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Tony Curtis brasileiro.
Pessoal,
Essa é a sinopse da verdadeira história do Tony Curtis brasileiro que eu tive que interromper por motivos tributários.
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1.80 de altura, corpo distribuído como manda o figurino, bonitão, cabelos negros encaracolados, olhos muito azuis e nem um pingo de barriga.
Boa pinta é apelido.
Ele foi famoso na sua região como o Tony Curtis do serrado brasileiro. O cara mais bonito que apareceu em Barra da Corda, perto de Carinhanha no interior da Bahia.
Ele já foi estudado por antropólogos de todo mundo. Saiu em revistas médicas em Estocolmo na Suécia. Como se o cara fosse uma aberração ou produto de algum aventureiro sueco metido nos rincões morubixabas. Nunca confirmados.
Mandaram uma delegação estrangeira conhecer seus pais e o ambiente que ele vivia. Os delegados ficaram alarmados!
Não podia ser verdade. Como pôde nascer um Adônis, devoto do Padim e do Virgulão, em pleno sertão.
Chegou à cidade de São Paulo aos 30 anos. Realizando um sonho de menino. Como os americanos sonham um dia chegar a Hollywood.
Começaram esses sonhos, quando era ainda um menino, com as lindas histórias contadas por conterrâneos vindos de São Paulo para visitar a família, aproveitando as férias de 10 anos de trabalhos forçados na paulicéia acolhedora e divertida.
Dinheiro, carros e mulheres de montão etc. Ele viajava nas imagens e nas aventuras contadas. Ou seriam apenas cascatas para amenizar a frustração do sonho ainda não realizado desses queridos desafortunados?
Um dia ele partiu para despertar do sonho.
É que depois que cresceu e ficou famoso na região como o Tony Curtis do sertão, ele foi escolhido pela equipe de filmagem do Guga da Blimp Film para ser o coadjuvante principal do Antonio Conselheiro no filme “Guerra de Canudos” – o que mais saia nas fotos ao lado do Messias dos desesperados.
Como o Getúlio, da produção do filme, estava utilizando como cenário um local perto de onde morava o Tony, uma espécie de Vale do Jequitinhonha...
Com a sua interpretação exaustívamamente dublada até que ele, o Tony, não se saiu mal. No nível de alguns filmes do cinema nacional.
Quando, enfim, chegou a São Paulo foi tomado por uma tamanha síndrome do pânico que não conseguia sair da rodoviária do Tietê.
Dois publicitários, que tinham horror a aviões, e, desembarcavam na rodoviária, vindos de Porto Alegre, foram avisados da aflição do Tony, pelo motorista particular que os esperava, e resolveram ajudar.
O motorista dos dois jovens bem sucedidos conhecia a fama do parceiro do Robert De Niro e do Robert Mitchum no filme “The Last Tycoon”, do livro do Scott Fitzgerald’s, dirigido pelo senhor Elia Kazan.
Conhecia o Tony por ter visto o filme “Canudos” e era da mesma região do Tony. O motorista dos criativos conhecia a sua história de galã do sertão.
Instalado em um pequeno apartamento nos fundos do casarão em Higienópolis, onde funcionava a agência do Carlinhos Ziegelmayer, ficou trabalhando de porteiro da recepção.
Com direito as seguintes linhas de texto: - Bom dia! Boa tarde! Boa Noite!
Mais nada.
Vivia Feliz até começar a ver os filmes do Tony Curtis verdadeiro no videocassete que tinha recebido de presente dos patrões.
Como o Tony verdadeiro vivia aqueles lindíssimos papéis (em “Acorrentados”, por exemplo, com o impecável Sidney Poitier) começou a achar pouca aquela vida descolada de funcionário de Agência de Propaganda de São Paulo.
Começou a se achar um Tony Curtis de verdade. Decidiu, iria ser artista de cinema pra valer.
O máximo que conseguiu foi filmar com o grande produtor Palácios, da Boca Do Lixo, fazendo figuração para a Vera Fisher, em um filme com direção do Galileu Garcia ou do Clemente Portela, não lembro, e algumas participações em filmes publicitários, sem fala.
Nem fala!
Terminou sua carreia cinematográfica na equipe de apoio de outro filme do Guga de Oliveira – “Som Alucinante”.
Comentários
Falou, Rackel! abração.