Monstro na pia

Cuidado: tem um monstro na pia. 

 

Quando crianças, somos aterrorizados por monstros, velho do saco, carro preto, perna cabeluda, loira do banheiro. Na adolescência, nossos medos são outros: de não ser aceito em determinado grupo, de não se tornar um jogador de futebol.

Na fase adulta, temos mais uma metamorfose do monstro. Ele vai crescendo aos poucos, como quem não quer nada. Começa com uma xícara do café da manhã — o que nem de longe assusta. No almoço, ele se torna mais robusto, começa a ganhar corpo — xícaras, talheres, pratos. Na janta, mais destes utensílios são acrescentados — o mostro ganhou forma. Você passa pela pia – agora cheia de louça–, e olha com uma cara de espanto. Depois, ao passar novamente, evita encará-la, ou tenta ignorar sua existência. À medida que o tempo passa, ele vai se tornando mais forte e resistente. Você agora não pode enfrentá-lo de qualquer forma. Precisa de uma noite bem dormida, de tempo e disposição. E enquanto isso não vem, ele continua a medrar. 

Pronto. Chega o grande dia. Você dorme bem, reúne todas as suas forças e prepara o território: liga o som e escuta uma música motivacional, como se estivesse correndo ou fazendo exercícios na academia. Você respira fundo e – mãos à obra. Terminada a batalha, você se sente vitorioso e pronto pra encarar qualquer desafio. 

O único problema é que o monstro renascerá aos poucos, como quem não quer nada, no dia seguinte.

 

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