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Ano Novo: Tudo Novo ?
Ano Novo: Tudo Novo ?
O que muda ? O que mudou ? O que mudará ?
Friamente, e de forma desesperançosa poderíamos responder as três perguntas acima, com uma única e simples frase:“Nossos calendários serão acrescidos de mais um ano”.
Mas, todos os anos, o universo, no período compreendido entre os dias 20 de dezembro, nas proximidades do Natal, e 2 de janeiro, dia posterior ao réveillon, cobre a grande maioria da população, independente de sua religião, ou mesmo da falta de uma, com um manto de esperanças, uma esperança revigorante, que faz com que as pessoas analisem seu presente ano, comparem com anos anteriores, e o mais importante: ele cria expectativas e esperanças que o próximo ano será muito superior a todos os anteriores.
Confesso que por muitos anos, talvez todos de minha era adulta, eu preferi acreditar que o réveillon trazia apenas mais um ano para meu calendário, porém, este ano resolvi dar um voto de confiança ao universo, permiti ser coberto por este tal manto de esperanças.
Ainda meio arredio, confuso, sem entender como uma simples “virada de noite” poderia ser tão significante em minha vida, em meus sonhos, em meus projetos, mas enfim, eu queria, eu tinha que tentar.
Já que tentarei, que seja da melhor forma, da forma tradicional –vamos a La playa.
Dois milhões de pessoas, a faixa de areia totalmente coberta, faltam poucos minutos para a meia-noite, a festa é belíssima, ao meu lado esquerdo, um grupo católico reza e agradece pelo ano que esta partindo, não ao lado, mas bem próximo a direita um grupo de evangélicos, oram em altos brados, também em agradecimento, mais próximo da água, na areia mais geladinha, grupos de religiões africanas cultuam respeitosamente seus orixás.
Tudo perfeito, com poucas exceções, algumas pessoas que beberam demais e não estão se comportando como deveriam, pouco mais a frente um pequeno clarão se abre na areia, e segundos depois chega a noticia, que fora um bandido capturado pelos populares quando tentava roubar turistas, mas enfim, nada que diminua a grandeza desta belíssima festa.
Não tenho do que reclamar do atual ou de qualquer ano de minha vida, em verdade, não sou muito de reclamar mesmo, mas estou ali aproveitando a belíssima festa, e me enchendo de esperanças que meu próximo ano será realmente o melhor de minha vida, e que estas mudanças para mim e para toda a humanidade coberta pelo manto esperançoso universal, começará a ocorrer ainda no decorrer desta “virada de noite”.
Eis que surge a contagem regressiva, e a cada segundo a multidão fica mais eufórica, chegando à estase no exato momento que entramos no novo ano. É realmente um grande espetáculo, os fogos estouram nos céus, um mais belo que o outro.
Um pequeno incidente, uma balsa pega fogo, e me faz pensar se sou um grande pé-frio, pois, não conheço relatos parecidos nos anos anteriores, mas tudo não passou de um susto, e o show continua.
Saio da praia maravilhado, com tudo que vi e vivi, um grandioso espetáculo, uma energia contagiante vinda dos quatro cantos, enfim, tudo correu como imaginei que seria, acredito realmente que agora descansarei, e que minha vida mudará, que todos os meus pedidos (me resguardo de divulgá-los) serão realizados logo nas primeiras horas do novo dia, não tem como ser diferente, eu estava na praia, acreditando, e coberto pela esperança universal de dias melhores, quiçá perfeitos.
O tempo passa, e hoje, já estamos no sétimo dia do novo ano, confesso que imediatista que sou, que a cada noite passada, nestes seis últimos dias, fiz uma analise do que mudou em minha vida, e nada consegui identificar, mas antes de desanimar, fui às mídias verificar o que mudou no Brasil e no Mundo.
Talvez, tivesse sido melhor, não realizar tal pesquisa, pois, neste momento realmente me despi totalmente do manto de esperanças, ao ver um Brasil e um Mundo idênticos ao que deixei no dia 31 de dezembro do ano anterior, nada mudou realmente:
- A posse de nossos governantes, nenhuma cara significativa e diferente, mesmo já sabendo o resultado das eleições, confesso que ao me encher de esperanças universais, pensei que algo pudesse acontecer milagrosamente.
- Aumento do transporte coletivo, caramba, não foi por este motivo que pessoas se feriram em protestos, num passado recente ? De que valeram tais protestos ?
- Demissões e greve na indústria automobilística parece um filme repetido, seria a sessão da tarde ?.
- As já conhecidas e anunciadas chuvas de janeiro, causando estragos, destruição e mortes (poucas por enquanto, estamos no sétimo dia do ano), em alguns estados.
- A continuidade, da antiga e insolúvel guerra santa. Cada dia mais violenta, já neste novo ano.
- O terrorismo atacando covardemente, novamente, agora na cidade luz.
- Outros repetidos fatos.
Talvez eu esteja sendo realmente muito imediatista, para alguns pessimista, para outros até mesmo derrotista, mas confesso que por mais que eu tente, não consigo acreditar que alguma coisa realmente irá mudar, apenas pelo fato de termos nos vestido de branco, pulado sete ondinhas, ou comido muita lentilha.
Acredito e tenho esperanças sim, no trabalho, na perseverança, e que é possível um mundo melhor, mas que para isso os governantes devem prover uma educação de qualidade, para que paulatinamente, nas próximas gerações o ser humano, volte a respeitar o próximo.
Precisamos ser mais tolerantes, aceitar as diferenças, sejam elas sexuais, raciais, religiosas, ou qualquer outra, somente assim teremos um mundo melhor. Precisamos fazer a nossa parte diariamente, por mais que esta possa parecer pequena.
“Para sonhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.”
Carlos Drummond de Andrade
De qualquer forma, mesmo já despido do manto universal de esperança, quero desejar a você, um feliz Ano Novo, que você cumpra suas promessas e que seus desejos se realizem, mas se isso não ocorrer, não se desespere, faltam apenas 358 dias para a “virada” do próximo ano, e você pode usar estas mesmas promessas e desejos novamente, e novamente, e novamente.
O que muda ? O que mudou ? O que mudará ?
“Ano Novo, Vida Velha. A vida é mais do que calendários, fusos ou órbita gravitacional.”
Carlos Heitor Cony
Jornalista e escritor brasileiro
