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O velho João.

Lembro o momento exato em que o apresentador daquele programa da tarde que mostra a violência urbana falava do homem que havia agredido algumas atendentes de um Poupa Tempo, um posto de serviços estaduais que tem o intuito de facilitar a retirada de documentos e outros serviços relacionados com os governos municipais, estaduais e federal. De certa forma ele  defendia o homem que perdera a cabeça e partindo para a violência contra as atendentes, mas na mesma sentença ele pedia que as pessoas não tomassem essa atitude por que não valia apena e que cometer a barbárie do suicídio, o prejudicado seria o “cara” que cometeu o suicídio e nem o estado e  a atendente que o chamou de “burro”  seriam prejudicados com isso.
    Ele tinha razão, mas eu me perguntei qual é o limite de um ser humano. Quando um ser humano explode, porque implodir, muitos implodem ficando doentes e vindo à morte, mas e explodir, qual o limite.
    Lembro da declaração do filho do seu João dizendo que seu pai ficara trinta dias rezando para o filho de um vizinho se recuperar de uma doença. O pai do menino que ainda trabalhava, ao contrário do João que já era aposentado, não podia ficar todos os dias com o filho e João então com seu coração se dispôs a ficar todos os dias com o menino. João não era um anjo, era um homem comum e que tinha seus desafios diários, seus problemas, mas também suas alegrias, como um ser humano qualquer e sabia que as vezes as pessoas acordavam de pé esquerdo e por isso sua paciência com os demais era grande.
    Aprendera de sua avó que quando um quer dois não briga, que todo mundo erra e entre outras coisas que o tornara um humano mais justo e honesto, o que tem sido difícil nos dias de hoje.
    Mas naquela semana, depois de ficar quase todo o ultimo mês no hospital e correr com tudo o que o menino precisava e muitos dos seus amigos o atormentarem dizendo que ele por ser um homem bom, ele iria sofrer demais e entre um dos que sempre dizia isso era seu irmão mais novo, que sempre dava certo nas trapalhadas da vida que ele levava.
    João, evangélico dizia que ele só devia suas contas para Deus.
    E por muitos anos João sofreu com suas boas ações, quantas vezes ele não fora enganado por pessoas que ele acabara de ajudar?
    E quantas dessas pessoas em vez de agradecer o chamou de trouxa?
    E João só devia sua conta para Deus.
    Sua primeira mulher separou dele porque João ajudou um amigo em apuros com crianças pequenas e que acabara de perder tudo em um enchente e o emprego. Ela sempre dizia que Deus nunca iria lhe agradecer e nem mesmo ia dar obrigado por aquilo que ele fizera, e mesmo João dizendo que faria tudo de novo e não por Deus e sim pelo amigo, ela o deixou e ele teve que praticamente começar do zero.
    Mesmo vivendo de aluguel no fim de sua vida e após muitos anos de trabalho e apenas um de seus filhos convivendo com ele, João sempre ajudava os outros filhos o marido da atual da ex-esposa e a ex-esposa, mesmo a viúva, sua ultima esposa não concordando. Ela dizia, ajudar sim, ser bobo não. Mas João devia as suas contas a Deus.
    Naquela semana João acabara de ajudar sua filha a entrar na faculdade, pagando metade de um ano de mensalidade, e mesmo assim em vez de ela agradecer, a jovem agrediu o pai por que ele, sem dinheiro não poderia ajudá-la com a compra de uma motinha para ela ir à faculdade.
    A segunda bordoada foi ao entrar no mercadinho da vila para comprar um saco de pão e quando ele pediu que o filho do dono do mercado marcasse, e com toda a frente do mercado cheio de amigos de seu João o jovem gritou que o seu João pagasse a conta que ele devia, pois seu pai não era obrigado a sustentar um vagabundo.
    Houve alguns que quiseram interceder pelo velho João, mas João com sua calma pediu que os amigos se conte-se e dizendo ao rapaz que fizesse a conta e ver quanto ainda ele devia, para poder pagar a conta.
    Ao termino da conta, João devia fora o pão pouco mais que trinta reais. João tirou os cinquenta que ia emprestar para seu irmão pagar uma conta, esperou o troco e sem falar nada saiu com o pão e foi para a casa, ia se vestir e ir para a cidade onde ia pagar as contas usando o seu salário, já que a sua esposa, mesmo trabalhando não pagava se quer uma conta da casa.
    Ao subir no ônibus o motorista que era novo na linha disse que se ele não pagasse ele não iria levar nenhum vagabundo. João pegou o cartão passou a catraca e seguiu a viagem até a cidade com o motorista contando o feito de ter dado uma dura naquele vagabundo.
    A chegar no banco foi direto na boca do caixa para pegar seu pagamento e após receber ele saiu para pagar suas contas, mas um “mão leve” roubou-lhe todos os documentos e a carteira com todo o dinheiro dentro. João ficou horas na delegacia para fazer um boletim de ocorrência. Após o termino da queixa, ele foi informado pelo gentil policial que ele deveria ir até a agencia do Poupa Tempo no outro dia e tirasse novos documentos, mas o dinheiro ele tinha perdido.
