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O DIA EM QUE A DROGA ACABOU

Pedaços de um Livro...  O DIA EM QUE A DROGA ACABOU

Frente ao mar, as marcas no rosto cobriam-se com a neblina das ondas batendo nas rochas, freando as águas, como um exército de pedras. Assim pensava aquele homem, de olhar turvo nas águas e por vezes num avião que deixava rastros no céu. Em sua mente guerras surgiam, canhões, bombas, estourando no céu e na terra, corpos jogados, sem permissão da morte para deixarem a vida. A destruição da primeira e segunda guerra, os combates no Vietnam, no Iraque, e outros espalhados pelo mundo, em sua mente eram reflexos. A dor maior, entre as mãos, era um pó de cor branca, que seu único filho carregava, quando nada mais lhe restara, morto por traficantes.

Não tinha mais forças para lutar. Temido nas guerras pela bravura, se curvara. Na rocha espalhou o pó esbranquiçado e viu nele o poder da destruição, tão forte igual o estampido de um canhão, e tão leve, tão branco, pensou, mas não representa a paz.

“Seria melhor não ter tido sonhos, não teria porque chorar !”

Ao caminhar voltou o olhar, viu uma onda gigante surgir, não vinha do mar, e destruir o pó. Uma visão refletiu em seu rosto, ao ver um menino brincar na areia. Disse em voz alta:

- Deus, ele ainda tem vida!...e pensou: a Terceira Guerra Mundial não será de conquistadores, lutando por paises e contra o mundo, será de filhos contra seus próprios pais, de destruição das famílias, uma guerra interna, mundial, contra um único inimigo.

Num outro lado da cidade, nos morros...

Conta-se que um anjo caiu do céu, por entre as nuvens, quando o sol descia, penetrando sua última luz num pequeno casebre, em uma favela.

Era a casa do homem chamado João. Ouviu um barulho, abriu a porta, surpreso pegou a menina nos braços e a recolheu.

- É uma menina ?, disse seu filho, Diego, espantado.

- Sim filho, e é linda.

- Veja o que nos mandaram, e mostrou à esposa.

A menina recobrou os sentidos parecia desmaiada olhou o homem, a mulher, o menino e adormeceu...

João e a esposa, acostumados as diversidades da vida, olharam-se curiosos, ao mesmo tempo que a menina dormia.

Tentaram lhe dar água, bebeu um pouco e continuou dormindo.

No outro dia, bem cedo, a menina com o olhar fixo na direção do homem chamado João, disse:

- Aqui moras?

- Sim...é a oferta de Deus. Respondeu João, encantado com a meiguice da menina.

Ela fez um gesto com a boca, como se engolisse a saliva, seus olhos varreram a casa, uma mulher dormia numa cama em pedaços, ao lado do filho.

- Seu filho?   dorme assim, no chão...?

- Sim, chama-se Diego.

Ardia um fogo, num pequeno fogão, aceso com pó de madeira, na panela, ossos e uns legumes

A menina pensou...isto, foi a oferta?!!!...

- O que comes ?

- restos, restos, minha filha, de uma casa no nascer do morro...e de uma horta vizinha...

- trabalhas?

- sim....coleto lixo na rua, vendo por migalhas, latas, ferro-velho, papelões...

João mostrava-se ainda mais surpreso com as perguntas da menina, descalça, nunca a tinha visto, seu rosto era lindo, seus olhos verdes mostravam um poder intenso, teria uns sete anos, pensou, quem seria ela, de onde veio?

- quem teria coragem de abandonar tão doce criatura. Falou em voz alta.

A menina sorriu...

Algum bandido a havia deixado? . Essa era a impressão dos vizinhos de João.

De repente, um estampido...e outro...

um grito...todos se assustam, e se escondem dentro da pequena casa..

- O que foi...?

- bandidos, Linda, chefões das drogas. Lutam entre si pela posse dos morros, da cidade.

- mas, porque..?

- Todos querem o comando, vendem drogas.

Num pequeno espaço de tempo, cessou o tiroteio, dando inicio a choros...

- Alguém perdeu, falou João, e repetiu – Alguém sempre perde.

A menina alegrava o casebre de João. Sua mulher a acariciava como uma filha, Diego o filho, dizia ser sua irmã.

Meses se passaram, um dia com o céu de cor cinzenta, contrabandistas cercaram a casa onde Linda morava. Assim João a chamava.

Sato, o chefe, arrancou lá de dentro o homem chamado João, a mulher, o menino com a idade de 10 anos e a menina Linda. Os olhinhos verdes, rostinho inocente, transmitiam paz. Um contraste entre os homens que os cercaram.

O bandido a olhou e sentiu um ligeiro tremor, como se alguma coisa o dominasse e lembrou as palavras de sua mãe quando o reprendia, “Sato, você está entre Deus e o Diabo” é preciso escolher.

Mas Sato já havia escolhido!

- Agora você vai pagar João, por não trabalhar para mim, e também seu filho.

Sato entregou uma arma tipo rifle ao menino Diego. E aos gritos:

- Mate a menina, mate ela na frente dos pais, se é que ela é sua filha, olhando para João, e sorrindo.  

