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Desejo de você
Não era possível enxergar um palmo diante o nariz, mas a garota já estava acostumada. A luz lhe feria os olhos e a pele. Viver nas trevas era bem mais fácil e agradável quando se é um ser da noite.
Catarina estava sozinha e não se importava. Diante das quatro paredes negras que a cercavam, ela apenas encarava a escuridão fria e vazia. Não falava com ninguém, nunca teve amigos. Fazia exatamente uma semana que tinha sido transferido para aquele quarto sem janelas e completamente acolchoado. Então aquilo começou de novo.
A jovem colocou em vão as mãos sobre sua têmpora tentando parar novamente todas aquelas imagens que vinham a atormentando sempre que ela estava acordada. Visões, alucinações, sonhos? Talvez ela estivesse apenas louca, mas infelizmente a loucura é real para aqueles que a vivenciam e mais uma vez ela estava presa naquela ilusão.
Um líquido viscoso vermelho estava espalhado para todos os lados. O cheiro do sangue invadiu-lhe as narinas, fazendo suas entranhas se contorcerem. Ainda não estava acostumada a ele.
- Sangue... É tão vermelho. Alguém está morrendo ou apenas se transformando?
Dizendo aquelas palavras, a garota continuou a agonizar e lágrimas caiam impiedosamente de seus olhos. Estava sofrendo de novo e assim, aos poucos, estava se corroendo.
Era sempre doloroso. Toda vez que entrava naquele “transe” ou seja lá que diabos era aquilo, ela sempre sofria a mesma dor da pessoa que ele feria.
Seus olhos cerraram diante da agonia, mas antes que se fecharem por completo, ela, pela primeira vez, o viu nitidamente. O homem de suas alucinações possuía o cabelo louro e longo, pele pálida e olhos da cor do sangue. Sua beleza era divinamente maldita. Era belo como um anjo, contudo, sorria maldosamente como um demônio.
Sentiu outra vez a dor de algo perfurando a jugular e sugando o sangue que não era dela, mas doía como se fosse. Em cada visão, a mesma dor. Porém, essa dor gradualmente transformava-se em prazer. Os mesmos caninos que dilaceravam gargantas, agora arranhavam carinhosamente a pele branca e os lábios se encontraram num beijo intenso.
Pela primeira vez a garota desejou que a ilusão fosse real. Foi a primeira vez que Catarina amou e, também, invejou. Inveja daquelas que morriam nos braços do seu amor.
Abriu os olhos mesmo desejando não ter que fazê-lo. Sabia que aquele breve sonho se desmancharia tão repentinamente como veio.
Seus olhos fitaram a negritude solitária em que vivia. Ela estava certa, sempre estava. Algumas lágrimas caíram de seus olhos embaçando sua visão.
- Não chore. - disseram-lhe secamente.
A garota secou as lágrimas e observou um par de olhos vermelhos e famintos encarando-na.
- Quem é você? - perguntou sobressaltada.
- Não se lembra de mim? - ele aproximou-se dela, tocando-lhe a face com delicadeza – Por muito tempo procurei você. Sou seu desejo que se tornou realidade.
O vampiro mordeu-lhe a jugular ternamente.
Catarina sorriu. Agora sabia que quando amou, também fora amada em troca e para sempre seria.
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