    Sem dinheiro para a passagem e com o medo de usar o seu direito de andar no ônibus de forma gratuita, João acordou cedo e andou pouco mais de dez quilômetros para chegar até a agência. Levando o boletim de ocorrência e o endereço que ele morava e algumas fotos, João entrou na agencia pediu informações e foi encaminhado até uma atendente. A primeira pergunta que ele fez a João era se ele estava acompanhado, ao dizer que não a moça torceu o nariz e disse “haja paciência”.  A segunda foi o que ele queria e ele disse – “Bom dia” e ela respondeu, “só se for para o senhor”.  E ela peguntou novamente o que ele queira, desta vez quase gritando, ele disse: “Tirar novos documentos.” Ela lhe deu um papel de custos para o novos documentos, os documentos exigidos e o tempo de espera e ele calmamente disse, mostrando o boletim de ocorrência. “O policial disse que tinha que trazer isso aqui para eu não pagar nada.” Ela riu e disse “Mais um pobre,” E ele não deu atenção e logo em sua mente veio aquele conselho de sua avó, nem todos tem alegria de vida que você tem então tenha paciência com eles. E ela esperando que acordasse do seu sono moribundo disse: “O senhor pode ter o tempo que quiser por que é velho, mas as outras pessoas não tem então pague a taxa e volte com esses documentos.” E ele sorriu e disse: “Não, acho que você não entendeu, eu fui roubado e por isso eu não preciso pagar nada.” E ela. “Quem trabalha aqui, eu ou o senhor? Eu sei mais que o senhor, então pague a taxa e depois volte aqui.” Quando ela terminou de dizer isso todos os que estavam no andar olhavam para eles, pois ela gritava.
Ele olhou para ela e disse: “Tem alguém que eu possa falar para resolver o meu problema? Eu não tenho dinheiro porque fui assaltado.” Ela sorriu e disse: “O senhor é um vagabundo e quer que o estado de as coisas de graça para o senhor, se de o respeito,” Ele olhou para ela e pediu com as mãos os papeis que tinha dado a ela e começou a levantar e então uma pessoa se aproximou deles e perguntou o que estava havendo. Ela disse. “Esse velho burro aqui não entende nada do que eu disse.” Antes da mulher que se aproximou para intervir de qualquer forma, mesmo que fosse para repreender a atendente ou concordar com ela, o rosto da moça que chamara o velho João de burro fora lançada contra a mesa pelo senhor de oitenta anos, quando ela caiu no chão a mesa estava cheia de sangue, a mulher que ia intervir tentou pará-lo mas foi golpeada com um teclado na cabeça, o segurança que tentou segurar o velho João tomou uma cadeirada no peito e caiu e quando todos assustados pararam para ver o velho João bufando ele voltou a si e viu o que fizera e entrou em pânico e correu tentando fugir dali, mas perdido naquela visão das pessoas caídas e sangrando a sua frente, em vez de descer, ele subiu para o ultimo andar e com medo de ser preso e envergonhar sua falecida mãe, no seu desespero quebrou a janela e quando se viu cercado de seguranças com cassetetes na mão e não que eles fosse usar, ele olhou para janela e pediu desculpa para sua mãezinha e saltou caindo sobre alguns fios de  força sendo eletrocutado e depois no asfalto e sendo atropelado por um caminhão que passava ali.
    Quando perguntado aos atendentes o que acontecera, eles em coro disseram que o homem era louco, mas a população local disse que a atendente o humilhara na frente de todos, ofendendo e fazendo pouco caso dele, com um pouco mais de aperto a jovem disse que tinha brigado com o namorado a noite e por isso “poderia” ter falado algumas coisas para o “velho”, e quando perguntado a um policial o que ia acontecer com ela, ele disse que ela não se preocupasse que falta de educação não era crime, mas que ela poderia perder o emprego ou ser transferida para dar um cala-boca na população. Nem uma coisa nem outra, como ela não teve qualquer culpa e ainda foi agredida e para não processar a empresa, ela foi promovida.
    Enterrado como suicida e sem direito a palavras de seu pastor, pois o via como um fracassado, nem mesmo na morte ele recebeu as bençãos de Deus.
    Quando perguntaram como era aquele homem, os que o conheciam diziam, que ele era bom e gentil com todos e que ele em um momento de raiva perdeu a cabeça.
    A única pessoa que foi honesta a essa pergunta foi sua ex-mulher, que disse. “O velho João era doce como uma criança e inocente na sua forma de ver o mundo. E ele não se matou porque alguém o desrespeitou, e sim porque ele machucou alguém. Acredito que ao ver o sangue da jovem e o que ele fez, ele na sua consciência imaginou que ele era o culpado de tudo aquilo e numa triste decisão, cometeu essa barbárie. Nesse mundo senhor, só os tolos são bons e justo.”
    
