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Teoria da relatividade dos acidentes e mortes no trânsito

As páginas de notícias da Internet anunciam:

"Número de acidentes nas estradas estaduais aumenta 125% durante o Natal de 2008".
"Diminuem acidentes nas estradas estaduais no feriado do Ano-novo".
"Diminuição em ocorrências no Reveillon: 33 acidentes/03 mortes".
"Registra menos acidentes no Ano Novo do que no Natal".
"Acidentes no carnaval aumentam 20% em relação ao número registrado no feriado de 2008".
"Mais acidentes e mortes no carnaval em SP"
"Acidentes em estradas paulistas aumentam no Carnaval deste ano; 42 morrem"

É louvável a cruzada contra os acidentes de trânsito. É condenável a má interpretação dos dados estatísticos. É condenável o uso desta cruzada para autopromoção de políticos, na base da magia e do encantamento. É condenável o aumento da arrecadação com multas exorbitantes usando o "argumento forte" de que o número de mortes nas estradas é alto. Sim, há acidentes nas estradas e há mortes no trânsito, mas está havendo alarmismo e vem aí um Código de Trânsito com multas exorbitantes. Aumentar multas sem aumentar a fiscalização das Leis é mero mecanismo de arrecadação! Uma lei inconstitucional deve ser escrita com minúsculas! O cidadão que aceita leis inconstitucionais, por quaisquer motivos, está sujeito a eleger didadores!

Não é aceitável também ler a Realidade com sofismas para afirmar que houve diminuição ou aumento de acidentes ou mortes no transito para justificar uma lei inconstitucional. Interpretar dados estatísticos de forma superficial apenas desmoraliza a lei seca, já que a sua inconstitucionalidade não a desmoralizou. Como? Chegaram as festas de fim de ano e com elas as mortes nas estradas. Houve diminuição de 5% das mortes em relação ao ano de 2007, diz um repórter. Houve diminuição de 23%, grita outro! Sim, foi noticiado na Televisão e assim todos devem acreditar! Só que é mera prestidigitação com os números.

Como a divulgação precipitada de que houve diminuição de acidentes com a lei seca é preciso cuidar para não virar piada. Está virando, agora no Carnaval-2009, quando a variação dos números dá a impressão de que houve aumento. Dizer que houve uma diminuição de 5% de mortes nas estradas ou houve um aumento de 20% é interpretação incorreta da realidade, houve apenas uma variação do número de acidentes e do número de mortes. Prova-se numericamente. Tomemos os números relativos aos acidentes com mortes ocorridos de 1991 a 2007 no Rio Grande do Sul, [1] estes reais, e os devidos anúncios na Televisão:

1991      1992      1993       1994       1995      1996      1997      1998       1999
..303        289         278          271         283        348        356         304         300
.....0        -14          -11             -7           12           65             8          -52           -4
.....0           -5            -4             -3          +4        +23          +2          -15          +1



2000      2001       2002      2003      2004     2005      2006       2007
..300        310          354        376         413       357         325        335
.....0          10            44           22           37        -56          -32          10
.....0          +3         +14           -6           10        -14            -9          +3

Ano a ano, os responsáveis pelo Trânsito foram à Televisão anunciar o resultado de suas campanhas contra os acidentes e as mortes de trânsito e passaram aos jornalistas a informação de que o número diminuiu, diminuiu, diminuiu, aumentou, aumentou, aumentou, diminuiu, diminuiu, manteve, aumentou, aumentou, aumentou, aumentou, diminuiu, diminuiu, aumentou.

Anunciar que 5% de diferença é diminuição de acidentes é precário, pois basta dar uma olhada na tabela para que todos se lembrem da piadinha do pisca-pisca:

- Vou entrar no carro, ligar o pisca-pisca e você vai ver se está funcionando, de acordo?
- Funciona! Não funciona! - Funciona! Não funciona! - Funciona! Não funciona! - Funciona! Não funciona!

