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A Colecionadora

Lembrei-me dela em decorrência de uma memória olfativa que me fez viajar no passado por mais de vinte anos. Estava em um barzinho bebendo minha cerveja pensando na vida quando passa por mim uma mulher usando o mesmo perfume de uma menina que eu namorei muito tempo atrás. No ano de 1987 mudei de cidade em virtude de uma transferência do trabalho do meu pai, então fomos todos nós; eu, meu pai, minha mãe, meu irmão mais novo e minha irmã caçula, o irmão mais velho teve que ficar na outra cidade por mais um ano devido ao serviço militar. Eu tinha 13 anos nessa época. Na cidade onde morava já tinha namorado algumas meninas e até mesmo “ficado” com outras. Acho eu que essa modalidade de namoro chamado de “ficada” começou por esses anos 85,86 e 87, contudo, não do jeito de hoje onde se “fica” com dez meninas diferentes em uma mesma festa, eu sempre conseguia “ficar” com uma e lembro que um amigo uma vez conseguiu “ficar” com duas na mesma matinê e se tornou quase um ídolo de toda molecada. Eu achava que tinha certa experiência no jogo do amor e na verdade nunca tive problemas em arrumar namoradas, modéstia a parte, eu era muito admirado pelas meninas e até mesmo disputado. Novo na cidade, no bairro, no colégio, com um sotaque diferente que trazia curiosidade nas garotas para saber de onde era facilitava a aproximação e abordagem, sempre culminando em um beijo. Confesso que não aproveitei como deveria essa fase, mas, dei minhas “bordoadas”. Passei uns seis meses só beijando uma aqui, outra ali, me gabando acolá. Até conhecer a menina que brincou e se divertiu comigo a vontade, eu, coitado de mim, era absolutamente cego e surdo para tudo e todos. Ela sabia disso e aproveitou, e como aproveitou. Fomos apresentados pelo seu irmão mais novo por um pedido dela que disse que tinha me visto e queria me conhecer. Seu irmão foi até a minha casa e me levou até a sua. Ela apareceu na janela de cima e me olhou. Alguns instantes depois ela desceu e conversamos na porta por alguns minutos. Minutos suficientes para fazer o estrago. Eu estava irremediavelmente apaixonado. Ela não era uma menina muito bonita, porém, tinha um conjunto que chamava a atenção e tinha um sex appeal enlouquecedor. Andava de uma forma atraente, a risada dava-lhe um ar de inocência e era irresistivelmente burrinha. Seu atributo físico mais exuberante eram os seios. Dois melões grandes, arrebitados e duros como pedra. Tinha 15 anos, ou seja, era quase dois anos mais velha que eu, era acostumada a namorar rapazes mais velhos e que tinham carro, eu só tinha uma “magrela”, e ela tinha como aliada, melhor amiga e confidente a perfídia. Não conhecia Machado ainda, mas, deparei-me com aqueles “olhos de ressaca” e me afoguei no mar revolto da paixão. Segundo a lenda ela possuía um caderno onde colecionava em suas páginas uma lista de nomes de todos os namorados e “ficantes”. Diziam que já estava na casa dos cem. Eu que me vangloriava que já tinha beijado quase vinte meninas não tive nenhuma chance. No dia que demos o primeiro beijo eu estava com taquicardia, boca seca e mãos suando. Uma amiga que estava armando tudo para que acontecesse logo o beijo viu a minha face descorada e o suor que escorria pelas têmporas se aproximou e colocou a mão no meu peito e sentiu o desespero em que ele batia e disse:_Ah tadinho Dora, ele está apaixonado, não maltrata ele não. Mas ela maltratou. A colecionadora de namorados não teve dó nem piedade e pisou em mim com sapato de salto alto. Namoramos a primeira vez por vinte dias, depois de um intervalo de quase dois anos namoramos por mais nove meses com muitas brigas e idas e vindas. Não a vejo há uns quinze anos. Soube que tinha se casado e que foi morar fora do país. Não tenho hoje nenhum sentimento a mais por ela, talvez, só um pouco de mágoa por ter sido tão ingênuo, entretanto, eu só tinha 13 anos. A única coisa que tenho certeza é que ela não só me colecionou também seqüestrou e manteve em seu cativeiro meu coração durante muito tempo.

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Atualizado em: Seg 21 Mar 2011

Comentários  

#2 NIKI 27-03-2011 13:16
A juventude tem destas coisas, depois ficam as lembranças, que por uma música, cheiro...nos leva aos dias ido.
#1 ANTENA 23-03-2011 17:06
E isso aí cara, pelo menos você ficou com ela um bom tempo...


abraço anarquista

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