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Dois irmãos

Existem em mim dois lados
Um bom e outro ruim.
Eles não podem se separar,
São irmãos de sangue.
O lado bom carrega a cruz,
Faz oferendas,
Sorri para as pessoas
E as cumprimenta.
Apanha todos os dias
Das situações comuns.
Perdoa os estúpidos,
Caminha na retidão e no direito,
Mas não tem maldade.
Quando as pedras atravessam a sua frente
O lado bom para paciente...
Não soletra a maldade do caminho.
É nestas horas
Que me valho do lado mau.
É o lado mau que completa o lado bom.
É ele que salta os obstáculos,
Que desvia das pedras.
É ele quem tira o outro da ignorância
E escuridão.
É o lado mau
Que ensina o lado bom a caminhar,
Que o pega pela mão e o conduz na dificuldade
Pelas ruas proibidas,
Pelas pontes estreitas,
Em parapeitos de prédios,
Ou na corda bamba.
Mas é ele também
Que oferece a melhor vista,
A aventura perfeita,
O gosto da liberdade
E o retorno à razão.
É o lado bom quem come o pão,
Mas é o lado mau que o amassa a exaustão
Buscando a perfeição do trigo.
Não há um sem o outro.
Não há personalidade sem maldade.
Da mesma forma
Que não há maldade pura,
Sem um pingo de bondade que a tempere.
Não há também personalidade que se salve
Sem a ingenuidade da alma
Que só o lado bom tem.
É este encontro de dois que existem em mim
Que torna tão evidente
As minhas origens,
Os traços rudes do que é humano
E o doce e melancólico ar dos deuses.
Quem faz a lavoura é o homem bom,
Com seu suor salgado,
Sua sangria de pai de família.
Mas quem comercializa o produto
É o homem mau,
É ele quem consegue o melhor preço,
Que ameaça destruir o que é sagrado
Se não fizer o melhor negócio.
Um não vive sem o outro...
Um não tem liberdade sem o outro
Porque até na liberdade
Existe uma prisão.
E a prisão que vale a pena
É a desses dois irmãos.

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Atualizado em: Dom 14 Dez 2014

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