Esquecem-se, também, de que 10 mortes em relação a 100 veículos é 10%, em relação a 200 é 5%, em relação a 400 é 2,5%, e assim por diante. O repórter diz na televisão que, findo o Carnaval-2009, os acidentes aumentaram 20% em relação ao número registrado no feriado de 2008, mas os acidentes foram de menor gravidade e o número de mortes diminuiu de 128 para 127, levando-se em consideração que houve aumento da frota". Em 17 anos de coleta de dados estatísticos nota-se que houve, em uma malha rodoviária, uma variação de zero a 23%, ano a ano, no número de acidentes com morte, e que 5% e 20% estão contidos neste intervalo. É não respeitar a inteligência do telespectador dizer que acidentes de menor gravidade produziram um número elevado de mortes, o mesmo número de mortes que o ano passado. Em Estatística 128 é igual a 127, da mesma forma que 5% é igual a 23%, neste tipo de tabulação númerica de eventos. Os eventos de trânsito, acidentes, mortes, feridos, produzem números que não são aleatórios, mas tantas as variáveis que se comportam como se o fossem. A análise dos dados é histórica, nunca se pode assinar uma Lei em um momento e no momento seguinte anunciar que A LEI SECA SURTIU O EFEITO A QUE SE PROPÔS justificando sua manutenção apesar de ser inconstitucional. Quem já se esqueceu de que isto foi falado aos quatro cantos do país?

A análise dos dados coletados em 17 anos no Rio Grande do Sul permitem levantar a hipótese de que, mesmo com o "aumento" de 20% havido no Carnaval, os acidentes e as mortes de transito sofreram históricamente uma diminuição considerável. As estradas pioraram e muito. A frota de veículos aumentou e muito. O número de véiculos nas malhas rodoviárias nos feriados prolongados aumentou e muito. O poder aquisitivo do povo permite ter carro e nele viajar para o litoral, onde quer que se esteja.

Há uma outra variável que não tem sido levada em consideração com o respeito que se deve, o respeito que se deve ao cidadão brasileiro: a mudança de comportamento não reconhecida em afirmativas de que o brasileiro não se educa para o trânsito, que as campanhas não surtem os efeitos desejados. Um número significativo de motoristas mudou sem comportamento no trânsito durante todos estes anos: quantos? Os órgãos responsáveis não sabem dizer. Apenas, com o argumento de que o motorista brasisleiro não muda o comportamento, aumentam o valor das multas e fazem leis inconstitucionais, criam a exigência de novas aulas de direção, o que apenas aumenta o ganho das auto-escolas e é absolutamente discutível se modificará o comportamento no trânsito! É bobagem de superficialista! Acidentes e mortes no trãnsito ocorrem no mundo todo e o mundo todo não é habitado por brasileiros, muito embora haja quem afirme que Deus é brasileiro. Há uma absoluta falta de respeito a todos os que durante todos estes anos já modificaram seu comportamento no trânsito, o que é desestimulante a que todos se empenhem em se reeducar para o trânsito!

A cruzada contra os acidentes de trânsito parece mais uma guerra santa! O novo Código de Trânsito não afetará a dinâmica dos números de acidentes e mortes nas Estradas! Está prenhe de premissas falsas. Como pode fazer esta afirmativa, seu seu ignoto? Falou-se em fazer a lei seca dos medicamentos, pois alguém em uso de medicamento morreu em acidente! É coisa de quem não entende do riscado, não entende de medicamentos e não entende do funcionamento bioquímico do organismo humano. A lei seca dos medicamentos deveria levar a proibir de direção todos os que usam medicamentos, ou seja, somente os sadios podem dirigir veículos automotores. Meu Deus! Isto cheira a eugenismo!

Está havendo um trabalho de superficialistas, que analisam mal os dados de que dispõem e não sabem criar outros dados necessários à segurança nas estradas. A cruzada contra acidentes de trânsito é alarmista e parece estar fundamentada na busca de perfeição do motorista, mas... Todos, todos os motoristas humanos, mesmo os que já modificaram seu comportamento no trânsito, um dia cometerão infrações e receberão multas altíssimas. Porque se pode afirmar isto? Porque este negócio de perfeição do homem é balela religiosa, o homem ainda segue a lei "errar é humano", e esta lei ainda prevalecerá quando o mundo for habitado apenas por robôs fabricados à semelhança do homem.

Multas altíssimas podem ser impagáveis, multa não paga impede a renovação da carteira! Então, por que não tirar de imediato a carteira de quem se envolve em acidentes? O PAÍS PARARÁ!

