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Uma receita recomendável.
09.00 h. Sábado. Manhã de sol. 05 de Setembro 2010.
Fiz um café na minha antiga cafeteira italiana, aquela de dois andares, e tomei o café acompanhado de uma fatia de panetone. Acendi um cigarrinho e fui sentar no meu trono para me aliviar dos excedentes do dia anterior. Excessos nunca. Nada em excesso.
Aprendi com o Sócrates, ídolo do Curingão e com o Aristóteles, cunhado da pintora brasileira Marylu Melo, mãe da Tatá e do Ninho. Pintora atualmente radicada em Florença na Toscana. Italy.
Depois com um alicate profissional e uma lixa de unha dei uma de pedicuro enquanto pensava em como é difícil escrever sobre pequenos sentimentos. Ou todos são grandes?
Peguei o controle remoto e sintonizei o canal de música da NET. Escolhi Standards e cliquei:
Tocava “One less to answer” com a Petty Archer.
Nesse som meus sentimentos e recordações me levaram para a produtora de filmes publicitários de dois amigos, aqui em São Paulo. Um mineiro o outro português e que ficava na Rua Bela Cintra Chic. Onde trabalhei como contato. E, lembrei do dia em que pegamos uma campanha milionária de anúncios para Cashmere Bouquet da Agência Denison, cujo tema era o deslumbrante Vale da Caxemira, na Índia. O Zé, ou Mané, não lembro, preferiu montar cenários, imitando as fotos da Caxemira publicadas em uma revista, e fotografou a campanha no quintal da produtora.
Já pensaram?
O Português numa outra vez confundiu, sem querer, Kitsch, termo usado para objetos de valor estético distorcido e/ou exagerados, com o nome das cozinhas planejadas Kitchens. Teria passado batido não tivesse esse deslize acontecido em uma reunião de pré-produção com os caras de criação de uma agência grande.
Se eu não fosse esse Mandrake que sempre fui tínhamos perdido o filme.
Lembrei também que no verão às terças e quintas feiras, no fim da tarde, eu ia exibir a minha elegância na Rua Augusta: camisa azul claro, tecido leve, 100% algodão, dois bolsos com tampa, mangas arregaçadas com certo desleixo, calça de linho bege de corte francês e mocassim branco italiano, sem meias. Óculos de sol à la Jean Louis Trintignant. A Augusta à tardinha no verão era minha Côte D’Azur. Parava na esquina da Augusta com Oscar Freire, acendia um Luiz XV, com meu isqueiro Cartier, e ficava paquerando as mais elegantes pra ver se rolava uma nova conquista e um rolê no meu Fusca branco 1969, rodas com alargador. Esperava a chegada de uma bella como uma Romy Schneider para o Alain Delon em “O Sol Por Testemunha”, dirigido pelo Roger Vadin, se não me engano.
Quando tocou, “I´m old fashioned” com Chet Baker, comecei a andar pelo meu palácio e pensar que a imagem comunica situações dramáticas ou de comédia, mais rápido do que as palavras. No meu quarto vi a enorme reprodução da tela “Artemisa” do Rembrandt armada numa opulenta moldura, pendurada na parede. Embaixo da tela uma tábua de passar roupa forreca, encima um pulverizador e o ferro elétrico inclinado. Aquela imagem demonstrava ser detalhe de uma habitação de poucos recursos financeiros. Porém, se você retirasse esses objetos vulgares do quarto, a imagem poderia virar o detalhe do aposento de um palácio. Exagerando.
No momento em que entrou o som do Billy Eckstine mandando “You’re driving me crazy”, viajei para os 30 dias que passei na minha Villa Italiana na Praia em Bertioga com a minha namorada mais querida. Que além de ser uma graça de mulher tipo mignon tinha a generosidade e delicadeza de ser bem humorada e mais nova que o Mastroianni do Itaim Bibi, 20 anos. De manhã íamos pela praia até a vila comprar peixe ou camarão nas barracas do cais da balsa. Quase sempre ela ia de bike e mochila nas costas e eu correndo. Depois dávamos um mergulho no mar e voltávamos para a Villa Via Olmo. Não saiamos mais. Bebíamos vinho branco seco resfriado, ou cerveja, ouvindo música enquanto eu pilotava a churrasqueira, para as carnes de predominância vermelha, ou o fogão preparando uma massa ou risoto para acompanhar as carnes brancas e a salada. Transávamos inúmeras e repetidamente, e sempre intensamente como das primeiras vezes. O mês inteiro.
De Anita O’Day cantando “Fly me to the moon” fui para a cozinha preparar uma farfalla no molho de lingüiça toscana:
- Retire da tripa, aos pedaços, a carne da lingüiça e descarte os muito grandes de gordura. Frite e depois escorra toda gordura excedente. Seque a fritura no papel de cozinha. Volte para a frigideira e flambe com uma dose de conhaque, ou meio copo de vinho branco seco. Deixe evaporar, acrescente creme de leite e uma colher de sopa de iogurte natural. Não deixe ferver. Acrescente sal marinho, pimenta do reino ou nós moscada. Cozinhe a massa al dente. Rale o parmesão depois de servir no prato. Acompanha qualquer das minhas verduras prediletas: escarola, espinafre, rúcula italiana ou brócolis.
Com “I wish your Love” da Kelly Smith lembrei que tinha esquecido de ir e não fui com o Carlos Imperial comer um pastel de palmito na Barraca da Beth na feira da Vila Nova e comprar, da senhora do tabuleiro de especiarias, o presente de aniversário de 30 anos do meu filho Bruno. Um pacotinho contendo 50 gr. de mostarda em grãos. A minha filha Ticiana faz 34 anos em dezembro.
Comentários
Rackel, não sei como agradecer e sua bondade e delicadeza. Bj.