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Um olhar sobre a arte
Tão antiga quanto às perguntas existências que atormentam a humanidade, são as dúvidas sobre a função da arte.
Sem adentrar nesta seara, quero falar sobre a subjetividade da arte (no caso, a minha subjetividade). Deixemos para os especialistas e os poetas a definição. A mim me basta a experiência sensorial, oriunda, obviamente, do meu repertório de vivências acumuladas.
Para além das teorias, das estéticas, dos conceitos, é um sentir, uma ligaçao direta, sem entremeios, com a alma.
Um quadro de Monet me encanta pela beleza do seu pincel impressionista - arte também é a estética - mas nao me arrebata, talvez porque retrate uma realidade distante da minha. Que os especilistas nao me ouçam!
Mas quando vi os pés inchados dos mulatos de Portinari, eu os reconheci. Sao os mesmos pés inchados dos trabalhadores dos cafezais da minha infância, os pés inchados de todos os trabalhadores das lavouras de ontem e de hoje do meu país.
Sao os pés dos homens que ajudaram a fazer este país, pisaram fundo nos mais longíquos grotões e foram pisados na sua dignidade. Sao os pés inchados e calejados de todos os humilhados da história.
Pés que me emocionam. Acho que o meu apreço pela cultura popular tem a ver com a esta identificação - uma relação visceral - nao desmerecendo o erudito, que também tem seu valor, e náo há escala de valoração entre popular e erudito, apenas são diferentes. Ambos estáo presentes e sáo elementos constitutivos do que é hoje a cultura brasileira em toda a sua diversidade.
Portinari é um arrebatamento, mas isto não significa que a arte tenha necessariamente que ter uma ligaçao com as causas sociais.
A arte é livre, libertária e libertadora.