- Cordel
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O CASO É DE CHORAR
Maria viveu na roça
Gostava de cultivar
Lidava com muitos bichos
Pois gostava de criar
Ainda tinha o marido
E os filhos pra cuidar
Vivendo dessa maneira
Nunca pode estudar
Os filhos também iam
Seguindo seu caminhar
Sem tempo pro estudo
Só na roça a labutar
Ela se preocupava
Com a tal situação
Os filhos iam crescer
Sem nenhuma educação
E ser analfabeto
É viver na escuridão
Ela queria pros filhos
Uma vida diferente
Estudando na escola
Todos eles bem contentes
Sabendo ler e escrever
Para um dia ser gente
A vida ia passando
E os meninos crescendo
Ela já desesperada
Com o tempo escorrendo
O sonho de educá-los
Aos poucos se dissolvendo
Ela pedia ao marido
Todo dia e todo hora
Para fazer a matrícula
Dos meninos na escola
Mas ele nem ligava
Pra isso não dava bola
Dizia que estudo
Era coisa sem futuro
Os meninos precisavam
De trabalhar e dar duro
Pra cuidar bem da roça
E colher feijão maduro
Maria não concordava
Mas não respondia nada
A posição do marido
Não era assim tão errada
Precisavam dos meninos
Cada um com sua enxada
A família toda cresceu
Nunca foram estudar
Já eram todos adultos
E viviam a trabalhar
Nenhum teve a chance
DE se alfabetizar
Isso entristecia Maria
Que se sentia culpada
Deveria ter lutado
Não ficar acomodada
Vendo os filhos crescerem
Sem ler nem escrever nada
Mas uma novidade
Fez Maria vibrar
É que o filho caçula
Resolveu isso mudar
Ir morar em São Paulo
Trabalhar e estudar
Iria sentir saudade
Do caçula muito amado
Sempre viveram juntos
Ele com ela ligado
Mas era pra ele a chance
De ser alfabetizado
O dia da viagem
Pra ela foi um tormento
Uma mescla de tristeza
Com grande contentamento
Vendo um futuro melhor
Pro seu último rebento
O rapaz assim partiu
Com aperto no coração
Vislumbrava a vida nova
Bem longe do seu torrão
Em busca de trabalho
E também de educação
Chegando à cidade
Achou tudo diferente
Era muito movimento
E um vai e vem de gente
O rapaz vendo aquilo
Ficou muito bem contente
Foi logo trabalhar
No ramo da construção
Era uma empreiteira
Que investia na educação
Ela mesma promovia
A alfabetização
Trabalhava todo dia
Toda noite estudava
E com grande alegria
A escola freqüentava
E assim, pouco a pouco
Ele se alfabetizava
Com muito interesse
As aulas ele assistia
E a cada aula assistida
Mais coisas ele aprendia
E no final do curso
Já lia e escrevia
Logo que soube escrever
Foi grande a satisfação
Escreveu logo uma carta
Carregada de emoção
Contando para a mãe
Sua grande evolução
Quando a carta chegou
Ao seu destino final
Maria vendo o carteiro
Quase que passava mal
Como não sabia ler
Sentiu desgosto mortal
Só sabia que a carta
Era do filho querido
Porque para o carteiro
Maria fez o pedido
O nome do remetente
Por ele é que foi lido
Ficou olhando pra carta
Começou logo a chorar
Pois vendo aquelas letras
Só podia imaginar
E o que estava escrito
Não sabia decifrar
Nisso chegou seu marido
E vendo a situação
Quis saber qual o motivo
De tamanha aflição
Ela lhe mostrou a carta
Causadora da emoção
A visão daquela carta
Fez o homem lagrimar
-Eu também não sei ler,
Nem tampouco soletrar,
Então eu lhe dou razão,
O caso é de chorar