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Homem Pedra

para os "Bípedes" de Samson Flexor

Ai, infeliz aquele ser que constatei
Meio imponente, meio escondido,
Me remeteu aos mistérios recônditos:
Maximo, insosso, bruto, gonzo rangente

Aquele que era plástico como a arte
Era duro como o concreto e
Alto como eu mesmo num espelho...
Estreito tal uma toca oca. Angusto

Todavia não, não era homem,
Nem negro, nem não-negro, não era homem.
Tampouco era pedra, era mais:
Era chama, rocha em fogo imanente, um vulcão
De dimensões hominídeas,
Bípede, estanque.

Ainda ardia como de dor recente
Ou de movimento tectônico interno ordenado
Ou de entropia ou como revolução de estátua decadente
Que não se adequa à própria matéria.
Logo, pretendia (ou pareceu-me) queimar com moleza
Sem pressa e sem tempo (eu constatei)

Ai, não era nem gente nem montanha,
Magma estático, paralítico, ai meus olhos frágeis.
E o que ouvi eram gritos rolando de uma
garganta seca e pedreguenta,
um som cheio de lamento grave e satisfação resignada
Aquela coisa que observei cheirava à enxofre de longe,
Ah e cheirava à lavanda às vezes
E pingava suor de homem como eu.

Pelejava para estar parado (pareceu-me) e logo
Não podia deixar de me inspirar tensão e conflito,
A coisa ia flamejar vigorosamente ad infinitum
E eu assistindo me senti, por um segundo,
Parte daquilo.

Uma hora eis que ouvi certo canto "adeus"
E chorei, pois não acreditava no caminho
Que eu mesmo estava escolhendo:

Como fulminado por mim mesmo,
Minha vontade começou a refluir,
Ouvi um certo canto "adeus"
E tive certeza de estar parado observando
Em chamas ad infinitum.
Não pude entender o caminho que escolhera.
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Atualizado em: Qua 10 Dez 2008

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