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ROCK. I LOVE ROCK

Para Jimi e todos aqueles que ousaram atravessar a linha amarela antes de nós.

Nasci em 1969. Ano de muitas mentiras, dentre elas, a maior de todas, a de que o homem pisou na Lua. Outras houve, por exemplo, a de que os Estados Unidos venceriam facilmente a guerra do Vietnã. Por aqui, o ano do famigerado, que hoje sabemos nem tão assim famigerado AI-5. Pelé marcou o milésimo naquele ano. Kerouac, aos 47, realmente botou o pé na estrada. Isso de fato aconteceu. Não importa. O estrago já estava feito.

Bom, não se pode mesmo ter tudo na vida. E, portanto, esta nos deu Woodstock naquele ano. Talvez, a única verdade de todos os episódios marcantes de 1969, embora nenhum se compare ao que aconteceu em 10 de fevereiro. Mas, sobre isso, falarei mais adiante.

Impulsionada por aqueles ventos vindos de uma fazenda do estado de Nova York, repleta de estrume de vaca, muita chuva e lama e ares etílicos-intelectus/spiritus-doidivanas, a sociedade iria encarar de um modo diferente e ousado para os padrões da época conceitos tão subjetivos como a liberdade.

Enquanto nos colocavam algemas nos punhos e esparadrapos nas bocas, aqui no Brasil, na América, difundia-se o conceito de que tudo é possível e sonhar é o bastante. Amar também. Literalmente. Viver, pouco, como deve ser, mas, intensamente. E pensar que o festival tinha o sugestivo nome de Woodstock Music e Art Fair.

 

O que se viu de arte naqueles dias de agosto? Tudo. E nada. A celebração do corpo como forma de expressão máxima do sentimento. Ou ausência dele. Era como desligar a mente, soltá-la no escuro imenso e se deixar levar. Pelo vento, pela música, pela dor que vem com o depois, que desconhece o que seja o amor, a verdade, a razão, porque flerta com o nada. E, naqueles dias, mais do que hoje, o nada era ao menos arte. Uma forma de expressá-la.

O sonho existe para a juventude. Os adultos não têm direito ao sonho. Precisam ser práticos e objetivos. Certeiros. Não podem errar duas vezes. Isso ficaria bem claro a partir daqueles dias.

De certa forma, 1969, marcou o início da era da imagem. E do som. De repente, ter o cabelo comprido, a barba crescida, vestir a camiseta rasgada e o jeans surrado deixou de ser sinônimo de vadiagem. Passou a ser cultura. Inventar novas formas de expressão através da palavra oral e escrita, idem. A era das gírias, falô mêu?

Uma pílula abria as portas do prazer sem culpa, para homens e mulheres. Um cigarro, feito com substâncias especiais, abria todas as portas para além da consciência, não menos que uma picada no local certo, na dose certa, o que nem sempre acontecia. O bilhete para a viagem sem volta custa mais caro.

Nunca foi tão verossímil a ideia de que para conceber arte de qualidade era preciso conhecer o Inferno. Que o diga Hendrix e Joplin.

 

Engraçado que os melhores e os mais bonitinhos não estavam em Woodstock: Beatles, Led Zeppelin e The Doors. Mas, incrivelmente, não fizeram falta. Porque Woodstock não era pra ser uma festa dos lordes intra-muros, mas da ralé, da plebe, fora-muros. O que, de certo modo, justifica a tese de que mais do que um festival de rock aquilo foi uma manifestação cultural, um meio de extravasar a revolta, exorcizar o medo e revelar o futuro, algo que só a juventude é capaz de realizar.

Se depois de Woodstock o rock não seria mais o mesmo, o mundo também não, e isso não tem nada haver com o que aconteceu em 10 de fevereiro. Naquele dia, entretanto, alguém subiu do Inferno para render guarda ao velho Jack. E não fora Dean Moriarty, Sal Paradise ou Neal Cassady. Advinhe quem. 

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Atualizado em: Qui 14 Jul 2011

Comentários  

#10 PauloJose 31-03-2012 18:52
PARABÉNS BELA CRÔNICA!
ABRAÇOS AMIGO.
#9 Mariah 31-07-2011 12:42
Olá, J!

Que época mmo com tantos loucos movimentos eles tinham uma finalidade (ideal)
o que infelizmente não vejo hoje, acho que sou eu mas, acho o mundo apático!
abração
#8 tania_martins 18-07-2011 20:43
Bom demais. Parabéns!
Abraços.
#7 Giba 16-07-2011 00:10
Tenho uma filha também nascida em 1969.Foi agradável saber e confirmar a idéia que somos uma Ponte de Madison para o amor e a quebra de vários Tabús.Nenhuma Geração atravessa a ponte sem o auxilio dos nosos Antepassados, assim como o futuro só é contruido por aqueles que sabem como cruzar a Ponte, Bonita Crônica!
#6 jrs49 15-07-2011 16:29
Eu tenho acompanhado seu blog e lido sobre os astros do rock.
Parabéns por sua crônica.
Abraços.
#5 celinavasques 15-07-2011 09:11
Fantástico amigo!
Meus aplausos!
ADOREI!
beijos meus!
#4 pazanarquia 15-07-2011 04:53
roquenrou!!
#3 KaykeCampeche 14-07-2011 15:02
Belo texto, a maneira como ele correu é convidativa.
As vezes acho que nasci na época errada. "Os melhores e mais bonitinhos, foram convidados para Wood em 69, porém não quiseram ou puderam ir, fizeram um "mal negócio".

Ps: 10 de fevereiro, faço aniversário junto com wood.
#2 ANTENA 14-07-2011 14:06
Irmão rockeiro, também amo "as pedras que rolam", mas acredito que o homem alunissou, apesar dos céticos negarem. Quando nasceste eu já estava, aos nove anos, assistindo pela tv o grande feito lunar. Seu magnífico texto é uma homenagem a todos nós, amantes do rock. Parabéns! Eu só não sei responder a tua última pergunta.

abraço anarquista
#1 Brunno 14-07-2011 10:34
como se dizia naquela época, apesar de eu ter nascido 10 anos depois de Woodsotck: prefiro viver 10 anos a mil, do que mil anos a 10...

todos rendemos graças ao poderoso Jimmy, amigo, parabéns

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