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Sessão Curuja

      





sessão curuja


      Passeio, viagem. Era uma modesta noite. Setembro de 2017, na cidade de Ouro Preto. Chegávamos de viagem, para conhecer a suntuosa cidadela com suas fortificações coloniais. Era plácida; sobrados, lampiões, treliça nas janelas que mantiam o oculto. Ar de mistério! O que se passava por detrás dos patrimônios de pedra e cal? Na verdade é uma incógnita que por mim não será revelada. Apreciava como estrangeiro, que só percebe o quão formosa era a cidadela.
 
       Alojamo-nos em uma dessas construções velhas, eu e mais um grupo de amigos, dividíamos o mesmo quarto. A velha casa contava com inúmeros quartos, banheiros, oratório e uma singela sala de conversação. A última foi apreciada até o último instante pelo grupo.

       Bebidas, cigarros e uma bela vista - Parecia que a igreja brotava da mata em um ponto alto da cidade. Uma amostra de quão é soberana a igreja sobre os pecados dos homens? Não sei. Falava-se de disputas de irmandades - E como pareciam ser religiosas essas irmandades. Havia inúmeras igrejas e talvez nem houvesse lugar para o pecado.
      
       Já passava das onze da noite, o silêncio tomou conta da casa. Já não era permitido ruídos ou sons de conversação. Aproximava-me da porta. Foi então que no silêncio da noite em meio a escuridão, veio ao meu encontro, uma mulher... uma mocinha! Não era bela, nem feia, aparentava vinte e dois anos, magrela, pele clara! Sorriso? Havia, de forma simpática. Entrelaçava os dedos... passava as mãos no cabelo... Reconheci-lhe as feições, era a garota da recepção, com quem horas antes tive uma prosa.
      - O que está fazendo aqui?  Não quer se divertir? Todo o grupo de pessoas com quem chegou, acabara de sair!
Respondi-lhe:
      - Estava pensando na vida! Reconheço que a cidade dispõe de muitos artifícios, que garantam diversão. Inclusive frequentei a Igreja do Pilar horas antes.
      - Ahh entendo, também és devoto de fé e não frequenta bares! Mas temos outras coisas! Lanchonetes e pessoas novas a conhecer! Ou jaz comprometido com outros amores?
     
       Modesta foi a pergunta, desassossegado eram meus pensamentos, já estava longe de casa... longe dos amores. Não lhe pude ao menos responder, tornaram a chamá-la na recepção. Mas antes de partir, aconselhou a assistir TV, para que o sono chegasse.
     - Se quiser ligar o televisor, pode assim fazer, mas já são horas, não permita que o som perturbe os demais hóspedes.
      
       Dizendo isso, sumiu na escuridão do corredor, pisando levemente sobre o assoalho. Restava-nos ali eu, televisor, um velho candeeiro e um livro que contava a história de um caboclo negro, Chico Rei. Que era diariamente lembrado pela memória dos cidadãos locais. Entre os passos curtos dentro da sala optei por me acomodar, sentei-me e liguei a tv.
        
       Colocando o volume quase no mudo, dava pra escutar até melhor o tic-tac do pendulo de madeira suspenso no fundo da sala. Trocava olhares entre tv, as obras nas paredes, que pela luz fraca do abajur se tornavam ainda mais fúnebres junto a chuva que caía do lado de fora.

       Passeava entre esses meios. Já estava assonorentado, olho aberto... outro mais fechado... entre uma soneca e outra, notei que não estava sozinho... uma cabocla mestiça. Assustei-me, de modo que despertara a vê-la melhor. Olhos escuros, cabelos negros... cacheados. Era formosa! A mim não dirigiu uma só palavra, mas contentava-me em tê-la como companhia. Comecei a ter com ela pensamentos. Frenesi. Ela sorria e se movia. Meu sono ali acabara. Apesar de não oralizar, nos entendíamos apenas pela maneira de olhar. Foram-se tempos e tempos. Sua maneira de se mover, o balançar daquela corpo moreno e sereno me cativava e à medida em que me tocava, ainda mais jorrava.
 
       Ahh... e assim foi. E, eis que então, entre o corredor escuro do casarão, ressurge a mocinha que por fim, me mandou desligar a televisão!
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Atualizado em: Qua 7 Mar 2018

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