É uma guerra santa que esconde a realidade dos acidentes nas estradas brasileiras: a parcela de culpa das estradas, e como diz Paulo Henrigue Lobato na reportagem de O Estado de Minas, de 01/03/2009, "a necessidade de investimentos em infraestrutura e não apenas na conscientização dos motoristas". A reportagem não fala, mas fica implícito, as mazelas das rodovias brasileiras, "o modelo das vias brasileiras está falido", anula toda e qualquer preocupação com reflexos diminuidos por causa de um pequeno teor de álcool no sangue dos motoristas. Como? O homem precisa de seus reflexos afinadíssimos em situação de risco, e, em situação de risco, as rodovias oferecem poucas alternativas. Percebido o risco de colisão, as rodovias oferecem ao motorista opções do tipo, bater de frente, bater de lado, jogar o carro em uma ribanceira, jogar o carro em um matagal sem saber o que ele esconde e et cetera... Todas as opções "salvam" a vida de quem tem reflexos afinadíssimos!

É preciso, sim, uma campanha continuada de educação de trânsito, mas sem alarmismos, sem transformar o erro humano em motivo de arrecadação de recursos para os caixas federais, dinheiro que muitas vezes irá parar em caixas-2. É preciso respeitar os motoristas que modificaram seu comportamento ao volante e reconhecer que, apesar de tudo, está havendo conscientização em resposta às campanhas! É preciso conhecer o número destes motoristas. É preciso estudar com profundidade o problema e não apenas com o superficialismo como tem sido feito; sem criar leis bobas como colocar adesivos reflexivos nos capacetes de motos, sem usar os acidentes de trânsito como argumento para aumentar a receita com multas.

Tomada uma medida de melhoria do trânsito, qual a variação suporta a interpretação de que houve diminuição no número de acidentes? É possível considerar um número de acidentes e mortes maior que o ocorrido em período anterior um aumento real sem fazer as correções devidas quanto ao aumento do número de veículos, o aumento do número de marinheiros de primeira viagem, a melhoria da rodovia, etc.? Qual a verdadeira relação do teor de álcool no sangue de um motorista e os acidentes de trânsito? Apenas com a dosagem do álcool no sangue dos envolvidos em acidentes é que se terá uma noção, apenas uma noção e nunca uma verdade, de que os acidentes nas estradas são porque os motoristas bebem uma ou duas latinhas de cerveja. Se estes dados são coletados, não são divulgados. Os acidentes de trãnsito não são devidos a bebida alcoólica, embora motoristas embriagados com certeza provocarão acidentes e mortes, mas o teor alcoólico permitido pela lei anterior à lei seca não configura embriaguês.

Os acidentes de trânsito são devidos à ansiedade do motorista, ansiedade de chegar ao destino; a ansiedade de estar trafegando atrás de um caminhão lento; de cumprir horários; de estar em fila indiana com motoristas "conscientes" que trafegam a velocidades muito lentas em relação ao tráfego, trafegam mesmo a velocidades inferiores à metade da permitida por lei, o que por lei não é permitido, mas dá ao motorista a falsa sensação de que está dirigindo com segurança, seguindo os ditames dos alarmistas de plantão. Há pessoas mais calmas e pessoas mais agitadas, há estudos dos tipos de personalidade à disposição, mas todas as pessoas ficam sujeitas à ansiedade, apenas porque são seres humanos... É a ansiedade que gera imprudência! Quá, quá, quá! Obriguem a todos os imprudentes a fazerem novas provas de direção, a maioria passará com nota alta! Afinal, o motorista não diminui para 40 km/h ao atravessar um radar-pardal que o multará se passar a 60km/h? Diminui, é só parar para ver!

Não sou contra "se beber, não dirija", mas, afinal, em que tipo de Estado estamos se ficamos obrigados a aceitar uma lei inconstitucional que ainda por cima prescreve várias punições de execução sumária para um mesmo delito? É isto que deveria ferir a consciência de nossos homens públicos!

1. Número de acidentes em Rodovias Estaduais 1991 a 2007. Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (RGS). Divisão de Trânsito. Diretoria de Operação e Concessões. Comando Rodoviário da Brigada Militar. atualizado em 15/01/2008.
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Atualizado em: Sex 6 Mar 2009

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