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SOU GOSTOSO

Sou Gostoso é filho de um vaqueiro com sua mulher, que acabou por tornar-se prostituta. Nos anos 60, no Nordeste, quando as coisas aconteciam às escondidas e cerveja era coisa pra gente grande e a putaria era tida como exclusividade das mulheres dos cabarés. Chiquinha era fogosa, mulher de um humilde mais valente vaqueiro, aquele que após um dia inteiro na luta do gado dava três na noite e uma cedinho pra ir trabalhar, findou enchendo a barriga de sua amada com oito filhos. O último, João veio a se tornar o "Gostoso".

Não satisfeita com o trato do marido, Chiquinha começou pulando a cerca com o patrão quando ia lavar roupas sujas na casa dele. A farra comia cru, em pé, deitada na moita, escondida no quarto, enquanto o vaqueiro Juvenal se esfolava pra dar conta do gado.

Corre a notícia como fogo em palha seca. O assédio à Chiquinha era tanto que enquanto o marido estava nas matas havia fila combinada para traçar a Chiquinha.

João, o caçula, sentado no chão a engatinhar via tudo como um gato. Olhos atentos sem entender aquele mundo. Achava até engraçado aquele negócio entrando e saindo. Na hora do gemido, o seu espanto era de pasmo e admiração.

Tempo voa. Tempo cruel. Tempo bom. O corno nunca soube de nada. Nem quando envelheceu. Entretanto, João nunca esquecia a imagem gravada na sua memória infantil enquanto não chegou o uso da razão. Caída a ficha, ele silenciosamente passou a entender o que se passava na sua casa.

João se tornou galã, botina de vaqueiro, fivelona na cintura, calça jeans, chicote na mão. Farofeiro, dançador e farrista como a mãe. Passou, a partir dos 18, a traçar as moiçolas que possuíssem um atributo: a bundona. Nunca se viu alguém tão fascinado pelas costas como João. De tão famoso passou a se chamar João fura bolo.

Briguento, valente, desafiador, perturbado encontra abrigo logo no seio da filha do ex-patrão do seu pai. Não era possuídora dos atributos que lhe era tão atrativo. Mas era branca, tinha ficado relativamente pobre e, pensou, vou descontar tudo!

Largou-lhe a bicuda no terceiro encontro com o compromisso severo de casar com aquela honra ou desonra. Tempo voa, e nada de casar. João usa a bicuda em excessiva freqüência na paróquia em que residia e a fama já era grande. O pai da moça, antigo patrão do seu pai, resolveu chamar João para os acertos.

E disse:

- Olhe aqui, meu rapaz. O seu comportamento vem deixando a minha filha perturbada. Já está na boca de todo mundo e você vai ter de resolver esse assunto se não vai casar comigo.

João, o Gostoso, calmamente afirmou: Meu patrão aprendi com o senhor e a minha mãe a gemer e fazer as mulheres também gemer. Eu caso, mas primeiro tenho de matar a vontade de dar aquele grito espetacular que sua filha ainda não deu nos meus braços, igualzinho aquele que a minha mãe dava nos teus. Por isso, não nego. Caso com ela. Mas mande comprar um caixa de comprimido de Postafen - rápido!
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Atualizado em: Seg 9 Fev 2009

Comentários  

#9 tania_martins 10-04-2010 22:17
Bom texto.
#8 tania_martins 10-04-2010 22:17
Bom texto.
#7 Cilas_Medi 20-03-2010 09:07
Mais uma situação para conhecer. Parabéns.
#6 Cilas_Medi 20-03-2010 09:07
Mais uma situação para conhecer. Parabéns.
#5 Abreu 14-03-2010 18:30
Que coisa...
#4 Abreu 14-03-2010 18:30
Que coisa...
#3 Luis Carlos 14-02-2009 16:19
É verdade. A mudança dos parametros de riqueza no nordeste provocou uma igualdade que jamais se consegueria pelo diálogo. a relativa pobreza das classes dominantes e a evolução das interações com um mundo externo, ditante, não ponderou quem tinha sido humilhado ou quem humilhou.É comum atualmente filhos de serviçais no passado ter a mesma ou melhor condição social dos filhos e netos dos antigos patrões. Bem dito. Amor, odio e vingança. Obrigado.
#2 valdenio 09-02-2009 12:47
Consegui viajar no texto, e na minha humilde analise, garanto que foi feliz ao retrar a situação amor, ódio e vingança, sentimentos latentes no povo nordestino.
#1 valdenio 09-02-2009 12:47
Consegui viajar no texto, e na minha humilde analise, garanto que foi feliz ao retrar a situação amor, ódio e vingança, sentimentos latentes no povo nordestino.

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