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Ressalva
A noite guarda sons estranhos; perturbadores e periculosos,para os quais a parte sã dos ouvidos humanos já se fechou.
Sons doentios e primitivos, de reação incontrolável; inércia.
Mantém um pulsar denso e contínuo e respira pesadamente
dizendo segredos entre roncos e suspiros de pulmões tuberculosos.
Utiliza-se de uma voz surda, indistintos e breves fonemas,
propriamente para não fazer-se ouvir,
tal qual um orador dedicando-se a um discurso que não verá platéia.
A noite tem ruídos fúnebres e vulgares:
Ouve-se a reprodução das partículas e a avidez de dentes ferindo a proteção.
É tudo, exceto sagrada. É antes, uma estátua viva,
ou uma imagem de barro, de onde a promiscuidade sangra dos olhos.
Sepulta sozinha os fenecidos às claras. E é deles, a viúva relapsa.
Flerta com o tempo e o distrai em seu decote.
Simula miséria para que lhe estendam a mão.
É uma meretriz cheirando a álcool e depressão;
tecendo longas cortinas com luvas de cetim
Até o mundo acordar e descobrir-lhe a vil face nirvânica.
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ABRAÇOS.