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ENTARDECER

Estou ficando velho. E de uma maneira que não sei se meus filhos terão paciência para suportar.

As coisas deixaram de ser claras. O caminhar torna-se menos aprazível. Quanto mais sei, menos gostaria de entender. A intolerância dá-me bom dia diariamente. Continuo seguindo ao oposto da aceitação.

Não. Não aceito o que está acontecendo.

Há tantas pessoas estranhas ao meu redor que ás vezes penso que mudei de país. Onde estão as pessoas caras de minha infância? Onde estão aqueles que me colocavam no colo e diziam tudo estar bem? Onde está o sorriso fácil? Onde foi parar a simplicidade? Onde fui parar?

Parece loucura, mas é apenas amargor. Com certeza não procuro um fim para meus dissabores (como alguns podem pensar ao ler-me), pois se os tenho é porque estou vivo. Só não se machuca quem não existe. E embora a humanidade causa-me terror e estupefação, com alguns ainda vale a pena compartilhar um pôr-do-sol, um livro envolvente, um bom Rock’n Roll.

Não consigo deixar de perder tempo com bobagens, discussões, moralidade, sensatez, eficiência, normalidade, religiosidade...Por que perdemos a naturalidade dos tempos de outrora?

Relógios, máquinas, autômatos, isto que somos tem me feito imenso mal.

Olho para meus filhos e penso que deveria alerta-los sobre o que os espera, mas contenho-me à tempo para não ser o agente da perda da inocência. Rogo que suas vidas sejam bem diferentes desta geração depravada e hipócrita da qual faço parte e da qual fizeram parte meus pais, e os pais deles, e os pais destes...

A todo momento, sinto algo travado na garganta. Creio ser as palavras que não pronunciei, principalmente, aquelas que machucariam alguém na mesma proporção em que fui machucado.

Estou ficando velho, mas espero não me tornar velho como muitos por aí. Como um senhor que me chamou a atenção (só pelo o prazer de encher o saco) pela música que estava um pouco alta, mas não a ponto de incomodar quem estava do lado de dentro da porta da frente de suas residências. Isto, não.

Começo a me esquecer de como é bom sorrir e se divertir. A ponto de uma noite simples passada com pessoas conhecidas a pouco, bebendo e cantando de bem com a vida, tornar-se um marco.

Quantas coisas e oportunidades perdi pelo caminho. Perdi minha garota na esquina de uma rua qualquer. Perdi minha espiritualidade num templo religioso qualquer. Perdi minhas convicções ao ceder aos desejos de outras pessoas, olvidando minha personalidade.

Estou ficando velho e as vezes sinto vontade de chorar pelo que deixou de ser importante, principalmente, no que se refere a mim. Estou irremediavelmente perdido, mas isto é bom. Todo este tempo pensava saber quem sou, o que sou e pra onde iria. Só que não há respostas exatas para estas questões. Tenho a eternidade para construir-me. E se estou perdido, é sinal que poderei me encontrar. E que evento glorioso será quando isto acontecer. Penso que os céus aguardam ansiosamente por este momento e quando acontecer, espero que você esteja por perto, querido ser humano que mora em meu coração,

Beijo do teu amigo.

Termino citando uma música cantada pelo Chico: “Só te peço um favor, se puder: não me esqueça em um canto qualquer”.

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Atualizado em: Sex 20 Ago 2010

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