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Amor de Salvação

Eram duas da manhã quando Sandro resolveu rascunhar uma carta à Rebeca. Suas mãos tremiam enquanto seu pensamento estava envolto às milhares de coisas que ele quisera escrever pois, há dois meses aquele tórrido romance que abrasara os dois corações terminara sem motivo ou circunstância.

Apesar das pequenas brigas, Rebeca e Sandro viviam aparentemente uma felicidade instantânea e emaranhada de momentos de prazer.
Enquanto pensava no que escrever, deslizava sob seus dedos longos e finos sua caneta Bic de cor azul, preferida por dançar sobre o papel como uma bailarina ao palco. Seus olhos brilhavam sobre o papel branco ainda sem rimas e traços com que ele desenhava mentalmente aquele primeiro encontro que acontecera numa tarde de chuva. O moreno franzino e de olhos lânguidos procurava encontrar a maneira certa de dizer que amara a moça de cabelos vermelhos cor de fogo, olhos verdes como esmeraldas e andar galante como as atrizes de tv.
A menos de cinco minutos de distância, num quarto de hotel habitado pelas sombras da saudade, Rebeca remexia em livros antigos. Poesias de Camões, Alberto Caieiro e Castro Alves debruçavam sobre suas mãos enquanto uma doce melodia da Legião Urbana tomava as caixas de som e preenchiam um vazio causado pelas vozes de sua alma. Embora estivesse com saudades do moço que lhe chamara carinhosamente de meu anjo, seu orgulho intransponível como rochas oceânicas não a deixavam correr sobre as alamedas floridas do bairro Limoeiro, até a casa azul onde Sandro tentava em vão escrever palavras doces que expressavam saudade e sentimento. Aliada à teimosia, a saudade era tamanha que ao ouvir um acorde suave de Vento no Litoral, uma lágrima caiu de seus olhos verdes, que eram alegres e vivos, mas que naquele momento ressoavam tristes e dissaborosos com o fim de um amor tão bonito.
De volta à realidade desconfortante, Sandro riscou as primeiras palavras no papel que certamente já estava impaciente à espera de pelo menos uma palavra de carinho, passavam das quatro horas da manhã e ao longe já podia-se ouvir o cantar dos passarinhos que anunciam a alvorada. "Meu bem mais precioso" foram as primeiras palavras que levaram o moreno a compor pelo menos quatro folhas de palavras de terno querer e uma força inconcebível de amor à Rebeca, que por sua vez chorava copiosamente à frente de um porta retrato atormentada por lembranças que ela insistira em abandonar.

Amanhecia quando a campainha de seu quarto soou e um envelope amarelo gema passou por debaixo de sua porta.
Enquanto aguardara a resposta de sua carta, Sandro adormeceu sobre as folhas de papel rascunhadas. Nos seus sonhos, procurava imaginar a amada correndo para seus braços, pedindo para esquecer o que ocorrera para que juntos novamente pudessem ser felizes. Algo inusitado o acordou com o coração aos pulos quando alguém batia a porta, mesmo sem saber quem era, desceu as escadas correndo ofegante, descabelado e com a esperança de que fosse sua amada. Para sua surpresa Rebeca estava à porta com os olhos vermelhos, o coração partido e uma enorme vontade de pular em seus braços.
Foram segundos que pareceram horas: Olhares que se conheciam, mas que pareciam distantes, momentos de tórrido prazer que explodiram instantaneamente, ali estavam os dois personagens que a tragédia do amor resolveu mais uma vez unir. A cada lágrima derrubada por Rebeca, acelerava as batidas do coração de Sandro dentro de si uma só sensação, de que o amor renascido não morreria.  Um abraço entre ambos foi o combustível necessário para aumentar a quimera desfalecia como uma rosa do jardim vazio. Entregaram seus corpos ao amor, namorando por horas e dias, prometendo a cada reinvestida de que nunca mais se separariam.

O cair da tarde de quinta-feira assistiu de forma passiva uma fina garoa que molhava as arvores ao redor. Sob o cinzento céu, Sandro realizara o pedido com que Rebeca sempre sonhara, um casamento dos sonhos. Enquanto beijavam-se com entrega e totalmente alheios aos eventos em seu redor, um facho de sol iluminou aquele mágico momento, era o destino preparando mais duas almas a entregarem-se definitivamente. 

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Atualizado em: Sex 4 Mar 2016

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