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Há um pote de ouro no fim do arco íris

Um cavaleiro amador, competindo na todo poderosa hípica de Porto Alegre, conseguiu o tempo ideal do circuito. Indagado como atingira o feito, já que pelas regras da competição só se sabe o tempo esperado após a prova, ele nos respondeu inocentemente que não fez nada, não pensou em nada. Aquecera o cavalo minutos antes de iniciar a prova e aos poucos tudo foi sumindo do seu campo de visão restando somente vultos. Não discernia vozes, só burburinho. Os sons que distinguia eram o cavalgar sincronizado, a respiração do animal em harmonia sua própria respiração, formando um conjunto indivisível. Resultado: Estava entre os vencedores. Foi o suficiente para levantar a autoestima por meses, saborear a conquista, relembrar a sensação de boca seca e a adrenalina à mil sentida naqueles cerca de sessenta segundos que duraram a prova. Yes! Ele conseguiu capturar o momento de plenitude e isso ninguém mais vai lhe tirar. É o seu instante de felicidade.

Aquilo que nos instiga, que nos dá brilho no olho por iniciar o dia seguinte e vivê-lo plenamente é um estado de felicidade. E é fugaz como toda conquista; que novamente se sobrepõe a outro desafio e outro e outro. Dificilmente percebemos os sentimentos quando eles nos tomam. Há uma tendência a identificá-los após eles terem ocorrido. Há um pote de ouro no final do arco íris que a maioria de nós em algum momento jurou escondido acreditar que existe: A felicidade. Imperativo máximo da vida das pessoas, algumas até com um pouquinho de receio de demonstrar que o persegue, a felicidade vai se tornando o motivo pelo qual nossas realizações são sempre postergadas para um futuro sempre mais adiante, qual isca pendurada no anzol.

Mas não, nós não nos contentamos com a fugacidade do ápice que os grandes momentos proporcionam e achamos que felicidade é sinônimo de auge, quando na prática não o é. Não se trata aqui de apologia ao comodismo, de ausência de sonhos ou projetos para nortear nossa vida. Afinal, precisamos de um motor a nos impulsionar e levar a vida adiante. Se não for um grande amor, daqueles de tirar o fôlego, que seja um grande projeto.

Mas como dizia Krisnamurti, “a maior causa dos conflitos é o pensamento”. São muitas conexões para uma cabecinha só. Além de explorar o potencial que essa nossa máquina, o cérebro, disponibiliza, temos que organizar os pensamentos e até aí direcionar e buscar objetivos sobre o quê pensar? É pedir demais para quem se considera razoavelmente normal. No pressuposto de que normal é quem representa o mundo de uma forma que consiga viver em harmonia, precisamos fazer uma faxina nos nossos processos mentais e desativar aquilo que está obsoleto, sob pena de ficar nos atravancando a caminhada. Limpar a mente do passado pode ser o primeiro passo para uma vida sem amarras.

Expectativas em excesso que não se realizam vão minando nossa capacidade de usufruir o cotidiano e tomar consciência do prazer que as pequenas coisas nos proporcionam no momento em que elas estão acontecendo. A eterna busca por imperativos sufoca-nos em divagações e ficamos no aguardo de que o tempo passe e que nossos projetos se realizem. Acontece que esta busca existe para nos fortalecer. Valorizando cada etapa, vamos gastando com nós mesmos o pó de ouro do pote, que vai se enchendo sempre, permitindo-nos usufruir das conquistas durante a caminhada. Aqui e agora.

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Atualizado em: Sex 9 Jul 2010

Comentários  

#46 AnaLettiere 25-11-2010 21:21
Letras maravilhosas Rackel!!!Sim,é preciso sonhar e caminhar,ver cores raras e longínquas ao mesmo tempo em que percebemos que elas se refletem,materializam em energias próximas que nos fortalecem e fazem seguir adiante e em cada passo,em cada nova descoberta,colheita e estrada,maior resistência e felicidade...até que nos percebemos voando e alcançando o que antes era só ideal e que aos poucos se traduziu em vida!

Ao ler sua obra,lembrei de uma imagem belíssima que a Nadi tem na galeria do perfil dela,pensei que você poderia ilustrar seu escrito com ela e participar dos Duetos!Ficaria fantástico!!!

Deixarei maiores detalhes nos "Recados" de seu perfil.

Abraços! :D
#45 rackel 20-10-2010 09:11
Oi, Wanderson, que bom te ver por aqui! Obrigada.
#44 rackel 20-10-2010 09:11
Obrigada, Seth, por tua compreensão.
#43 rackel 20-10-2010 09:10
Obrigada, Abreu.
#42 rackel 20-10-2010 09:10
Obrigada, Alex, por tua generosidade. Vi o Chorus Line, lá pelos idos de 1984, no teatro Tereza Rachel, com a Cláudia Raia no auge de seus dezessete aninhos e já com aquelas pernas quilométricas. Belíssima recordação me trazes, Alex...
#41 rackel 20-10-2010 09:08
Obrigada, Rosa. É um prazer tê-la aqui.
#40 rackel 20-10-2010 09:07
Oi, Crika, que bom tê-la de volta. Obrigada pelo comentário e visita.
#39 rackel 20-10-2010 09:07
Obrigada, Anarquista.
#38 rackel 20-10-2010 09:06
Edi, obrigada por fomentar a discussão, mostrar facetas diferentes daquelas que o texto coloca. Isto só enriquece e contribui para nos fazer pensar este mundo tão instigante, cujo aprendizado, como diria Schopenhauer, passa pelo "inevitável sofrimento da existência". Abraço fraterno.
#37 rackel 20-10-2010 09:04
Precisamos delas, não é, Edi?

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