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Eu Não Choro
Eu não chorei quando a personagem Camila cortou os cabelos naquela antiga novela da TV Globo, por estar com leucemia. Por mais que a atriz Carolina Dieckmann tenha se esforçado em dar realismo à cena, as lágrimas não saíram.
A tradução do cotidiano para filmes, novelas, provoca empatia na maioria de nós. O desejo ou o medo de estar no lugar do personagem, leva-nos a indagar se o que se passa na tela não seria o retrato do que poderia acontecer conosco.
Adoro filme em que o mocinho não morre no final. Não vi “Coração Valente” até hoje, apesar de eu saber que é uma história e tanto. Mas como eu sei que tem cenas de violência, me nego a ver. Exatamente pela possibilidade do que está na tela ser o que de fato ocorreu ou até pior.
Confrontar-se com a dureza da realidade é um desafio que poucos suportam, mas que invariavelmente nos contaminam. Comodismo, negação? Pode ser. Fechar os olhos como se nada tivesse acontecendo pode não ser a melhor tática. Mas entre a alienação e envolver-se desnecessariamente com algo que vai mais me deprimir que ajudar, eu fico com a primeira opção.
Talvez o impacto visual me incomode; o meio escrito ainda me é mais amigável, mesmo sabendo que a imaginação pode nos criar imagens muito mais tenebrosas que as do cinema, se nos fixarmos na parte triste da história, já que este é o que tende a ficar gravado na memória.
Mesmo assim, consegui resistir e li até o fim “Vigiar e Punir”, do Michel Foucault, por crer conhecendo o universo das prisões, das penas, da disciplina, me ajudaria a entender o ser humano; embora seja uma leitura difícil, exceto para profissionais do direito ou afins.
Eu não choro quando um filho se machuca, porque ele precisa de mim consciente e lúcida. Uma vez acontecido, meu papel é cuidar para que ele tenha a assistência tempestiva e adequada. Eu não choro em velório de quem eu não tenha afinidade. Mas eu choro, sim, com gente alcançando objetivos, com movimentos de massa, com caminhões buzinando no desfile do dia do Colono e Motorista pelas ruas de Três Passos, mas ao vivo e a cores.
Mas ainda não consegui chorar com injustiça e incompreensão. Elas só me provocam um bolo na garganta. Talvez, porque de imediato me desencadeiem sensação de impotência.
Comentários
Abraço!
Agradeço a sua visita e o gentil comentario. Beijobom, Ton.
Confesso,rsrsrs,e pode até parecer ridículo,que depois de enfrentar uma fila gigante para assistir ao desejado filme (Titanic),chorei em pleno cinema,e nunca mais tive coragem para assistir até o final,quando as opções de entretenimento estão um pouco resumidas e tento assistir para passar o tempo,só vejo a parte em que estão felizes...que me perdoem os criadores do filme!
A arte existe para alcançar o que há de mais íntimo no coração de cada um.E para realizar isso,não existe uma receita cem por cento segura,algumas cenas podem causar imenso impacto visível em algumas pessoas e pouco em outras.Essas imagens são como chaves que acessam nosso subconsciente e o resultado (emoção) depende de nossas experiências,como você disse, é uma questão de identificação.