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mais de dois meses

Romero espiava Leonardo. Sabia e cuidava de todos os passos que Leo dava ou daria. Conhecia como ele caminhava, quando estava com pressa, quando estava perdido, quando estava de qualquer modo. Este pobre coitado escrevia cartas para Leonardo. Mesmo que era ignorado. Era tímido. E tinha medo de que fosse recriminado e debochado em relação a seus sentimentos. Sentimentos idiotas.

Ele era idiota de ficar toda hora pensando em como seria se Leonardo fosse seu companheiro. Se eles se conhecessem e fossem mais que amigos. Que fossem amigos. Imaginando em como seria quando ouvisse a voz de Leonardo projetada em sua direção. Queria conversar com ele, mas tinha sempre acabava por ressentir-se. Medroso que aquilo não era para ele, esse sentimento era errado e dissimulado. Indevido. 

Romero estava sozinho nessa ocasião. Estava sozinho nesse lugar. Acabava de se despedir da solidão e foi-se para um lugar novo e desconhecido. Local esse que teve decepções e continua a ter. Também nesse lugar que conheceu Leonardo e tempos mais tarde, mudou sua visão para com ele. Entretanto nunca trocaram uma palavra. Um toque. Um sorriso, nada sequer relacionado aos dois.

Já são mais de dois meses.

As únicas músicas escutadas de Romero são melancólicas. Melancolia é seu estado de espírito atual. Ele quer seus amigos, mas estes estão mais distantes que qualquer coisa que o possa fazer bem.

Nem pedindo a algum ser divino, nem fazendo promessas. Nem fazendo nada Romero consegue ter de alguma maneira Leonardo. Já pensou em coisas mirabolosas. Atos que foram pensados irracionalmente, mas nunca chegaram a se concretizar. Por serem irracionais mesmo. Sorte de Romero que é racional no mundo real, e deixa seus surtos para dentro de si. Em segredo, que somente ele e ele mesmo sabem.

As palavras se perdem e ele não consegue sarar seus sentimentos. Se exausta sem fazer nada. Sozinho com seus fones de ouvido tenta esconder tudo que sente e quer fazer, quer ter.  No volume máximo atrapalha seu cérebro de pensar em Leonardo. Palavras novas chegam e o machucam de tal forma e querer cair, onde estiver e chorar esperando sua mãe chegar e lhe der um beijo.

Tentou comer chocolate até seu estômago explodir, querendo que seu coração explodisse junto. Que seus sentimentos se perdessem no infinito. Na escuridão. No breu do esquecimento. Dentro do baú, junto de suas ideias malucas e outras paixões que parecem menos opacas e mais fortes que essa.

Talvez isso sejas uma paixão de adolescente. Paixão que hoje dói e amanhã será divertido. Por outro lado, o amanhã nunca chega.

Ele acredita que é mais fácil que essa paixão se realize do que ela tenha um fim.

Romero não enxerga nenhuma luz. Nenhuma salvação se não Leonardo. Leonardo é a solução de Romero. Apenas ele poderia salvar Romero.

Enquanto Leo não saber da existência de Romero, este acabará por morrer aos poucos e doloridamente. Com cada batida do coração, um fio de sua alma se soltará de seu corpo e flutuar sobre o vento. A alma de Romero irá sentir-se com a leveza de uma nuvem e a beleza de uma pluma. Se moverá com a facilidade de uma bola de sabão, só que muito mais resistente e bonita.

Por fim Romero poderá morrer infeliz. Sem sentir o toque mágico de Leonardo, tão idealizado e desejado. Sem ter a maior alegria que almeja em seu futuro próximo, que jamais se sucederá. Quando derramou suas doces e venenosas lágrimas, pela existência de Leonardo, rompeu com a vida, como tivesse propriamente cortado seus pulsos, e fechou seus olhos a última vez que pode. Seus olhos nunca mais se abriram e nem abrirão. 

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Atualizado em: Seg 17 Out 2011

Comentários  

#1 nettoandrade 05-04-2012 20:07
Tão triste, mas é assim mesmo que muitas vezes acontece. ;-)

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