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Uma mulher sábia

Quando eu abri a porta do quarto lá estava ele, franzino, barbudo, cabelo arrepiado, dentuço, e uma enorme cicatriz que começava na virilha esquerda e terminava no joelho. Ele segurava uma cueca e ficou boquiaberto ao me ver, mas não teve a ação de cobrir sua nudez. E eu fechei a porta assim que entrei no quarto. Fiquei excitada com a situação. Nunca tinha visto um homem nu assim ao vivo que não fosse o Heitor, meu amado marido. Aproximei dele. Então ele colocou as mãos com a cueca sobre sua genitália. Era meu primo. Meu melhor amigo de infância. Casou-se aos 18 anos e foi embora para Rondônia. Agora, quinze anos depois retornou com a mulher e três filhos. O nome dele era Juliano.

Depois deste acontecimento eu nunca mais fui a mesma, ou realmente me descobri. Uma verdadeira dissimulada. Sou capaz de atos que me assustam. Às vezes. Meu marido faz tudo para mim. É um completo apaixonado e acredita em tudo o que eu digo. E na maioria das vezes sou sincera com ele. Eu sou instigada a extravasar minhas energias e gosto do inusitado. Não procuro por homens bonitos nem ricos, acho que o que me atrai é o cheiro de macho. Sou como uma cadela, mas se alguém assim me chamar me sentirei profundamente ofendida, pois jamais quero passar esta imagem para as pessoas. Preciso fazer o meu papel de mulher perfeita e cuidar para que minhas máscaras continuem firmes em minha face.

O fato de fazer meu marido de idiota me dá tanto prazer e este prazer eu proporciono a ele nos nossos momentos de intimidade, os quais vivemos intensamente. Eu sou doente, tenho certeza, pois ele não merece minhas maldades, mas nunca quero me separar dele nem lhe causar danos físicos nem morais, por isso procuro ser o mais discreta possível. Não estou com ele por dinheiro. Eu sou de uma família milionária. Na verdade, meus pais nem queriam meu casamento com Heitor, por ele ser um simples professor federal. Mas me apaixonei por ele. Inteligente, bonito, galanteador… Ah ele tem todas ou quase todas as qualidades que uma mulher procura em um homem. E ainda por cima é extremamente carinhoso e romântico. Nem preciso dizer em relação ao sexo.

Eu nunca saio com o mesmo homem uma segunda vez. Não gosto nem que se aproximem de mim. Sinto nojo. Se eu pudesse, na verdade eu posso, mas me falta coragem, eu os mataria depois do sexo, pois para nada me servem mais depois que satisfaço meus prazeres. Só o meu amado Heitor merece o meu amor, o meu carinho, e isso eu faço muito bem. Ele não pode se queixar. Já fui a um terapeuta pra buscar ajuda e entender meu caso, mas sai de lá frustrada. Já procurei igreja, mas nada me fez mudar. Alguns podem me chamar de nomes que eu não gostaria, outros dirão que sou psicopata ou sei lá mais o que. Na verdade ninguém sabe o que se passa dentro de mim. Nem eu consigo decifrar meus enigmas mais simples.

Outro dia eu encontrei um homem deitado na rua. Ele me estendeu a mão e me pediu dinheiro. Exalava um mau cheiro terrível, mas ele me sorriu tão lindo com aqueles dentes sujos, um olhar carente, e eu fiquei paralisada, trêmula e ofegante quando tocou em minha mão ao pegar o dinheiro. Eu não resisti e o levei para meu apartamento secreto. Ele a princípio não percebeu minha real intenção, mas logo depois do banho aquele mendigo não parecia o mesmo e então entendeu que eu não o tinha levado ali somente para refrescar seu corpo. Muito pelo contrário. Depois eu lhe dei mais dinheiro e mandei que saísse rápido da minha frente. Tomei um banho demorado, perfumei meu corpo todo e fui embora para receber meu amado marido que voltaria da faculdade dentro de uma hora mais ou menos.

Heitor chegou com os olhos cansados, jogou sua valise sobre o sofá e eu fui ao seu encontro. Abracei-o e o cobri de beijos como fazia todos os dias que ele chegava em casa. Desde que nos casamos eu nunca deixei que ele encontrasse a casa vazia quando chegasse após um dia exaustivo de trabalho. Ele sorriu e me disse: “Ah! Lenora você é extraordinária! A minha motivação pra voltar correndo para casa. Eu te amo.” Eu nada respondi. Aquelas palavras provocaram um turbilhão de respostas dentro de mim, mas apenas continuei a beijá-lo amorosamente. Enquanto eu o beijava lembrei-me do mendigo e então fiquei muito excitada. Achei estranho me lembrar daquele homem, pois não era costume me lembrar dos meus objetos de prazer, mas dei corda ao pensamento e vivemos um momento intenso naquela noite.

No outro dia logo após meu amado marido sair para o trabalho eu fui ao shopping fazer compras. Estava precisando pelo menos ver vitrines. Estacionei o carro e vi um homem pintando uma faixa no chão. Ele vestia uma calça velha bem larga e estava sem camisa. Mesmo de longe eu pude ver o suor escorrendo sobre sua pele negra. Aquilo me pareceu um ímã. Como uma leoa atrás de sua presa para alimentar seus filhotes eu me aproximei dele para alimentar meus desejos. “Oi”, eu disse a ele que se virou para mim com aquela barriga enorme e ficou me olhando com cara de bobo. Limpou o suor da testa com as costas das mãos deixando um risco de tinta no lugar. Eu olhei no fundo dos seus olhos e sorri. Não precisei dizer mais nada, porque quando eu quero, o meu olhar de vadia fala mais do que qualquer palavra. 

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Atualizado em: Ter 4 Fev 2014

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