aumentou e disse:
- Que queimem no inferno.
Isabela assustou-se quando sua amiga foi puxada para o andar de cima por uma força invisível deixando a caixa cair.
- O que foi isso? Você está bem, Lu? – perguntou preocupada.
- Lógico que estou – e riu – são esses fantasmas idiotas tentando me assustar. - antes mesmo de Luiza terminar suas palavras Elizabeth a empurrou. Isabela correu até sua amiga quando a queda foi cessada pelo chão.
Os cabelos vermelhos chicoteavam o topo da escada, olhando furiosamente para o final dela.
- Isa, você precisa sair daqui. – Luiza cuspindo sangue tentando continuar a falar, mas não conseguiu.
Reunindo suas forças ainda chorando, correu até a caixa no chão. Elizabeth desceu os degraus flutuando, a garota não conseguia acender os fósforos, estava em pânico. Quando olhou para cima o fantasma estava bem a sua frente, a menina congelou de puro terror, viu sua esperança ser lhe arranca de sua alma e quando parecia não haver saída, o espírito de sua amiga apareceu, agarrando-a. Dando tempo a Isabela que sorriu e repetindo as palavras de Luiza.
- Queimem no inferno.
Acendeu o fósforo jogando-o no ar, as chamas surgiram rapidamente, subindo pelas paredes e escadas. E antes de partir Isabela sussurrou:
- Obrigada.
E um sorriso genuíno se pôs nos lábios de Luiza, que desapareceu levando Elizabeth com sigo.
Isabela apresou-se a sair quando a mansão começou a desmoronar e derrubou a porta. A fumaça já estava alta e o fogo espalhava-se pelas gramas secas em volta da mansão.
A menina caiu de joelhos em frente à enorme casa que agora, estava tomada por chamas. Sirenes dos bombeiros já ecoavam pelo parque. Isabela estava inerte e quase desmaiando quando um bombeiro a tomou pelos braços.
- Fique acordada! Tem mais alguém na casa?
- Não – respondeu baixo.
O bombeiro a pôs em uma maca, quando um policial se aproximou.
- Por que você estava em uma área restrita?! Esse lugar está fechado para investigação.
- O que? – questionou Isabela, olhando novamente para a casa em chamas, e dentre o fogo, surgiu cabelos escarlate e um sorriso malévolo.
- A senhorita estava em uma área restrita. – reforçou o policial – Quero saber o por quê!
Isabela respondeu ofegante.
- Parece que caí em uma armadilha. – e então, desmaiou.