    

    Indiferente das linhas que escrevi, em todos os serviços sempre a gente de qualidade e que acreditam em um atendimento humanizado naquilo que cabe o seu setor e sua responsabilidades, muitas vezes a empresa que gerencia o serviço de atendimento omite detalhes dos atendentes para que os atendidos não conheçam seus direitos e não possam os procurar na justiça.
    Muitas vezes a própria gerencia não conhece que as vezes uma negativa ou um serviço negado pode ter um recurso em outra instância e que não cabe a eles dar a ultima palavra se o atendido questiona aquela negativa, cabe ao atendente orientar o que o atendido deve fazer e mais do que tudo, as empresas devem humanizar os atendentes para que eles possam preparar de forma mais fácil uma negativa.  As vezes é com aquele dinheirinho que a pessoa conta para pagar as contas e com aquele dinheirinho que ele vai abrir seu negocio e com um dos defeitos que temos em antecipar as coisas antes que ela aconteça,  visualizamos aquele dinheirinho em nossas mãos, e mais ainda quando temos certeza de que ele é nosso, como era o meu caso que após ser demitido em 22/06  e depois de greves do funcionários do Ministério do Trabalho e dos bancários fui descobrir que eu perdi o direito do seguro-desemprego porque eu deixei passar 120 dias do dia que fui demitido. Se não me engano, a atendente disse: “O senhor perdeu o seguro-desemprego porque o senhor deixou passar os 120 dias do dia que foi mandado embora.” Você leitor sabia disso? Quantas pessoas sabem disso? Palavras como o senhor perdeu  e porque o senhor deixou implica que o senhor no caso eu sou um burro e imbecil que deixou os 120 dias passarem,  comente se eu estou errado.
    E eu que trabalhava com pessoas que trabalhava no atendimento a clientes vinha como as vezes eles atendiam pessoas de forma que quase sempre gerava algum tipo de resultado negativo.
    Ou seja,  não acho que a bela jovem atendente e a moça que a ajudou ela a tentar me explicar o inexplicável seja culpadas ou tenham feito isso de má-fé, e se foi na cabe a mim julgá-las e nem mesmo recorrer a um ouvidoria, porque simplesmente eu tenho visto quase todo o tipo de atendimento humano da mesma forma. Há pessoas e a há momentos que pegamos pessoas que daria vontade de conhecer por serem muito educadas, mas a grande maioria das vezes nos iremos pegar pessoas que, espero eu, tenha tido um dia péssimo e tenha nos tratado mal e as vezes de forma má educada, por que, espero que as empresas e os lideres e chefes se trabalharem com pessoas que são mal-educadas e grossas devem entender que aquele serviço não foi feito por aquele pessoa.
    
    Eu escrevi esse texto, não baseado no que me aconteceu no dia que eu fui até a agência, se eu tive que fazer uma reclamação delas, teria seus nomes e teria dito ao ouvidoria da agência. Mas foi em uma farmácia de auto custo que ao ouvir o tratamento ríspido que uma atendente fez um senhora, comecei a lembrar de todos os fatos e que pessoas comuns perderam suas racionalidades e partiram para as vias de fato. Não concordo com isso, acho que deveríamos ter um canal serio e
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Atualizado em: Qui 5 Nov 2015

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