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O revolucionista

O abismo entre a minha e a geração de meus pais é muito mais profunda do que a de outras épocas. Não se é possível ouvir o som da moeda arremessada quando alcança o solo. No meu abismo, Narciso é desdenhado por Eco que o taxa de inseguro e traumatizado consigo mesmo, complacente com a guerra e o caos como uma lição a ser aprendida por seus filhos vindouros. Nele Eco é mimada pelos deuses e autoconfiante ao extremo, reverberando por entre as paredes rochosas dos desfiladeiros sua autonomia ante os retrógrados que ali a confinaram.

Minha contribuição ao mundo foi paralela a do poeta Robert Lowell: um cuspe na face de um ditador e o não comparecimento a uma cerimônia em sua homenagem. A autointitulação de "césar da Argentina" pendurado nos braços de uma gigante estátua em praça pública. Era o topo do mundo. Era a queda vertiginosa entre o eufórico e o depressivo, que não atribuia para si qualquer charme passível de iludir as mentes adolescentes que contemplavam minha face transtornada por uma convulsão de sentimentos e oscilações. Era, pois, o salto às cegas.

Meu legado foram as barricadas formadas por mim e por outros infantes que anunciavam às utopias que elas, todas elas, teriam o mesmo direito de marchar por aquelas ruas estreitas e asfaltadas; estabelecendo uma nova alternativa contra àquela dos velhos senhores que ruminavam suas antigas batalhas. Entre a esquerda e a direita, entre o capital e a comuna, espremidos entre o arcaico e o moderno, estávamos nós. E não éramos nada silenciosos.

Por fim, minha revolução conspirava contra a cotidianice, a esteira e a linha de montagem, a carga horária obrigatória. Ela ainda está por aí, a minha revolução, mas para encontrá-la é preciso, acima de tudo, sentimento.

É muito sentimental essa minha revolucionária.

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Atualizado em: Qui 1 Out 2009

Comentários  

#1 tania_martins 09-06-2010 13:20
Parabéns pelo texto!

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