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PAIXÃO OU AMOR?
Sou daquelas mulheres que gosta de tudo explicadinho. E por essa razão, hoje, aos 57 anos, questiono os sentimentos que me deixam fora do eixo, com um excesso de explicações descabidas, sem fundamento.
Apaixonava-me na juventude com muita facilidade e intensidade indescritíveis, numa época que naõ temia a entrega e o descontrole. Numa época que permitia a cegueira e a impulsividade sem controle.
Nunca soube dizer se estava amando, se estava apaixonada ou se estava apenas vivendo um grande roteiro de filme romântico, criado pela própria necessidade de viver uma vida rica em sonhos e fantasias. A paixão era um caminho que levava-me ao mundo etéreo, surreal de uma sensação indescritível, talvez delirante, como uma droga alucinógena quando atua em seu usuário.
Apaixonava-me por crer que algo de novo aconteceria. Apaixonava-me apostanto no final feliz, como nos contos de fada. Era apaixonada pela paixão.
Amor! Ah o amor! Este sim traz um misto de fantasia com realidade fria. Alegrias e decepções se alternam a cada momento que se percebe que a ilusão termina a cada final de frase. A cada ponto parágrafo que pode tornar-se o ponto final.
Amar com defeitos, chatices e imperfeições. Amar apesar de não ser amada. Quanta melancolia existe no amor. Quanto sofrimento em sua despedida. Quanto medo do amanhã, das novidades e das esperanças que se esvaem.
Amar alguém é abrir mão de seu próprio amor? Amar alguém é perceber que apesar do amor , existem desencontros impossíveis de serem sanados.
Para eu conseguir amar, preciso confiar em alguém ou em mim mesma? Preciso abrir mão das cobranças para não me tornar insuportável? Então o amor é limitente! O Amor é um sentimento sublime mas irreal. Como posso amar se não posso ser eu mesma? Como posso amar se não posso cometer enganos? Como posso amar se tenho que abrir mão de meus desejos? E por que meus desejos me perseguem e não se aquietam?
Como posso amar sem me apegar? Amar exige um roteiro muito ensaiadinho . Amar existe renúncia de algo que talvez nunca tenha tido a oportunidade de experimentar. Amar exige certezas.
Amar até que sua própria morte separe os sentimentos embaralhados.
Amar sem obssessão, sem masoquismos e sadismos.
Como o amor exige da gente o que não doa.
E ainda falam em fazer amor, sem perceber que o amor se faz e se desfaz.
Sangra, fere mas enobrece a nossa altivez . Saídas por caminhos tortuosos, com aventuras, infidelidades e tudo que possa testar se existe amor.
Amor é sofrimento sem fim.