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CORDEL DO SERTÃO X CORDEL DA CIDADE
Dizem que cordel
É poesia do sertão
Mas essa não é
A minha opinião
Cordel pode ser feito
Por qualquer cidadão
Existe o cordel
Com linguagem sertaneja
Conta causos do sertão
Da lida e da peleja
Sendo sempre caipira
O autor que o planeja
Tem também o cordel
Que é feito na cidade
Fala de temas urbanos
Com muita propriedade
E pra esses temas
Há muita diversidade
Do mesmo jeito é
O cordel do sertão
Trata de temas rurais
Com muita precisão
Sempre fazendo rimas
Com muita exatidão
De um jeito bem pensado
Rima as coisas do sertão
Dizendo que sua terrinha
Tem tudo que é bão
Pode até não estar certo
Mas a rima tem perfeição
Quando fala em passarim
Lembra logo do sabiá
Pássaro tão bonito
Que dá gosto espiá
E seu canto marcante
É bonito de escuitá
O cordel urbanizado
Usa linguagem erudita
Buscando a rima certa
Caprichando na escrita
Tem também seu valor
E não deixa de ser bonita
Quando o poeta urbano
Vai escrever seu cordel
Analisa muito bem
O que vai por no papel
Para a rima combinar
Tal qual tinta e pincel
A sua poesia fala
De coisas da cidade
De trânsito engarrafado
Ou de criminalidade
Sobre qualquer tema
Escreve com habilidade
O cordel do sertão
Tem linguagem peculiar
Usando os termos caipiras
E o jeito de falar
Fazendo suas rimas
De modo espetacular
Escreve sobre lendas
Que existem no sertão
Fala do Padim Ciço
E também de Lampião
De amores proibidos
Que partem o coração
Anuncia o homem que troca
A mulher por uma jumenta
Cabra que bebe cachaça
E tira gosto com pimenta
Briga de foice e machado
Numa estória sangrenta
Pra falar de natureza
O poeta da cidade
Usa um termo moderno
Que é biodiversidade
Pois foi assim que aprendeu
Em sua universidade
No seu cordel urbano
Fala de arte e cultura
Música popular brasileira
E também literatura
Assuntos que ele conhece
E escreve com desenvoltura
Retrata a violência
Das grandes cidades
Relata seqüestros
E outras atrocidades
Frutos do descaso
De nossas autoridades
O poeta do sertão
Também tem habilidade
Pra falar da natureza
É com naturalidade
Pois nela ele vive
E a conhece de verdade
O poeta do sertão
Também trata de violência
Pois lá isto acontece
Com bastante frequência
Infelizmente este tema
Está sempre em evidência
Antes, este tema
Era causos de valentão
Estórias de cabra macho
Do bando de Lampião
Agora é realidade
E está em todo sertão
Mas tem uma coisa
Que não pode acontecer
O poeta urbano
Como o sertanejo escrever
Pra isso ser possível
Tem que no sertão viver
Da mesma forma, acredito
É difícil imaginar
O poeta sertanejo
Se por a grafar
De um jeito erudito
Procurando rimar
Mas os dois poetas podem
Sobre qualquer assunto escrever
Pois pra falar da cidade
Não precisa nela viver
E pra falar do sertão
Não precisa nele nascer
Na verdade não existe mais
Gente matuta no sertão
Pois hoje todo mundo
Tem acesso à informação
E pra saber de tudo
Basta ligar a televisão
E muita gente da cidade
Tem sua raiz matuta
Vai lá de vez em quando
Da natureza desfruta
E notícias do sertão
Todo dia se escuta
O importante é que os poetas
Sejam da cidade ou do sertão
Tenham consigo o desejo
De cumprir sua missão
Escrevendo muitos cordéis
Pra manter a tradição.