- Sonetos
- Postado em
OS SETE SINOS
Sete velhas cegas, à roda de uma fonte,
nas brumas frias de um jardim abandonado.
Um prisco vislumbre de horror mudo estampado
em cada rosto, sem que nada as amedronte.
A falta de ecos faz do silêncio insonte
o cúmplice venal de um jamais explicado
crime equívoco, cujo réu jaz, aterrado,
à espera do dedo inquisidor que o aponte.
Lá no fundo imóvel da água, sete sinos
guardam os naufragados gritos de cada hora.
Três já soaram, pela manhã – três, à tarde.
Quando a derradeira campa toar, sonora,
as velhas, com a indiferença dos assassinos,
virão buscá-lo, sem que nada as retarde.
Atualizado em: Dom 7 Fev 2010