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Desvendar-se
Somos estimulados a todo instante por cores, sons, sabores, texturas, com combinações infinitas que vão da quietude ao turbilhão. Nem todos são importantes para nós, mas não escapamos de interpretar essa overdose de situações que fazem parte do nosso cotidiano neste mundo mutante por excelência. Seria muito estranho receber essas sensações sem traduzi-las, pois o que nos surpreende demais nos deixa em estado de alerta. Precisamos do “como, onde e porque;” o que denota termos a tarefa de escolhermos sempre, mesmo que de maneira inconsciente. Aquilo que se movimenta chama a nossa atenção mais do que o imóvel, claro. Com isso, realçamos um tipo de informação e podemos ver com maior nitidez o que é contrastante e atribuir-lhe um significado. Só podemos identificar certos sinais - perigo, oportunidade, dentre outros - se os decodificarmos. A interpretação faz com que selecionemos uma alternativa dentro de um grande número de escolhas possíveis. Ao focar, fazemos associações e transformamos em símbolos. A geografia ao redor da nossa casa, os momentos ali vivenciados, afetos, pessoas, segurança, tudo isso é sinônimo de lar para nós. A isso, muitos chamam de leitura de mundo. O que é constante nos ajuda a prever, escolher e agir no nosso mundinho. As opções que ficaram para trás, são como um rascunho do que deixamos de lado em cada escolha.
A leitura permite que os elos entre os homens sejam renovados, que os povos troquem experiências, enriquece a herança com que se beneficiam as gerações. A maioria de nós reserva a palavra “leitura”, para o ato específico de ler um texto escrito. Existe outro tipo de expressão – leitura de mundo – que é vimos com certa suspeita porque parece insinuar que a interpretação do mundo é privilégio dos alfabetizados.
A palavra escrita registra parte do esforço de criação do homem que chegou até nós. Na transmissão boca a ouvido das lendas e tradições, temos o modo primário pela qual se mantém a cultura viva dos povos. A escrita é o principal meio de preservação desse legado, pelo mérito de trazer para os dias atuais outros tempos, de quaisquer lugares ou época - e com eles seus personagens - para interagir conosco. Trata-se de uma conversa de mão única. Ao lermos os diálogos de Platão, “assistimos” aos embates de Sócrates e seus contemporâneos, sem que eles respondam às nossas perguntas. Caso estivéssemos presentes, poderíamos saber detalhes, particularidades do seu mundo. Ainda assim, somos privilegiados em vivenciar à distância as discussões de tanto tempo atrás, que só um grupo pequeno presenciou. Através da escrita elas sobrevivem e continuam sendo exercitadas ao longo dos séculos no mundo inteiro.
Cada um de nós pode ter a sua opinião sobre o valor da leitura; dentre tantas, cremos que a leitura intensifica o envolvimento do ser humano na tarefa de desvendar-se a si mesmo. Qual a importância do ato de ler? Fica aqui o convite para que cada um de nós reflita sobre o seu posicionamento pessoal acerca do tema.
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Parabéns!
Estrelado !