A mãe desesperada agarrou a menina, a tinha como filha, sem distinguir a cor. Tentou reagir, mas foi segura por dois deles.

- Atire menino, atire, ou mato todos.

Diego, o menino, acostumado a ver mortes e os atos dos traficantes reagiu

- Não, não vou atirar.

A menina assistia, sem muito entender viu um clarão e um impacto forte bater no seu peito. Viu Sato segurar e apertar a mão de Diego, a quem chamava de irmão.

Os dedos do menino esmagados contra o gatilho dispararam um único tiro.

Uma fração de segundos, a mãe se atirou em cima do corpo de Linda, João utilizando todas as forças se libertou e foi na direção de Sato, mas uma coronhada da arma atingiu sua cabeça, caiu desmaiado.

Diego com a arma numa das mãos vendo a irmã, a mãe aos gritos puxou o gatilho contra Sato acertando um dos capangas na cabeça, o tiro foi fulminante, enquanto o bandido caia, outro o segurou e o jogou longe, agarrando a arma de suas mãos.

Sato vendo a cena apontou a arma para Diego, quando viu João cambaleando pegar a menina nos braços, rosto tenso, desfigurado, dizer:

- Por que deixou essa menina nascer.   Por que não me matou no lugar dela. O que ela fez para morrer. Deus, porque não ajudou?   Só esses bandidos tem o poder?... Comandam os morros, a cidade, se enchem de drogas usam nossos filhos e você nada faz, nada faz !!!. E continuou a falar

Porque não vem viver entre nós, porque não vem morar aqui ?

Era como se um eco ressoasse no morro e alcançasse o espaço, a cidade. 

E chorou....

Os vizinhos, com medo dos bandidos, nada fizeram, uns abraçavam a mulher, o filho Diego estava sob a mira de Sato.

Todos se voltaram para João, que se ajoelhou, enquanto o céu foi coberto por um manto escuro, de repente um contraste, uma nuvem branca surgiu, se ergueu ao céu, envolvendo a menina.

Um caminho, todo branco, cortava o manto escuro, no rosto de Sato e dos bandidos, via-se o medo, assustados, esqueceram Diego, desceram a ladeira, uns disseram que viram a menina caminhar ao lado de um vulto, e que parecia Deus, sem nunca terem visto sua imagem.    

O desaparecimento da menina, entre as nuvens brancas, o vulto, de mãos fortes, de olhar firme, correu os morros, chegou a cidade. Sato ao ouvir os comentários, em sua mente viu o olhar da menina, mesmo tendo recebido o tiro, sorria!, pensou - não morreu, nem uma gota de sangue saiu de seu peito, só o sorriso.

Diego, pensava em Linda, revendo os objetos deixados no quarto, roupas e alguns rabiscos, leu numa folha:

“Deus...O senhor precisa vir a terra. É bonita, existe um infinito de águas, chamam de mar, é lindo, As menores são os rios, cachoeiras, ah!, existem muitas flores, mas há muitas mortes, roubos, seqüestram pessoas, crianças, há guerras, e uma tal de droga, que tudo comanda. Deus, uns vivem, outros passam fome, há crueldades, e uma tal de corrupção. O mundo que criou, ainda existe, mas as pessoas, fingem ser felizes!

É grandioso Senhor, tudo que chamam de natureza, você criou, mas as bombas, drogas, armas, destroem. Deus!, acabe com as drogas, elas atingem as pessoas, crianças.., mudam as mentes, sozinhos... não conseguirão”

Nas palavras de João, os dizeres da menina que subiu ao céu, ganharam eco no morro. João ao ler o escrito de Linda, pensou, onde aprendeu a escrever?

- Sim, é preciso que Deus venha a terra.  

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Atualizado em: Dom 26 Set 2010

Comentários  

#8 Nadi 08-03-2011 22:49
Flagelo da humanidade.
Qual será a fórmula para reverter tudo isso?
Bjs
#7 saavedra1946 03-03-2011 23:32
Muito bom! Espero a terceira parte.
Parabéns!
Publiquei o 1º Capítulo de meu novo livro, O padre e o Ateu. Se me der o prazer de sua visita, ficarei muito honrado.
Parabéns!
#6 Cely 10-02-2011 10:46
:-) Parabéns, milhões de estrelas!!!
Beijos no coração.
#5 azara 03-12-2010 10:59
muito lindo mesmo,parabens
#4 rackel 06-11-2010 13:57
Uma reflexão pungente, mas que infelizmente é real no nosso mundo. Parabéns. Abraço fraterno.
#3 NiGero 07-10-2010 16:52
oii Aguida, já conclui o livro, 102 pgs...estou esperando para ver o que faço com o mesmo..Beijus Ni
#2 aguidahettwer 28-09-2010 21:37
Texto profundo, dinâmico e envolvente.
Com certeza uma boa história para um livro.

Sucesso!

Abraço afetuoso
Águida
#1 tania_martins 26-09-2010 13:33
Parabéns,Ni! Abraços.

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