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Chapada dos Guimarães

Antigamente, ele não fuma mais, antigamente quando o Conde fumava um cigarrinho de origem Jamaicana era divertidíssimo.

A Chapada dos Guimarães perto dele era um campinho de futebol de várzea, pra vocês terem uma idéia.

Num primeiro momento, quando ficava ligadão, a primeira coisa que ele perguntava era:

- Quem é você, onde nós estamos?

- Calma Conde, eu sou o Tiaguinho, lembra? E estamos em São Paulo Brazile.

- Orra meu, ainda bem.

- Porque ainda bem?

- Viajei que eu era um Palestino que morava na faixa de Gaza no bairro do Hamalá cuja casa veio a ter como meu vizinho de parede um dos lideres Hamas. E eu tava gostando duma mina Israelense que era irmã de um tenente Sabra, do Mossad, que foi herói na guerra dos 7 Dias.

- Que viagem, hem?

- Que alivio! Saber que estamos num país rico, que não tem nenhum tipo de preconceito, um IDH altíssimo, leis obedecidas, uma justiça cega, educação Escandinava e assistência médica Inglesa.

- Será?

- Um dia, nessa minha passagem por Gaza, caiu na casa ao lado um Katiucha. Que eu não sei se saiu de vesgueio e voltou de novo pra de vez em quando, ou foi apenas um aviso do irmão da Sarah, que era o nome da mina que eu tava amarrado.

- O que é de vesgueio?

- É quando a coisa sai meu de lado, quando não da muito certo. Não muito convincente.

- Ainda bem que foi apenas um sonho.

Depois, quando baixava a bola, aflorava o nosso senso de humor e a reflexão. E pintava as velhas histórias engraçadas das nossas famílias italianas. Tios, tias, cunhados, cunhadas, primas...

Eram recordações, lembranças da nossa infância que guardamos na memória.
Nós eu e o Conde ouvimos aquele modo de falar dos Carcamanos Paulistanos muito antes das composições do Adoniran Barbosa, da linguagem da Nair Bello ou do Ronald Golias.

Minha Tia Paulina, irmã mais velha da minha mãe, quando vinha nos visitar, falava “amssim”, “réiva”, “nóis fumo”, “não encontremo”, “vortemo”..., por que os mais velhos não estudaram. Tinham que ir trabalhar nas tecelagens dos Calfat, nas fábricas dos Matarazzo ou no começo dos negócios da família, desde menino ou menina. Porém, o que diferenciava o Carcamano Paulistano da massa, era o seu gosto pelo Bel Canto, a culinária mediterrânea, elegância e o senso estético milenar.

O Conde me contou que um dia na infância ganhou de presente da sua mãe um daqueles bonés que tem duas abas compridas laterais que cobre as orêias. Iguais ao do Chávez.

- Vai usar sim! Eu to mandando – impunha a mãe dele.

Bom, não precisa dizer que ele odiava, porque tinha que usar abotoado embaixo do queixo, que provocava risos dos amigos. Se fosse abotoado por encima da cabeça, até que dava. Como o Sherlock Holmes – que foi quem deu dignidade àqueles bonés. A mãe dele não queria que ele tomasse friagem.

Com o boné abotoado embaixo do queixo ele se sentia o próprio menino feio, pobre e judeu, na interpretação do Woody Allen.

Ta duvidando? Pergunta pro Turquinho.

Nóis vai dispois nóis vorta.

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Atualizado em: Sáb 11 Set 2010

Comentários  

#2 acsantiago 02-12-2010 13:46
tão bom quanto viajar é regressar, não é?
Obrigado, Rackel.
#1 rackel 02-12-2010 10:30
Uma delícia de crônica do nosso mundinho imutável - as cacas continuam as mesmas, só mudam de figurino - que pegou carona na viagem do Conde. A lucidez está na viagem, a realidade nos deixa sem ar. Nada como uma boa fugida. eheheheh

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