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O QUE CAUSOU O APAGÃO
Outro dia fui procurara uns pedaços de ferro para fazer a base de um projeto. Lá no sucatão, vi uma máquina de soldar e perguntei: “Esta máquina aberta é pra vender?" O titular daquilo, lá me informou que de máquina ela só tinha o formato e repassaria a sucata por 50,00. Analisei as possibilidades, inclui o ferro na nota e lhe apresentei a onça. Ele aceitou e colocou a geringonça no fusca.
Ao chegar a casa, descobri que alguém havia tentado “enrolar aquele trafo” e pela apresentação, não obteve sucesso. Por uns momentos esqueci a base e fui detalhar o precisaria fazer para ressuscitar o equipamento. Desmontei e removi algumas adaptações feitas pelo “enjenheiro” que tentou o “concêrto” e me dirigi a uma conhecida oficina de enrolamento de motores pesados. Calculei que teria de comprar uns cinco quilos de fio esmaltado.
- Paulo, você tem fio 7 AWG?
- Tenho. É R$ 37,00 o quilo. Pra que é?
- É para enrolar um transformador de máquina de solda.
- Fica beleza com fio 7 no primário.
- É, a da Valdivino queimou e na época eu não encontrei o fio. Raspei, esmaltei e enrolei o mesmo fio. Está funcionando até hoje.
- Bem, vou acreditar para não perder o amigo. Sim, vai levar o fio agora?
- Vou até o correio, na volta eu pegarei.
Correio coisa nenhuma, o cara me chamou de mentiroso e eu não gostei. Guardei o talão de cheques, voltei à oficina e pensei: vou até a firma, peço a máquina citada emprestada pra mostrar ao cara. Pensei também: como o serviço ficou perfeito ele dirá que o serviço é de fábrica.
Chamei a minha partner e começamos a limpar os fios queimados. Dois dias de serviço para restaurar tudo. Aproveitando a contagem anterior, refiz os cálculos e achei uma diferença significativa entre a fórmula que uso e aquela encontrada naquelas bobinas, mas como Dizia o velho Dr. Iann, a indústria brasileira, por motivos econômicos, trabalha nos limites (mínimos) da segurança. Uma diferença de 10% a menor ainda estará dentro da margem de tolerância. Mais um dia e o pesado transformador ficou pronto e montado no seu devido lugar e, na certeza do sucesso, comprei cabo e tomada de força novos. Já era noite, comi rapidamente alguma coisa e retornei à bancada, mais na idéia de provar que não sou mentiroso que testar a ferramenta. Minha preocupação residia apenas na diferença de espiras, mas Dr. Iann era um Alemão que sabia das coisas.
Liguei a máquina, dei um tempo e tudo bem: ruído característico e solda bonita.
- Paulo, você pode vir aqui?
- Posso. Que pegar o fio agora?
- Depois a gente ver isso.
- Está é a máquina que estava precisando do fio!
- Mas está funcionando?!
- Está. Restaurei e reenrolei.
Ele pegou a alicate e a testou por mais de dois minutos numa barra de ferro.
- Está boa?!
- Quando você falou que “iria acreditar só para não perder o amigo” eu decidi repetir o feito aplicado na Valdivino para não ficar como mentiroso.
- Você tem muita paciência.
Paulo voltou para casa e eu continuei soldando chapas para reforçar o teste.. e de repente, tudo apaga. O breu invade a área e eu deduzi: foi ela que causou isso. Levantei a porta da oficina para iluminar a caixa do disjuntor, mas a rua também ficou às escuras. Minha nossa, a máquina derrubou toda a rede. Triste e calado baixei a porta e fui cuidar de acender alguma vela na residência. Uma pessoa chega à porta e informa que toda cidade esta escura e isso me fez ainda mais preocupado a ponto de minha mulher notar e dizer: - Você está muito calado, parece até que foi o causador black-out.
Quase que ia saindo, mas me segurei ao lembrar que o disjuntor é de 50 Ampères. Voltei à oficina e verifiquei - ele estava armado. Se eu não tivesse feito isso, hoje certamente estaria preso, pois por não gostar de mentiras, iria confessar que a minha máquina de soldar foi a responsável por aquele dano que até hoje continua misterioso.
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