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Eu vou me aposentar. 25 anos de polícia.
O que eu fui? Eu sou o arauto da destruição ou o escudo perpétuo? Minhas mãos fedem morte.
São 4h42. Acordei de um pesadelo. No meu sonho, eu estava vivo e os cadáveres me enterravam. Eles não tinham rostos, mas eu ouvia os seus gritos, eu ouvia o grito de suas mães, eu ouvia a ordem, eu ouvia os disparos, eu sentia a terra molhada de lágrimas cair sobre meu rosto. Onde está meu cigarro? Deixe-me ver.
Eu não fiz diferença. Fui jovem e estúpido quando entrei, achei que iria fazer o bem, afinal, os caras bonzinhos eram sempre os fardados, não? Eu vi que não existem lados, só a dor, só a ideologia pela sua vida. Eu obedeço, eles obedecem, e as peças seguem em seu jogo. Todos querem ser mais que um peão, mas no fim, ninguém será rei. Por que não matamos nossos reis? Eu verei a paz se aqueles que declararam guerra caírem? Não. Tudo é inútil. Eu joguei minha vida no lixo e acabei com a de outros. Ninguém se importa. Enfim, amanhã isso acaba e o alívio me toma, sabe? Eu vou sair da prisão, eu vou viver, mas eu também tenho medo. Eu não sei viver, eu sei matar e obedecer. Eu não entendo o motivo de eu estar pensando assim, eu vivo, eu respiro, eu sorrio, eu choro. Desculpem-me por isso.
Eu estou pensando nela agora. Eu tenho saudades. A espera valeu e minha arma deixará o coldre.
Amor, eu estou indo pra você. Eu prometo que vou fazer o melhor agora.
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Atualizado em: Dom 24 Maio 2020

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