- Micrônicas
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Flores
Que não soe como se todos eles fossem iguais. Nem que eles realmente sejam. Que uma venda caia nos meus olhos e eu fique cego para toda essa sujeira que tudo é, porque dói demais, porque fica sem graça demais, e isso não pode. Eu mato mais um, mais dois, mais dez, só para que eles não me corrompam. Eu mato cada um para que nenhum deles possa me matar primeiro. Eu esmurro, eu chuto, eu grito e assusto, eu expulso todos. Todos eles feridos, marcados, traumatizados, pobres coitados que se deixam manchar pelo tempo e por outras pessoas feridas. Pessoas feridas que fazem outras pessoas feridas, se tornando uma bola enorme e fétida de gente com suas mágoas que só levam isso a frente. Eu tô fora. Tô fugindo por mim, por alguém que valha alguma coisa. Tô fugindo de todos esses espinhos que eles soltam, com a finalidade de que eu chegue intacto nas pessoas reais. Eu tô fugindo, pois eu me lembro de quem eu fui. Eu ainda me lembro de todos os meus sonhos. Sonhos impossíveis, se eu me corromper. Sonhos inexistentes, se eu cair na lama deles. Já me machuquei um trilhão de vezes com todas essas pessoas, e, me diz, nem parece, né? Olha pra mim. Eu tô novinho em folha. Tô pronto de novo. Pode vir, pode vir qualquer coisa. Não é isso, Deus? Viver não é isso? Viver é cair. Em algum lugar do mundo alguém de verdade existe. Em algum lugar do mundo alguém brilha. Eu procuro esse alguém todo santo dia até mesmo nos lugares mais sujos. Soube que fllores também nascem no lixão.
O mundo é um lixão gigante e com pouquíssimas flores.
Atualizado em: Dom 3 Abr 2016