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Garotinha
Eu sinto medo. Tanto do desconhecido quanto de tudo aquilo que eu conheço. Tudo parece grande demais, e quero ficar cada vez menor, até desaparecer em conforto.
As cobertas não podem ser abraçadas, as pelúcias não podem ser mordidas. O calor não está mais aqui, e tudo o que é são já se esvaiu.
Toda a coragem e desejo de liderança foi deixado de lado, e as coisas que faziam o queixo se levantar são comprimidas e fazem com que o corpo se encolha cada vez mais.
A linha de frente está ao longe, como uma montanha a ser escalada. Mas não há apoio ou cordas que me impeçam de cair, e sinto que estou à deriva no mar.
Sou apenas uma garotinha, você me olha de cima e eu não me atrevo a te olhar. Todos passam e ignoram minha presença, mas eu estou ali abaixada e sinto o sangue em minhas veias gelar, as lágrimas caírem e o coração apertar.
Sou apenas uma garotinha, onde está o seu colo? Eu me perdi no seu calor, e a falta dele me deixa em prantos.
Há vazio aqui, e o canto do quarto não é o suficiente. Os apertos e sufocos de meu corpo me fazem não mexer, e eu olho a parede, encolhida na cama, pensando quando irei sentir teu abraço outra vez.
Eu estou com medo, e sinto falta de ar, mesmo respirando profundamente. O ar gelado dessa noite me fez refletir sobre o que você faria se me visse na rua em um dia de inverno.
Se iria me abraçar e me aquecer, ou só passar reto, como todos fazem. Alguns chutam, outros batem. Todos quebram. Todos eles.
Eu sou apenas uma garotinha. E o ônibus da escola já foi embora. Não há mais caminho, há apenas um ponto vazio.
Como um gato acuado em um beco escuro e largo, entre as paredes está minha alma, dentro delas minha insegurança.
Eu estou sozinha, você não está aqui. Quando você volta? Desistiu dos seus cigarros?
Me deixa ser seu vício em nicotina, me permita te permitir me usar, me deixe quente outra vez, me abrace e me ponha nos braços...
Eu estou com tanto medo, sou apenas uma garotinha, e você não está aqui, ninguém nunca está aqui...
O ônibus já se foi, você se foi com ele. Houve um acidente logo à frente, e eu sei que você não irá voltar.
As paredes falam, elas diminuem o quarto e tudo o que eu quero é ser pequena e caber no bolso esquerdo daquele seu sobretudo cinza que eu tanto amo...
Como ele, está desbotado...
E cai
Comprime
Aperta
Cai
Cai
C
A
I
.
.
.
...
Sou apenas uma garotinha, você me vê no chão?
Me ponha nos braços, diga que ficará tudo bem...
E não caia
Não caia
N
Ã
O
C
...
Você não vai voltar... não é?
